Pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha nos dias 18 e 19 de novembro aponta favoritismo de Sarto (PDT) no segundo turno em Fortaleza. O candidato pedetista obteve 50% da intenção de votos dos entrevistados, enquanto o candidato alinhado a Bolsonaro, Capitão Wagner (PROS), ficou com 36%. 10% dos entrevistados mencionaram a intenção de anular ou votar em branco, e 4% estão indecisos.

Excluindo as intenções de votos não válidos, Sarto teria 59% contra 41% do seu adversário.

Sarto é o candidato da situação e tem o apoio do atual prefeito Roberto Claúdio (PDT), Camilo Santana (PT) e da família dos Ferreira Gomes, que tem se mantido fora dos holofotes.

Ao longo do primeiro turno, Wagner tentou esconder o alinhamento com o presidente, despersonalizando o apoio de Bolsonaro ao se referir às boas relações com o governo federal como necessárias ao futuro gestor da capital cearense.

Como foi o primeiro turno?

A eleição na capital cearense tem sido bastante acirrada desde o início, marcada por uma disputa apertada entre os três primeiros colocados nas pesquisas de intenção de votos.

Os eleitores escolheram Sarto e Capitão Wagner para a disputa do segundo turno, tendo o primeiro recebido 35,72% dos votos e o segundo 33,32%. Luizianne Lins (PT), que nas primeiras sondagens eleitorais aparecia em segundo lugar, após campanha agressiva de adversários, viu seus índices de intenção de votos derreterem e finalizou o primeiro turno com 17,76% dos votos.

Na Câmara Municipal, o PDT foi o grande vitorioso nas eleições na capital cearense. Sozinho, o partido obteve 10 das 43 cadeiras em disputa, quase ¼ do total de vereadores.

O restante das cadeiras ficou dividido entre outros 16 partidos, dos quais sete compõem a coligação governista, totalizando mais 15 vereadores. No resultado geral, além da significativa fragmentação partidária (17 agremiações), já é possível vislumbrar blocos que protagonizarão os embates na Câmara.

O quadro que se montou no legislativo municipal espelhou a polarização e a disputa acirrada entre Sarto e Wagner. O PROS conseguiu cinco cadeiras além de, pelo menos, outras sete de vereadores eleitos por partidos aliados. Personagens que serão importantes cabos eleitorais para ambos os candidatos que se enfrentam no segundo turno.

Apoio, campanha e estratégias

Interessante notar que, antes mesmo de encerrado o período de campanhas no primeiro turno, Wagner já fazia acenos a Luizianne. Ao reconhecer as realizações na gestão da ex-prefeita, busca capturar parcela do eleitorado petista.

A despeito desses acenos, Wagner galvanizou o campo conservador em Fortaleza e, como um dos últimos atos de campanha no primeiro turno, fez lives com lideranças bolsonaristas de segmentos religiosos e não rejeitou o apoio oferecido pelo presidente Bolsonaro. Isso pode dificultar a aproximação com os eleitores de Luizianne na segunda etapa da disputa.

A estratégia de Sarto tem sido a de, mobilizando o embate contra o campo alinhado ao bolsonarismo no Ceará, atrair o eleitorado que rejeita o presidente mirando no voto útil.

47% dos entrevistados na pesquisa Ibope do dia 14 de novembro consideram o governo Bolsonaro ruim ou péssimo, 25% consideram regular e apenas 26% consideram o governo bom ou ótimo.

Camilo Santana: de corpo e alma na campanha de Sarto

A declaração explícita de apoio do governador Camilo Santana (PT) ao candidato pedetista veio na tarde da segunda-feira (16). Em pronunciamento oficial, Camilo reafirmou o compromisso com a democracia e convidou os demais partidos e candidaturas a somarem forças contra o que chamou de “candidato que usou a política da violência para buscar atingir os seus objetivos pessoais”.

O apoio de Camilo tem sido importante para Sarto, pois é visto como um dos principais cabos eleitorais na capital com potencial de transferência de voto e bons índices de aprovação.

Na última pesquisa Ibope, divulgada no dia 14 de novembro, a avaliação do governo estadual aparece como positiva (ótimo/bom) para 56% dos entrevistados. Para 30% o governo tem sido regular e apenas 12% avaliam negativamente (ruim ou péssimo).

O apoio do governador foi disputado tanto por Sarto quanto por Luizianne no primeiro turno. Sem as amarras legais (e morais) que impediam o apoio explícito à Sarto quando Luizianne ainda estava concorrendo, Camilo tem se sentido mais à vontade no segundo turno para participar ativamente dos eventos e programas do pedetista.

