PSOL vence em Belém, mas MDB continua dominando as prefeituras no Pará

As eleições municipais no Pará apresentaram um cenário similar ao que foi observado no Brasil – com o predomínio dos partidos de centro e centro-direita nas capitais e em grandes cidades.

O MDB (Movimento Democrático Brasileiro) venceu as eleições para a prefeitura em 58 dos 144 municípios paraenses, o que corresponde a mais de um terço, consolidando-se como uma agremiação municipalista e fortalecendo a base de apoio do governador, Helder Barbalho, principal liderança do partido no estado.

Já na capital, Belém, na contramão da maior parte das principais cidades brasileiras, reviveu-se uma polarização similar à que foi vista em 2018, quando Jair Bolsonaro (sem partido) e Fernando Haddad (PT) concorreram no segundo turno da eleição presidencial, dividindo o país.

O voto conservador e mais alinhado à direita ideológica sempre se manifestou em Belém, embora nos últimos pleitos o eleitor progressista e de esquerda também venha ocupando seu espaço.

Na segunda volta da decisão eleitoral, em 29 de novembro de 2020, o deputado federal Edmilson Rodrigues (PSOL) venceu o candidato do Patriota, o delegado Everaldo Eguchi, que se apresentou como outsider no pleito. A vitória deu-se por uma margem apertada de votos: Edmilson teve 51,76% dos votos válidos (390.723 votos), contra 48,24% do seu opositor (364.095 votos), com uma diferença inferior a 4% – ou pouco mais de 26 mil votos.

A favor de Edmilson, durante a eleição, pesaram a experiência de ter sido prefeito de Belém em duas ocasiões (1997-2000 e 2001-2004); o apoio de grupos sociais importantes, como boa parte da classe artística (Fafá de Belém, Gaby Amarantos, Gretchen, entre outros), jornalistas e outros trabalhadores em geral; e uma campanha nas plataformas digitais mais assertiva em relação às propostas para resolver os muitos problemas que existem na capital do Pará.

O delegado Eguchi apostou na tríade “Deus, Pátria e Família”, buscando uma conexão maior com o empresariado local e com as famílias tradicionais, reforçando os valores morais e apostando em um discurso de combate à corrupção. Tanto no primeiro quanto no segundo turno, Eguchi teve subestimadas suas intenções de votos nas principais pesquisas, indicando que a migração de votos para ele ocorreu na “última hora” – e reforçando um pouco a hipótese da chamada “maioria silenciosa”, que pode não declarar publicamente o seu voto real.

Também foi uma eleição em que houve o voto da rejeição, sendo Eguchi o candidato anti-esquerda e Edmilson o antibolsonarismo. Vale lembrar que, no primeiro turno, Belém registrou um recorde de candidaturas – 12, sendo todos homens, inclusive o candidato do Partido da Mulher Brasileira (PMB) – o médico José Jerônimo de Souza.

Mesmo derrotado e sem um passado de ocupação de cargos públicos, o delegado Eguchi pretende se manter na arena político-eleitoral, buscando se fortalecer junto a grupos da direita política, que tem no deputado federal Eder Mauro (PSD), seu principal expoente. Eder Mauro ficou em terceiro lugar nas eleições para a Prefeitura da capital em 2016 e não conseguiu aprovação partidária para se candidatar ao pleito de 2020.

As eleições em Belém também foram, mais uma vez, marcadas pelo intenso uso das fake news, gerando um grau de confusão com mensagens que versavam sobre enriquecimento ilícito, banheiros unissex nas escolas, envolvimento com corrupção, entre outros aspectos que despolitizaram por demais o debate propositivo sobre a situação da cidade e suas demandas por saúde, educação, segurança, meio ambiente, coleta do lixo/saneamento e mobilidade urbana.

Eleições no interior do Pará

Em Ananindeua, segundo maior colégio eleitoral do Pará, o atual presidente da Assembleia Legislativa, Dr. Daniel Santos, venceu as eleições ainda no primeiro turno. Em Santarém, no oeste do estado e terceiro maior colégio eleitoral, Nélio Aguiar (Democratas) venceu a Covid-19 e a ex-prefeita da cidade, Maria do Carmo Martins, no segundo turno, reelegendo-se para mais um mandato como prefeito da “Pérola do Tapajós”. Há ainda o cenário de sete municípios que têm suas eleições majoritárias sub-judice, aguardando deliberações posteriores, nas diversas mesorregiões do território paraense.

No geral, percebeu-se uma tendência de escolhas por mais experiência e por menos novidades nas eleições do Pará. Foram priorizados os bons gestores e os que demonstram capacidade administrativa para tratar das principais questões urbanas e/ou rurais.

Diante de todas as peculiaridades das eleições de 2020 em meio à pandemia, a presença digital dos candidatos e partidos por um período mais duradouro evidenciou-se como uma vantagem. Prefeitos que tiveram ações de enfrentamento diante da Covid-19 saíram na frente de seus opositores, buscando a reeleição e/ou elegendo seus sucessores.

* Rodolfo Marques é doutor em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com período-sanduíche feito em Madrid/Espanha, e mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Pará (UFPA). É professor da Universidade da Amazônia (UNAMA) e da Faculdade de Estudos Avançados do Pará (FEAPA). É docente universitário desde 2002. Está lançando o livro “A mídia sob o império da Lei: as políticas de regulação dos meios de comunicação no Brasil e na Argentina no século XXI”, versão adaptada da sua tese de doutorado.

Novo mapa político consolida força dos Ferreira Gomes no Ceará

Novo mapa político consolida força dos Ferreira Gomes no Ceará

Monalisa Torres e Luciana Santana*

Com a finalização do segundo turno em Fortaleza e a vitória do pedetista Sarto é possível identificar com maior clareza o peso dos partidos políticos no Ceará, bem como a força das lideranças no âmbito local. O PDT destaca-se como o principal partido no estado.

Em número de prefeituras, o partido que abriga duas das grandes lideranças do estado, os irmãos Cid e Ciro Gomes, foi o que obteve o melhor desempenho, conforme se pode verificar no gráfico abaixo. Dos 184 municípios cearenses, o partido conquistou 67 prefeituras. Dos cinco maiores colégios eleitorais do estado, a legenda teve sucesso eleitoral na capital, com Sarto Nogueira, e em Sobral, com a reeleição de Ivo Gomes.

Figura 1: Desempenho partidário nas eleições municipais

* Foram considerados no gráfico apenas partidos com lideranças estaduais que ocupam ou ocuparam cargos eletivos no Executivo ou Senado.

O desempenho de PSD, PT e PL

O PSD, legenda que abriga o ex-vice-governador Domingos Filho, é a segunda maior força política no estado e garantiu 27 prefeituras. Embora tenha perdido sua cidade mais importante, Caucaia, do ponto de vista de eleitorado, o PSD teve bom desempenho conquistando importantes colégios eleitorais em cidades de médio porte como Tauá, Quixadá e Iguatu.

O partido do governador Camilo Santana, PT, ampliou o número de prefeituras. Em 2016 elegeu 14 prefeitos. Em 2020 este número subiu para 18, com destaque para a região do Cariri, reduto político de Camilo Lá, o partido venceu a disputa pela prefeitura de Crato, importante colégio eleitoral da região. Itapipoca também foi conquistada pela legenda.

