Capitão Wagner e o fundamentalismo religioso na disputa de Fortaleza

Capitão Wagner e o fundamentalismo religioso na disputa de Fortaleza

O segundo turno da disputa pela Prefeitura de Fortaleza tem assistido a uma forte mobilização do campo religioso conservador, sobretudo entre os evangélicos, de apoio à candidatura de Capitão Wagner (PROS).

Ele apresenta-se como “independente” e sem “chefe político” quando questionado acerca do apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que acumula reprovação de 46% dos fortalezenses conforme pesquisa Ibope divulgada nesta segunda (23). Porém, os apoiadores de sua candidatura, parlamentares e lideranças “bolsonaristas” de primeira hora resolveram radicalizar na semântica religiosa e aproximá-lo ainda mais do espectro bolsonarista.

No primeiro turno, quando a primeira pesquisa de intenção de votos foi publicada, em 15 de outubro, já se sabia que o segmento dos evangélicos lhe traria considerável montante de votos. Wagner aparecia com 39% das intenções de votos dos evangélicos, contra 16% de Luizianne Lins (PT) e também 16% de José Sarto (PDT). Três dias depois era a vez do Datafolha apontar a vantagem do candidato neste agrupamento religioso: 42% dos evangélicos diziam ter no Capitão a sua escolha eleitoral.

Uma segunda pesquisa IBOPE, publicada em 04 de novembro, trazia novos dados coletados por segmentos, o que incluía os evangélicos, e nela a intenção de votos em Wagner era de 37%, ao passo que a de Sarto, também evangélico, era de 22%.

Num dos momentos iniciais da campanha, Wagner aparecia nas redes sociais com uma apoiadora dizendo que, caso fosse eleito, “devolveria Fortaleza aos cristãos”.

Desde o primeiro turno, o candidato contou com o apoio explícito dos deputados estaduais Dra Silvana (PL/Assembléia de Deus), David Durand (REPUBLICANOS/Universal), Apóstolo Luiz Henrique (PP/Igreja do Senhor Jesus) e André Fernandes (Republicanos/Assembleia de Deus); dos deputados federais Ronaldo Martins (REPUBLICANOS/Universal) e Dr Jaziel (PL/Assembléia de Deus); e da vereadora Priscila Costa (PSC/Assembleia de Deus). Martins, que disputou uma vaga para a Câmara Municipal, foi eleito o vereador mais votado da cidade, com quase 33 mil votos, e Costa foi reeleita com mais de oito mil votos, a quinta mais votada.

Com tais lideranças no seu entorno, várias sinalizações do candidato ao segmento foram realizadas, destacando-se a realização de duas lives na última semana do primeiro turno. A primeira, na quinta-feira (12), reuniu pastores para tratar da pauta “igreja como serviço essencial”. A segunda, no sábado (14) antes da eleição, reuniu os deputados anteriormente citados para proferir uma série de ataques indiretos à candidatura do PDT, sobretudo por supostos apoios ao aborto, “ideologia de gênero” e “autoritarismo contra pastores e padres”.

Uma série de mensagens de áudio, cujos autores dizem-se “pastores”, circulam nas redes sociais dando conta de perseguições às igrejas caso o candidato do PDT ganhe a eleição. A acusação sempre é ao PDT, nunca ao candidato diretamente, permitindo explorar melhor a ideia de uma “esquerda anti-cristã”. PDT, um partido que fecha igrejas, que prende padres e pastores, que é favorável ao aborto, que implanta a ideologia de gênero, que é contra a família: esse é o teor das mensagens.

A primeira pesquisa de intenção de voto neste segundo turno, realizada pelo Datafolha e publicada no último dia 21 de novembro confirmou a vantagem do candidato do PROS: tem 53% de intenções de votos entre evangélicos, contra 35% de Sarto.

Esses números podem ser resultado do trabalho efetivo feito dentro das igrejas para, por meio do pânico moral, garantir votos para o candidato. Na última semana, lideranças importantes gravaram vídeos de apoio a Wagner: Damares Alves, Silas Malafaia, Aline Barros, dentre outros. A aposta, ao que parece, é na fidelização desse eleitorado por meio da radicalização retórica: o “senhor está conosco”, o “mal” está com eles. Para tanto, mesmo nomes do catolicismo carismático, como Eros Biondini e Eliana Ribeiro (ambos ligados à Comunidade Canção Nova), gravaram depoimento de apoio a Wagner.

A pergunta que fica é: com uma estabilidade tão considerável dentro deste segmento, um aceno mais radical a ele garantirá os votos que o candidato precisa para vencer a disputa? Uma vez que, ao que parece, parte dessa vitória deverá ser creditada a um dos candidatos pelos eleitores que votaram em Luizianne no primeiro turno (em torno de 18%), canalizar a gramática da campanha para um nicho do eleitorado que já caminha com ele é eficaz na contagem final dos votos?

A julgar pelos números da pesquisa IBOPE divulgada em 23 de novembro, parece que a aposta do QG do candidato de radicalizar o apoio evangélico tem sua razão. A intenção de votos dele entre evangélicos seria de 45% contra 40% do seu opositor, mostrando uma certa divisão do eleitorado, mesmo com a intensa mobilização das maiores lideranças. Por exemplo, nesta quarta o pastor Munguba Jr realizou uma live, às 5h da manhã, com o candidato.

Com essa intensa mobilização da retórica em torno da defesa do que se diz serem “os valores cristãos”, Wagner sairá mais identificado com a gramática bolsonarista ao fim da eleição de 2020. Como dito no começo, até a promessa de “devolver Fortaleza aos cristãos”, declaração tão ao gosto da falsa ideia de “cristofobia” difundida em ambientes bolsonaristas, opera nesse sentido, unindo-se à retórica de outras candidaturas que, neste segundo turno, utilizaram-se de tal modus operandi.

*Emanuel Freitas é graduado em Ciências Sociais (2020) pela UECE, mestre em Ciências Sociais (2013) pela UFRN e doutor em Sociologia (2018) pela UFC. Professor de Teoria Política do curso de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Políticas Públicas (UECE). Pesquisador do LEPEM-UFC.

