A eleição de Belo Horizonte vem se mostrando talvez a mais “monótona” dentre as das capitais. O atual prefeito Alexandre Kalil (PSD), segundo pesquisa do IBOPE divulgada no dia 29/10, tem 55 pontos de vantagem sobre o segundo colocado e supera a soma de todos os competidores em cerca de 40 pontos.
Um dos fatores que podem explicar tal situação é a avaliação retrospectiva feita pelo eleitor: segundo o IBOPE, 70% avaliam a gestão de Kalil como ótima ou boa, mesmo índice obtido pelo Datafolha (22/10) no que se refere ao desempenho no enfrentamento pandemia. A boa imagem do atual prefeito é corroborada por um índice de rejeição de apenas 15%, ainda segundo a última pesquisa do IBOPE. E ajuda a entender por que as críticas feitas pelos seus adversários não vem surtindo qualquer efeito.
Mas há um outro fator a se considerar: o apagão dos partidos que desde a redemocratização tiveram protagonismo na disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Em 2020 nem PT, PSB, PSDB ou MDB credenciaram-se como competidores efetivos. A tabela 1 traça um breve resumo das eleições entre 1985 e 2016. Para cada ano eleitoral são apontados os principais competidores no 10 turno (do mais para o menos votado), o partido vencedor, e se a definição deu-se em primeiro ou segundo turno. Na segunda coluna são destacadas as ocasiões em que PT, PSB e PSDB se coligaram.
Tabela 1
Principais partidos na disputa pela PBH (1985-2016)
Como se pode observar, apenas por duas vezes (1985 e 1992) partidos de direita tiveram alguma expressão eleitoral na cidade. Nas duas primeiras eleições, Belo Horizonte foi governada por partidos situados ao centro (MDB e PSDB) e de 1992 até 2016, a esquerda esteve à frente da prefeitura, com PSB ou PT – em quatro ocasiões de forma coligada (1992, 1996, 2000, 2008).
Além da vitória em 1988, o PSDB lançou candidatos competitivos em quatro ocasiões e aliou-se ao PSB em três – em uma delas (2008) numa inusitada associação com o PT. O MDB perdeu espaço depois da vitória de 1985 e, nas quatro vezes em que voltou à cena, apenas em 2008 chegou ao 20 turno.
Em 2016, pela primeira vez, a eleição em BH foi vencida por alguém de “fora da política”. A bordo de um inexpressivo PHS, Kalil roubou a cena. Era o início do apagão. Sob o impacto da crise que se abateu sobre o partido após 2015, o PT teve seu pior desempenho na cidade desde 1985, chegando em quarto lugar com 7,27% dos votos válidos.
O PSB, depois de administrar a cidade por oito anos, limitou-se a ocupar a vice na chapa do PSD que obteve 5,5% dos votos. PSDB e MDB ainda se mantiveram, com os tucanos sendo derrotados no segundo turno e os emedebistas ficando com 10% dos votos no primeiro.
Em 2018, a direita reinou na cidade. Mas era uma “nova” direita e vinha no embalo da desestruturação do sistema partidário que, desde 1994, havia contribuído para organizar e fazer avançar a democracia no país. Bolsonaro, pelo PSL, teve 65,6% dos votos no segundo turno em BH.
Romeu Zema (NOVO), por sua vez, derrotou Anastasia (então no PSDB) com 59% – como se não bastasse, o eleitorado tucano, já no primeiro turno, havia abandonado o candidato do partido à Presidência da República (Geraldo Alckmin) e despejado seus votos em Bolsonaro. A crise que derrubara o PT começava a bater às portas do PSDB mineiro. O apagão prosseguia.
Na Câmara Municipal, na segunda metade da legislatura iniciada em 2017, enquanto o partido de Kalil (a esta altura, o PSD) atraia a adesão de vários vereadores e chegava a 32% dos votos, PT, PSB, PSDB e MDB minguavam. Juntos, os quatro partidos controlavam apenas 12% das cadeiras – muito longe de sua força em 2000 (46%).
Em 2020 o apagão se consuma
De acordo com os dados do IBOPE de 29/10, o candidato do PT tem 2% das intenções de voto, deixando ao PSOL o melhor desempenho na esquerda, com 5%. A candidata do PSDB não passa de 1%. O PSB integra a coligação do segundo colocado nas pesquisas (do Cidadania), que chega a 8% das intenções de voto. O MDB se rendeu a Kalil e integra sua coligação.
Segundo pesquisa DataTempo/Quaest, realizada no início de outubro, 40% dos belo-horizontinos se declaram de direita; 25% de centro e 25% de esquerda. O PT é, de longe, o partido mais rejeitado (40%).
A cidade com longa tradição de governos de centro-esquerda mudou ou isso é apenas sinal de tempos que logo passarão? É cedo para dizer. Mas seja como for, a direita que reina na cidade desde 2016 não é a “tradicional” – PP, DEM, PTB, PL ou PRB continuam não tendo expressão. Tampouco é a “nova”.
O candidato à prefeitura pelo NOVO, apesar de acompanhado pelo retrato do governador Zema, não passa de 1%. O mais bolsonarista de todos os candidatos, lançado pelo PRTB, esperneia e lança impropérios para chegar a 3%. Ambos acreditavam que 2020 iria repetir 2018 e se enganaram.
Sobra então o PSD, que segundo a célebre definição de seu mentor (Gilberto Kassab) não é “nem esquerda, nem direita, nem centro”. Alexandre Kalil, o “fenômeno”, é algo parecido com isso.