O  PL é outro partido que se destacou. Com 13 prefeituras, a agremiação acomoda Acilon Gonçalves, político que tem buscado consolidar seu grupo na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Em 2020, Acilon foi reeleito prefeito de Eusébio e seu filho, Bruno Gonçalves, de Aquiraz.

Outras quatro prefeituras serão ocupadas por aliados muito próximos a Acilon: Beberibe, Cascavel, Pindoretama e Itaitinga. Político da base aliada do governo estadual, Acilon sai fortalecido em 2020 e poderá ter lugar na mesa de negociações sobre a sucessão de Camilo Santana em 2022.

Enfraquecimento de MDB e PSDB no Ceará

O MDB, do ex-senador Eunício Oliveira, teve seu pior desempenho. O partido, que já foi a segunda maior força política no Ceará – entre as eleições de 2008 e 2016 – vem perdendo espaço nas prefeituras, conforme pode ser observado na figura 2.

Se em 2016 alcançou a marca de 28 prefeituras, segundo melhor desempenho naquele pleito, em 2020 reduziu para 17. A maior derrota ocorreu na cidade natal e berço político do senador Eunício, Lavras da Mangabeira. Lá, seu sobrinho, Ildsser Alencar (MDB), perdeu a reeleição para Ronaldo da Madeireira (PSD), apoiado por Cid e Ciro Gomes.

Apesar da aproximação do atual governador, após perder a eleição para o Senado em 2018, Eunício, que hoje comanda o MDB no estado, parece ainda não ter encontrado o melhor caminho para fortalecer a legenda.

Pelo histórico de aliados em eleições passadas e considerando os atritos frequentes com Ciro Gomes, não seria surpresa, em 2022, uma composição do MDB de Eunício Oliveira com o novo bloco de oposição que se forma. Não custa lembrar que o ex-senador já concorreu ao governo do estado em 2014, quando teve como principal aliado o PR, então legenda de Wagner e Roberto Pessoa.

Chama atenção o fraco desempenho do PSDB, sigla que abriga o ex-governador e senador Tasso Jereissati. Os tucanos conquistaram apenas quatro prefeituras em 2020. O PSDB já figurou como a mais importante legenda do estado ao longo da Era Tasso, entre as décadas de 1990 a 2000, e arrastava o maior número de prefeituras no interior, chegando a conquistar 83 prefeituras nas eleições municipais de 2000, recorde de desempenho partidário no período da Nova República.

A cidade mais importante a ser administrada pelos tucanos a partir de 2021 será Maracanaú. Município da Região Metropolitana de Fortaleza, com o segundo maior PIB do estado, tem se consolidado como território da oposição. Muito embora Tasso Jereissati tenha selado acordo de apoio à candidatura de Sarto e reaproximado-se dos irmãos Ferreira Gomes, Maracanaú será administrada (novamente) por Roberto Pessoa (PSDB), atualmente uma das vozes mais fortes de oposição ao grupo governista a nível estadual e aliado de primeira hora de Wagner e Girão.

Já os partidos da oposição, PROS e PODEMOS, legendas de Capitão Wagner e Eduardo Girão, levaram três e uma prefeituras, respectivamente. São elas Caucaia (PROS) e São Gonçalo do Amarante (PROS), na região metropolitana, além de Salitre (PROS) e Juazeiro do Norte (PODEMOS), no Cariri.

Sarto vence em Fortaleza com resultado apertado

Com 51,69% dos votos válidos, Sarto foi sagrado o novo prefeito de Fortaleza. Seu adversário, capitão Wagner (PROS), obteve 48,31% dos votos. Importantes fiadores da candidatura pedetista, o prefeito Roberto Cláudio (PDT) e o governador Camilo Santana (PT) saem fortalecidos do pleito.

A previsão era de uma eleição tranquila e favorável ao candidato pedetista, apontada por sondagens eleitorais divulgadas na véspera do pleito (Ibope e Datafolha dos dias 27 e 28 de novembro, respectivamente). No entanto, Fortaleza experimentou a disputa mais acirrada de sua história. A diferença percentual de votos válidos entre os candidatos foi de apenas 3,38%.

Interessante destacar o nível de polarização e nacionalização que marcaram as campanhas no segundo turno. As estratégias e discursos visando ampliação do desgaste do adversário foram expedientes explorados por ambas as candidaturas.

Sarto colocou-se como liderança capaz de unificar diferentes legendas numa “frente suprapartidária de oposição ao bolsonarismo”, que estaria representada na candidatura de Wagner. Este, por seu turno, explorava a associação de Sarto a Ciro Gomes, acusando-o de candidato sem independência política.

Apesar da grande frente que se montou contra Wagner em Fortaleza, sobretudo a partir de um discurso antibolsonarista, a pecha de apadrinhado do presidente Bolsonaro foi relativamente neutralizada pela sua campanha.

Ela conseguiu despersonalizar o apoio do presidente e explorar a importância do prefeito manter boas relações institucionais com o Governo Federal. Em algumas peças publicitárias que circularam na reta final da campanha, por exemplo, críticas pontuais foram tecidas à gestão de Bolsonaro.

E não custa lembrar que capitão Wagner é uma liderança política já consolidada no estado com votações recordes em 2012, 2014 e 2018, quando disputou cargos no legislativo. Sua entrada na política é anterior à emergência de Bolsonaro e sua aproximação com o presidente data de 2018, quando disputou uma vaga à Câmara Federal e montou palanque no Ceará para o então candidato à Presidência da República pelo PSL.

Ainda que tenha sido derrotado em Fortaleza, Wagner e seu grupo saem fortalecidos do pleito. Seu aliado e coordenador de campanha, o senador Eduardo Girão (PODEMOS), que endossou a retórica anti-ferreiragomista, engrossa a oposição no estado e consolida-se como nome forte para a disputa a sucessão de Camilo em 2022.

A diferença de apenas 43.760 votos entre Sarto e Wagner é sintomática do desgaste de um grupo político que há oito anos governa a capital do estado e que, lançando uma candidatura relativamente desconhecida às vésperas da eleição, confiou que a força da máquina e o tamanho da base aliada seriam suficientes para garantir a vitória.

Eleições em Caucaia

Caucaia, segundo maior colégio eleitoral do Ceará, também escolheu seu prefeito na noite de 29 de novembro. O atual gestor, Naumi Amorim (PSD), disputou a reeleição contra Vitor Valim (PROS). Contrariando os institutos de pesquisa, que davam vitória com ampla vantagem a Naumi, Valim foi eleito prefeito de Caucaia com 51,08% dos votos válidos, contra 48,92% do candidato à reeleição.

A disputa, que em muito assemelhou-se aos embates travados no município vizinho, Fortaleza, colocou em polos opostos lideranças da base do governo que apoiaram Amorim e o grupo político liderado por Wagner e Girão.

No saldo geral e considerando as eleições em Fortaleza e Caucaia, a base governista (leia-se o grupo político dos Ferreira Gomes) manteve a hegemonia política, sobretudo pela quantidade de municípios conquistados por partidos e lideranças aliadas. Ganharam em aproximadamente 150 das 184 prefeituras cearenses. Mas vitórias importantes da oposição colocaram novas peças no tabuleiro que se monta para 2022.

