As investidas do presidente Jair Bolsonaro no Nordeste não são recentes. Ainda durante a campanha eleitoral de 2018, ele buscou aproximar-se do eleitorado nordestino, fazendo uso de comportamentos simbólicos, como o ato de vestir o chapéu de cangaceiro à proposição de 13º salário a beneficiários do programa Bolsa Família. Havia também uma expectativa de que o Partido dos Trabalhadores (PT) perdesse capital político na região após a prisão do ex-presidente Lula e da agenda de combate à corrupção divulgada amplamente ao longo de campanha presidencial, especialmente pela redes sociais. Entretanto, os acenos não foram suficientes para impulsionar um bom desempenho eleitoral na região.
Mesmo com todos os imbróglios que envolveram a definição da candidatura petista, Bolsonaro viu seu principal adversário, Fernando Haddad (PT), conquistar uma base eleitoral fiel à Lula, obter 68% dos votos válidos no segundo turno, ganhar apoio de aliados nas disputas pelos governos estaduais e sair vitorioso em todos os estados nordestinos. Além do êxito eleitoral de Haddad, o PT também conquistou o governo em quatro estados: Bahia, Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte e teve apoio de candidatos de partidos aliados nos demais estados.
Embora haja uma associação muito forte entre o PT, Lula e a Região Nordeste, nem sempre os votos petistas estiveram tão identificados com a região. A preferência do eleitorado nordestino pelos candidatos petistas cresceu ao longo dos pleitos eleitorais. Como é possível observar no gráfico abaixo, na eleição de 2002, quando Lula venceu a disputa eleitoral, apenas 25% dos votos obtidos pelo PT se concentrou na Região Nordeste. Esse percentual subiu para 33% nas eleições de 2006 e 2010, e alcançou 37% em 2014, com a reeleição de Dilma Rousseff (PT). Fernando Haddad deu ao PT sua votação mais expressiva até então, 43%.
Gráfico: Porcentagem de votos válidos obtidos pelo Partido dos trabalhadores (PT) na região Nordeste (2002-2018)
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
O crescimento do PT no Nordeste está muito atrelado a adoção de políticas substantivas, especialmente às políticas sociais que impulsionaram mudanças estruturais na região. Desta forma, não há dúvidas, por exemplo, quanto à efetividade e importância do Bolsa Família, considerado um programa de transferência de renda importante e bem sucedido, e que contribuiu para a redução da extrema pobreza, conforme dados do relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2015. Do ponto de vista estratégico, Bolsonaro poderia ter utilizado essas políticas para se reaproximar dos eleitores nordestinos, mas não o fez, pelo contrário. Além dos cortes realizados anteriormente, em plena pandemia o governo federal autorizou cortes em 158 mil beneficiários, sendo 61% deles concentrados na Região Nordeste. A situação foi revertida e suspensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF), após ação dos governadores. Aqui, fica evidente que o Bolsa Família não estava sendo cogitado como alternativa para a criação de uma ponte em Bolsonaro e os eleitores nordestinos.
Entretanto, com a execução do auxílio emergencial, ele pode perceber melhora na sua popularidade e um espaço para novas investidas na região. Sua estratégia é eleitoral, com antena voltada para 2022. Mas se prender ao auxílio é pouco, pois tem prazo de validade, e parte significativa de sua base eleitoral não é muito afeita a programas de transferência de rendas.
Então, porque novas investidas na Região Nordeste diante deste cenário? Apesar das pesquisas de opinião apontarem favoritismo de Bolsonaro, o caminho que o leva à reeleição ainda é longo. Ele precisa de um partido, apoio político no âmbito do legislativo que garanta sua governabilidade até o final do mandato e ampliar sua base de apoio em redutos que foram avessos a ele na última eleição. Bolsonaro tem oferta para se filiar a alguns partidos – inclusive com chances de voltar ao PSL, mas nada definido. Ademais, o Nordeste é um campo fértil para crescer e ampliar base de apoio. A região concentra praticamente ⅓ dos parlamentares do Congresso Nacional, ou seja, além da aproximação mais recente de algumas lideranças de partidos da centro-direita na Câmara dos Deputados, ampliar sua base de apoio entre prefeitos e vereadores será um diferencial. Isso contribui, inclusive, para que possa apoiar aliados na disputa pelos governos estaduais em 2022. Seu objetivo é chegar em lugares, hoje, ocupados pela esquerda na região, e dos nove governadores nordestinos, apenas três deles poderão concorrer à reeleição.
Ou seja, as novas investidas na Região Nordeste apenas começaram, há muito mais por vir.