por Oswaldo E. do Amaral | out 24, 2020 | Cidades, Destaque 3, Opinião Pública
Oswaldo E. do Amaral
Neste 2020 muito louco, finalmente as eleições municipais estão entrando no radar dos eleitores. Ocupados em resistir ao vírus, à crise econômica e às polêmicas da turma do Palácio do Planalto, demorou para os eleitores passarem a prestar atenção nas corridas locais até mesmo nas grandes cidades. Agora, a pouco mais de 20 dias das eleições, a coisa começa a esquentar.
No dia 22, o Datafolha divulgou mais uma pesquisa para a disputa na cidade de São Paulo. O quadro parece mais incerto agora. Celso Russomano (Republicanos), como esperado, caiu de 27% das intenções de voto, em pesquisa realizada nos 05 e 06, para 20%. O atual prefeito, Bruno Covas (PSDB), oscilou de 21% para 23%, assim como Guilherme Boulos (PSOL), que passou de 12% para 14%, e Márcio França (PSB), que foi de 8% a 10%.
Candidatura do PSOL é a novidade em SP
Em um pleito em que um candidato do PSDB está bem posicionado e em que Celso Russomano larga na frente e vai derretendo ao longo da campanha, a principal novidade está na figura de Boulos, líder do MTST, como o principal nome da esquerda na disputa, desbancando um posto historicamente ocupado por candidatos petistas.
Com uma ex-petista histórica como candidata a vice, Luiza Erundina (PSOL), e com pouco tempo de propaganda eleitoral gratuita, a campanha de Boulos vem se destacando até aqui pela capacidade de tocar em temas tradicionais da esquerda com bom-humor e criatividade, fazendo os mais saudosistas do início da transição democrática lembrarem de quando o publicitário Carlito Maia estava no PT.
Ao analisarmos os dados do Datafolha mais detalhadamente, é possível concluir que ainda há espaço suficiente para que a candidatura do PSOL chegue em um eventual segundo turno, provavelmente, contra Bruno Covas. Vejamos.
Na pesquisa espontânea, em que os entrevistados respondem sem que lhes seja apresentada a lista de candidatos, Boulos está com 11% da intenção de votos, tecnicamente empatado com Russomano (11%) e Bruno Covas (13%), e à frente de Márcio França (5%), indicando uma solidez no apoio obtido até aqui.
No entanto, diferentemente de seus competidores diretos no momento, Boulos não é conhecido, nem mesmo de ouvir falar, por 43% dos eleitores. Russomano e Covas são conhecidos por todo o eleitorado, enquanto França é conhecido por 79%.
Com relação à taxa de rejeição, os números são um pouco piores, mas ainda não chegam a inviabilizar seu crescimento. O líder do MTST é rejeitado por 24% dos entrevistados, bem abaixo dos 38% de Russomano e empatado com o atual prefeito, com índice de 25%. No entanto, nesse aspecto, a vantagem de Covas é grande, pois ele já conta com o conhecimento de todo o eleitorado.
Os desafios
Para chegar ao segundo turno, porém, Boulos e o PSOL terão que vencer alguns desafios. O primeiro é ampliar a exposição do candidato. Nesse sentido, a pouca quantidade de debates em veículos de comunicação de grande alcance podem ser uma barreira. Depender exclusivamente das redes sociais pode não ser o suficiente para que sua candidatura chegue aos mais velhos, aos mais pobres e aos de menor escolaridade, exatamente os segmentos em que o candidato tem seu piores desempenhos.
Outro desafio é conseguir colocar-se como a principal alternativa de esquerda ao PSDB na capital paulista. Aqui, a batalha é dupla: por um lado, Boulos vai precisar mostrar-se viável eleitoral e politicamente. Ou seja, demonstrar que terá condições políticas de governar a cidade mesmo sendo, inicialmente, líder de um governo minoritário na Câmara; por outro lado, o candidato terá que convencer uma grande parte dos petistas (16% do eleitorado) de que é uma alternativa mais viável do que Jilmar Tatto (PT). Por enquanto, o líder do MTST vem sendo bem-sucedido nessa empreitada. Na pergunta espontânea, 17% dos que se identificam com o PT preferem o candidato do PSOL, contra apenas 11% que preferem Tatto. Um terço dos petistas não soube se posicionar.
Por fim, Boulos vai precisar levar sua candidatura à periferia, em especial aos extremos das Zonas Leste e Sul, tradicionais redutos da esquerda que migraram para partidos de centro nas últimas eleições municipais.
