Apoio do governador na eleição municipal: vale a pena?
Antes mesmo da finalização da apuração dos votos em São Paulo, o candidato a reeleição, Bruno Covas (PSDB), já fazia seu primeiro pronunciamento e dava início a sua campanha para o segundo turno, que já estava definido. A presença de João Doria ao lado de Bruno Covas, nessa ocasião, foi simbólica para o partido tucano.
A relação entre o atual prefeito paulistano e o governador teve aproximação em 2016, quando Covas foi vice de Doria na chapa vencedora à época. Quatro anos depois, Doria apadrinha a campanha de seu partidário para reeleição da sigla tucana na capital.
O caso, que traz envolvimento direto entre prefeito e governador, nos permite questionar a importância do governador para o sucesso de um prefeito em seu estado. Segundo a pesquisa “A Cara da Democracia – Eleições 2020”, realizada pelo INCT/IDDC e pelo Cesop/Unicamp, ter o apoio do governador do estado parece ser importante para a decisão do voto.
Apenas 10% dos respondentes manifestaram que ter o apoio do governador não influencia o seu voto. E, se somarmos aqueles que poderiam votar ou que com certeza votariam num candidato apoiado pelo governador, chegamos a 50% das respostas.
Isso não significa que o partido do governador será vitorioso ou terá maior chance de sucesso, até porque 37% manifestam rejeição total a esse apoio. Mas o que os dados deixam claro é que o vínculo entre os dois cargos existe e é algo que precisamos considerar.
Entre as pessoas que não votariam de jeito nenhum em um candidato apoiado pelo governador, chama atenção que 54% não se identificam com nenhum partido político. Apesar da identificação partidária ser baixa no Brasil, essa não identificação associada a não vinculação do voto municipal com a indicação do governador acende uma luz de alerta para pensarmos possíveis estratégias partidárias nos pleitos posteriores. Afinal, em que medida é compensatório para uma candidatura municipal ter apoio da administração estadual e de seu partido?
O mesmo pode ser dito sobre a avaliação do governo para decisão do voto, um elemento bastante debatido na Ciência Política por sua capacidade de punir ou premiar os atuais gestores. Ainda de acordo com a pesquisa “A Cara da Democracia – Eleições 2020”, quase 59% das pessoas que avaliam negativamente o governo estadual na gestão da pandemia declararam que não votariam de jeito nenhum em candidatos que têm o apoio do governador.
O resultado acima, que mais demonstra indiferença e até mesmo completa rejeição pelo apoio do governador do estado, provavelmente influenciou os resultados em 2020. Apesar de ainda termos 57 cidades com segundo turno, já conseguimos traçar algum panorama para explorar esse possível impacto. Desse total, temos o partido do governador no segundo turno em 18 municípios, pouco mais de 30%.
Dos 26 estados brasileiros, 11 deles tiveram o partido do governador como o maior em número de prefeituras em seu estado. Em 2016, o jogo foi mais equilibrado: 50% dos estados tiveram o partido de sua unidade federativa como o vencedor em prefeituras conquistadas. Ou seja, entre a indiferença e a rejeição, os dados do survey não trazem surpresas sobre o comportamento nas urnas e com o início das campanhas para o segundo turno.
O que também não surpreende é a análise a partir dos partidos que mais vencem prefeituras por estado. Para além de ser o partido com maior número de prefeitos eleitos em todo território, o MDB é também o que mais venceu estadualmente. Em 2016, o MDB teve o maior número de prefeituras conquistadas em 13 estados, com o PSDB logo em seguida com quatro estados. Já em 2020, o partido mais antigo do sistema partidário brasileiro caiu para oito estados com maior número de vitórias ao Executivo municipal, seguido pelo DEM com quatro e o PSD com três.
A aproximação com o partido do governador é uma variável importante para compreendermos a política municipal. Após as eleições estaduais, a migração para partido do candidato recém-eleito para o cargo tende a ocorrer – a fim de obter trânsito interno no partido e, assim, estreitar relações com governador e angariar maiores recursos ao seu município. Se a tendência a partir daqui for a mesma apresentada pelos dados, com queda do partido do governador em campanhas municipais, os prefeitos terão que realizar outra migração antes de concorrerem novamente em seus municípios.
Ainda vale chamar atenção para o apoio do governador poder ser para o mesmo partido, mas não necessariamente. Claro que, se seu partido estiver competindo, provavelmente ele que terá apoio do executivo estadual. Mas, para além disso, é preciso pensar o que apoios a outros partidos podem significar. Por que um partido “A” na cadeira de governador do estado apoiaria um partido “B” a nível municipal? A resposta talvez esteja nas movimentações para os pleitos futuros. E, por isso, nos mantemos atentos aos resultados do segundo turno e seguimos acompanhando o andamento das gestões locais até 2022, pelo menos.
A pesquisa “A Cara da Democracia: Eleições 2020”, do INCT-Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação e do Cesop/Unicamp foi realizada entre os dias 24 de outubro e 04 de novembro de 2020. A pesquisa entrevistou duas mil pessoas por telefone, tem grau de confiança de 95% e margem de erro de 2,2%.