Dos cinco maiores colégios eleitorais do estado, o grupo liderado por Wagner e Girão levou três: Caucaia (Vitor Valim, PROS), Maracanaú (Roberto Pessoa, PSDB) e Juazeiro do Norte (Glêdson Bezerra, PODEMOS). Além de São Gonçalo do Amarante (Professor Marcelão, PROS), onde fica o terminal portuário do Pecém. Estas vitórias indicam não apenas o fortalecimento da oposição, dado o peso econômico, eleitoral e simbólico desses municípios, mas revelam também a real possibilidade de alternativa ao grupo dos Ferreira Gomes.

A força política da família Ferreira Gomes

Apesar da hegemonia do grupo político estadual, a relativa fragmentação partidária observada no novo mapa político do Ceará reflete o modelo de composição de alianças ferreiragomistas: a extensa base de apoio com agremiações dos mais distintos matizes ideológicos. Muito diferente do modelo centralizado de decisões no PSDB, marca da Era Tasso.

O modelo ferreiragomista de incorporação de aliados e compartilhamento de poder garantiu não apenas governabilidade como também capilaridade em todo território cearense. Mas impôs a difícil tarefa de acomodar aliados e coordenar interesses divergentes. Cid Gomes tem cumprido esse papel com desenvoltura.

Em 2022, outro desafio deverá se impor ao grupo dos Ferreira Gomes. O fortalecimento de aliados e a sucessão de Camilo Santana, que deixará o Palácio da Abolição muito mais forte politicamente e deverá, mais uma vez, testar a habilidade de articulador do ex-governador Cid Gomes.

*Monalisa Torres é doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará. É professora da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e pesquisadora vinculada ao Laboratório de Estudos sobre Políticas, Eleições e Mídia (Lepem/UFC)
Luciana Santana é mestre e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, com estância sanduíche na Universidade de Salamanca. É professora adjunta na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), é líder do grupo de pesquisa: Instituições, Comportamento político e Democracia, e atualmente ocupa a vice-diretoria da regional Nordeste da ABCP.

Eleições potiguares: calmaria em Natal e o declínio dos Rosado em Mossoró

Eleições potiguares: calmaria em Natal e o declínio dos Rosado em Mossoró

A referência à calmaria no título é irônica, na medida em que denota o desinteresse do eleitorado natalense por novidades na gestão municipal. Pela segunda vez consecutiva, um prefeito é reeleito no primeiro turno sem ter realmente uma marca estruturante de gestão. Também pela segunda vez a vitória ocorre no primeiro turno, com relativa facilidade. Até os percentuais em votos válidos dos três candidatos (incluindo o titular no cargo) que obtiveram mais de 10% dos votos válidos foram parecidos com os da disputa de 2016 (ver tabela abaixo).

Não há anomalia entre o resultado eleitoral e a popularidade do ocupante do cargo. O prefeito Álvaro Dias (PSDB), o vice eleito em 2016 que assumiu o cargo em 2018, após a saída do titular para a disputa de governador, gozava de elevada taxa de aprovação (no indicador binário aprova/desaprova) do eleitorado, chegando a 66% na pesquisa Seta divulgada em 2 de novembro. O mesmo deu-se na competição de 2016 com Carlos Eduardo Alves (PDT), seu antecessor e integrante da família política Alves.

Há dois legados políticos, todavia, cujos efeitos não podem ser mensurados diretamente, que precisam ser mencionados aqui. A desastrosa gestão de Micarla de Sousa (PV), que apareceu como novidade em 2008 com uma campanha eficiente que a levou a vencer a atual governadora Fátima Bezerra (PT), então deputada federal, já no primeiro turno. No comentário político, é comum a constatação de que o eleitorado da capital potiguar tornou-se cauteloso a partir de então – o que pôde se verificar com o retorno de Carlos Eduardo à Prefeitura no pleito de 2012. Ele já havia ocupado o posto entre 2002 e 2008.

O segundo legado é o da fraqueza da oposição municipal, que não consegue estabelecer um contraponto persistente aos prefeitos na Câmara Municipal e no debate público. Os candidatos só aparecem como oposição estritamente municipal no ano da eleição, reforçando a já referida cautela do eleitor, que decide contra eles. Tais fatores são basicamente locais, não podendo ser atribuídos seja ao contexto potiguar seja ao nacional.

É possível detectar duas diferenças importantes entre as duas competições. Primeiro, houve maior dispersão no número de candidatos a prefeito neste ano, com o lançamento de dez aspirantes. Isso em nada dificultou, porém, a tarefa do prefeito em relação ao seu antecessor. Segundo, um candidato da direita radical atingiu o limiar de 10% dos votos, na figura de Sergio Leocadio (PSL), um delegado da Polícia Civil – ele concorreu, inclusive, pelo mesmo partido ao qual já pertenceu o presidente Jair Bolsonaro. O senador Jean-Paul Prates (PT) apenas amealhou alguns pontos a mais do que o seu correligionário, o hoje secretário estadual Fernando Mineiro (PT).

A fisionomia da campanha na capital foi marcadamente diferente dos eventos congêneres no interior. O uso de máscaras pelos políticos e por parte dos seus apoiadores parece ter sido maior em Natal, assim como foram menores o entusiasmo e as aglomerações nas ruas produzidos pela corrida eleitoral. Mesmo disputas pouco acirradas geraram maior interesse no interior potiguar.

Por fim, é bom registrar que a força ampliada do prefeito Álvaro Dias não significa necessariamente que ele está livre para a disputa de governador em 2022. Como parte do acerto entre PDT e PSDB, o ex-prefeito Carlos Alves, que cogita disputar novamente o pleito de governador, indicou como vice-prefeita Aila Cortez, pedetista e parente de sua esposa. Uma eventual saída de Dias implicaria o retorno do PDT à titularidade do cargo.

Disputa eleitoral em Mossoró segue padrão interiorano

Em contraste, a campanha na segunda maior cidade do estado, Mossoró (uma eleição ainda de maioria simples) seguiu o referido padrão interiorano, sendo bastante disputada entre a prefeita Rosalba Ciarlini (PP), uma integrante da família política Rosado, e o deputado estadual Allyson Bezerra (SD). A “Rosa”, como é conhecida no vocabulário político local, não havia perdido nenhuma eleição para a Prefeitura da cidade desde 1996, tendo apoiado candidaturas vitoriosas em 2004, 2008 e 2012. Nos demais pleitos, 1996, 2000 e 2016, ela própria logrou a vitória. Seu primeiro triunfo foi em 1988.

Em termos táticos, o objetivo central de Rosalba tinha que ser dividir o voto da oposição, em virtude do fato de sua avaliação positiva, a soma de ótimo e bom nas pesquisas, ser medíocre, variando entre 30% e 35% na maioria das sondagens. Bezerra, no entanto, tornou-se rapidamente o único candidato competitivo da oposição durante a campanha, canibalizando votos que poderiam ir para outros nomes oposicionistas.

A rigor, o pleito adquiriu uma polarização similar à observada em disputas de segundo turno, com a baixa avaliação da gestão sendo o limitador central do crescimento da prefeita. No fim, Allyson Bezerra obteve mais de 65 mil votos (47,52%), contra pouco mais de 59 mil (42,96%) da atual gestora. A derrota de Rosalba pode vir a marcar um declínio dos Rosado, que já chegaram a eleger dois governadores do estado, incluindo ela própria.

