Existem eleições municipais cujo resultado é determinado pela dinâmica local e eleições que são atravessadas pela dinâmica nacional. O pleito de 2016 foi nacionalizado devido ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a Operação Lava Jato. A eleição de 2020 será diferente. Os dados da pesquisa “A Cara da Democracia: Eleições 2020” indicam uma dinâmica baseada em dois elementos: despolarização e recompensa aos bons administradores que, nesse momento, tendem a ser os prefeitos que combateram a COVID-19. Além disso, há sinais de dinâmicas distintas entre cidades médias e capitais.
Em 2016, o Partido dos Trabalhadores (PT) conseguiu eleger apenas um prefeito entre as cem principais cidades do país. Foi punido nas urnas, enquanto o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) foram recompensados pelo eleitorado, convencido pela narrativa mediática de que seriam partidos distantes das denúncias de corrupção. Essa narrativa prevaleceu até maio de 2017, quando foram divulgadas as gravações de Michel Temer e Aécio Neves.
As eleições de 2020 terão outras dinâmicas. Primeiro, foram tornadas locais devido à atuação dos prefeitos na pandemia, segundo os dados da pesquisa A Cara da Democracia. Os números sobre desempenho não deixam margem para dúvidas: a atuação do presidente é vista como ruim ou péssima por 42% dos brasileiros. Os dados sobre desempenho dos governadores se mostram só um pouco melhores. São os prefeitos que se destacam nessa pandemia com 41% de avaliações ótimas/boas e 33% regulares (vide Gráfico 1). A dinâmica local será determinada por esse fato. Eleitores e eleitoras estão mais interessados na administração da sua cidade do que nos grandes debates nacionais e votarão de acordo com o desempenho das ações anti-pandemia no nível local.
Gráfico 1: Desempenho de Bolsonaro, governadores e prefeitos na pandemia
Essa tendência ao local tem uma segunda faceta: sinais de despolarização que também diminuem a influência de atores nacionais sobretudo nas grandes cidades.
Mesmo sabendo que o governo Bolsonaro tem melhorado sua avaliação desde o mês de junho, vale a pena apontar que os dados sobre suas ações durante a pandemia não melhoraram e tudo indica que esse é um dos motivos pelos quais ele não será uma influência importante nestas eleições.
O ex-presidente Lula não é, tampouco, um grande influenciador em 2020, em especial nas regiões Sul e Sudeste. Lula tem uma rejeição menor do que a do presidente Jair Bolsonaro, sobretudo entre aqueles que respondem que não votariam em um candidato apoiado por ele de jeito nenhum. No entanto, a distância entre Lula e Bolsonaro fica na margem de erro nesse quesito. É na região Nordeste onde Lula segue sendo um grande cabo eleitoral e onde praticamente duas em cada três pessoas poderiam votar em alguém indicado por ele, tal como mostra o gráfico abaixo.
Gráfico 2: Votaria em candidato apoiado por Lula por regiões
Cabe, por fim, notar uma diferença significativa entre capitais e cidades médias. Bolsonaro não consegue influenciar as eleições nas grandes cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre. Pode-se dizer o mesmo em relação a Lula, com duas diferenças fundamentais: a primeira delas é o peso do PT nas capitais nas quais o partido apoia um candidato ou candidata de esquerda, Belém e Porto Alegre. A segunda diferença se deve à relevância de candidaturas petistas em cidades de porte médio. Há aqui, porém, um elemento que não tem sido muito comentado: os petistas Marília Campos, em Contagem, Elói Pietá, em Guarulhos, Antônio Gomide, em Anápolis, e Pepe Vargas, em Caxias do Sul, estão em primeiro lugar nas pesquisas devido a fortes sucessos administrativos no passado. Isso reforça o argumento de que, nesta eleição, mais vale o bom trabalho local do que as bravatas contra a pandemia que, no final, desorganizaram o país e sua resposta à pandemia.
A pesquisa “A Cara da Democracia: Eleições 2020”, do INCT-Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação e do Cesop/Unicamp foi realizada entre os dias 24 de outubro e 04 de novembro de 2011. A pesquisa entrevistou duas mil pessoas por telefone, tem grau de confiança de 95% e margem de erro de 2,2%.