Campanhas de desinformação mobilizam conservadores contra líderes em votos

Campanhas de desinformação mobilizam conservadores contra líderes em votos

A poucos dias do segundo turno das eleições, o pleito parece ser atravessado por estratégias danosas ao debate democrático, com grupos valendo-se de disseminação de desinformação contra candidaturas que lideram pesquisas, como está claro nos casos de Recife, Belém, Fortaleza e Rio de Janeiro.

No Recife, pesquisa Ibope divulgada nesta quarta-feira (25) apontou liderança de João Campos (PSB), com 43%, ao passo que Marília Arraes (PT) soma 41%. A mudança no posicionamento dos candidatos pode ter como um dos motivos a campanha de desinformação em curso contra Marília, que se dá de forma explícita e implícita. Circula no Recife panfleto apócrifo com o título “Cristão de verdade não vota em Marília Arraes”. Nele, uma foto da candidata e, ao redor dela, balões com aquilo que a autoria não identificada quer relacionar com ela: defesa do aborto, legalização das drogas, ideologia de gênero. Há uma citação atribuída a ela na qual se posicionaria contra o costume de ler a Bíblia e falar em nome de Deus, cujo contexto não é explicitado. A questão foi parar no programa eleitoral de João Campos na TV, que também usou o argumento de que a petista era contra a Bíblia.

A defesa de Marília argumentou que a frase foi proferida durante discurso na Câmara Municipal, em que defendia a laicidade do Estado no âmbito das instituições públicas. A Justiça Eleitoral determinou a retirada do ar da propaganda, pois avaliou que falas foram tiradas de contexto e que tentam “confundir o eleitorado”. Além da referência à Bíblia, Campos dizia em sua propaganda que “a candidata Marília assinou documento para acabar com o Prouni Recife”, posicionamento que também foi retirado de contexto, de acordo com a decisão judicial.

Ainda que não seja possível comparar pesquisas de intenções de votos entre diferentes institutos, pois cada um segue metodologia própria, é útil ter em vista que, na última pesquisa Datafolha, realizada nos dias 18 e 19, Marília aparecia com 41% e João com 34%. 21% dos entrevistados mencionaram que votarão nulo ou branco e apenas 3% disseram-se indecisos. Ao serem questionados se a intenção de voto mencionada ainda pode mudar, 12% afirmaram que sim. Ou seja, embora a pesquisa tenha apontado vantagem da petista, muitos votos não estão consolidados. A forma como o eleitor recebe a “informação” nos panfletos pode comprometer a credibilidade dos candidatos – e provavelmente este efeito já está acontecendo, dado o resultado do Ibope do dia 25, em que João ultrapassou Marília.

Ainda naquela pesquisa Datafolha, dentre os entrevistados que se declararam evangélicos, 33% mencionaram ter preferência por Marília e 38% por João Campos. Entre os católicos, 44% preferiam Marília e 35% por Campos. Aqui já era possível verificar uma margem considerável de diferença que deve ter sido visualizada como espaço para crescimento para o candidato do PSB, que passou a buscar dar destaque a temas que mobilizam eleitores evangélicos. Demonstrando preocupação com o impacto da questão junto a este público, Marília, além de utilizar suas redes sociais, participou de um encontro com lideranças religiosas no domingo.

Outro tema que mobiliza bastante o eleitorado também tem sido levantado contra Marília: a corrupção. Reportagem da revista Veja destacou gravação de Túlio Gadelha (PDT-PE) que reforçaria suspeita de cobrança de ‘rachadinha’ pela candidata. O deputado divulgou nota rotulando a questão como “fake news” e detalhando que Marília já foi absolvida de acusações do tipo e que ação contra ela sobre possível ‘rachadinha’ está arquivado desde 2019. Mencionou ainda que o áudio está descontextualizado e que solicitou perícia para comprovar manipulação. O estrago, contudo, já está feito, como comprova a circulação, por meio do WhatsApp, de uma música irônica sobre a questão que trata a candidata como “Marília rachadinha”, adjetivo que também tem conotação sexual.

Em disputa acirrada, apologia conservadora à família é arma em Belém

Em Belém, a situação também é delicada. O candidato Edmilson (PSOL), que já foi prefeito por duas vezes, lidera as pesquisas de intenção de voto desde o primeiro turno, e chegou ao segundo turno com 34,2% dos votos válidos. Seu adversário é o Delegado Eguchi (Patriota), que obteve 23,06% dos votos e ultrapassou candidatos tradicionais na capital.

A pesquisa Ibope divulgada no último dia 20 apresenta empate técnico entre eles. Edmilson tem 45% e Eguchi 43%. Diante de um cenário indefinido e muito acirrado, campanhas de desinformação têm dominado o cenário.

Como verificado em Recife, São Paulo ou em outras capitais com candidaturas mais à esquerda, Edmilson tem sido alvo de ataques pelas redes sociais. Uma das notícias falsas que circula diz que ele irá construir banheiros de uso comum (unissex) e tornará a ideologia de gênero obrigatória nas escolas públicas e privadas, de forma que “as crianças escolherão se querem ser meninos ou meninas”. As notícias parecem ser requentadas em outros municípios – em Porto Alegre, Manuela D’Ávila fez uma publicação nessa semana dizendo que não irá tornar todos os banheiros unissex e declarando que essa era mais uma desinformação circulando.

No Instagram, também é possível encontrar postagens que ligam o candidato à pedofilia, zoofilia, aborto e outros temas que variam do polêmico ao absurdo. Apesar do candidato ser um defensor da diversidade, tais postagens não são verdadeiras. Por outro lado, o lema da campanha de seu adversário é “Deus, Pátria e Família”. Todo esse cenário tem esquentado nas campanhas, inclusive o debate da RBA (grupo Bandeirantes) foi marcado por acusações entre os prefeituráveis.

Evangélicos: último reduto para Wagner em Fortaleza

A desinformação pode pesar bastante em situações de disputa acirrada, como vimos nos casos já mencionados e no de Manuela D’Ávila. Mas também parece haver apelo a esse tipo de ataque diante da derrota iminente, ainda que seus resultados dificilmente levem a uma alteração significativa do quadro eleitoral.