Finalmente, cumpre falar sobre eventuais efeitos da disputa sobre o âmbito estadual e a eleição de 2022. Espelhando de certa forma o resultado nacional do partido, o PT potiguar também teve desempenho insatisfatório no que toca às eleições de prefeito. A agremiação lançou candidatos em 26 dos 167 municípios do RN, tendo sido vitoriosa em apenas três cidades; um caso ainda está sub judice.

O resultado pode gerar certa perplexidade, dado o fato de que a atual governadora é uma petista. No entanto, Fátima Bezerra tem seu próprio ciclo político, que culminará com a tentativa de reeleição em 2022. Ela enfrentou queda generalizada de popularidade neste ano, em função da reforma previdenciária estadual e das medidas restritivas contra a pandemia. Fátima parece focada na área da segurança pública, com a contratação de mais de mil policiais militares, e na quitação de duas folhas salariais deixadas pelo governo anterior. É fato também que sua popularidade começa a melhorar em vários municípios. Na minha avaliação, não é possível inferir dos resultados das disputas municipais uma fraqueza eleitoral da gestora em 2022.

*Alan Lacerda é professor associado da UFRN e doutor em Ciência Política pelo (antigo) Iuperj.

O uso do twitter na campanha de candidatas a prefeita no segundo turno

O uso do twitter na campanha de candidatas a prefeita no segundo turno

Helga Almeida, Luciana Santana e Raquel de Souza

A adesão ao twitter cresceu nas eleições de 2020. Focando nos candidatos que chegaram ao segundo turno, 82,4% utilizaram a plataforma desde o começo da campanha eleitoral em 27 de setembro. Esse uso massivo demonstra o entendimento dos candidatos representantes dos diversos partidos do espectro de que estar no Twitter é importante para o alcance do sucesso eleitoral.

Uso das mídias sociais nas eleições de 2020

O uso das mídias sociais foram notórios nesta que foi a eleição mais digitalizada no Brasil. Instagram, Facebook, Twitter, Tik Tok foram algumas das plataformas usadas por candidatas e candidatos à reeleição e seus desafiantes.

Se todas as mídias cumprem uma missão específica, o Twitter mostra ser importante, dado que tem sido mídia social central no campo da política e que muito tem influência, inclusive, na mídia de massa na construção de pautas.

Alguns pesquisadores têm afirmado que estaríamos vendo um fenômeno chamado de Twittocracia, ou seja, um modelo político-comunicacional em que pronunciamentos oficiais, tanto em relação ao plano da política interna, quando no plano da política externa, são feitos no Twitter. Sendo que a partir de uma lógica mais próxima ao microblog, o usuário do Twitter escreve em rápido fluxo seus diários com postagens de até 280 caracteres e dispõe naquele espaço suas opiniões e ações políticas, transformando sua conta em canais “oficiais” para o conhecimento de suas perspectivas e ideias.

Uso do twitter por mulheres candidatas

Chamamos atenção aqui para o uso feito pelas mulheres que estão pleiteando os executivos municipais. Isso porque, diante da realidade da violência política de gênero sofrida pelas candidatas em 2020, como demonstrado em artigo publicado aqui no Observatório, o Twitter se coloca como possibilidade comunicacional importante para a demarcação de seus posicionamentos durante as eleições.

Ao total cinco mulheres estão nas disputas nas capitais no segundo turno. São elas: Delegada Danielle (Cidadania) em Aracaju, Cristiane Lopes (PP) em Porto Velho, Marília Arraes (PT) no Recife, Manuela D’Ávila (PCdoB) em Porto Alegre e Maria do Socorro Neri (PSB) em Rio Branco.

Chama a atenção que das cinco mulheres no pleito do segundo turno apenas Marília Arraes e Manuela D’Ávila têm usado o Twitter em suas respectivas campanhas, ou seja, 40% delas, muito abaixo da média geral observada. É possível identificar também que as duas candidatas que mais utilizam o Twitter são aquelas filiadas aos partidos mais à esquerda, PCdoB e PT. O posicionamento ideológico segue critérios apontados em texto publicado pelo Observatório das Eleições.

Especificamente sobre as duas candidatas, Manuela D’Ávila foi quem mais utilizou o Twitter, fez 1580 tweets entre o 1º dia da campanha e 27 de novembro, penúltimo dia de campanha, e a petista Marília Arraes fez 603 tweets.

Manuela D´Avila e Marília: as candidatas mais tuiteiras

Na nuvem de termos mais utilizados, Manuela D’Ávila fez uso especialmente de sua hashtag #AgoraÉManuela65, o que demonstra um uso saliente de uma das affordances mais importantes do Twitter para aglutinar postagens parecidas. Além disso, o nome da capital Porto Alegre aparece fortemente. Palavras como, “cidade”, “juntas”, “nossa” e “obrigada” também ficam salientes.

A partir de buscas por menções por figuras específicas, pode-se ver que Manuela não citou nenhuma vez vez Lula em seu Twitter durante a campanha, ao passo que citou aliados como Boulos 63 vezes e Marília Arraes por nove vezes. O que demonstra um esforço de aderência às figuras da nova geração da esquerda e um afastamento de atores que geram polêmicas, como Lula, e que poderiam fazê-la perder votos. Manuela ainda citou 18 vezes Jair Bolsonaro, o que é entendido como uma manifestação de construção de um “nós x eles”, ou seja, a demarcação de seu posicionamento político.

Marília Arraes, que também travará uma acirrada disputa no domingo, usou o Twitter para demonstrar seu posicionamento. A palavra mais usada por ela foi “Recife”, seguida de “nossa”, “cidade”, “campanha”. Replicando busca por atores políticos importantes se vê que Marília, diferentemente de Manuela, cita Lula 74 vezes, demonstrando que tem se utilizado do capital político do ex-presidente na região Nordeste e em Recife para angariar votos. Além disso Marília Arraes citou 19 vezes Boulos e dez vezes Manuela D’Ávila, também se ligando a figuras jovens da esquerda. Por fim, para a marcação de suas posições políticas, Marília citou Bolsonaro 14 vezes e fez críticas à políticas encampadas pelo atual presidente.

Helga Almeida é mestra e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, com doutorado sanduíche na Universita Degli Studi di Roma (La Sapienza. É professora adjunta da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF). Coordenadora do Politik (Centro de Estudos em instituições, Participação e Cultura Política – Univasf). Pesquisadora do CEPPI – UFMG (Centro de Pesquisa em Política e Internet).
Luciana Santana é mestre e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, com estância sanduíche na Universidade de Salamanca. É professora adjunta na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), líder do grupo de pesquisa: Instituições, Comportamento político e Democracia, e atualmente ocupa a vice-diretoria da regional Nordeste da ABCP.
Raquel de Souza é graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), bolsista CNPQ de iniciação científica e membra do Politik (Centro de Estudos em Instituições, Participação e Cultura Política).

Rompimentos, campanha negativa e antipetismo no duelo familiar em Recife

Rompimentos, campanha negativa e antipetismo no duelo familiar em Recife

Priscila Lapa e Luciana Santana*

A disputa municipal em Recife, entre João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT), é uma das eleições mais intensas e acirradas do país. Não apenas por ser uma competição entre primos pelo comando da capital ou entre candidaturas de esquerda, mas pelas campanhas marcadas por ataques, difamações e quebra de reputações.

E em meio a esse clima de embates, em que os dois candidatos se dizem vítimas de uma campanha acusatória, alicerçada em mentiras, foi realizado o último debate televisivo da eleição 2020, pela TV Globo.

