Helga Almeida, Luciana Santana e Raquel de Souza

A adesão ao twitter cresceu nas eleições de 2020. Focando nos candidatos que chegaram ao segundo turno, 82,4% utilizaram a plataforma desde o começo da campanha eleitoral em 27 de setembro. Esse uso massivo demonstra o entendimento dos candidatos representantes dos diversos partidos do espectro de que estar no Twitter é importante para o alcance do sucesso eleitoral.

Uso das mídias sociais nas eleições de 2020

O uso das mídias sociais foram notórios nesta que foi a eleição mais digitalizada no Brasil. Instagram, Facebook, Twitter, Tik Tok foram algumas das plataformas usadas por candidatas e candidatos à reeleição e seus desafiantes.

Se todas as mídias cumprem uma missão específica, o Twitter mostra ser importante, dado que tem sido mídia social central no campo da política e que muito tem influência, inclusive, na mídia de massa na construção de pautas.

Alguns pesquisadores têm afirmado que estaríamos vendo um fenômeno chamado de Twittocracia, ou seja, um modelo político-comunicacional em que pronunciamentos oficiais, tanto em relação ao plano da política interna, quando no plano da política externa, são feitos no Twitter. Sendo que a partir de uma lógica mais próxima ao microblog, o usuário do Twitter escreve em rápido fluxo seus diários com postagens de até 280 caracteres e dispõe naquele espaço suas opiniões e ações políticas, transformando sua conta em canais “oficiais” para o conhecimento de suas perspectivas e ideias.

Uso do twitter por mulheres candidatas

Chamamos atenção aqui para o uso feito pelas mulheres que estão pleiteando os executivos municipais. Isso porque, diante da realidade da violência política de gênero sofrida pelas candidatas em 2020, como demonstrado em artigo publicado aqui no Observatório, o Twitter se coloca como possibilidade comunicacional importante para a demarcação de seus posicionamentos durante as eleições.

Ao total cinco mulheres estão nas disputas nas capitais no segundo turno. São elas: Delegada Danielle (Cidadania) em Aracaju, Cristiane Lopes (PP) em Porto Velho, Marília Arraes (PT) no Recife, Manuela D’Ávila (PCdoB) em Porto Alegre e Maria do Socorro Neri (PSB) em Rio Branco.

Chama a atenção que das cinco mulheres no pleito do segundo turno apenas Marília Arraes e Manuela D’Ávila têm usado o Twitter em suas respectivas campanhas, ou seja, 40% delas, muito abaixo da média geral observada. É possível identificar também que as duas candidatas que mais utilizam o Twitter são aquelas filiadas aos partidos mais à esquerda, PCdoB e PT. O posicionamento ideológico segue critérios apontados em texto publicado pelo Observatório das Eleições.

Especificamente sobre as duas candidatas, Manuela D’Ávila foi quem mais utilizou o Twitter, fez 1580 tweets entre o 1º dia da campanha e 27 de novembro, penúltimo dia de campanha, e a petista Marília Arraes fez 603 tweets.

Manuela D´Avila e Marília: as candidatas mais tuiteiras

Na nuvem de termos mais utilizados, Manuela D’Ávila fez uso especialmente de sua hashtag #AgoraÉManuela65, o que demonstra um uso saliente de uma das affordances mais importantes do Twitter para aglutinar postagens parecidas. Além disso, o nome da capital Porto Alegre aparece fortemente. Palavras como, “cidade”, “juntas”, “nossa” e “obrigada” também ficam salientes.

A partir de buscas por menções por figuras específicas, pode-se ver que Manuela não citou nenhuma vez vez Lula em seu Twitter durante a campanha, ao passo que citou aliados como Boulos 63 vezes e Marília Arraes por nove vezes. O que demonstra um esforço de aderência às figuras da nova geração da esquerda e um afastamento de atores que geram polêmicas, como Lula, e que poderiam fazê-la perder votos. Manuela ainda citou 18 vezes Jair Bolsonaro, o que é entendido como uma manifestação de construção de um “nós x eles”, ou seja, a demarcação de seu posicionamento político.

Marília Arraes, que também travará uma acirrada disputa no domingo, usou o Twitter para demonstrar seu posicionamento. A palavra mais usada por ela foi “Recife”, seguida de “nossa”, “cidade”, “campanha”. Replicando busca por atores políticos importantes se vê que Marília, diferentemente de Manuela, cita Lula 74 vezes, demonstrando que tem se utilizado do capital político do ex-presidente na região Nordeste e em Recife para angariar votos. Além disso Marília Arraes citou 19 vezes Boulos e dez vezes Manuela D’Ávila, também se ligando a figuras jovens da esquerda. Por fim, para a marcação de suas posições políticas, Marília citou Bolsonaro 14 vezes e fez críticas à políticas encampadas pelo atual presidente.

Helga Almeida é mestra e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, com doutorado sanduíche na Universita Degli Studi di Roma (La Sapienza. É professora adjunta da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF). Coordenadora do Politik (Centro de Estudos em instituições, Participação e Cultura Política – Univasf). Pesquisadora do CEPPI – UFMG (Centro de Pesquisa em Política e Internet).
Luciana Santana é mestre e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, com estância sanduíche na Universidade de Salamanca. É professora adjunta na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), líder do grupo de pesquisa: Instituições, Comportamento político e Democracia, e atualmente ocupa a vice-diretoria da regional Nordeste da ABCP.
Raquel de Souza é graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), bolsista CNPQ de iniciação científica e membra do Politik (Centro de Estudos em Instituições, Participação e Cultura Política).