O desenho partidário das prefeituras e perspectivas para o segundo turno

O desenho partidário das prefeituras e perspectivas para o segundo turno

As eleições de 2020 não acabaram e ainda precisamos esperar os dados oficiais para interpretações mais detalhadas sobre seus resultados. Apesar disso, já conseguimos traçar possíveis tendências para o segundo turno com base no que temos disponível.

Ao longo dos anos, a distribuição da força política dos partidos alterou-se consideravelmente, muito disso conectado ao contexto político nacional. Em 2020, esse padrão se repete. Os mapas abaixo mostram isso.

Começando em 2000, com PSDB na Presidência da República e DEM como um partido forte ao seu lado, eles juntos conquistaram 2016 municípios, aproximadamente 36% do total.

Já em 2012, um momento de intensa relevância do PT a nível nacional e logo após a eleição de Dilma Rousseff, sustentada pelos resultados positivos que a legenda vinha tendo entre o eleitorado, o partido, que tinha apenas 187 municípios em 2000, chega a 647 naquele ano. Porém, após o impeachment de Dilma durante seu segundo mandato e a crise política pela qual o partido passou, com a influência da Operação Lava-Jato, o PT encolhe e conquista apenas 250 prefeituras em 2016.

Esse movimento vem acompanhado de dois outros. O aumento do PSB que, ao lado do PT, conquistou espaços importantes na política nacional até 2016. E o surgimento do PSD em 2008, que atraiu diversas lideranças para a legenda, ainda recém-formada, e tem aumentado sua inserção territorial ao longo dos anos.

Em 2020, o desempenho do PSD segue chamando atenção. Até agora, com base na prévia que a tivemos acesso, o partido conseguiu eleger, aproximadamente, 20% mais prefeituras das que tinha em 2016. Ao seu lado, vem outros partidos de direita que, após longo período com resultados pouco significativos, voltam ao cenário após 2016. Hoje são atores importantes nessa disputa. Entre eles estão o DEM e o PP, que até agora elegeram, aproximadamente, 68% e 35% mais de prefeituras do que em 2016.

Com o segundo turno, no próximo domingo (29), parece que teremos o fortalecimento dessa tendência. Segundo as pesquisas de opinião que vem sido feitas nas capitais, principalmente Ibope e Datafolha, observa-se que partidos de direita, como DEM, PP e Podemos, dominam a corrida eleitoral nas capitais.

Em sete das dezoito capitais em disputa, as siglas de direita caminham rumo a vitória, como é o caso de Rio Branco (AC) e Rio de Janeiro (RJ) em que Tião Bocalom (PP) e Eduardo Paes (DEM) largam à frente com mais de trinta pontos de diferença.

Já o PSDB e MDB, diferentemente de 2016 quando conquistaram onze capitais, disputam hoje as primeiras colocações no segundo turno em pelo menos seis delas: Boa Vista (RR), Teresina (PI), Porto Velho (RO), São Paulo (SP), Goiânia (GO) e Porto Alegre (RS). Vale lembrar que, neste ano de 2020, os tucanos já venceram em Palmas e Natal logo no primeiro turno.

Por outro lado, quando analisamos os partidos de esquerda, como PT, PSB e PSOL, vemos que essas siglas lideram as outras cinco capitais restantes, em especial na região Nordeste. Nela, estes partidos estão na frente em quatro das sete capitais ainda indefinidas: Recife, Fortaleza, Aracaju e Maceió.

Campeões de intenções de voto

Arthur Henrique (MDB), em Boa Vista, e Tião Bocalom (PP), em Rio Branco, são os candidatos que mais pontuaram nas pesquisas para o segundo turno até agora. Ambos aparecem com mais de 60% das intenções de voto. Seguindo eles está Edvaldo (PDT), que busca a reeleição em Aracaju, o já citado Eduardo Paes (DEM) no Rio de Janeiro e Dr. Pessoa (MDB) em Teresina, os três à frente nas pesquisas com mais de 50% das intenções de voto.

Conforme apresentado nas imagens acima, cabe destacar que o segundo turno no Recife é entre dois candidatos situados à esquerda, João Campos do PSB e Marília Arraes do PT, e no Rio de Janeiro é entre dois situados à direita, Eduardo Paes (DEM) e o atual prefeito Marcelo Crivella (Republicanos).

Pesquisas eleitorais acertaram as primeiras colocações

As pesquisas feitas nas capitais durante o primeiro turno apresentaram resultados muito próximos ao que vimos nas urnas. As últimas previsões do Ibope acertaram as primeiras colocações de todas as capitais, com exceção de Porto Alegre (RS). No Nordeste, o instituto indicou corretamente as três primeiras colocações em todas as capitais, exceto a terceira em Teresina (PI).

Além disso, as pesquisas Datafolha, realizadas em cinco capitais, acertaram as três primeiras colocações, com exceção da segunda e terceira em Belo Horizonte (MG).  Ibope e DataFolha obtiveram seu melhor desempenho desde 2016, com erro médio próximo a margem declarada por eles.

Se as pesquisas estiverem corretas, como tudo indica, já sabemos qual o provável cenário em que amanheceremos na segunda-feira (30). No entanto, surpresas podem ocorrer. Acompanharemos atentamente os resultados e as previsões feitas pelos principais institutos.

Luiz Gabriel Lima é graduando em Ciências Sociais pela Unicamp e bolsista do INCT/ IDDC.
Monize Arquer é doutora em Ciência Política pela Unicamp, com período sanduíche na Universidade de Oxford, e pesquisadora do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop – Unicamp). Atua em estágio pós-doutoral no INCT/IDDC e tem interesse nas áreas de partidos políticos, eleições e comportamento eleitoral.