Entre os momentos de tensão, houve troca de acusações sobre qual das gestões – PT ou PSB – deixou mais obras inacabadas e qual delas menos contribuiu para o desenvolvimento da cidade. Nesse aspecto, João Campos acusou o PT de não fazer autocrítica e Marília falou que o PSB recruta seu partido como aliado sempre que é da sua conveniência.

O processo do Ministério Público mais uma vez foi trazido por Campos, que buscou comparar a vida pública dos dois para mostrar que não há acusações contra ele. Já Marília adotou um tom mais combativo e mencionou as investigações da Polícia Federal a respeito de compras realizadas pela Prefeitura durante a pandemia. A questão religiosa também foi tratada em diversas ocasiões, inclusive quando o tema tratado foi diversidade.

Sem maiores revelações, o debate provavelmente contribuiu para reafirmar a posição de quem já havia tomada sua decisão.

Desempenho dos candidatos nas pesquisas

Na última pesquisa Datafolha divulgada quinta-feira (26/11), Marília Arraes (PT), candidata petista aparece com 43% das intenções de votos contra 40% de João Campos (PSB), candidato da situação.

Na primeira sondagem divulgada no dia 19/11, Marília tinha 41% e subiu 2 pontos. Campos teve o maior crescimento, 7 pontos. Antes aparecia com 34% das intenções de votos. É possível perceber mudanças também em relação à porcentagem de entrevistados que informaram que pretendem votar branco ou nulo. A porcentagem era de 21%, reduziu para 13%. A porcentagem de indecisos oscilou de 3 para 4%.

Desempenho candidatos nas pesquisas Datafolha

Cada instituto segue metodologia própria, mas ainda que não seja possível comparar pesquisas de intenções de votos, torna-se importante ressaltar que, na última semana, os números do Datafolha divergiram dos números da pesquisa Ibope. O que mais chamou a uma virada de Campos sobre Marília.

No levantamento publicado pelo Ibope no 19/11, João Campos (PSB) tinha 39% e subiu para 43% na pesquisa publicada no dia 25/11. Marília Arraes (PT) que liderava com 45%, caiu para 41%. A porcentagem de brancos e nulos permaneceu estável. E de indecisos cresceu apenas 1 ponto.

Desempenho candidatos nas pesquisas Ibope

Entusiasmo marca a campanha de Marília no segundo turno

A trajetória da candidata Marília Arraes (PT) no segundo turno começou embalada pelo entusiasmo. A sua votação no primeiro turno foi de 223.248 votos, o equivalente a 27,95%, deixando para trás Mendonça Filho (DEM) e a Delegada Patrícia (PODE). Em alguns momentos da apuração dos votos, Marília esteve à frente de João Campos (PSB), o que gerou entusiasmo em apoiadores e na militância, numa onda crescente de “virada”.

Ciente de que o antipetismo seria o mote da campanha do seu adversário, a candidata foi angariando apoio até de adversários locais do PT, que justificaram seu gesto como a aposta na mudança. O deputado federal Ricardo Teobaldo, presidente estadual do PODEMOS, passou por cima do primeiro turno e declarou que a legenda tem em Marília a representação da oposição ao PSB. Com esse mesmo mote, o prefeito reeleito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira (PL), se juntou ao time de apoio à petista. O ex-senador Armando Monteiro (sem partido), que apoiou Mendonça Filho no primeiro turno, veio a público declarar que somava forças à candidata do PT.

Trazendo emoções positivas como pano de fundo dos programas eleitorais no rádio e na TV, Marília permaneceu em postura crítica à gestão socialista, mas em debates passou a questionar a capacidade de liderança e de gestão do seu adversário. O seu desafio é captar os votos daqueles que optaram por outros candidatos no primeiro turno movidos pelo sentimento de mudança. No primeiro turno, nem sempre foi possível fazer a distinção entre sua candidatura e a do socialista, colocada por muitos – inclusive pelos seus adversários – como sendo iguais, aliadas, de esquerda.

Ainda que o antipetismo tenha aparecido no primeiro turno, ele não foi amplamente explorado como se imaginava na largada do processo, pois a candidatura do PSB era o grande alvo. Marília não teve sua candidatura desconstruída e isso pode ser um dos motivos pelos quais ela chegou ao segundo turno.

João Campos aposta no antipetismo e na desconfiança do eleitor

João Campos (PSB) tem protagonizado uma campanha cuja estratégia busca despertar no eleitorado o antipetismo e o sentimento de desconfiança sobre Marília Arraes. A ele não restou alternativa, já que, para vencer a eleição, precisa dos votos depositados nos seus adversários no primeiro turno. Necessita se diferenciar de Marília, neutralizando a percepção de que são dois candidatos jovens, de esquerda. Se não bastassem os vínculos familiares, seus partidos protagonizam episódios de alianças e rompimentos no cenário local.

Assim, o tom mais emotivo, propositivo, de posicioná-lo como jovem, porém determinado, e tecnicamente preparado, foi sendo substituído pelo mote “Marília é PT”; pelo resgate de críticas às administrações petistas na cidade; pela comparação dos seus mandatos de deputado federal, apresentando a petista como alguém que tem um desempenho aquém do seu; e pela exploração de denúncias e possíveis indiciamentos de Marília pelo Ministério Público.

As primeiras propagandas de João Campos (PSB) no primeiro turno apontaram que Marília viabilizou sua candidatura por manter relações amistosas com membros da executiva nacional do PT, insinuando que essas lideranças petistas dominariam a prefeitura do Recife, caso Marília vença a eleição.

O que os diferencia as duas candidaturas de esquerda?

Não é pelas propostas que o eleitor tem conseguido diferenciar João Campos e Marília Arraes. Para cada proposta, uma acusação, um ataque ou uma tentativa de defesa. Na trajetória do segundo turno, apenas alguns aspectos específicos das propostas entraram na agenda eleitoral. Um exemplo disso foi o projeto apresentado por Marília Arraes, intitulado “Palafita Zero”, que pretende retirar famílias de palafitas com a construção de unidades habitacionais. João Campos acusou a candidata de desconhecer o custo para zerar as palafitas e que, portanto, ela estaria prometendo algo inexequível. A candidata rebateu mostrando as deficiências na área habitacional na atual gestão. E, assim, do debate acerca de uma proposta, imediatamente se chegou a um novo embate com elementos de desqualificação do adversário.

A famosa polarização direita versus esquerda se diluiu pelo debate mudança versus continuidade, mas agora de forma mais acentuada com referências de que mudar significa votar no PT. João Campos tem afirmado em entrevistas e debates que não terá secretários e nenhum membro do Partido dos Trabalhadores em seu staff. Nesse cenário, a diferenciação seria: “eu não sou do PT”, com tudo o que isso possa significar para o eleitor.

Outra diferenciação tem sido buscada pelas alianças firmadas e pelos perfis dos apoiadores. Marília Arraes buscou resgatar as realizações das gestões petistas na cidade, sem fazer menção aos ex-prefeitos petistas. Agora em 2020 o ex-prefeito e deputado João Paulo, hoje no PCdoB, disputou a eleição no município vizinho, Olinda, sem sucesso. No segundo turno, ele declarou apoio à Marília Arraes, ainda que seu partido, antes aliado recorrente do PT, hoje seja um braço direito do PSB, ocupando, inclusive, a vice-governadoria.

