Pâmella Synthia Santos e Luciana Santana*
A eleição do próximo prefeito ou prefeita da capital sergipana será decidida apenas em segundo turno. É o que apontam os dados da terceira rodada de pesquisas do Instituto Ibope divulgada na última quinta-feira (12). A disputa será entre o atual prefeito, Edvaldo Nogueira (PDT), e a Delegada Danielle (Cidadania).
O desempenho do pedetista nas pesquisas melhorou desde a primeira rodada realizada em outubro. O candidato à reeleição tinha 32% das intenções de voto e agora tem 36%.
Sua principal adversária, Delegada Danielle, sem trajetória na política e disputando sua primeira eleição, chegará ao segundo turno apresentando desempenho estável nas pesquisas eleitorais. No início de outubro tinha 21%, oscilou negativamente e perdeu 2 pontos na segunda rodada. Agora voltou a ter 21% das intenções de votos.
O deputado estadual e apoiador do presidente Jair Bolsonaro, Rodrigo Valadares (PTB), seguiu em ritmo de queda e, desde a primeira pesquisa, perdeu 8 pontos percentuais. Atingiu 10%, mesmo percentual do candidato petista, Márcio Macêdo.
Figura 1: Desempenho dos candidatos nas pesquisas Ibope
Fonte: Instituto Ibope
Ataques nas propagandas eleitorais
Os embates entre os candidatos ocorrem desde o início do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE). Inclusive, vários pedidos de retirada de propaganda têm sido apresentados na Justiça Eleitoral, evidenciando que a disputa não segue em clima de tranquilidade.
Rodrigo Valadares é um dos mais punidos pelo juiz da 27ª Zona Eleitoral de Sergipe, José Pereira Neto. Primeiro, o deputado estadual acabou descumprindo a decisão de direito de resposta em suas redes sociais para Edvaldo, chegando a passar de R$ 200 mil de multa, e, segundo, teve o direito de veiculação de propaganda gratuita retirado por ter utilizado conteúdo vedado pelo Código Eleitoral.
Ao se apresentar como representante da direita conservadora, Rodrigo faz uma campanha negativa contra seus adversários. Além de criticar a atual gestão, refere-se ao prefeito como membro de uma “esquerda comunista”. Chama a candidata Danielle de “delegada raivosa” e tenta enquadrá-la como parte da “velha política”, por ter como vice o ex- deputado federal Valadares Filho (PSB).
Suas estratégias são, segundo o juiz, de degradação e difamação da imagem do candidato à reeleição, comportamento que o deputado já vinha adotando, desde o início do seu mandato, em relação a um dos principais apoiadores do prefeito, o governador sergipano, Belivaldo Chagas (PSD).
Danielle também sofreu com os ataques de Rodrigo. Tem associado a candidata ao “senador da censura da internet”, referindo-se a Alessandro Vieira. Para se defender, a Delegada tem reafirmado constantemente que ela é quem toma os rumos de sua campanha, como forma de demonstrar sua autonomia perante o senador.
Carreatas e redes sociais
Diferentemente de eleições anteriores, as emissoras de TV decidiram não promover debates. A decisão não foi bem recebida pelos candidatos, que fizeram várias críticas mas aproveitaram a oportunidade para desafiar os adversários para um debate público.
A candidata Danielle Garcia utilizou seu programa eleitoral e as redes sociais para desafiar o atual prefeito para um debate sobre a cidade. Rodrigo Valadares também desafiou Danielle e Edvaldo. Macêdo não ficou de fora e também usou suas redes sociais para provocar a Delegada. Edvaldo não respondeu aos desafios.
Com a ausência de debates na TV e de poucos eventos nas ruas da capital, devido à pandemia de Covid-19, a troca de farpas tornou-se uma constante nas redes sociais e programas eleitorais dos candidatos.
Para se aproximarem dos eleitores, os candidatos têm optado pelas carreatas nos diferentes bairros aracajuanos.
Com candidatura pura, petista não decola
Na capital do estado que já foi governado pelo PT, a candidatura do ex-deputado federal Márcio Macêdo não conseguiu deslanchar. Nem mesmo com o apoio da cúpula do PT, do senador Rogério Carvalho, do deputado federal João Daniel e da vice-governadora Eliane Aquino.
Ainda na fase de negociações da candidatura, a estratégia adotada pelo partido em Aracaju foi criticada por outras lideranças partidárias que esperavam uma aliança com o prefeito.
Ao longo da campanha, Macedo chegou a confrontar o atual prefeito e o governador Belivaldo Chagas, ressaltando o desafio de enfrentar “duas máquinas públicas fortes”.
Seja como for, está claro que o PT não acertou o alvo ao entrar no embate contra Edvaldo. Não adotou estratégias que pudessem impulsionar a candidatura visando a disputa do segundo turno.
Força de Edvaldo na reta final
Apesar das constantes difamações que vem sofrendo ao longo da campanha pelos seus adversários, o prefeito Edvaldo conseguiu chegar às horas decisivas como o preferido da população aracajuana para continuar à frente do executivo. Resta esperar o impacto desse confronto nas eleições de 2022.
* Pâmella Synthia Santos é doutora e mestra em Sociologia e cientista social pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) com pesquisas desenvolvidas sobre Grupos Políticos, Famílias e Partidos.
Luciana Santana é mestre e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, com estância sanduíche na Universidade de Salamanca. É professora adjunta na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), pertence à Red Politólogias, é líder do grupo de pesquisa: Instituições, Comportamento político e Democracia, e atualmente ocupa a vice-diretoria da regional Nordeste da ABCP.
Esse texto foi elaborado no âmbito do projeto Observatório das Eleições de 2020, que conta com a participação de grupos de pesquisa de várias universidades brasileiras e busca contribuir com o debate público por meio de análises e divulgação de dados. Para mais informações, ver: www.2020.observatoriodaseleicoes.com.br