Eleições municipais na Bahia: equilíbrio político ou terceira via?

Eleições municipais na Bahia: equilíbrio político ou terceira via?

Cláudio André de Souza e Luciana Santana*

A política baiana apresenta um mapa eleitoral nos vinte maiores municípios da Bahia com uma clara polarização e divisão de forças entre a base aliada do governador Rui Costa (PT) e a oposição liderada pelo prefeito demista ACM Neto (DEM).

O PT conquistou Lauro de Freitas e disputará o segundo turno em Feira de Santana e Vitória da Conquista contra o MDB, que mantém na Bahia aliança com o Democratas, liderado pelo prefeito de Salvador, ACM Neto.

O DEM conquistou Salvador, Alagoinhas, Barreiras, Camaçari, Eunápolis e Guanambi, mostrando, portanto, muita força nas cidades com maior porte populacional. Apenas com o resultado do primeiro turno, é possível verificar que o DEM é o partido que irá governar a maior da população na Bahia (30,44%), seguido do PSD (17,52%), PP (14,19%) e o PT (14,19%).

A disputa entre DEM e PT ocorre paralela ao crescimento do PP e do PSD como forças de coalizão aliadas ao governador Rui Costa. Apesar disso, os partidos construíram algumas alianças nos municípios contra o PT. Isso fez com que adquirissem, nestas eleições, um tamanho político robusto e protagonismo suficiente para redesenhar um novo bloco político alternativo à polarização entre petistas e democratas.

O PP, liderado pelo vice-governador João Leão (pai do deputado federal Cacá Leão), e o PSD, liderado pelo senador Otto Alencar (pai do deputado federal Otto Alencar Filho), juntos conquistaram duzentas de 417 prefeituras. Nesta ferramenta do UOL de resultados das eleições é possível identificar a quantidade de prefeituras que os demais partidos obtiveram no primeiro turno.

Sem dúvida, as eleições ocupam uma centralidade na vida das pessoas, em especial, nos municípios médios e pequenos. As prefeituras têm sido o principal espaço institucionalizado de geração de oportunidades de trabalho e renda para a população. Apoiar publicamente com força e vigor uma candidatura pode ser um movimento decisivo para alcançar ganhos materiais e status político. Por isso, era esperado que, mesmo com a pandemia, as campanhas mantivessem mobilizações difíceis de conciliar com o isolamento social.

Na maior parte dos municípios baianos a pandemia foi a principal bandeira destas eleições com a população totalmente envolvida com as pautas relacionadas à saúde e emprego. Além do que, a crise sanitária “plasmou” para o ambiente eleitoral a perspectiva de valorização de políticos experientes com mandato e carreira política estabelecidas, deixando pouco espaço para outsiders defensores da “nova política”.

A vitória de Bruno Reis em Salvador

Se o clima no interior do estado foi de muita disputa política e embates entre os candidatos, a eleição na capital foi bastante tranquila. A vitória de Bruno Reis (DEM) já era esperada. Todas as pesquisas de intenção de voto apontavam o favoritismo do candidato da situação, apoiado pelo prefeito e ex-deputado federal, ACM Neto (DEM).

Reis obteve 66,2% dos votos válidos. A candidata do PT, Major Denice teve 18,86%, Pastor Sargento Isidório (AVANTE), 5,33%, Cezar Leite (PRTB), 4,65%, Olívia (PC do B), 4,49%, Hilton Coelho (PSOL), 1,39%, Bacelar (PODE), 0,92%, Celsinho Cotrin (PROS), 0,13% e Rodrigo Pereira (PCO), 0,04%.

Em relação ao comparecimento eleitoral, 1.395.106 pessoas foram às urnas no dia 15 de novembro em Salvador. Deste total, 87,03% votaram em algum dos candidatos na disputa, 3,36% votaram em branco e 9,61% anularam o voto.

A abstenção eleitoral na capital aumentou em relação ao pleito de 2016, que registrou 21,25% do total de eleitores soteropolitanos. Na eleição deste ano, subiu para 26,46%.

Nova via para a sucessão ao governo estadual em 2022?

