PSOL vence em Belém, mas MDB continua dominando as prefeituras no Pará
As eleições municipais no Pará apresentaram um cenário similar ao que foi observado no Brasil – com o predomínio dos partidos de centro e centro-direita nas capitais e em grandes cidades.
O MDB (Movimento Democrático Brasileiro) venceu as eleições para a prefeitura em 58 dos 144 municípios paraenses, o que corresponde a mais de um terço, consolidando-se como uma agremiação municipalista e fortalecendo a base de apoio do governador, Helder Barbalho, principal liderança do partido no estado.
Já na capital, Belém, na contramão da maior parte das principais cidades brasileiras, reviveu-se uma polarização similar à que foi vista em 2018, quando Jair Bolsonaro (sem partido) e Fernando Haddad (PT) concorreram no segundo turno da eleição presidencial, dividindo o país.
O voto conservador e mais alinhado à direita ideológica sempre se manifestou em Belém, embora nos últimos pleitos o eleitor progressista e de esquerda também venha ocupando seu espaço.
Na segunda volta da decisão eleitoral, em 29 de novembro de 2020, o deputado federal Edmilson Rodrigues (PSOL) venceu o candidato do Patriota, o delegado Everaldo Eguchi, que se apresentou como outsider no pleito. A vitória deu-se por uma margem apertada de votos: Edmilson teve 51,76% dos votos válidos (390.723 votos), contra 48,24% do seu opositor (364.095 votos), com uma diferença inferior a 4% – ou pouco mais de 26 mil votos.
A favor de Edmilson, durante a eleição, pesaram a experiência de ter sido prefeito de Belém em duas ocasiões (1997-2000 e 2001-2004); o apoio de grupos sociais importantes, como boa parte da classe artística (Fafá de Belém, Gaby Amarantos, Gretchen, entre outros), jornalistas e outros trabalhadores em geral; e uma campanha nas plataformas digitais mais assertiva em relação às propostas para resolver os muitos problemas que existem na capital do Pará.
O delegado Eguchi apostou na tríade “Deus, Pátria e Família”, buscando uma conexão maior com o empresariado local e com as famílias tradicionais, reforçando os valores morais e apostando em um discurso de combate à corrupção. Tanto no primeiro quanto no segundo turno, Eguchi teve subestimadas suas intenções de votos nas principais pesquisas, indicando que a migração de votos para ele ocorreu na “última hora” – e reforçando um pouco a hipótese da chamada “maioria silenciosa”, que pode não declarar publicamente o seu voto real.
Também foi uma eleição em que houve o voto da rejeição, sendo Eguchi o candidato anti-esquerda e Edmilson o antibolsonarismo. Vale lembrar que, no primeiro turno, Belém registrou um recorde de candidaturas – 12, sendo todos homens, inclusive o candidato do Partido da Mulher Brasileira (PMB) – o médico José Jerônimo de Souza.
Mesmo derrotado e sem um passado de ocupação de cargos públicos, o delegado Eguchi pretende se manter na arena político-eleitoral, buscando se fortalecer junto a grupos da direita política, que tem no deputado federal Eder Mauro (PSD), seu principal expoente. Eder Mauro ficou em terceiro lugar nas eleições para a Prefeitura da capital em 2016 e não conseguiu aprovação partidária para se candidatar ao pleito de 2020.
As eleições em Belém também foram, mais uma vez, marcadas pelo intenso uso das fake news, gerando um grau de confusão com mensagens que versavam sobre enriquecimento ilícito, banheiros unissex nas escolas, envolvimento com corrupção, entre outros aspectos que despolitizaram por demais o debate propositivo sobre a situação da cidade e suas demandas por saúde, educação, segurança, meio ambiente, coleta do lixo/saneamento e mobilidade urbana.
Eleições no interior do Pará
Em Ananindeua, segundo maior colégio eleitoral do Pará, o atual presidente da Assembleia Legislativa, Dr. Daniel Santos, venceu as eleições ainda no primeiro turno. Em Santarém, no oeste do estado e terceiro maior colégio eleitoral, Nélio Aguiar (Democratas) venceu a Covid-19 e a ex-prefeita da cidade, Maria do Carmo Martins, no segundo turno, reelegendo-se para mais um mandato como prefeito da “Pérola do Tapajós”. Há ainda o cenário de sete municípios que têm suas eleições majoritárias sub-judice, aguardando deliberações posteriores, nas diversas mesorregiões do território paraense.
No geral, percebeu-se uma tendência de escolhas por mais experiência e por menos novidades nas eleições do Pará. Foram priorizados os bons gestores e os que demonstram capacidade administrativa para tratar das principais questões urbanas e/ou rurais.
Diante de todas as peculiaridades das eleições de 2020 em meio à pandemia, a presença digital dos candidatos e partidos por um período mais duradouro evidenciou-se como uma vantagem. Prefeitos que tiveram ações de enfrentamento diante da Covid-19 saíram na frente de seus opositores, buscando a reeleição e/ou elegendo seus sucessores.
* Rodolfo Marques é doutor em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com período-sanduíche feito em Madrid/Espanha, e mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Pará (UFPA). É professor da Universidade da Amazônia (UNAMA) e da Faculdade de Estudos Avançados do Pará (FEAPA). É docente universitário desde 2002. Está lançando o livro “A mídia sob o império da Lei: as políticas de regulação dos meios de comunicação no Brasil e na Argentina no século XXI”, versão adaptada da sua tese de doutorado.