Até as 20h desta quarta-feira(11), pelo menos 70 mil posts no Twitter mencionaram a #LaranjalDoBoulos, denunciando suposta contratação de duas produtoras fantasmas pelo candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, que nesta semana apareceu em segundo lugar na pesquisa Ibope. Poucos casos nestas eleições deixaram tão nítida a operação da desinformação como estratégia política, com passos combinados para gerar controvérsia e desgastar um candidato.
Durante debate entre os candidatos realizado pelo UOL/Folha na manhã de hoje (11), Celso Russomanno (Republicanos), que pela primeira vez apareceu em terceiro lugar, levantou o tema e disse que a informação estava “nas redes”. Como noticiou a Folha, o candidato apoiado por Bolsonaro atribuiu a informação a uma denúncia publicada nas redes sociais. A acusação foi feita por Oswaldo Eustáquio, que já foi preso por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) por espalhar notícias falsas, e publicada no canal do YouTube dele enquanto o debate ocorria – o que mostra que Russomanno sabia que isso seria feito.
Boulos nega a acusação e postou informações detalhadas sobre a contratação das produtoras, cujos pagamentos constam na prestação de contas do candidato. Para evitar a propagação do vídeo, ele entrou com uma ação na Justiça Eleitoral para pedir que este seja retirado das redes sociais. Já a Justiça Eleitoral solicitou à Polícia Federal abertura de inquérito contra Russomanno por calúnia contra Boulos, em resposta ao pedido do Ministério Público Eleitoral.
A situação também mostra outro elemento: utilização de um político como amplificador de audiência. Russomanno seguiu os passos de Bolsonaro, Trump e outros líderes de extrema-direita que usam sua projeção para espalhar mentiras, seja sobre a pandemia, eleições ou algum adversário. Os indícios mostram não apenas proximidade na linha política, mas apontam possível utilização da estrutura de desinformação que tem sido chamada de Gabinete do Ódio ou, ao menos, compartilhamento de seu modus operandi.
O post do próprio Eustáquio no Twitter é o primeiro a ser apresentado em “destaque” pela plataforma, quando buscamos a referida hashtag. O número de curtidas e compartilhamentos são contados aos milhares. Outros posts, como o do deputado estadual Douglas Garcia (PTB), que se diz representante do “Movimento Conservador”, têm ajudado a espalhar a desinformação. Portais que se apresentam como noticiosos também mobilizam o tema. Caso da Gazeta Brasil, que divulga que a situação se tornou o assunto mais comentado do Twitter, mas não traz o outro lado nem menciona as ações na Justiça.
Mas nem só de amplificadores reais uma campanha de desinformação é feita. A plataforma Bot Sentinel, que monitora atividade inautêntica no Twitter, publicou que foram identificados 217 posts mencionando #LARANJALDOBOULOS tuitados por contas não autênticas, os conhecidos robôs. A hashtag está no topo da lista das mais movimentadas por meio de mecanismos automatizados, no ranking da Bot Sentinel. Essas contas também amplificam o debate, produzindo, em geral, de forma constante e com o intervalo de tempo menor do que qualquer ser humano conseguiria, o que ajuda a espalhar o conteúdo e a fazer crescer as menções a ele nas redes.
O enredo é conhecido: alguém posta, outro com alcance compartilha, a desinformação é comentada nas redes e lá ganha projeção, com ajuda de mais amplificadores e de robôs. Conteúdos de portais que se apresentam como noticiosos são usados para dar veracidade ao caso e, muito possivelmente, ganham ampla repercussão em grupos de WhatsApp e outras plataformas. É por isso que investigar e desmontar o arranjo de grupos que usam desinformação como estratégia é tão central, entre eles o Gabinete do Ódio.
O número de casos de denúncia de desinformação tem crescido em todas as plataformas que fazem verificação e checagem. A reta final da campanha chegou e, com ela, parece que também a avalanche de desinformação.