Carlos Ranulfo Melo*

Qual a influência de Lula e Bolsonaro sobre os eleitores nessa eleição? Com base em pesquisa nacional realizada pelo projeto “A cara da democracia: eleições 2020”, este artigo compara o desempenho dos dois líderes como cabos eleitorais. A pesquisa foi realizada por telefone, entre 24 e 30 de outubro, entrevistou duas mil pessoas e tem margem de erro de 2,2%.

Para avaliar a influência de Lula e Bolsonaro foi utilizada a seguinte pergunta: “Pensando na eleição para prefeito, o sr.(a) votaria em um candidato apoiado por________”? A figura a seguir mostra o resultado.

Como se percebe, a diferença é pequena, ainda que Lula se saia um pouco melhor – 23,4% disseram que votariam com certeza, enquanto 19,6% fariam o mesmo sob a influência de Bolsonaro. Agregando-se a este percentual o dos que “poderiam votar”, Lula chega a 47,9% e Bolsonaro a 43,5%. Por outro lado, 44,5% não votariam “de jeito nenhum” em um nome indicado pelo petista e 48,5% teriam o mesmo comportamento diante de uma indicação do atual presidente.

Nas duas figuras seguintes, é analisado o perfil dos que afirmaram não votar “de jeito nenhum” em um candidato apoiado por Lula ou por Bolsonaro. Ao se levar em conta a distribuição dos entrevistados por região do país, idade, sexo, educação e renda, percebe-se que onde Lula se sai melhor é justamente onde Bolsonaro tem mais dificuldades.

A próxima figura tem como objetivo evidenciar o contraste, utilizando, para tanto, o percentual dos que não votariam em candidatos apoiados por Lula ou Bolsonaro no Nordeste, entre os jovens de 16 a 24 anos, entre as mulheres, entre os que têm renda familiar de até dois salários mínimos e entre os que chegaram a completar o ginásio.

No Nordeste, Lula tem sua menor rejeição: 31,9% afirmam não votar de jeito nenhum em um candidato por ele indicado, enquanto 60,8% votariam ou poderiam votar. Já Bolsonaro encontra maior resistência: 54,5% rejeitariam sua indicação, enquanto 39,1% votariam ou poderiam votar. Nas demais regiões, o percentual dos que rejeitam uma indicação de Lula varia entre 46% e 50%. Bolsonaro tem melhor trânsito no Centro-Oeste, onde 58,4% dos entrevistados votariam ou poderiam votar e 39,1% não o fariam de forma alguma.

Dentre os jovens (16-24 anos), 60,4% rejeitariam uma indicação de Bolsonaro – a rejeição diminui entre os mais velhos, com pouca variação entre as faixas de idade. Nessa mesma faixa etária encontra-se o público mais receptivo a Lula: 59% votariam ou poderiam votar, enquanto 33,2% não o fariam. A rejeição sobe com a idade, ainda que não o faça linearmente, e aqueles com mais de 60 anos são os mais arredios ao petista.

Também quando se considera o sexo, opera-se uma inversão. A rejeição de Lula entre as mulheres é de 40,5% e entre os homens de 48,8%. Para Bolsonaro os percentuais são de 53,7% e 43,1% respectivamente.

Entre aqueles cuja renda familiar vai até dois salários, 53,5% não seguiriam uma indicação de Bolsonaro e 41,1% fariam o mesmo no caso de Lula. A situação se inverte quando são considerados aqueles com mais de dez salários: a rejeição a Bolsonaro diminui em 16,1 pontos percentuais enquanto a de Lula cresce 9,1 pontos. As trajetórias são lineares; a cada faixa de renda a rejeição sobe ou desce, a depender do caso.

Por fim, o quadro se repete com a variável educação. Entre os que cursaram até o ginásio, 40% não votariam com Lula. A partir daí a rejeição cresce e chega 49,2% daqueles com  ensino superior (mesmo incompleto). Dentre os de menor nível educacional, 52,1% não aceitariam uma indicação de Bolsonaro, mas 47,7% o fariam entre aqueles com ensino superior.

Na próxima figura, são levados em conta aspectos políticos ou comportamentais dos entrevistados. Como seria de se esperar, 72,9% dos que não votariam de jeito nenhum com Lula, estiveram com Bolsonaro na eleição de 2018. O que chama a atenção é que dentre os eleitores do atual presidente da República, 20,1% já o descartam como cabo eleitoral.

O quadro é semelhante quando se considera a aprovação do governo Bolsonaro ou sua atuação frente à pandemia. Entre os que rejeitam Lula, 64,2% aprovam o governo e 46,9% consideram ótima ou boa a atuação de Bolsonaro no enfrentamento da COVID 19. Para efeito de comparação, os dados gerais da pesquisa indicam uma aprovação de 40,6% do governo, enquanto 31,2% classificaram sua atuação na pandemia como ótima ou boa. Entre os que não votariam em um candidato indicado por Bolsonaro, 12,6% aprovam o governo e 9,7% a condução das ações na pandemia.

Por fim, as duas últimas colunas mostram que os que rejeitam Lula compõem um conjunto mais autoritário e conservador. Quando considerados todos os entrevistados, 22,2% consideram justificado um golpe de estado em caso de muita corrupção no país;  entre os que rejeitam Lula o percentual sobe para 30,3% e entre os que não votariam com Bolsonaro cai para 15,4%.

Perguntados sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo, 43,5% dos entrevistados discordaram e 56,5% concordaram. Entre os que rejeitam Lula a discordância sobe para 52,1%. Entre os que não votariam no candidato de Bolsonaro, ela cai para 29,2%.

Para além do contraste evidenciado em todos os aspectos aqui examinados, os dados mostram a dificuldade encontrada por Bolsonaro no Nordeste e entre a população de menor nível educacional e mais pobre. Uma última evidência nesse sentido: entre quem teve alguém da família beneficiado por pelo menos uma parcela do auxílio emergencial, 51,2% rejeitariam uma indicação de Bolsonaro, enquanto 41% fariam o mesmo com Lula.

A pesquisa “A Cara da Democracia: Eleições 2020”, do INCT-Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação e do Cesop/Unicamp foi realizada entre os dias 24 de outubro e 04 de novembro de 2011. A pesquisa entrevistou duas mil pessoas por telefone, tem grau de confiança de 95% e margem de erro de 2,2%.