É o caso da capital cearense, onde a última pesquisa Ibope, divulgada na segunda-feira (23), registra que José Sarto (PDT) lidera com 53% e Capitão Wagner (PROS) tem 35%. Panfletos apócrifos têm sido distribuídos em templos religiosos. Um deles traz as seguintes frases em destaque: “Por que meu pastor não vota no Sarto?”, “Sou evangélico(a), por que não devo votar no Sarto?” e “Portanto, no próximo domingo não se omita, vote em defesa da família e da sua fé”.

Além de fazer referências a supostos posicionamentos de Ciro Gomes, apoiador de Sarto, sobre fechamento de templos e “fim da moral cristã”, diz que o grupo do candidato é “totalmente comprometido com a política gay para as crianças” e teria implementado, na cidade de Sobral, o “ensino da ideologia de gênero, que visa erotizar nossos filhos”. Afirma ainda que o grupo é favorável ao aborto. Recortes de manchetes de jornais são utilizados para “confirmar” todo o exposto, sem vinculação a cada denúncia e desprovidos de contexto. Ocorre que Sarto está longe de ser um candidato radical, sendo melhor classificado como um político tradicional, sem participação em debates mais polarizados pelos diferentes espectros políticos.

O panfleto, embora não seja assinado, repete argumentos que têm sido espalhados também por meio de vídeos nas redes sociais. Em um deles, o pastor Silas Malafaia cita que os partidos de esquerda foram a favor da “ideologia de gênero”, que seria um “lixo moral”. Menciona ainda que os partidos teriam entrado no Supremo Tribunal Federal para impedir que mulheres denunciassem estupradores. Na verdade, a ação movida pelo PT, PCdoB, PSB, PSOL e PDT contesta portaria do Ministério da Saúde que estabelece uma série de diretrizes sobre o aborto em caso de estupro, que é permitido por lei.

A estratégia volta-se ao único setor em que Wagner lidera as intenções de voto. De acordo com pesquisa Datafolha divulgada em 20 de novembro, entre eleitores que se declararam evangélicos, o candidato do PROS concentra 53%, contra 35% de Sarto. Sarto aparecia com 59% e Wagner, com 41%. A necessidade de apelar para a mobilização do voto evangélico deve ter ficado clara para a equipe do candidato. Considerando as demais variáveis, Sarto lidera ou, no máximo, empata. Interessante perceber que, nesta pesquisa, a diferença era menor que a visualizada pelo Ibope. Mesmo entre católicos, Sarto contava com 60% das intenções. O adversário, com 35%.

A mobilização de conteúdos de cunho religioso não tem sido a única estratégia contra Sarto. No sábado (21), a Justiça concedeu direito de resposta após Capitão Wagner disseminar conteúdo ligando o pedetista a facções criminosas, afirmando que estas permitiriam a campanha dele, o que seria indício de proximidade.

Por outro lado, assim como desde o início da campanha, os ataques contra Wagner centram-se na participação na greve da Polícia Militar em fevereiro deste ano, apontadas como motim em comunicações de candidatos e políticos, como já mostramos neste Observatório, e em imagens que povoam grupos de WhatsApp e redes sociais em geral. É difícil não associar o limite de crescimento de Wagner exatamente à vinculação com a pauta e grupos que o alçaram à política institucional. Com dificuldades de tornar o teto mais distante, seus apoiadores buscam aproximá-lo do setor mais conservador, com o qual ele buscou evitar ser rotulado no primeiro turno, o que, inclusive, o fez evitar a presença explícita de Jair Bolsonaro na campanha.

O “kit gay” volta às eleições no Rio de Janeiro

A mobilização do sentimento religioso conservador tem ocorrido com força também no Rio de Janeiro. O bispo e atual prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) aparece bastante distante do primeiro lugar na última pesquisa Datafolha, Eduardo Paes (54%), registrando apenas 21% das intenções de voto. O levantamento foi divulgado no dia 19. De lá para cá, como noticiou o UOL, moradores receberam panfleto apócrifo que dizia, sem provas, que Paes (DEM) é a favor da legalização do aborto, da liberação das drogas e do “kit gay” nas escolas municipais. No folheto, assinado pela própria campanha de Crivella, Paes aparece ao lado de Marcelo Freixo (PSOL), apresentado como “amigo” do candidato.

Não parou por aí. Em vídeo divulgado nas redes, Crivella disse que o PSOL tentaria implementar “pedofilia nas escolas”, em um eventual governo de Eduardo Paes (DEM). A mentira acabou gerando muita reação negativa. Levantamento feito a pedido de O Globo no Twitter mostrou que 95% das mensagens foram de crítica à declaração de Crivella. O principal influenciador do debate foi o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL). Não é possível mensurar, contudo, o alcance desse tipo de conteúdo em grupos menos abertos ao contraditório, como grupos religiosos no WhatsApp. De todo modo, o exemplo do Twitter e os resultados das pesquisas no Rio são úteis para notarmos que não basta produzir um conteúdo apelativo para crescer.

Complexidade no processo de comunicação e decisão do voto

O processo de comunicação e a própria decisão pelo voto são muito complexos. Na reta final da corrida eleitoral, como em 2018, fica nítida a tentativa de mobilização do eleitorado conservador por meio do destaque a temas relacionados a gênero e religião, com o objetivo de influenciar especialmente o voto de evangélicos conservadores. Se, no primeiro turno, as campanhas estavam pulverizadas entre diversas candidaturas e optaram por um discurso mais ameno, de apresentação dos prefeituráveis e de suas propostas, agora a polarização parece voltar à tona. Superar esse tipo de instrumentalização com amplo debate na sociedade é necessário para frear ou, ao menos, reduzir o impacto das campanhas de desinformação.

Cenário indefinido em Belém entre Psolista e bolsonarista

Cenário indefinido em Belém entre Psolista e bolsonarista

Belém é uma das capitais que mais desperta a atenção do país. Primeiro devido à chegada de um candidato psolista ao segundo turno, algo que só se repetiu em São Paulo nessas eleições. E também por ser uma das poucas capitais em que um candidato bolsonarista supera nomes tradicionais da política local e chega competitivo na reta final do segundo turno.

