Lá atrás, em 1986 (que hoje parece ser no século 13), Emir Sader organizou um livro exatamente com esse nome. Mais uma vez, o Partido dos Trabalhadores (PT) discutia seus rumos e como agir na Nova República que se iniciava. Nenhuma novidade para um partido fundado a partir de diversos grupos e com forte disputa interna. O tempo passou e a história todo mundo conhece: o partido abraçou a institucionalidade, moderou o discurso e a prática e governou o país entre 2003 e 2016.
Agora, um novo dilema se coloca. Se em 2018, com o ex-presidente Lula preso, o PT foi bem-sucedido em se manter como a principal força política de esquerda e de oposição ao futuro governo, fazendo a maior bancada na Câmara e disputando o segundo turno das eleições presidenciais, agora o desafio reaparece de forma mais difícil.
Pressionado a compor uma frente com outras forças de oposição e a abrir mão de liderar o bloco de centro-esquerda, o pleito de 2020 é muito importante para as pretensões do partido em 2022. São dois os principais desafios: evitar o viés de queda verificado nas últimas eleições municipais, quando o partido elegeu menos vereadores e prefeitos do que o Partido Socialista Brasileiro (PSB), por exemplo, e demonstrar ter recuperado capilaridade organizativa em todo o território nacional nos últimos quatro anos.
Os dados das últimas eleições locais mostram o tamanho do problema. Em 2016, pela primeira vez na sua história, o partido elegeu menos vereadores e prefeitos do que na eleição anterior. Em 2012, o partido conquistara 11% das prefeituras e 9% das vagas nas câmaras municipais. Ainda venceu em 17 cidades com mais de 200 mil eleitores. Quatro anos depois, o partido ganhou em apenas uma grande cidade e em cerca de 5% dos municípios brasileiros, elegendo também cerca de 5% de vereadores.
Para além disso, o partido perdeu capilaridade. Na Ciência Política, usamos o lançamento de candidatos a vereador como uma medida para saber se o partido existe no nível local. Entre 2004 e 2012, o PT lançou candidatos em cerca de 90% dos municípios, rivalizando com o rei da capilaridade, o (Partido) do Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Em 2016, a máquina petista encolheu: o partido concorreu em pouco mais de 70% dos municípios, disputando o terceiro lugar com o Partido Progressista (PP), Partido Social Democrático (PSD) e Partido Socialista Brasileiro (PSB), atrás do (P)MDB e do Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB).
Os mapas abaixo dão cores a esse movimento. Nas eleições para prefeito e vereadores, quanto mais branco o mapa, menos municípios contaram com a participação do PT nas disputas. Da mesma forma, quanto mais fracas as cores nos mapas, menores as porcentagens de votos obtidos pelo PT.
O PT será capaz de reverter esse quadro iniciado em 2016? Essa é uma pergunta que começará a ser respondida nesta semana, quando tivermos os dados consolidados das candidaturas. A resposta final, porém, só no dia 15 de novembro. Não custa lembrar que o mundo vive também de coincidências. Em 1989, foi nesse mesmo dia que o então candidato Lula superou Loenel Brizola por menos de 500 mil votos e marcou a ascensão do PT como principal partido de esquerda do país. E nesse 15/11?