O resultado na capital fortalece o nome de ACM Neto, que também é presidente nacional do DEM, para a disputa à sucessão do governo baiano em 2022. Mas é importante também voltar às atenções para outras movimentações no cenário político, bem como para a força de outras siglas partidárias.

Diante de um equilíbrio político multipolarizado, a depender das estratégias em jogo para 2022 e dos fatores nacionais envolvendo a montagem dos palanques para a disputa presidencial, PP e PSD terão grandes chances de definir o próximo vencedor nas eleições ao governo, marchando juntos ou separados. Será que estão dispostos a construir uma terceira via à polarização histórica DEM x PT? Vamos acompanhar.

Cláudio André de Souza é professor adjunto de ciência política Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, Campus dos Malês (BA).

Luciana Santana é mestre e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, com estância sanduíche na Universidade de Salamanca. É professora adjunta na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), líder do grupo de pesquisa: Instituições, Comportamento político e Democracia, e atualmente ocupa a vice-diretoria da regional Nordeste da ABCP.

Disputa entre PT e MDB movimenta Vitória da Conquista e Feira de Santana

Disputa entre PT e MDB movimenta Vitória da Conquista e Feira de Santana

Luciana Santana e Cláudio André de Souza*

Os novos prefeitos de Vitória da Conquista e Feira de Santana serão conhecidos apenas no próximo dia 29. A disputa por duas das três maiores cidades baianas segue equilibrada e com cenário indefinido.

Candidatos petistas lideram pesquisas em Feira e Conquista

Em Feira de Santana (BA), o candidato Zé Neto (PT) aparece com 44% das intenções de voto, conforme levantamento de A TARDE/Potencial Pesquisa, realizado entre os dias 17 e 20 de novembro. O atual prefeito Colbert Martins (MDB), candidato a reeleição, tem 36%. Os números colocam os dois candidatos em situação de empate técnico, já que a margem de erro da pesquisa é de quatro pontos percentuais.

Em Vitória da Conquista (BA), o levantamento do mesmo instituto também indica empate técnico. Zé Raimundo (PT) está ligeiramente à frente com 40% das intenções de voto, enquanto o prefeito atual Herzem Gusmão (MDB) aparece com 37%.

Mulheres e indecisos podem definir a eleição

Em Feira de Santana, o voto de mulheres e indecisos pode fazer a diferença. No recorte de gênero, o candidato petista sai em vantagem. Dentre as entrevistadas mulheres, 45% tem preferência por Zé Neto (PT) e 33% por Colbert Martins (MDB). Entre os entrevistados homens, 44% preferem o candidato petista e 39%, o candidato do MDB.

Neste mesmo levantamento, 12% dos entrevistados disseram que ainda não sabem em quem vão votar, 4% pretendem votar nulo, 2% não quiseram responder e 2% disseram que votarão em branco.

Em Vitória da Conquista, a situação é bem acirrada, em todos os perfis. Zé Raimundo é preferido por 45% das mulheres contra 35% de Gusmão. Entre os homens, o emedebista é preferido por 40% dos entrevistados contra 38% do petista.

O índice de eleitores indecisos é de 14% e 6% não quiseram responder à pesquisa. Os que pretendem votar em branco são 3% e 1% pretendem votar nulo.

Candidatos em Feira de Santana

Zé Neto é deputado federal eleito em 2018 e tem quatro mandatos como deputado estadual na Bahia (legislaturas de 2002, 2006, 2010 e 2014). Na Assembleia Legislativa, foi líder do governo por oito anos: quatro no segundo mandato de Jaques Wagner (PT) e quatro no primeiro governo de Rui Costa (PT). Em sua trajetória política constam ainda dois anos como vereador de Feira (2000 a 2002).

O atual prefeito, Coubert Martins, assumiu o mandato em abril de 2018, após a renúncia de José Ronaldo (DEM) para disputar a eleição para o governo do estado. Martins foi deputado estadual por um mandato (1991-1995) e deputado federal por dez anos (1997 a 2011). Foi nomeado em março de 2011 pelo ex-ministro do turismo, Pedro Novais, para a Secretaria Nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo (governo da ex-presidente Dilma Rousseff), mas foi afastado devido à operação “Voucher”.