Desempenho dos candidatos nas pesquisas

A pesquisa Ibope/TV Liberal divulgou no último sábado (21) a primeira pesquisa de intenção de votos no segundo turno. De acordo com o levantamento, os dois candidatos estão tecnicamente empatados. Edmilson Rodrigues (PSOL) aparece com 45% das intenções de voto contra 43% do delegado federal Eguchi (Patriotas).

O cenário eleitoral em Belém está indefinido, mas há boas chances para a volta de um partido de esquerda para o comando da capital paraense.

Nas alianças de segundo turno, Edmilson recebeu apoio do candidato do PSB, Cássio Andrade, que teve 8,8% dos votos. O Partido Verde (PV), que estava apoiando o candidato Thiago Araújo no primeiro turno, e o Republicanos, partido pelo qual Araújo disputou a eleição, também estão apoiando o psolista.

O PSDB, por sua vez, declarou apoio ao nome do Patriotas. Apesar de não haver um apoio formal do candidato do MDB, que declarou neutralidade, é de se esperar que devido às rivalidades desta legenda com o PSDB na capital paraense, a maior parte do eleitorado que votou no candidato do MDB dirija-se preferencialmente para Edmilson.

Cenário não previsto

As pesquisas de intenção de voto não previam a disputa entre os dois candidatos que estão no segundo turno. Entre os candidatos mais bem posicionados nas pesquisas de primeiro turno, estava o candidato do PSOL, Edmilson Rodrigues, em aliança com diversos partidos de esquerda (PT, PDT, PCdoB, PCB, UP e Rede), e o candidato do MDB, José Priante, partido que ocupa atualmente o governo do Estado e ligado à família Barbalho.

Dois outros candidatos apareciam como relevante nas pesquisas, Thiago Araújo, do Cidadania, apoiado pelo atual prefeito Zenaldo Coutinho do PSDB, partido que não lançou candidato, e Everaldo Eguchi, do Patriotas, que não fez coligação com nenhum partido.

Contrariando o que indicavam as pesquisas, o candidato do Patriotas, mesmo com pouco tempo de propaganda na TV, chegou ao segundo turno, vencendo o candidato apoiado pela família Barbalho e estabelecendo-se como uma força política relevante para a disputa da Prefeitura, agora com o apoio declarado do presidente Jair Bolsonaro.

A candidatura do Delegado Eguchi ganhou força na última semana do primeiro turno e obteve como resultado 23,6% dos votos válidos contra 34,22% do candidato do PSOL. Priante ficou com 17,3% e Thiago Araújo com 8,09% dos votos válidos.

A eleição em Belém teve cerca de 20,7% de abstenção, 3,4% de votos brancos e 5,8% de votos nulos.

Quem são os candidatos Edmilson Rodrigues e Everaldo Eguchi

Edmilson Rodrigues nasceu em 1957 na cidade de Belém, capital do Pará. É arquiteto formado pela Universidade Federal do Pará (UFPA), com mestrado em Planejamento do Desenvolvimento pela UFPA e doutorado em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP). É professor da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) desde 1982 e possui vários livros publicados sobre política urbana.

É um político de grande tradição no Pará, tendo sido eleito deputado estadual pelo PT em 1986 e 1990. Elegeu-se prefeito de Belém pelo PT em 1996 e foi reeleito em 2000. Em 2005, trocou o PT pelo PSOL, pelo qual foi eleito deputado estadual em 2010 e deputado federal em 2014 e 2018.

Durante sua passagem pela prefeitura de Belém, Edmilson Rodrigues fez uma gestão pautada na implantação de projetos sociais e culturais e pela revitalização de áreas periféricas da cidade. Saiu da Prefeitura como um governante bem avaliado, tendo recebido vários prêmios internacionais, entre eles o prêmio de Prefeito Amigo da Criança, concedido pela ONU por dois anos consecutivos. Também obteve êxito em projetos sociais que retirava crianças em condições de vulnerabilidade social que trabalhavam com os pais na área de depósito de lixo, conhecido como Lixão do Aurá, oferecendo apoio social, financeiro, educacional e profissional para toda a família. Obteve elevado destaque em políticas como o banco do povo e família saudável, entre outros.

Everaldo Eguchi nasceu em 1963 no município de Tomé-Açu (PA). Formado em economia e direito, ingressou na Polícia Federal como delegado em 2007. Em sua atuação profissional participou das operações da Lava Jato dentro do Estado do Pará, o que lhe ofereceu certo capital político para ingressar nas arenas decisórias da política tradicional. Entretanto, o candidato possui pouca experiência neste campo, pois disputou sua primeira eleição somente em 2018, concorrendo a deputado federal pelo PSL, mas não conseguiu se eleger.

Apoiador do presidente Jair Bolsonaro, ele chegou a ser cotado para ser superintendente do Ibama no Pará, o que acabou não se confirmando.

Apesar de não ter recebido apoio formal do presidente da República no primeiro turno, Eguchi fez uma campanha associada à Bolsonaro com o slogan “#fechadocombolsonaro”. Tem feito críticas à “velha política” e apresentado a bandeira de combate à corrupção como uma de suas principais propostas. Tem prometido também uma gestão técnica sem “amarras ideológicas”.

Estratégias para o segundo turno

A candidatura de Edmilson Rodrigues, além da propaganda tradicional nas ruas e na TV, tem estabelecido estratégias de divulgação nas redes sociais, tentando atrair especialmente o eleitorado mais jovem e neutralizar as propagandas de fake news e desqualificação do candidato do Patriotas utilizadas pela direita conservadora.

Em sua campanha, Edmilson tem utilizado o slogan “Belém de novas ideias”, procurando destacar a participação cidadã que será o foco de sua gestão, por meio da criação de canais de comunicação com a sociedade civil e de plataformas para colaboração mútua. Entre suas prioridades estão o estabelecimento de políticas urbanas e ambientais, acesso à moradia, saneamento, transporte urbano e atenção à preservação do patrimônio histórico e cultural da cidade.

