A disputa está acirrada entre os candidatos à Prefeitura de Fortaleza Capitão Wagner (PROS), Luizianne Lins (PT) e Sarto (PDT). Na última semana, as campanhas de Wagner e Freire (PSL), que vinham tendo como centro a apresentação dos candidatos, partiram para o ataque, lançando mão de informações descontextualizadas, incompletas ou mesmo desinformativas.
A maior controvérsia gira em torno do primeiro colocado, Capitão Wagner, por uma discussão travada nas redes e nas emissoras de rádio e TV com o próprio governador Camilo Santana (PT). Em entrevista ao programa de TV Ponto Poder na terça-feira (13), Capitão Wagner negou ter apoiado o movimento de policiais militares que culminou na paralisação ocorrida em fevereiro deste ano no Ceará.
“A gente foi contra a realização desse movimento. Em nenhum momento eu me posicionei a favor de qualquer paralisação em Fortaleza ou no Estado do Ceará. Eu tenho muita responsabilidade nessa questão”, afirmou.
O governador utilizou as redes sociais para rebater: “Não é verdade. [Capitão Wagner] Tanto liderou o motim de 2011 como teve participação direta nesse último motim. […] Foi um dos atos mais covardes já praticados contra a população”, postou.
Mensagens publicadas no twitter de Camilo Santana, governador do Ceará, no dia 14 de outubro
Captura de tela feita em 22 de outubro, do perfil https://twitter.com/CamiloSantanaCE
O capitão inicialmente evitou retrucar, possivelmente pela dificuldade de sustentar a afirmação e necessidade de afastar a imagem negativa da greve da PM. Mas a questão ganhou as redes sociais, com ampla circulação de vídeos apócrifos críticos a ele em grupos de WhatsApp.
Logo após a divulgação da pesquisa DataFolha, no dia 17 de outubro, que confirmou a indefinição do cenário eleitoral na cidade, diferentes candidaturas reforçaram menções ao fato. Na TV, desde o dia 21, postagens de Camilo passaram a ser utilizadas por Sarto, em repetidas inserções ao longo da programação das emissoras.
Wagner, então, apontou tratar-se de “fake news” e chegou a criar um site específico para “que vocês possam se informar sobre as mentiras que têm sido espalhadas sobre mim”, como anunciou em vídeo na rede social. Retrucando, Camilo publicou imagens de matérias, entre as quais uma que destaca projeto de Wagner como deputado federal para anistiar participantes da greve.
A estratégia do candidato apoiado por Jair Bolsonaro faz lembrar a de Donald Trump, que passou a utilizar a expressão “fake news” contra a cobertura crítica em relação a ele pela imprensa, tentando fazer crer que as críticas não são mais que intrigas da oposição. O problema é que esse tipo de discurso pode convencer parte do seu eleitorado, especialmente em um contexto de polarização como o vivido nos Estados Unidos e também no Brasil.
Mas um olhar atento evidencia as contradições. No site oficial, o candidato retirou a foto em que aparece com lideranças do movimento e substituiu por uma imagem apenas descritiva das suas pautas de segurança (ver imagens abaixo).
Na foto, Wagner, o deputado estadual Soldado Noélio e um dos líderes da paralisação. Imagem que estava no site do Capitão Wagner no início da campanha. https://capitaowagner.com/
Imagem com texto sobre segurança pública, inserida para substituir a imagem anterior. Site do Capitão Wagner. https://capitaowagner.com/
Ainda que tenha utilizado o programa no Horário Eleitoral Gratuito para negar participação na greve, usando vídeo da época em que diz que “Eu não vim aqui para inflamar a greve, vim aqui para solucionar o problema”, é difícil sustentar a afirmação, tendo em vista o histórico com o grupo e, inclusive, a participação em sua chapa de vereadores de pessoas vinculadas à paralisação.
Outra fala de Wagner amplamente repercutida e questionada refere-se à liberação de, segundo o candidato, R$ 43 milhões de emenda parlamentar para a saúde pública do Estado, no primeiro semestre de 2020, dos quais R$ 25 milhões teriam sido destinados ao enfrentamento à Covid-19. Pesquisando no site Siga Brasil, vê-se que a soma das emendas do deputado totalizam menos de R$ 16 milhões, com R$ 3 milhões dedicados às ações contra pandemia. Destes, R$ 9,3 milhões foram executados. Do empenhado, nem tudo foi para saúde. Há emendas dedicadas ao Comando da Marinha, administração do Ministério da Justiça e Segurança Pública e outras pastas. No site do capitão, ele apresenta documento assinado de próprio punho para comprovar os recursos. No entanto, a Justiça determinou a retirada da propaganda de Wagner sobre o suposto repasse à saúde.
Ataques ao PT
Também subindo o tom nas agressões, pelo menos desde o dia 18, o representante do PSL, Heitor Freire, que figura com 1% na pesquisa DataFolha, tem usado programas eleitorais para atacar adversários. O candidato que pretende “endireitar Fortaleza” dirige-se indiretamente à candidata petista, Luizianne Lins. Em uma das propagandas no rádio, menciona “candidata vermelhinha querendo voltar pra prefeitura” e “galega pulso frouxo”.
Nesta semana, Luizianne acionou à Justiça e, segundo divulgado em suas redes sociais, ganhou liminar determinando a exclusão de vídeo difamatório que circulava em grupos do Facebook e do Whatsapp. Na decisão também é solicitada a identificação do administrador e responsável pela postagem. O jornal O POVO detalhou que “a Justiça Eleitoral bloqueou dois números de telefone, um responsável por grupo de WhatsApp chamado ‘Grupo Mercadinho do Bairro’, o outro pela postagem de vídeo com ataques pessoais à candidata à Prefeitura de Fortaleza”.
Assim como em 2018, a reta final do pleito não só repete a redução da discussão política, mas também estratégias que pretendem confundir o eleitor, sejam aquelas adotadas abertamente na TV e rádio ou as que circulam mais ocultas nas redes sociais. É cedo para saber se a rede montada naquela campanha está sendo usada ou se terá o mesmo impacto em pleitos pulverizados como são as eleições municipais, com questões locais que dificultam a padronização das mensagens e a viralização nacional delas. Mas o exemplo da eleição fortalezense, na qual a polarização tem se reproduzido, é um indício preocupante.