Candidatos em Vitória da Conquista

O candidato à reeleição em Conquista, Herzem Gusmão foi eleito primeiro suplente de deputado estadual, chegou a assumir em 2015 e cumpriu mandato até 2016. Antes de se tornar prefeito disputou dois outros pleitos para o chefe do executivo municipal (2008 e 2012) e também para a Câmara dos Deputados (2018), sem êxitos.

O candidato petista, Zé Raimundo, foi eleito vice-prefeito em 2000, assumiu a Prefeitura de Conquista em 2002 e foi reeleito em 2004. Atualmente, exerce o terceiro mandato como deputado estadual.

Apoios aos candidatos em Feira de Santana e Vitória da Conquista

No primeiro turno em Feira de Santana, conhecida como a Princesa do Sertão, Zé Neto obteve 41,55% dos votos, já Colbert Martins ficou com 38,18%.

Logo após a divulgação dos resultados, as articulações junto aos candidatos derrotados começaram a acontecer. Colbert Martins recebeu apoio do ex-deputado estadual e radialista Carlos Geilson (PODE), que era da base de apoio ao governador Rui Costa (PT). Outro apoio é do candidato do Republicanos, José de Arimatéia, deputado estadual e pastor da igreja Universal do Reino de Deus.

Já o candidato Zé Neto recebeu o apoio da candidata derrotada Marcela Prest (PSOL) e de Beto Tourinho (PSB). Os candidatos derrotados Dayanne Pimentel (PSL) e Carlos Medeiros (Novo) não apoiarão nenhum dos lados no segundo turno.

Em Vitória da Conquista, a suíça baiana, o resultado do primeiro turno terminou com um cenário bem apertado. A diferença do primeiro para o segundo candidato foi de 2.989 votos. Zé Raimundo, candidato petista, obteve 47,63% dos votos válidos e seu adversário, Herzem Gusmão (MDB), 45,89%.

Na disputa do segundo turno, Zé Raimundo recebeu o apoio de Romilson Filho (PP). Já o candidato emedebista, Herzem Gusmão, recebeu o apoio do Cabo Herling (PSL) e do candidato a prefeito eleito na capital, Bruno Reis (DEM).

Rui Costa e ACM Neto em campo podem influenciar resultados

Ao longo da última semana, houve a articulação de apoios dos candidatos derrotados em ambas as cidades. Mas diante de cenários com disputas acirradas essas movimentações não necessariamente significam vantagem.

Dois cabos eleitorais são considerados muito importantes na reta final da campanha, Rui Costa (PT) e ACM Neto (DEM).

Nas duas cidades, o governador entrou em campo para apoiar os candidatos petistas e ACM Neto tem se dedicado a fortalecer os candidatos emedebistas nos últimos dias de campanha.

Em Vitória da Conquista, Rui Costa chegou a participar de uma entrevista coletiva ao lado do candidato Zé Raimundo, logo após o resultado do segundo turno. ACM Neto tem visitado as duas cidades.

Ideologia importa, mas nem sempre é algo que está no radar de muitos eleitores e até de políticos no âmbito local. Em Feira de Santana, por exemplo, enquanto ACM Neto tornou-se cabo eleitoral do candidato do MDB, outros políticos não seguem a mesma lógica. O ex-deputado estadual Targino Machado (DEM) declarou apoio ao candidato petista.

Indefinição marca a eleição de Feira e Conquista

Os números da pesquisa realizada pelo Instituto Potencial apontam que mulheres e indecisos podem fazer a diferença em Feira de Santana. Em Vitória da Conquista, a disputa segue acirrada em todos os perfis do eleitorado.

Em uma eleição apertada e muito disputada, vários fatores podem definir o resultado. As urnas responderão no próximo dia 29.

* Luciana Santana é mestre e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, com estância sanduíche na Universidade de Salamanca. É professora adjunta na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), líder do grupo de pesquisa: Instituições, Comportamento político e Democracia, e atualmente ocupa a vice-diretoria da regional Nordeste da ABCP.
Cláudio André de Souza é professor adjunto de ciência política Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, Campus dos Malês (BA).