Já o Delegado Eguchi apresenta-se na disputa como um candidato “outsider”, ou seja, um candidato com pouca ou nenhuma experiência na política partidária. Tem procurado surfar na onda que elegeu Jair Bolsonaro em 2018, utilizando uma narrativa fortemente pautada pelo discurso anti sistema e rechaço da ordem estabelecida. Busca atrair o eleitorado mais conservador e descontente com a política tradicional e aquele que deu a vitória a Jair Bolsonaro na cidade de Belém em 2018. O lema de sua campanha é “Deus, Pátria e Família”.

O candidato já recebeu apoio formal do partido Solidariedade e do PSDB, partido do atual prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, que não lançou candidato. Entretanto, a gestão do atual prefeito foi considerada ruim, tendo sido reprovada por 76% da população de acordo com a última pesquisa do Ibope divulgada no dia 20 de novembro, o que pode não ser tão favorável ao candidato, principalmente nos bairros mais carentes.

O programa de Eguchi para o segundo turno reforça as estratégias de combate à corrupção, com divulgação de informações por meio de plataformas eletrônicas e promoção de treinamentos especializados para as forças de segurança pública da cidade no combate à criminalidade. Em sua campanha, há um forte apelo ao mercado, através da promoção de parcerias público-privadas, de forma a diminuir o papel do setor público na gestão da cidade.

Entre as propostas, também há a implantação de planos para elevar Belém ao conceito de “cidade inteligente”, através da adoção de tecnologias da informação e comunicação para otimizar a eficiência das operações e serviços do setor público e sua integração com os cidadãos. Na área da educação prevê a implantação do Projeto Municipal de Escolas Cívico-Militares. Também tem destacado a substituição dos aterros sanitários pelas usinas de biodigestores para gerar energia através de esgoto e lixo.

Resultado incerto em Belém

A eleição em Belém desperta grande interesse, pois é o cenário mais evidente de um candidato fortemente vinculado ao bolsonarismo contra um candidato fortemente identificado com as políticas sociais defendidas pelos partidos de esquerda. O resultado na capital paraense ainda é incerto.

*Carlos Augusto da Silva Souza é mestre e doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Estado do Rio de Janeiro, com pós-doutorado na Universidade Federal de Minas Gerais. É professor associado da Universidade Federal do Pará (UFPA), onde atua no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política e na Faculdade de Ciências Sociais. É líder do grupo de pesquisa: “Observatório Eleitoral do Estado do Pará”, e atualmente ocupa a direção da regional Centro-Norte da ABCP.
Luciana Santana é mestre e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, com estância sanduíche na Universidade de Salamanca. É professora adjunta na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), líder do grupo de pesquisa: Instituições, Comportamento político e Democracia, e atualmente ocupa a vice-diretoria da regional Nordeste da ABCP.

Desinformação e violência na política: as armas contra Manuela D’Ávila

Desinformação e violência na política: as armas contra Manuela D’Ávila

Manuela D’Ávila (PCdoB), que despontou nestas eleições como favorita na disputa pela prefeitura de Porto Alegre, enfrenta mais um momento desafiante em sua trajetória política. De acordo com pesquisa Ibope divulgada nesta terça-feira, 24, Sebastião Melo (MDB) tem 49% e Manuela, 42%. Quando considerados os votos válidos, são 54% e 46%, respectivamente. A margem de erro, os sempre imponderáveis últimos dias de campanha e o resultado concreto das urnas podem levar a mudanças, claro. Mas contra Manuela, que terminou o primeiro turno apenas 2% atrás do adversário, pesam as campanhas de desinformação com teor explicitamente misógino.

Nas redes, crescem ataques pessoais combinados a conteúdos que buscam gerar medo na sociedade, a partir da mobilização de temas como o comunismo. O machismo fica nítido ao se observar o que circula em plataformas como o WhatsApp contra Manuela, imagens que opto por não expor aqui para reduzir a circulação da desinformação, ainda que sejam facilmente encontradas na internet. Muitas expõem e manipulam fotos da candidata, com ênfase em seu corpo e rosto. A aparência é o foco dos ataques. Tenta-se imputar a ideia de irresponsável. Em uma montagem são acrescidas tatuagens com rostos de líderes como Che Guevara e Lênin e uma frase que questiona o que seria a prefeitura liderada por ela. É feito também contraponto com o que seria a mulher ideal. Manuela tem tido sua imagem frequentemente comparada à de Michele Bolsonaro. Esta, sim, é apresentada como “recatada e do lar”.

Uma postagem afirma que Manuela trocou ‘o crucifixo no ânus por um escapulário católico’ e agora, apenas por ser campanha eleitoral, vale-se de ‘roupas recatadas’. Há ainda uso de uma fotografia de Manuela aos 15 anos, acompanhada do seu pai, insinuando que se tratava de seu namorado. Em outra, aparece a adolescente sozinha. A exposição vem acompanhada de uma legenda dizendo que Manuela odeia a foto, e convidando os outros a divulgá-la com o intuito de atacar a sua aparência “Só de marra vamos compartilhá-los ao máximo”, diz o texto.

No Twitter, circula áudio atribuído à coordenação da campanha de Sebastião Melo (MDB), que lidera as pesquisas de intenção de voto no segundo turno da disputa à prefeitura de Porto Alegre, em que Manuela é chamada de “vadia”. Divulgado pelo ativista Luiz Muller e por veículos como a Fórum e a Agência Pública, no áudio diz-se que: “Se entrar essa vadia ai vai ser um problema muito sério para a cidade”. A autoria não foi confirmada.

Ataques envolvendo corrupção, suposta ditadura venezuelana e atrocidades atribuídas a regimes comunistas são lançados contra a candidata. Exemplo disso, circula boato de que ela teria sido presa por conta da delação da Odebrecht, processo já arquivado pelo Ministério Público. Com mais de 130 mil visualizações em apenas sete horas de disponibilização na segunda, 23, vídeo do canal Giro de Notícias intitulado “A PRISÃO DE MANUELA D’AVILA, O MAIOR ATAQUE DA MÍDIA NO BRASIL, POLÍCIA FAZ LIMPEZA”. O conteúdo também está sendo compartilhado no WhastApp, de acordo com o Radar da agência de verificação Aos Fatos.