Os desafios são grandes, mas não será surpresa se a esquerda voltar a contar com um candidato no segundo turno da maior cidade do país.
Nota: os dados usados neste artigo estão disponíveis no site do Datafolha.
por Oswaldo E. do Amaral | out 10, 2020 | Cidades, Opinião Pública
Nos últimos dias, várias análises, algumas delas publicadas neste Observatório das Eleições, destacaram o avanço das candidaturas de partidos de direita em 2020, sugerindo que a onda política conservadora que tomou conta do país em 2018 ainda não teria terminado.
Iniciada a corrida eleitoral de 2020, como andam as disputas nas capitais por bloco ideológico? A direita está mesmo em posição de vantagem? Com base em pesquisas publicadas nos últimos dias em 21 capitais já é possível traçar um panorama.
Como foi em 2016
Em 2016, a direita venceu em 5 capitais (19%), o centro, em 12 (46%), e a esquerda, em 9 (35%). O MDB com vitórias em quatro capitais e o PSDB, com sete triunfos, comandaram o protagonismo dos partidos de centro. Na esquerda, o PDT levou três capitais e o PSB, duas. O PT, em forte crise, venceu apenas em Rio Branco. O PSD liderou o bloco da direita, com conquistas em João Pessoa e em Campo Grande.
MDB e PSDB animaram-se com os resultados. Tudo parecia convergir para o sucesso em 2018 da coalizão que derrubara Dilma Rousseff. No entanto, esse não era o plano dos líderes da Operação Lava-Jato. Em 2017, MDB e PSDB foram alvos de denúncias e investigações. Com o objetivo de mostrar imparcialidade e de “sanear” o sistema político brasileiro, os “revolucionários” de Curitiba implodiram as ambições nacionais dos principais partidos de centro e abriram espaço para a ascensão de Jair Bolsonaro – uma consequência inesperada de todo o processo, talvez (?). O resto é história. Os principais partidos da Nova República ficaram marcados pelos escândalos de corrupção e perderam espaço para a “nova” direita conservadora.
Mesmo considerando as diversas dinâmicas locais, esse processo ainda parece em curso, especialmente entre as elites políticas, que se reorganizaram bastante entre 2017 e 2020.
Em 2020, a direita está na frente
Até o momento, é possível analisar as corridas eleitorais em 21 capitais a partir de pesquisas divulgadas por meios de comunicação. O que temos então? Partidos de direita lideram em onze (52%), de centro, em 5 (24%), e de esquerda, em 5 (24%).
O DEM está na frente em quatro capitais (Salvador, Rio de Janeiro, Curitiba e Florianópolis), seguido pelo PSD (Campo Grande, Goiânia e Belo Horizonte) e pelo PSDB (Palmas, Rio Branco e Natal). No bloco de esquerda, a dispersão é grande, com PT, PSOL, PDT, PC do B e PSB liderando, cada um, em uma cidade.
Já ganhou?
Ainda falta tempo para o primeiro turno e os eleitores vêm tomando decisões cada vez mais perto do dia de ir à urna. No entanto, em algumas capitais as disputas parecem bem encaminhadas e podem terminar ainda na primeira volta. Em Salvador, Curitiba e Florianópolis, Bruno Reis, Rafael Greca e Gean Loureiro, os três do DEM, contam com mais de 40% das intenções de voto, segundo o Ibope. Nada, porém, se compara ao desempenho de Alexandre Kalil (PSD) em Belo Horizonte. O ex-presidente do Atlético Mineiro e atual prefeito aparece com 56% das intenções de voto segundo a última sondagem do Datafolha.
O Triângulo das Bermudas
Desde a Nova República, apenas em 2016 nenhum partido de esquerda venceu nas capitais de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, o chamado Triângulo das Bermudas da política brasileira. O evento parece que vai se repetir em 2020. Em nenhuma das três cidades, candidatos de esquerda estão entre os dois primeiros colocados.
Falta tempo ainda para as eleições municipais, e muito mais tempo para 2022. O quadro atual, no entanto, não parece favorável aos partidos de esquerda.