Renovação política não deve ser alta em 2020

Renovação política não deve ser alta em 2020

No próximo dia 15 de novembro, teremos eleições nos mais de cinco mil municípios brasileiros, mas muitos poderão acordar com o mesmo prefeito em 1º de janeiro de 2021. A reeleição consecutiva para cargos do Executivo foi aprovada em 1997 por meio de emenda constitucional, e desde então isso tem sido padrão. Ou seja, boa parte dos ocupantes do cargo levaram vantagem sobre os concorrentes durante os pleitos e permaneceram em seus cargos.

No entanto, a taxa de sucesso de prefeitos que buscam um segundo mandato vem caindo desde 2008. Mas isso pode se reverter esse ano. O número de candidatos com a intenção de conquistar a reeleição aumentou e as eleições municipais de 2020 tem o maior número de prefeitos aptos à reeleição desde 2000 – a primeira disputa eleitoral municipal depois que a recondução foi permitida. Hoje, mais da metade dos prefeitos tentam um segundo mandato.

“A política só tem uma porta, a porta de entrada. Não tem porta de saída” – José Sarney

No final do mandato, políticos devem decidir entre se ausentar da disputa seguinte, concorrer a um cargo diferente daquele que ocupam ou buscar a reeleição. Caso decidam permanecer no cenário político, isso pode ser feito por meio do mesmo partido pelo qual foi eleito na disputa anterior ou por um novo. Para o cargo de prefeito, a regra permite apenas uma reeleição consecutiva. Já para vereador, não existem impeditivos para a reeleição.

Sendo assim, é importante saber quem são esses candidatos que buscam permanecer no cenário político e se é possível identificar estratégias para a disputa eleitoral que irão enfrentar.

Caras conhecidas em 2020

Do total de candidatos que disputam as eleições para prefeito em 2020, 31% já competiram por essa vaga em 2016 e, no caso dos vereadores, quase 29% do total de candidatos já pleitearam pela vaga nas eleições anteriores.

É possível imaginar que a maior recorrência de candidaturas seja entre postulantes que foram eleitos em 2016, e isso vale para os prefeitos. Em aproximadamente 60% dos municípios brasileiros, os prefeitos estão buscando uma nova vitória nessas eleições. Mas, dado o maior número de candidatos em disputa, entre os vereadores essa condição se inverte. Cerca de 70% dos candidatos que não foram eleitos em 2016 estão disputando novamente uma vaga nas Câmaras Municipais.

Outro dado interessante é que do total de candidatos a prefeito esse ano, quase 17% foram candidatos a vereador em 2016, dentre os quais, 71% foram eleitos naquele pleito. Ou seja, o aumento no número de candidaturas para as prefeituras é composto por indivíduos já conhecidos no cenário político municipal, o que pode ser uma vantagem para aqueles que buscam essa vaga.

Migração entre candidatos a vereador é grande

Um ponto que vale ser ponderado a respeito das candidaturas repetidas é a migração partidária. Além de pensar de qual partido o candidato vem e para qual foi, é igualmente importante ponderar o que essa movimentação significa. Por um lado, certamente, temos estratégias partidárias que visam atrair essas candidaturas a fim de ampliar sua atuação nacional. Mas, por outro, também existe a agência do indivíduo que opta por permanecer no mesmo partido ou não.

Entre os prefeitos, é mais comum que aqueles que estão eleitos busquem uma nova candidatura pelo mesmo partido. Mas entre os vereadores isto não parece ser tão frequente. Mais de 60% dos vereadores que estão se candidatando novamente e que foram eleitos em 2016 apostam em uma nova legenda para as eleições 2020, e entre os que se candidataram, mas não foram eleitos, esse valor ultrapassa os 70%.

Mas como escolher para onde ir? Os incentivos para a migração partidária são vários, e não cabe aqui discuti-los. Neste observatório, foi discutido já o efeito do fim das coligações nos cargos proporcionais, que certamente fez com que a decisão de vereadores sobre partidos encontrasse novos elementos para poderar.

Mas um ponto que vale a pena questionar é se, nesse cálculo, entra a ponderação sobre o partido do governador. Isso porque, a presença no principal cargo Executivo do estado poderia gerar maior visibilidade, recursos e até mesmo facilidades durante a campanha eleitoral. E, de um modo geral, parece que esse é um atrativo.

Os governadores importam

Entre candidatos que se candidataram para prefeito em 2016 e estão tentando novamente, 13,4% estão no partido do governador de seu estado e, dentre esses, 41% estavam em um partido diferente na eleição anterior. Entre os vereadores, 9% estão disputando pelo mesmo partido que o do governador e, desse total, quase 65% migrou para esse partido para concorrer em 2020. Sobre isso, chama atenção o caso de São Paulo, onde o PSDB domina a disputa pelo governo do estado há mais de 20 anos e, ainda hoje, segue atraindo muitos competidores para sua sigla em comparação com os que acontece nos demais estados.

Ainda não dá para saber se essa é uma estratégia eficiente, precisamos aguardar o resultado da disputa. Mas já podemos adiantar que, provavelmente, haverá muitos rostos conhecidos em janeiro de 2021.

Monize Arquer é doutora em Ciência Política pela Unicamp, com período sanduíche na Universidade de Oxford, e pesquisadora do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop – Unicamp). Atualmente atua em estágio pós-doutoral no INCT/IDDC.

Luiz Gabriel Lima é graduando em Ciências Sociais pela Unicamp e bolsista do INCT/IDDC.