No Recife, ainda é muito cedo para apontar favoritos
Definidos/as os/as candidatos/as, as primeiras pesquisas de intenção de voto no Recife anunciam que a disputa está indefinida e será muito acirrada. Das 11 candidaturas, pelo menos quatro parecem despontar como as mais viáveis. A do deputado federal João Campos (PSB), a do ex-governador Mendonça Filho (DEM), a da deputada federal Marília Arraes (PT) e a da delegada Patrícia (Podemos). É o que mostra a pesquisa Ibope encomendada pela TV Globo/ Jornal do Commercio, divulgada na última sexta-feira (2).
A pesquisa aponta João Campos com 23%, e Mendonça Filho com 19% das intenções de voto, tecnicamente empatados na margem de erro. Além deste, dois outros empates se verificam: Mendonça Filho (19%) e Marília Arraes (14%) dividem a segunda colocação; e a candidata do PT empata também com a candidata do Podemos, Delegada Patrícia, que aparece em quarto lugar.
Fonte: Ibope (02/10/2020)
A indefinição aumenta quando se verificam os números da rejeição. Os dois primeiros colocados, Campos e Mendonça, são exatamente os que apresentam a maior rejeição, ambos com 36% e, portanto, com menos espaço para avançar na preferência do eleitorado. Já Marília Arraes tem 20% de rejeição, o que sugere que ela pode crescer um pouco mais que os dois. Mas o destaque fica para a Delegada Patrícia. Ela tem a menor rejeição entre os/as candidatos/as mais bem colocados, apenas 10%.
Ao que tudo indica, a incerteza sobre o resultado levará a estratégias de alianças que serão decisivas. A campanha vai importar, e muito. E quem manejar bem esses recursos, pode se beneficiar.
O apoio de Bolsonaro
Tudo indica que dois apoios podem ser decisivos na campanha. O primeiro é o do prefeito Geraldo Júlio (PSB) e o segundo é o de Bolsonaro. Contrariando as expectativas, em boa medida baseadas no fraco desempenho de Bolsonaro no Nordeste nas eleições de 2018, o presidente parece ser uma força importante na disputa eleitoral do Recife. Na pesquisa realizada pela 6 Sigma, entre 20 e 22 de setembro, a avaliação do presidente é melhor que a do Governador Paulo Câmara (PSB) e superior à do Prefeito do Recife, Geraldo Júlio, ainda que se verifique empate técnico neste último caso. Os percentuais são relativos aos eleitores que responderam ótimo e bom.
É bem verdade que a avaliação do presidente é menor do que a que se vem observando no Sudeste e em nível nacional, que em setembro estava em torno de 40%, a depender da pesquisa. Mas se cotejada com os líderes locais, seu apoio não parece ser dispensável. Bolsonaro é apoiado por quase um terço do eleitorado do Recife e isso não é pouca coisa.
Fonte: 6 Sigma (20 a 22/09/2020).
Resta saber, primeiro, se ele vai se envolver na campanha, e segundo, se for o caso, a quem ele dará apoio. A primeira pergunta ainda é uma incógnita, mas sobre a segunda, é possível especular. Se Bolsonaro entrar na campanha, dará apoio ou à delegada Patrícia, ou ao Cel. Feitosa. Como este último parece não ser viável, o apoio do presidente pode ser em favor da delegada do Podemos, e isso, associado à sua baixa rejeição, a torna uma candidata competitiva.
Enquanto a estratégia do presidente não está definida, qualquer palpite sobre a disputa do Recife se torna muito arriscado.
Esquerda dividida
Somado à incerteza sobre o apoio de Bolsonaro, Recife tem um quadro complicado para as esquerdas. O socialista João Campos, filho do falecido Eduardo Campos, certamente contará com o apoio do Prefeito Geraldo Júlio e do Governador Paulo Câmara, e isso lhe dá boa vantagem. Afinal, a máquina fala alto numa eleição, mas ele tem um problema pela frente: desta vez, o PT sai com candidatura própria.
Historicamente, o PT tem formado aliança com o PSB em Pernambuco, dando suporte ao projeto dos Campos e, para muitos, como partido satélite. Foi o que aconteceu em 2018, quando Marília Arraes foi preterida, em favor da candidatura de Paulo Câmara ao Governo do Estado. Agora, a história mudou. Marília conseguiu a indicação do partido e, embora conte com alguma oposição dentro do PT, notadamente do Senador Humberto Costa, ela aparece como candidata viável já no início do pleito.
Disputa indefinida
Duas das quatro candidaturas mais promissoras, segundo resultado do Ibope, já eram esperadas. Campos, pelo legado do pai e a força do PSB no Estado, e Mendonça, por já ter sido Governador. A novidade fica por conta das mulheres.
Tanto Marília Arraes quanto a delegada Patrícia aparecem bem posicionadas e isso complica o jogo. As duas tem potencial de crescimento, pois têm baixa rejeição e promissores apoios. Marília já provou ser boa de urna, foi eleita em 2018 com 193.108 mil votos – a segunda parlamentar federal mais votada no estado naquele ano. Mas seu sucesso depende de equacionar internamente o racha no PT, mantendo a militância coesa.
Já para Patrícia, seu desempenho pode melhorar significativamente se tiver apoio do Presidente. Embora diga que não depende do apoio de Bolsonaro, logo descobrirá que não existe eleição fácil, sobretudo para ela, que ainda não foi testada nas urnas. No Recife, menos ainda, dada a tendência do eleitorado à esquerda.
* Manoel Leonardo Santos é professor do Departamento de Ciência Política da UFMG