O ex-prefeito petista João da Costa, que disputou a eleição de vereador no Recife, e também não ganhou, fez diversas críticas a Marília Arraes no início da campanha, ressaltando o seu descolamento em relação às bases do partido. Agora no segundo turno, declarou seu apoio público à candidata. Era o que a campanha de João Campos queria: mostrar que as administrações petistas não foram suficientemente competentes, uma vez que Costa saiu da prefeitura com baixíssima avaliação, em 2012, sem sequer conseguir ser candidato à reeleição.

Nos debates, Campos passou a mencionar enfaticamente que Marília é a candidata de João da Costa, mais uma vez na tentativa de aflorar o sentimento anti-PT e gerar desconfiança sobre um possível mandato de Marília e seus aliados.

Contudo, a aliança entre PT e PSB é uma das maiores marcas da política local. Seria normal o fato de terem sido parceiros e hoje serem adversários. Mas a forma como se deu o processo deixou marcas que estão sendo exploradas pelos competidores na conjuntura atual.

Os dois partidos foram aliados nas três gestões petistas na capital pernambucana: 2000-2004; 2005-2008; 2019-2012. Em 2012, o PSB lançou candidato próprio, Geraldo Júlio, que venceu no primeiro turno, apesar de ser um quadro técnico do Tribunal de Contas do Estado, sem qualquer experiência política. Foi uma estratégia exitosa do ex-governador Eduardo Campos, que enxergou uma grande oportunidade de ganhar a prefeitura do Recife esquivando-se da briga interna do PT para definir quem seria o seu postulante. Isso porque, diante da má avaliação da gestão de João da Costa, uma ala do partido passou a defender que ele não fosse candidato à reeleição e que outro nome deveria substituí-lo. A briga, envolvendo a executiva nacional, gerou desgastes públicos para a legenda, que lançou Humberto Costa (atualmente senador pelo partido) e amargou o terceiro lugar. A partir dali, o PSB se tornou o grande protagonista da aliança política de esquerda no Recife.

Em 2016, a rivalidade entre os dois partidos foi reforçada. Geraldo Júlio foi para o segundo turno com João Paulo, à época no PT, e venceu com 61,30% dos votos. No cenário nacional, o PT amargava o seu pior desempenho na história recente, influenciado sobretudo pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Dois anos antes, PT e PSB viveram a maior desavença da trajetória dos partidos no contexto estadual. Eduardo Campos lançou-se candidato a presidente, com uma aprovação da sua administração que ultrapassava os 60%. Com a tragédia ocorrida, o eduardismo se tornou uma vertente política forte, avassaladora, quase. O PSB optou por abraçar a candidatura de Marina Silva, colocando-se como oposição nacional ao Partido dos Trabalhadores. No segundo turno, rumou para apoiar Aécio Neves. Era um choque com o caminho mais à esquerda que sempre percorreu. No plano local, os socialistas garantiram a eleição de Paulo Câmara para governador, mais um técnico escolhido por Eduardo Campos, como estratégia para não dar protagonismo a nenhum partido aliado em específico e manter a hegemonia do PSB.

Esse rompimento com o PT em 2014 levou o PSB a liberar secretários estaduais para reassumirem seus cargos de deputado federal para votar a favor do impeachment de Dilma Rousseff, o que causou ainda mais distanciamento com seus antigos aliados petistas. Mas não contavam com a mudança de cenário que se deu no Brasil em 2018.

O grande nome do PT em Pernambuco era o senador Humberto Costa, que pleiteava sua reeleição. Ao mesmo tempo, o palanque do governador Paulo Câmara minguava pelo desgaste da gestão socialista. Marília Arraes entra nesse contexto, pois, em 2016, filiou-se ao Partido dos Trabalhadores, após imenso desgaste dentro do PSB, tornando-se uma das principais críticas dos socialistas. Em 2018, pleiteava lançar sua candidatura a governadora do Estado. Mas, pela intervenção de Humberto Costa, teve seu nome retirado da disputa. Assim, os dois partidos rumaram juntos e garantiram não só a reeleição do senador como do governador no primeiro turno. A aliança beneficiou os dois. E Marília permaneceu como um nome viável, uma espécie de “carta na manga” para o PT.

Até o início de 2020, especulava-se a possibilidade de manutenção da aliança, mais uma vez “sacrificando” as pretensões de Marília Arraes. Mas desta vez foi diferente. Seu principal padrinho político, o ex-presidente Lula, foi um defensor de primeira hora da sua candidatura, o que foi acatado pela Executiva Nacional do partido. Como a aliança entre os dois inviabilizada, foram geradas expectativas sobre como seria a condução dos discursos: se os adversários iriam partir para o ataque, mesmo tendo rompido a relação muito recentemente, somado ao fato de membros do PT ainda manterem cargos na gestão socialista.

No primeiro turno, os candidatos de centro-direita utilizaram essas idas e vindas dos dois partidos para dizer que se tratavam de uma coisa só. E para muitos eleitores isso fazia todo o sentido.

Marília Arraes ou Marília?

Marília tentou firmar-se como uma liderança com personalidade própria e protagonismo. No início da campanha, foi cobrada por não utilizar os símbolos e cores do partido. No entanto, além das alusões ao seu avô Miguel Arraes, a candidata trouxe a figura de Lula para os seus programas e viu o crescimento da sua intenção de votos acontecer. Passou a resgatar os feitos das administrações petistas, tanto em âmbito nacional quanto localmente. A mensagem era: “É Lula, é Arraes. É Marília Arraes”. E completava dizendo ter orgulho de carregar no peito “essas duas histórias de luta”, porém advertia: “Não esqueça, eu sou Marília”.

Muito se debateu sobre o que e quem contribuiu para que Marília se viabilizasse no segundo turno. O fato de ser mulher teria sido um grande diferencial? Lula foi um cabo eleitoral mais eficiente do que o presidente Bolsonaro, que, ao apagar das luzes do primeiro turno, declarou apoio à candidata Delegada Patrícia? O quanto do eleitor petista esteve presente?

Em sua campanha no segundo turno, Marília passou a ser mais enfática na mensagem direcionada ao público feminino. Passou a falar que “o Recife precisa de uma Prefeita”, fazendo alusão às características femininas do cuidado.

A imagem de Marília antes da eleição de 2020 era a de alguém que teve coragem de romper com o PSB, mesmo sendo da família Arraes e tendo sua história política de alguma forma atrelada ao partido do seu avô e do seu tio Eduardo Campos. Ao mesmo tempo, João Campos desponta como um jovem que passou pela perda precoce do pai e que escolheu a política como vocação. A sua imagem jovial contrasta com o discurso que tenta demonstrar firmeza. Os adversários, em diversas ocasiões, cobraram um do outro respeito ao legado de Miguel Arraes.

Como o voto evangélico pode influenciar a eleição?

Um fato novo do segundo turno foi a força de desconstrução da candidata petista, não apenas pela questão partidária, mas pelo viés religioso. Logo no início da corrida do segundo turno, ainda no embate dos apoios dados a cada um dos postulantes, inserções do PSB na TV e no rádio começaram a questionar a formação religiosa de Marília Arraes, colocando-a como alguém que, em determinadas ocasiões da sua trajetória como vereadora, havia adotado posturas anti-cristãs, como o posicionamento contrário à leitura da Bíblia no início das sessões plenárias. Em seguida, panfletos apócrifos passaram a ser distribuídos na saída de templos religiosos com esse mesmo teor, conforme apresentado em artigo do Observatório das Eleições.

