As eleições municipais tendem a colocar em evidência os partidos que disputaram a eleição presidencial anterior. Não por acaso, estuda-se o fenômeno da “presidencialização das disputas”, ou seja, avalia-se nas disputas de menor nível, como nos municípios, a importância dos principais partidos da corrida para a Presidência da República, especialmente os que foram adversários no segundo turno.

A fim de pensarmos a construção dos dois partidos mais fortes eleitoralmente em 2018, analisamos como se deram suas alianças até a disputa que os marcou. Avaliamos as coligações construídas pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e pelo Partido Social Liberal (PSL) para concorrer às prefeituras brasileiras entre 2012 e 2020. Pelos dados, é possível observar que a disputa de 2018 é um divisor de águas nas estratégias traçadas pelas siglas.

O PT, para além de triplicar suas candidaturas solitárias entre 2016 e 2020 (de 213 candidaturas solitárias para 649), também diminuiu sua participação em coligações alheias. O partido opta por especial cuidado quando se leva em consideração o PSL. O inverso também ocorre, como é possível observar no Gráfico 1.

Gráfico 1. Porcentagem de candidaturas do PT e do PSL nas quais houve aliança entre os dois partidos

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Os partidos que disputaram a presidência em 2018 demonstram, dois anos depois, a importância do pleito municipal para construção de suas trincheiras. A aparente indiferença entre os partidos nos anos anteriores teve um contraponto estratégico no ano de 2020. Em 2016, o PT admitia o PSL como parceiro de coligação em 9,5% de suas candidaturas; em 2020, este número caiu para 0,5%. O PSL, por sua vez, fez aliança com os petistas em 28,5% de suas candidaturas em 2016; em 2020, este número passou para 1%.

Os dados ainda são prematuros para quaisquer conclusões, mas já apontam um novo movimento nos sistemas partidários municipais em 2020. Ainda que não possa mais contar com aquele que antes era seu principal filiado, o presidente Jair Bolsonaro, o PSL emergiu como ator fundamental nas eleições deste ano – triplicando suas candidaturas enquanto cabeça de chapa apoiado por outros partidos (de 105 candidaturas para 349). Além do natural crescimento após êxito na eleição de maior importância no país, os dados demonstram que as coligações do PSL com o PT, ainda que existam, são raras.

Vale ressaltar que todos os municípios onde os dois partidos se aliaram possuem menos de 200 mil eleitores, ou seja, não têm possibilidade de segundo turno. São territórios de menor exposição nacional para as siglas, logo, de menor desgaste frente ao eleitorado.

A orientação mais criteriosa que ambos os partidos estabeleceram para as coligações entre si é importante para avaliarmos as pretensões das siglas frente ao eleitorado. Um alto número de alianças entre PT e PSL provavelmente seria alvo de críticas não apenas em 2020, mas com repercussões nos próximos pleitos. Nesse cenário hipotético de aproximação, não haveria vencedores. O afastamento, portanto, era a saída mais viável para o fortalecimento dos dois partidos enquanto líderes dos campos que se propõem a representar.

*Henrique Curi é doutorando em Ciência Política no IFCH-Unicamp e integra o Grupo de Estudos em Política Brasileira (PolBras/CESOP-Unicamp).
Otávio Z. Catelano é mestrando em Ciência Política no IFCH-Unicamp, membro do PolBras/CESOP-Unicamp e bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).