Sarto recebe apoio do PT

Quanto ao PT, o partido oficializou apoio à candidatura trabalhista na manhã de terça-feira (17). A Executiva Municipal, por unanimidade, decidiu pelo apoio a Sarto como alternativa ao bolsonarismo na capital. Em nota, o partido afirmou “a responsabilidade política de combater e derrotar o projeto fascista de Bolsonaro (…) representados pela candidatura de Wagner”.

Resta saber em que medida deverá ser o envolvimento do partido na campanha de Sarto, visto o desgaste entre as legendas depois das propagandas ofensivas contra a petista, além das rusgas entre Luizianne Lins e os irmãos Ferreira Gomes.

Apoios a Sarto para frear avanço bolsonarista

Outros candidatos que também disputaram a prefeitura de Fortaleza já se posicionaram. Foi o caso do deputado estadual Heitor Ferrer (SD). Ferrer, que se colocou como candidato independente e sem padrinhos políticos durante todo o primeiro turno, se declarou neutro e não pretende apoiar nenhum dos candidatos que avançaram para o segundo turno.

Com a quarta maior votação (63.199 votos ou 4,93% dos votos válidos), Ferrer parabenizou Sarto e Wagner e afirmou que seu “eleitor caracteriza-se por sua independência e seu discernimento. Ele segue sua consciência e seu juízo de valores. Ele é senhor do seu voto e sabe o que é melhor para a sua cidade. Em respeito a esse eleitor, não iremos aderir a nenhuma candidatura no segundo turno”.

Conforme as expectativas, partidos do campo progressista, como PSOL e PCdoB, declararam-se contrários ao candidato apoiado pelo presidente Bolsonaro. Em nota, o PCdoB afirmou apoiar as candidaturas de Sarto em Fortaleza e de Naumi Amorim (PSD) em Caucaia. Segundo a legenda, é importante marcar posição “para derrotarmos Bolsonaro e seus candidatos nas duas maiores cidades do Ceará. Todo apoio a Sarto em Fortaleza e Naumi em Caucaia”. O candidato do PCdoB, professor Anízio Melo, teve menos de 1% dos votos válidos.

Ao longo das gestões pedetistas na capital cearense, o PSOL sempre esteve no campo da oposição. No entanto, para o segundo turno das eleições, Renato Roseno (PSOL) declarou interesse em “derrotar o bolsonarismo”. O partido confirmou apoio a Sarto, mas sem fechar aliança programática com PDT. Roseno foi o sexto mais votado, com 34.346 votos (2,68% dos votos válidos).

Partidos como PV, PATRIOTA e UP, que disputaram as eleições majoritárias em Fortaleza, engrossaram as fileiras de uma frente partidária antibolsonarista que pode dar musculatura a Sarto.

Esperava-se que o PSL, de Heitor Freire, pela convergência de programas e pautas ideológicas, fechasse apoio a Wagner. No entanto, a sigla preferiu a neutralidade por entender que não se identificava com nenhuma das candidaturas que avançaram ao segundo turno. Freire teve 4,93% dos votos válidos no primeiro turno (65.199 votos).

Abstenção eleitoral e desafios na reta final da campanha

Na reta final da campanha, os candidatos não podem desconsiderar um possível aumento na abstenção eleitoral, seja devido ao contexto pandêmico, seja pela ausência de votação para vereadores, já finalizada no primeiro turno.

O primeiro turno já apresentou aumento em relação à eleições anteriores. Em 2012, a porcentagem de eleitores que não compareceu para votar foi de 16,02%, subindo para 17,04% em 2016 e chegando a 21,84% nesse pleito – o que corresponde a um total de 397.774 eleitores.

Wagner tem o desafio de atrair eleitores dos adversários. O candidato intensificou a agenda de campanhas e mira no eleitorado daqueles que declararam neutralidade. A seu favor, tem uma militância forte e engajada que pode fazer muita diferença nesses últimos dias que antecedem o segundo turno.

Para Sarto, a situação tem sido mais tranquila, entretanto a eleição só se encerra nas urnas. E o eleitor fortalezense gosta de surpreender.

*Monalisa Torres é doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará. É professora da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e pesquisadora vinculada ao Laboratório de Estudos sobre Políticas, Eleições e Mídia (Lepem/UFC).
Luciana Santana é mestre e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, com estância sanduíche na Universidade de Salamanca. É professora adjunta na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), líder do grupo de pesquisa: Instituições, Comportamento político e Democracia, e atualmente ocupa a vice-diretoria da regional Nordeste da ABCP.

Esse texto foi elaborado no âmbito do projeto Observatório das Eleições de 2020, que conta com a participação de grupos de pesquisa de várias universidades brasileiras e busca contribuir com o debate público por meio de análises e divulgação de dados. Para mais informações, ver: www.2020.observatoriodaseleicoes.com.br.