A candidata recorreu às redes sociais para gravar mensagens em que reafirmava a sua postura cristã e para repudiar essa estratégia de “ataques pessoais” da campanha socialista. Também conseguiu atrair lideranças religiosas, inclusive do segmento evangélico (recebeu o apoio de 12 congregações), que se disseram contrários aos ataques desferidos contra a petista.

Mas, de acordo com as pesquisas, a maior parte dos eleitores evangélicos passou a apoiar o candidato João Campos. Na pesquisa Ibope divulgada em 19 de novembro, Campos se destaca na preferência dos eleitores evangélicos com 44% das intenções de voto, contra 32% da candidata petista.

A pesquisa do Datafolha publicada no dia 20 de novembro também apresenta diferença na preferência dos eleitores evangélicos. Dentre os entrevistados evangélicos, 33% mencionaram ter preferência por Marília e 38% por João Campos. Entre os católicos, 44% preferem Marília e 35% a Campos. A intensidade das campanhas marcada por embates e difamações podem ter influenciado a intenção de votos. Na segunda rodada da pesquisa Datafolha publicada no último dia 25, a porcentagem de evangélicos que preferem o candidato socialista cresceu passou para 51% contra 30% dos que mencionaram preferir a candidata Marília. Entre os entrevistados católicos, 46% preferem Marília e 39% João Campos.

Disputa judicial e fake news

A uma semana do pleito, a revista Veja publicou uma matéria apresentando denúncia feita pela 43ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania, em que acusa Marília Arraes de ter cometido improbidade administrativa, juntamente com quatro ex-assessores, quando foi vereadora do Recife. Datada de 10 dezembro de 2019, a denúncia desencadeou pedido à Polícia Civil para instaurar inquérito, a fim de apurar os fatos. De acordo com a revista, a denúncia diz respeito a supostas irregularidades no pagamento de servidores do gabinete, que receberiam salários e não prestariam serviços, nos anos de 2014 e 2017. O fato tem sido amplamente explorado pela campanha socialista, assim como a divulgação de áudio do deputado federal Túlio Gadelha (PDT), em que supostamente confirma a realização de atos de improbidade ligados à remuneração de servidores do gabinete de Marília Arraes.

O partido de Gadelha apoia João Campos, inclusive indicou Isabella de Roldão como vice, mas o deputado se colocou publicamente contra essa postura. No segundo turno, rompeu sua posição de neutralidade e declarou publicamente apoio a Marília Arraes.

A candidata divulgou notas e falou publicamente sobre tais acusações, dizendo-se se tratar de uma denúncia e de um processo já arquivados, por não serem procedentes. A partir daí, os dois candidatos passaram a travar brigas judiciais, no caso de Marília para retirar as propagandas sobre o assunto do ar; no caso de João Campos, para mantê-las.

Desafio do último dia: reduzir a abstenção eleitoral

O corpo a corpo para conquistar o eleitor ainda continuará até que a votação seja encerrada. E até lá, os candidatos têm a missão de convencer os eleitores de irem às urnas e reduzir a abstenção verificada no primeiro turno, além do elevado número de brancos e nulos apontados até o momento pelos Institutos de Pesquisa.

Seja como for, até a apuração do resultado, a disputa  familiar recifense promete muitas emoções.

*Priscila Lapa é doutora e mestre em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco, possui graduação em Comunicação Social (Jornalismo) e em Serviço Social. Professora na Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (FACHO) e Analista Técnica no SEBRAE-PE, atuando na área de Políticas Públicas.
Luciana Santana é doutora e mestre em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, com estância sanduíche na Universidade de Salamanca. É professora adjunta na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), é líder do grupo de pesquisa: Instituições, Comportamento político e Democracia, e atualmente ocupa a vice-diretoria da regional Nordeste da ABCP.

Após sete vitórias consecutivas em Teresina, PSDB pode perder a eleição

Após sete vitórias consecutivas em Teresina, PSDB pode perder a eleição

Fora dos holofotes nacionais, a disputa em Teresina merece atenção. O PSDB ganha eleições na capital piauiense desde 1992. Perdeu o controle da Prefeitura apenas entre meados de 2010 até 2012, quando o então prefeito peessedebista à época, Sílvio Mendes, renunciou para disputar as eleições estaduais em 2010. De 2010 a 2012 ocupou o cargo o então vice-prefeito da capital, Elmano Férrer (à época no PTB e hoje filiado ao PP).

Foram quatro prefeitos tucanos em Teresina: Wall Ferraz (1993-1995), Francisco Gerardo (1995-1996), Firmino Filho (1997-2004 e 2013-2020) e Sílvio Mendes (2005-2010). Wall Ferraz já havia sido prefeito da capital de 1986 a janeiro de 1989, à época pelo PMDB. Isso é importante de ser lembrado, pois a força política do PSDB em Teresina deu-se, em grande medida, pela vinda de Wall Ferraz para o partido. om a morte de Ferraz em 1995, Firmino Filho, economista, professor e jovem político do partido, lançou-se como candidato de continuidade do legado de Ferraz em 1996, sendo vitorioso naquele pleito. Firmino Filho, junto com seu partido, não somente deu continuidade ao legado de Ferraz como conseguiu imprimir sua própria marca na política teresinense. Foi eleito prefeito da capital piauiense por quatro vezes.

Nesta eleição, Firmino Filho não poderia mais se colocar como candidato. Precisava, junto com seu partido, fazer o sucessor. No entanto, quem poderia assumir esta condição? Vários nomes foram apresentados, inclusive do ex-prefeito Sílvio Mendes. No entanto, o escolhido foi Kleber Montezuma.

Quem são os atuais candidatos?

Montezuma é economista e professor e, apesar de não ter ocupado cargos eletivos, participou da gestão do PSDB na capital. Deixou o cargo de secretário de Educação para disputar a eleição a prefeito. Antes, já havia ocupado as pastas de Educação e Cultura (2001-2004), Habitação e Urbanismo (1997-2000) e Trabalho e Assistência Social (1993-1996) na Prefeitura.

Candidato de confiança do atual prefeito, Montezuma foi também “abençoado” pelo senador Ciro Nogueira (PP), que indicou o vice para a chapa, o policial militar Eduardo Rodrigues da Silva, conhecido como Sargento R. Silva (PP). A gestão do prefeito Firmino Filho é desaprovada por 53% dos entrevistados e aprovada por 41%, de acordo com a pesquisa do Ibope de 23 de novembro. Com essa baixa avaliação, é difícil viabilizar um candidato de situação, ainda mais alguém sem experiência em disputas eleitorais.

O candidato Dr. Pessoa (MDB) foi eleito vereador de Teresina pelo PPS em 2000, 2004 e 2008. Em 2012, já no PSD, voltou a se reeleger para a Câmara Municipal. Em 2014 foi eleito deputado estadual. No entanto,  derrotas também fazem parte da trajetória política de Pessoa. Em 1988, perdeu a disputa para a prefeitura de Lagoinha do Piauí e, em 1996, para a prefeitura de Água Branca. Em 1990 e em 2002, perdeu a eleição para o legislativo estadual. Em 2016, disputou a Prefeitura da capital e foi derrotado pelo atual prefeito. Filiado ao partido Solidariedade, em 2018, disputou o governo estadual contra Wellington Dias e também foi derrotado. Contraditoriamente hoje estão ao mesmo lado na disputa de Teresina.