Candidatos na liderança das disputas nas capitais
- Belém: Edmilson Rodrigues (PSOL)
- Manaus: Amazonino Mendes (Podemos)
- Palmas: Cinthia Ribeiro (PSDB)
- Rio Branco: Minoru Kinpara (PSDB)
- Aracaju: Edvaldo Nogueira (PDT)
- João pessoa: Cícero Lucena (PP)
- Maceió: Alfredo Mendonça (MDB)
- Natal: Álvaro Dias (PSDB)
- Recife: João Campos (PSB)
- Salvador: Bruno Reis (DEM)
- São Luis: Eduardo Braide (Podemos)
- Campo Grande: Marquinhos Trad (PSD)
- Cuiabá: Emanuel Pinheiro (MDB)
- Goiânia: Vanderlan Cardoso (PSD)
- Belo Horizonte: Alexandre Kalil (PSD)
- Rio de Janeiro: Eduardo Paes (DEM)
- São Paulo: Celso Russomanno (Republicanos)
- Vitória: João Coser (PT)
- Curitiba: Rafael Greca (DEM)
- Florianópolis: Gean Loureiro (DEM)
- Porto Alegre: Manuela D’Ávila (PCdoB)
Nota metodológica
Esquerda: PC do B; PDT; PMN; PSB; Psol; PT; Rede
Centro: (P)MDB; PSDB; PPS/Cidadania
Direita: DEM; PHS; Podemos; PP; PRB/Republicanos; PSD
por Oswaldo E. do Amaral | set 29, 2020 | Opinião Pública
Lá atrás, em 1986 (que hoje parece ser no século 13), Emir Sader organizou um livro exatamente com esse nome. Mais uma vez, o Partido dos Trabalhadores (PT) discutia seus rumos e como agir na Nova República que se iniciava. Nenhuma novidade para um partido fundado a partir de diversos grupos e com forte disputa interna. O tempo passou e a história todo mundo conhece: o partido abraçou a institucionalidade, moderou o discurso e a prática e governou o país entre 2003 e 2016.
Agora, um novo dilema se coloca. Se em 2018, com o ex-presidente Lula preso, o PT foi bem-sucedido em se manter como a principal força política de esquerda e de oposição ao futuro governo, fazendo a maior bancada na Câmara e disputando o segundo turno das eleições presidenciais, agora o desafio reaparece de forma mais difícil.
Pressionado a compor uma frente com outras forças de oposição e a abrir mão de liderar o bloco de centro-esquerda, o pleito de 2020 é muito importante para as pretensões do partido em 2022. São dois os principais desafios: evitar o viés de queda verificado nas últimas eleições municipais, quando o partido elegeu menos vereadores e prefeitos do que o Partido Socialista Brasileiro (PSB), por exemplo, e demonstrar ter recuperado capilaridade organizativa em todo o território nacional nos últimos quatro anos.
Os dados das últimas eleições locais mostram o tamanho do problema. Em 2016, pela primeira vez na sua história, o partido elegeu menos vereadores e prefeitos do que na eleição anterior. Em 2012, o partido conquistara 11% das prefeituras e 9% das vagas nas câmaras municipais. Ainda venceu em 17 cidades com mais de 200 mil eleitores. Quatro anos depois, o partido ganhou em apenas uma grande cidade e em cerca de 5% dos municípios brasileiros, elegendo também cerca de 5% de vereadores.
Para além disso, o partido perdeu capilaridade. Na Ciência Política, usamos o lançamento de candidatos a vereador como uma medida para saber se o partido existe no nível local. Entre 2004 e 2012, o PT lançou candidatos em cerca de 90% dos municípios, rivalizando com o rei da capilaridade, o (Partido) do Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Em 2016, a máquina petista encolheu: o partido concorreu em pouco mais de 70% dos municípios, disputando o terceiro lugar com o Partido Progressista (PP), Partido Social Democrático (PSD) e Partido Socialista Brasileiro (PSB), atrás do (P)MDB e do Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB).
Os mapas abaixo dão cores a esse movimento. Nas eleições para prefeito e vereadores, quanto mais branco o mapa, menos municípios contaram com a participação do PT nas disputas. Da mesma forma, quanto mais fracas as cores nos mapas, menores as porcentagens de votos obtidos pelo PT.
O PT será capaz de reverter esse quadro iniciado em 2016? Essa é uma pergunta que começará a ser respondida nesta semana, quando tivermos os dados consolidados das candidaturas. A resposta final, porém, só no dia 15 de novembro. Não custa lembrar que o mundo vive também de coincidências. Em 1989, foi nesse mesmo dia que o então candidato Lula superou Loenel Brizola por menos de 500 mil votos e marcou a ascensão do PT como principal partido de esquerda do país. E nesse 15/11?