Uma hashtag #ManuzuelaNão sintetiza essa vertente de ataques. Após o assassinato de José Alberto Freitas, morto por asfixia por seguranças do Carrefour, e os protestos em repúdio à execução na última sexta-feira, 20, Manuela também passou a ser responsabilizada. É o caso do conteúdo apresentado como notícia no portal Terra Brasil Notícias, que tem como lema “Deus acima de tudo e de todos”. Link que destaca o título “Irresponsável: Comunista Manuela D’Ávila usou redes sociais para convocar protestos que terminaram em violência” tem sido compartilhado, assim como post adulterado de Manuela sobre o caso, no qual ela convocaria os protestos.

Merece destaque o uso de adjetivo não só pejorativo, como contrário ao que o patriarcalismo diz ser esperado de uma mulher (responsabilidade, cuidado). Não é o mesmo tipo de ataque que vemos, por exemplo, no caso de Guilherme Boulos (PSOL), na disputa para a prefeitura de São Paulo.

A violência de gênero é explícita – ataques a candidatos homens são diferentes

O mesmo site Terra Brasil Notícias publicou: “Boulos vira motivo de piadas nas redes após dizer que problema da previdência é número baixo de funcionários públicos”. No Twitter, ganhou repercussão tweet em que Boulos teria escrito defender abrigar moradores de rua na casa de quem tem quartos vagos, o qual foi postado por uma conta falsa. Ainda no primeiro turno, como abordado aqui, acusação falsa de que teria contratado empresas fantasmas ganhou lastro. São, pois, temas relacionados ao conteúdo político, não aos atributos pessoais, muito menos ao corpo do candidato.

Embora se tratem ambos de políticos que abraçam visões de mundo de esquerda, há uma abordagem diferente, que leva a crítica para a dimensão pessoal no caso das campanhas arquitetadas contra Manuela. É o que vemos no texto também identificado pela Aos Fatos em grupos do WhatsApp: “A comunista patricinha, no primeiro turno vinha ‘pagar de boa moça’, acusava os adversários de fazer campanha suja contra ela, a mesma inclusive em seus lixos de propagandas na teve, disse que ela era contra isso, pois tinha projeto. Como todo mundo sabe, ELA TRAÍ, e agora ELA vem fazer no horário eleitoral a mesma coisa que ela julgava errado antes. Assim é o PT, PSOL, PCdoB e PDT, usam mulheres, usam vidas negras, usam todo mundo para chegar no poder. E você vai cai nisso, ou vai dar um “tapa de luva” nestes lixos e votando 15 em Melo”.

O compartilhamento do link e a referência à “traição” mostram ainda a retroalimentação que se dá entre as mídias e também expressa como as violências contra as mulheres na política são recorrentes e perpetuadas, inclusive pela ausência de responsabilização. Como costuma ocorrer nas campanhas de desinformação, as agressões na rede são alimentadas por amplificadores, como o candidato Rodrigo Maroni (Pros), que no último debate do primeiro turno disse que Manuela “mentia e dissimulava”. “Tu é patricinha mimada, poderia estar comprando bolsa no shopping. Se eu fosse abrir a boca, eu não acabaria com a carreira, mas com tua vida, Manuela”, afirmou. No primeiro debate entre candidatos, Maroni, ex-noivo da pcdobista, também havia desferido ataques machistas contra ela, acusando-a de traição, o que foi amplamente repercutido na mídia.

O impacto eleitoral das campanhas de desinformação

Dadas a opacidade das plataformas digitais e a diversidade de canais de comunicação, é difícil precisar o volume dos ataques e seus impactos. Entretanto, a resposta judicial, sempre menor do que o que realmente ocorre, pois as investigações dependem dos conteúdos serem encontrados e denunciados, permite-nos traçar contornos do quadro. Ainda no primeiro turno, quando Manuela aparecia na liderança das pesquisas de intenção de votos, a Justiça Eleitoral determinou que Facebook, Instagram, Twitter e YouTube retirassem do ar meio milhão de compartilhamentos de conteúdo falso contra ela. O somatório refere-se a apenas dez postagens denunciadas. Não é inexpressivo.

Some-se a isso ainda o fato de campanhas de desinformação contra Manuela serem antigas e permanentes. Após dividir chapa com Fernando Haddad (PT) à presidência da República nas eleições de 2018, marcadas pelo fenômeno da desinformação e intolerância nas redes sociais, Manuela chegou a criar o instituto E Se Fosse Você?, uma organização não-governamental, e lançou o livro “E Se Fosse Você? Sobrevivendo às redes de ódio e fake news”.

Estas campanhas desinformativas podem ajudar a explicar a alta rejeição de Manuela – 38%, de acordo com a pesquisa Ibope de 14 de novembro, um dia antes do primeiro turno. Em uma curta campanha eleitoral, mitigar efeitos ou mesmo mudar entendimentos acerca da candidata não é tarefa fácil, ainda mais quando a artilharia inimiga não dá trégua. Essa perseguição já era apontada como empecilho para a corrida eleitoral de 2020. Em artigo publicado neste Observatório em 31 de outubro, Céli Pinto sentenciava que o segundo turno em Porto Alegre contaria com a participação de Manuela e que não seria fácil. Entre os motivos, o fato da candidata ser vítima desse tipo de violência política.

Não é difícil concluir: campanhas de desinformação permeadas por misoginia são as principais armas utilizadas contra Manuela D’Ávila. Elas representam um grande entrave para que a parlamentar, que já acumula mandatos e experiência política, consiga alcançar a prefeitura de Porto Alegre. Uma situação que evidencia a violência que atravessa as vidas das mulheres que ocupam a política. Muitas têm seus corpos enfatizados, seus atos ignorados, suas opiniões diminuídas, seus espaços cortados. Com menos de uma semana para o pleito, parece difícil que haja tempo e condições para reverter a situação, até porque ela tem raízes na cultura e nas instituições.

Eleições municipais na Bahia: equilíbrio político ou terceira via?