É válido, no entanto, destacar que Dr. Pessoa teve 39,7% dos votos, no primeiro turno, no pleito de 2016 para a Prefeitura de Teresina e cerca de 20,5% na eleição para governador do Piauí em 2018. Não se trata de um candidato desconhecido da maior parte da população teresinense. Diferente de Kleber Montezuma, pouco conhecido e sem capital político próprio.

Desempenho nas pesquisas

A pesquisa Ibope/TV Rádio Clube de Teresina, divulgada no último dia 23 de novembro, aponta para uma vitória do candidato emedebista sobre o peessedebista. Na sondagem, 55% dos eleitores mencionam que votariam em Dr. Pessoa (MDB) e 30% em Kleber Montezuma (PSDB). 11% informaram que votarão em branco ou nulo e 4% estão indecisos. Na contabilização apenas dos votos válidos, que excluem votos em branco, nulos e indecisos, Pessoa teria 65% da intenção de votos contra 35% de Montezuma.

No primeiro turno, Dr. Pessoa obteve 34,53% dos votos válidos, enquanto Montezuma apresentou 26,70%. Gessy Fonseca (PSC), que teve 12,1% dos votos válidos, decidiu apoiar Dr. Pessoa e Fábio Novo (PT), que teve 11,5%, manteve-se neutro.

O clima da Campanha

Os ânimos poderiam estar mais acirrados na disputa pelo segundo turno, mas a vantagem nas pesquisas tornou a posição do candidato emedebista mais confortável, tanto que não tem participado de debates em rádio e televisão. Devido à recusa de Dr Pessoa  não houve debate ontem na TV Clube, afiliada da Rede Globo no Piauí.

Restou ao candidato pessedebista tentar se capitalizar politicamente em cima dessas ausências. A estratégia política de Kleber Montezuma, no entanto, teria que ser extremamente contundente. Conforme as pesquisas, não bastaria o candidato da situação convencer o eleitor indeciso, mas mudar a preferência inicial de alguns eleitores que já se colocam a favor de Dr. Pessoa.

Para o PSDB, está em jogo a continuidade do seu domínio na capital. Além disso, perder o controle do maior colégio eleitoral do estado poderá implicar em um grande obstáculo ao futuro político do PSDB, de Firmino Filho e de seu aliado político, Ciro Nogueira (PP), que foi um dos grandes vitoriosos das eleições municipais no estado, tendo seu partido obtido 83 prefeituras de um total de 224 municípios piauienses.

Bolsonarismo entrou na eleição de Teresina?

De acordo com os dados da pesquisa do Ibope publicados do dia 23, o governo de Jair Bolsonaro é avaliado de forma negativa (ruim/péssimo) por 48% dos entrevistados, regular por 28% e bem avaliado por apenas 23% (ótimo/bom). Isso reflete bem a estratégia dos candidatos.

Nenhum dos dois têm se vinculado diretamente a Bolsonaro, mas o presidente também não tem sido alvo de críticas. As questões locais têm preponderado e o que está jogo é o continuísmo ou alternância. Neste caso, Dr. Pessoa tem se apresentado como viável eleitoralmente para a mudança política na capital piauiense.

O apoio do PT e de Wellington Dias ao MDB

O candidato petista e deputado estadual Fábio Novo (PT) terminou o primeiro turno em quarto lugar na disputa da capital, alcançando 11,5% dos válidos. Novo declarou que votará nulo, pois, após conversa com Dr. Pessoa, não se chegou a um consenso quanto à aliança no segundo turno. Devido à rivalidade histórica entre PT e PSDB, o candidato também não apoiou Kleber Montezuma. No entanto, o  Partido dos Trabalhadores (PT) decidiu apoiar a candidatura do MDB. O candidato Dr. Pessoa também recebeu apoio do governador Wellington Dias.

O apoio petista não foi bem recebido por outros aliados e o tom das críticas aumentaram nos últimos dias, especialmente com referências a realinhamentos de forças visando as eleições em 2022. De acordo com a última pesquisa Ibope, a avaliação da gestão do governador piauiense é ótima ou boa para 27% dos entrevistados, regular para 36%, ruim ou péssima para 34% e 2% não souberam avaliar. Considerando a avaliação negativa do governador na capital, é possível que esta seja a razão da candidatura de Dr. Pessoa não ter explorado em sua campanha o apoio recebido do PT.

Já houve aliança entre PT e PSDB no Piauí

Historicamente, assim como a nível nacional, PT e PSDB não costumam se alinhar. Não somente isso. Costumam rivalizar disputas eleitorais. A última aliança entre o PSDB e o PT em disputas com grande relevância no estado ocorreu em 1998, quando lançaram uma candidatura conjunta para o governo estadual. No entanto, naquele pleito, já no segundo turno, os dois partidos tomaram posições divergentes.

Em 2002, Wellington Dias (PT) foi eleito pela primeira vez governador em uma disputa contra Hugo Napoleão (PFL) que contou com o apoio de Firmino Filho (PSDB). A partir daquele momento, o PT começou uma trajetória de fortalecimento do partido, o que não significou ganhos políticos na capital. Mesmo Wellington Dias, quando foi candidato a prefeito de Teresina em 2012, obteve apenas 14,2% dos votos válidos.

Com o PSDB dominante na capital, o PT nunca conseguiu lançar uma candidatura viável eleitoralmente em Teresina. Dr. Pessoa (MDB), no entanto, parece ter conseguido encontrar o caminho. Com isso, o PT tratou de apoiar sua candidatura no segundo turno. A questão que fica é: esse apoio terá vida longa até 2022?

O fim da gestão do PSDB na capital

Sabemos que políticas como o Projeto Vila-Bairro, desenvolvido na década de 1990, possibilitaram que o PSDB garantisse um apoio espraiado em todo o município. Além disso, bons indicadores relacionados à educação pública municipal permitiram a população acesso à educação. Também é válido dizer que a oposição tem dificuldades de apresentar um projeto para a cidade que convença o eleitorado teresinense a eleger candidatos de outro partido.

A eleição em Teresina pode influenciar 2022?

Em 2018, participaram da mesma coligação PT, PP e MDB. Entretanto, a aliança entre Wellington Dias (PT) e Ciro Nogueira (PP) não parece ter vida longa. Nogueira tem buscado construir alianças para viabilizar sua candidatura de governador em 2022. Com isso, o PP buscou lançar e investir mais fortemente em candidaturas para as prefeituras piauienses.

Na capital, assim como em outros municípios, fica claro que o atual governador, Dias e o senador Nogueira, de fato, se colocarão em lados opostos no pleito em 2022, seja na disputa do Governo do Estado, seja para os demais cargos.

*Vítor Sandes é doutor em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). É professor adjunto da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e coordenador do Grupo de Pesquisa sobre Partidos Políticos (Geppol).
Luciana Santana é mestre e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, com estância sanduíche na Universidade de Salamanca. É professora adjunta na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), líder do grupo de pesquisa: Instituições, Comportamento político e Democracia, e atualmente ocupa a vice-diretoria da regional Nordeste da ABCP.