As forças de centro-direita foram as principais derrotadas nas eleições de 2018, em especial o PSDB e o DEM, que concorreram coligados na candidatura de Geraldo Alckmin. No entanto, alguns meses depois das eleições de 2018, os Democratas (DEM) já haviam recuperado influência política a despeito da derrota eleitoral. É interessante observar que, à exceção de Rodrigo Maia – cuja liderança da Câmara já é consolidada desde o governo Michel Temer –, nos demais casos o que agiu foi a fortuna.

Davi Alcolumbre era um político desconhecido até a ascensão do bolsonarismo. O principal candidato a presidente do Senado em 2019 era Renan Calheiros, que foi derrubado por uma campanha do bolsonarismo nas redes sociais pela abertura dos votos dos senadores. A presidência do Senado caiu do nada nas mãos de um político desconhecido e o Democratas inesperadamente passou a controlar as duas casas do Congresso.

No início de 2020, o DEM encontrou-se em situação inédita, detendo a presidência das duas casas e com o único político de capaz de desafiar a popularidade de Jair Bolsonaro, o ex-ministro da saúde, Henrique Mandetta. Ele agora parece estar se posicionando muito bem nas eleições de 2020.

A tabela 1 abaixo aborda as seis capitais nas quais os candidatos do DEM têm mais de 10% das intenções de voto segundo pesquisas do Ibope e do Datafolha.

Tabela 1:Candidatos do Democratas nas capitais com mais de 10% de intenções de voto

Podemos notar um processo interessante que vale a pena analisar: a concentração das candidaturas de direita ou de centro direita no DEM e a forte tendência à reeleição dos seus candidatos mais fortes. Em primeiro lugar, o DEM não parece estar ameaçado nas três capitais que ele governa: Salvador, Florianópolis e Curitiba. Em todos estes casos, seus candidatos têm mais de 40% de intenção de voto.

Nos outros casos, candidatos da centro direita se aproximaram do DEM vindo de outros partidos, o que aponta na direção de uma certa hegemonia do DEM na centro direita. O caso mais relevante parece ser o do Rio de Janeiro, onde Eduardo Paes saiu do MDB, outro partido de centro fortemente derrotado em 2018, e está concorrendo pelo DEM. Paes encontra-se em primeiro lugar, na frente do atual prefeito Marcelo Crivella que é apoiado por Jair Bolsonaro.

A ascensão do DEM enquanto representante da centro direita contrasta com a incapacidade de candidatos do campo bolsonarista motivarem o eleitorado e colocarem-se em uma posição confortável na disputa eleitoral. A tabela 2 mostra a dificuldade da direita bolsonarista em importantes cidades nestas eleições.

Tabela 2: Candidatos apoiados por Bolsonaro em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte

Na tabela estão os candidatos apoiados por Jair Bolsonaro em três capitais (São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte) tendo ou intenção de voto muito baixa ou perdendo apoio.

O que podemos perceber é que Bolsonaro não é um grande eleitor nas capitais em que há apenas alguns meses antes estavam batendo panelas nas varandas contra a sua política sanitária. Nenhum dos seus candidatos está bem colocado nas maiores cidades. Pelo contrário, a candidatura de Celso Russomano parece estar derretendo apesar do apoio do presidente, o mesmo acontecendo com a candidatura de Marcelo Crivella no Rio de Janeiro. Por último, o candidato de Bolsonaro contra o prefeito que mais se distanciou das políticas do presidente na pandemia, o prefeito de Belo Horizonte, parece não ter nenhuma chance nessa eleição.

Assim, vemos dois fenômenos diferentes: de um lado, não há indicações de que o eleitorado tenha se movido em direção à esquerda desde 2018, ainda que ela possa ter vitórias importantes em 2020, se as pesquisas de Porto Alegre e Recife estiverem certas. De outro, observa-se um movimento de moderação no conservadorismo que parece estar desaguando em candidatos do Democratas e não naqueles apoiados pelo presidente Bolsonaro.

Assim, o resultado das eleições de 2020, a se manter a tendência da pesquisa Datafolha de 22 de outubro, é de maior equilíbrio entre Bolsonaro e o DEM. Se o presidente parece manter um nível de popularidade alto, em especial se levarmos em conta o desastre da sua política sanitária e o número de mortos no país, ele também  parece ter perdido um dos seus principais ganhos de 2018: o benefício da dúvida que lhe foi dado pelo eleitorado de classe média das grandes capitais.

Como nas principais democracias do mundo, o eleitorado brasileiro está optando por um poder dividido, ao invés de transferir todo o seu poder a um candidato ou a um clã que não se mostrou nem democrático, nem eficiente em combater a pandemia e nem capaz de gerir a economia.