Eleições municipais na Bahia: equilíbrio político ou terceira via?

Cláudio André de Souza e Luciana Santana*

A política baiana apresenta um mapa eleitoral nos vinte maiores municípios da Bahia com uma clara polarização e divisão de forças entre a base aliada do governador Rui Costa (PT) e a oposição liderada pelo prefeito demista ACM Neto (DEM).

O PT conquistou Lauro de Freitas e disputará o segundo turno em Feira de Santana e Vitória da Conquista contra o MDB, que mantém na Bahia aliança com o Democratas, liderado pelo prefeito de Salvador, ACM Neto.

O DEM conquistou Salvador, Alagoinhas, Barreiras, Camaçari, Eunápolis e Guanambi, mostrando, portanto, muita força nas cidades com maior porte populacional. Apenas com o resultado do primeiro turno, é possível verificar que o DEM é o partido que irá governar a maior da população na Bahia (30,44%), seguido do PSD (17,52%), PP (14,19%) e o PT (14,19%).

A disputa entre DEM e PT ocorre paralela ao crescimento do PP e do PSD como forças de coalizão aliadas ao governador Rui Costa. Apesar disso, os partidos construíram algumas alianças nos municípios contra o PT. Isso fez com que adquirissem, nestas eleições, um tamanho político robusto e protagonismo suficiente para redesenhar um novo bloco político alternativo à polarização entre petistas e democratas.

O PP, liderado pelo vice-governador João Leão (pai do deputado federal Cacá Leão), e o PSD, liderado pelo senador Otto Alencar (pai do deputado federal Otto Alencar Filho), juntos conquistaram duzentas de 417 prefeituras. Nesta ferramenta do UOL de resultados das eleições é possível identificar a quantidade de prefeituras que os demais partidos obtiveram no primeiro turno.

Sem dúvida, as eleições ocupam uma centralidade na vida das pessoas, em especial, nos municípios médios e pequenos. As prefeituras têm sido o principal espaço institucionalizado de geração de oportunidades de trabalho e renda para a população. Apoiar publicamente com força e vigor uma candidatura pode ser um movimento decisivo para alcançar ganhos materiais e status político. Por isso, era esperado que, mesmo com a pandemia, as campanhas mantivessem mobilizações difíceis de conciliar com o isolamento social.

Na maior parte dos municípios baianos a pandemia foi a principal bandeira destas eleições com a população totalmente envolvida com as pautas relacionadas à saúde e emprego. Além do que, a crise sanitária “plasmou” para o ambiente eleitoral a perspectiva de valorização de políticos experientes com mandato e carreira política estabelecidas, deixando pouco espaço para outsiders defensores da “nova política”.

A vitória de Bruno Reis em Salvador

Se o clima no interior do estado foi de muita disputa política e embates entre os candidatos, a eleição na capital foi bastante tranquila. A vitória de Bruno Reis (DEM) já era esperada. Todas as pesquisas de intenção de voto apontavam o favoritismo do candidato da situação, apoiado pelo prefeito e ex-deputado federal, ACM Neto (DEM).

Reis obteve 66,2% dos votos válidos. A candidata do PT, Major Denice teve 18,86%, Pastor Sargento Isidório (AVANTE), 5,33%, Cezar Leite (PRTB), 4,65%, Olívia (PC do B), 4,49%, Hilton Coelho (PSOL), 1,39%, Bacelar (PODE), 0,92%, Celsinho Cotrin (PROS), 0,13% e Rodrigo Pereira (PCO), 0,04%.

Em relação ao comparecimento eleitoral, 1.395.106 pessoas foram às urnas no dia 15 de novembro em Salvador. Deste total, 87,03% votaram em algum dos candidatos na disputa, 3,36% votaram em branco e 9,61% anularam o voto.

A abstenção eleitoral na capital aumentou em relação ao pleito de 2016, que registrou 21,25% do total de eleitores soteropolitanos. Na eleição deste ano, subiu para 26,46%.

Nova via para a sucessão ao governo estadual em 2022?

O resultado na capital fortalece o nome de ACM Neto, que também é presidente nacional do DEM, para a disputa à sucessão do governo baiano em 2022. Mas é importante também voltar às atenções para outras movimentações no cenário político, bem como para a força de outras siglas partidárias.

Diante de um equilíbrio político multipolarizado, a depender das estratégias em jogo para 2022 e dos fatores nacionais envolvendo a montagem dos palanques para a disputa presidencial, PP e PSD terão grandes chances de definir o próximo vencedor nas eleições ao governo, marchando juntos ou separados. Será que estão dispostos a construir uma terceira via à polarização histórica DEM x PT? Vamos acompanhar.

Cláudio André de Souza é professor adjunto de ciência política Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, Campus dos Malês (BA).

Luciana Santana é mestre e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, com estância sanduíche na Universidade de Salamanca. É professora adjunta na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), líder do grupo de pesquisa: Instituições, Comportamento político e Democracia, e atualmente ocupa a vice-diretoria da regional Nordeste da ABCP.

Disputa entre PT e MDB movimenta Vitória da Conquista e Feira de Santana

Disputa entre PT e MDB movimenta Vitória da Conquista e Feira de Santana

Luciana Santana e Cláudio André de Souza*

Os novos prefeitos de Vitória da Conquista e Feira de Santana serão conhecidos apenas no próximo dia 29. A disputa por duas das três maiores cidades baianas segue equilibrada e com cenário indefinido.

Candidatos petistas lideram pesquisas em Feira e Conquista

Em Feira de Santana (BA), o candidato Zé Neto (PT) aparece com 44% das intenções de voto, conforme levantamento de A TARDE/Potencial Pesquisa, realizado entre os dias 17 e 20 de novembro. O atual prefeito Colbert Martins (MDB), candidato a reeleição, tem 36%. Os números colocam os dois candidatos em situação de empate técnico, já que a margem de erro da pesquisa é de quatro pontos percentuais.

Em Vitória da Conquista (BA), o levantamento do mesmo instituto também indica empate técnico. Zé Raimundo (PT) está ligeiramente à frente com 40% das intenções de voto, enquanto o prefeito atual Herzem Gusmão (MDB) aparece com 37%.

