Eleição plebiscitária em Salvador?

Eleição plebiscitária em Salvador?

Cláudio André de Souza e Luciana Santana*

Em Salvador, nove candidatos disputam a vaga hoje ocupada por ACM Neto (DEM), atual prefeito da capital soteropolitana. Eles são: Bruno Reis (DEM), Celsinho Cotrim (PROS), Cezar Leite (PRTB), Hilton Coelho (PSOL), Major Denice (PT), Olívia (PC do B), Pastor Sargento Isidório (Avante), Bacelar (Podemos) e Rodrigo Pereira (PCO).

A despeito do número de candidatos, pesquisas têm apontado favoritismo de Bruno Reis, escolhido do prefeito ACM Neto para sucedê-lo. Essa situação é reforçada na última pesquisa divulgada pelo Ibope em 5 de outubro.

Na pergunta espontânea – quando o entrevistado responde diretamente a sua intenção de voto – o vice-prefeito tem 29% de intenção de voto. Na pergunta estimulada, Reis aparece com 42%, seguido de Pastor Sargento Isidório (10%), Major Denice (6%), Olívia Santana (6%) e Bacelar (5%).

ACM Neto e o favoritismo do candidato governista

O que explica o favoritismo de Bruno Reis? A consolidação da liderança de Bruno Reis tem como principal capital político a aprovação da gestão do Prefeito ACM Neto mesmo após o início da pandemia de coronavírus. Segundo a mesma pesquisa, a administração do prefeito é avaliada positivamente (ótima/boa) por 73% dos entrevistados.

Ao serem questionados sobre se aprovam ou desaprovam a forma como o atual prefeito vem administrando a cidade, 85% dos entrevistados disseram que aprovam a atuação de Neto à frente da Prefeitura. Essa boa avaliação deixa pouco espaço para uma campanha com posicionamentos mais críticos à sua gestão por parte dos adversários, algo perceptível até aqui desde a pré-campanha.

O legado de ACM Neto e sua aprovação quase unânime tem forçado um plebiscito “contra” ou “a favor”, deslocando os candidatos de oposição. A estratégia da campanha de Bruno Reis nos primeiros dias de propaganda na TV e no Rádio já explicitou a construção da sua imagem totalmente ligada à ACM Neto. Além disso, a coligação do candidato democrata possui 15 partidos (DEM / PDT / REPUBLICANOS / MDB / SOLIDARIEDADE / CIDADANIA / PL / PSL / PSC / PATRIOTA / PSDB / PV / DC / PMN / PTB) com muitos candidatos a vereador, ocupando um lastro político amplo no espectro eleitoral de Salvador, conforme figura abaixo.

Governador com boa avaliação, mas ainda não alterou a disputa

Ter uma boa avaliação de governo, entretanto, não tem sido uma condição suficiente para definir a disputa. Apesar do governador Rui Costa (PT) ser avaliado positivamente por 63% do eleitorado, a sua estratégia de pulverização de candidaturas governistas (Bacelar, Denice, Olívia e Pastor Sargento Isidório) até aqui não surtiu efeito, ao passo que seus candidatos não verbalizam críticas frontais à gestão do prefeito da capital baiana.

A chance de crescimento dos candidatos do governador está associada à ampliação da posição de Rui Costa como cabo eleitoral, mas, sobretudo, a maneira pela qual as campanhas conseguirão dominar uma narrativa crítica à gestão de ACM Neto. Sem um posicionamento claro quanto ao legado de ACM Neto, os candidatos da base aliada cairão em um “vazio semântico”: se colocam como alternativa a quê? Em quais circunstâncias?

Antenas ligadas em 2022

Apesar das atenções centradas nas eleições municipais, ACM Neto e Rui Costa estão de antenas ligadas em 2022. Além da avaliação positiva de sua gestão e da possibilidade real de eleger o sucessor, ACM Neto surge como o principal nome na disputa pela sucessão para o governo estadual.

O acordo que deu a vice na chapa de Bruno Reis ao PDT foi uma movimentação explícita do presidente nacional do DEM para ganhar força e articulação entre partidos de centro, deixando aberto o diálogo com alguns partidos da base de Rui Costa.

A boa avaliação de Rui Costa também favorece suas pretensões eleitorais depois que deixar o cargo. Como não poderá concorrer à reeleição, ele tem duas possibilidades a sua disposição: disputar o Senado Federal ou apresentar-se como pré-candidato do PT a Presidente da República.

Pode parecer que 2022 está um pouco longe, mas as estratégias e articulações políticas já começaram.

*Cláudio André de Souza é professor adjunto de ciência política Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, Campus dos Malês (BA).
Luciana Santana é mestre e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, com estância sanduíche na Universidade de Salamanca. É professora adjunta na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), líder do grupo de pesquisa: Instituições, Comportamento político e Democracia, e atualmente ocupa a vice-diretoria da regional Nordeste da ABCP.