Mulheres e indecisos podem definir a eleição

Em Feira de Santana, o voto de mulheres e indecisos pode fazer a diferença. No recorte de gênero, o candidato petista sai em vantagem. Dentre as entrevistadas mulheres, 45% tem preferência por Zé Neto (PT) e 33% por Colbert Martins (MDB). Entre os entrevistados homens, 44% preferem o candidato petista e 39%, o candidato do MDB.

Neste mesmo levantamento, 12% dos entrevistados disseram que ainda não sabem em quem vão votar, 4% pretendem votar nulo, 2% não quiseram responder e 2% disseram que votarão em branco.

Em Vitória da Conquista, a situação é bem acirrada, em todos os perfis. Zé Raimundo é preferido por 45% das mulheres contra 35% de Gusmão. Entre os homens, o emedebista é preferido por 40% dos entrevistados contra 38% do petista.

O índice de eleitores indecisos é de 14% e 6% não quiseram responder à pesquisa. Os que pretendem votar em branco são 3% e 1% pretendem votar nulo.

Candidatos em Feira de Santana

Zé Neto é deputado federal eleito em 2018 e tem quatro mandatos como deputado estadual na Bahia (legislaturas de 2002, 2006, 2010 e 2014). Na Assembleia Legislativa, foi líder do governo por oito anos: quatro no segundo mandato de Jaques Wagner (PT) e quatro no primeiro governo de Rui Costa (PT). Em sua trajetória política constam ainda dois anos como vereador de Feira (2000 a 2002).

O atual prefeito, Coubert Martins, assumiu o mandato em abril de 2018, após a renúncia de José Ronaldo (DEM) para disputar a eleição para o governo do estado. Martins foi deputado estadual por um mandato (1991-1995) e deputado federal por dez anos (1997 a 2011). Foi nomeado em março de 2011 pelo ex-ministro do turismo, Pedro Novais, para a Secretaria Nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo (governo da ex-presidente Dilma Rousseff), mas foi afastado devido à operação “Voucher”.

Candidatos em Vitória da Conquista

O candidato à reeleição em Conquista, Herzem Gusmão foi eleito primeiro suplente de deputado estadual, chegou a assumir em 2015 e cumpriu mandato até 2016. Antes de se tornar prefeito disputou dois outros pleitos para o chefe do executivo municipal (2008 e 2012) e também para a Câmara dos Deputados (2018), sem êxitos.

O candidato petista, Zé Raimundo, foi eleito vice-prefeito em 2000, assumiu a Prefeitura de Conquista em 2002 e foi reeleito em 2004. Atualmente, exerce o terceiro mandato como deputado estadual.

Apoios aos candidatos em Feira de Santana e Vitória da Conquista

No primeiro turno em Feira de Santana, conhecida como a Princesa do Sertão, Zé Neto obteve 41,55% dos votos, já Colbert Martins ficou com 38,18%.

Logo após a divulgação dos resultados, as articulações junto aos candidatos derrotados começaram a acontecer. Colbert Martins recebeu apoio do ex-deputado estadual e radialista Carlos Geilson (PODE), que era da base de apoio ao governador Rui Costa (PT). Outro apoio é do candidato do Republicanos, José de Arimatéia, deputado estadual e pastor da igreja Universal do Reino de Deus.

Já o candidato Zé Neto recebeu o apoio da candidata derrotada Marcela Prest (PSOL) e de Beto Tourinho (PSB). Os candidatos derrotados Dayanne Pimentel (PSL) e Carlos Medeiros (Novo) não apoiarão nenhum dos lados no segundo turno.

Em Vitória da Conquista, a suíça baiana, o resultado do primeiro turno terminou com um cenário bem apertado. A diferença do primeiro para o segundo candidato foi de 2.989 votos. Zé Raimundo, candidato petista, obteve 47,63% dos votos válidos e seu adversário, Herzem Gusmão (MDB), 45,89%.

Na disputa do segundo turno, Zé Raimundo recebeu o apoio de Romilson Filho (PP). Já o candidato emedebista, Herzem Gusmão, recebeu o apoio do Cabo Herling (PSL) e do candidato a prefeito eleito na capital, Bruno Reis (DEM).

Rui Costa e ACM Neto em campo podem influenciar resultados

Ao longo da última semana, houve a articulação de apoios dos candidatos derrotados em ambas as cidades. Mas diante de cenários com disputas acirradas essas movimentações não necessariamente significam vantagem.

Dois cabos eleitorais são considerados muito importantes na reta final da campanha, Rui Costa (PT) e ACM Neto (DEM).

Nas duas cidades, o governador entrou em campo para apoiar os candidatos petistas e ACM Neto tem se dedicado a fortalecer os candidatos emedebistas nos últimos dias de campanha.

Em Vitória da Conquista, Rui Costa chegou a participar de uma entrevista coletiva ao lado do candidato Zé Raimundo, logo após o resultado do segundo turno. ACM Neto tem visitado as duas cidades.

Ideologia importa, mas nem sempre é algo que está no radar de muitos eleitores e até de políticos no âmbito local. Em Feira de Santana, por exemplo, enquanto ACM Neto tornou-se cabo eleitoral do candidato do MDB, outros políticos não seguem a mesma lógica. O ex-deputado estadual Targino Machado (DEM) declarou apoio ao candidato petista.

Indefinição marca a eleição de Feira e Conquista

Os números da pesquisa realizada pelo Instituto Potencial apontam que mulheres e indecisos podem fazer a diferença em Feira de Santana. Em Vitória da Conquista, a disputa segue acirrada em todos os perfis do eleitorado.

Em uma eleição apertada e muito disputada, vários fatores podem definir o resultado. As urnas responderão no próximo dia 29.

* Luciana Santana é mestre e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, com estância sanduíche na Universidade de Salamanca. É professora adjunta na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), líder do grupo de pesquisa: Instituições, Comportamento político e Democracia, e atualmente ocupa a vice-diretoria da regional Nordeste da ABCP.
Cláudio André de Souza é professor adjunto de ciência política Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, Campus dos Malês (BA).