Quais partidos podem sair das eleições mais fortes e quais podem sair mais fracos? Se levarmos em conta a volatilidade do cenário político brasileiro, a resposta é difícil. O exercício aqui é, a partir de dados diferenciados e tendo como critério apenas o número de prefeituras, discutir as probabilidades.

A figura abaixo mostra o desempenho dos partidos desde as eleições municipais de 2000. Foram considerados apenas os resultados relativos aos partidos com maior bancada na Câmara dos Deputados.

Percentual de prefeituras conquistadas por partido político

Na maioria dos casos, o percentual de prefeituras conquistadas na primeira e última eleição consideradas manteve-se próximo, indicando relativa estabilidade. As exceções foram a queda do PT em 2016, e a trajetória do DEM, que só na última eleição sustou sua sequência de quedas. Merecem destaque a interrupção do crescimento do PSB em 2016 e a forte estreia do PSD em 2012, com repeteco quatro anos depois.

A força dos partidos nos governos estaduais

Como a máquina estatal e/ou o prestígio do governador podem interferir nas eleições municipais, o segundo dado remete aos governos estaduais conquistados em 2018. Neste aspecto, um dos destaques, em uma comparação com 2014, foi o recuo expressivo do MDB: de sete para três estados. Um deles é o Distrito Federal, onde não haverá eleição municipal. Sem o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul, o partido ficou com Pará e Alagoas como seus dois únicos trunfos.

O PSDB caiu de cinco para três estados, mas manteve São Paulo. O PT caiu de cinco para quatro, perdeu sua maior estrela, Minas Gerais, e encastelou-se no Nordeste. O DEM, depois de passar em branco em 2014, venceu em Goiás e Mato Grosso. PSL (Roraima, Rondônia e Santa Catarina), PSC (Amazonas e Rio de Janeiro) e Novo (Minas Gerais) foram “arrastados” pelo eleitorado de Bolsonaro.

As bancadas na Câmara dos Deputados

Outra fonte de dados vem da Câmara dos Deputados. Em 2018, MDB e PSDB reduziram fortemente suas bancadas relativamente a 2014 – 48% e 46% respectivamente. O PT, mesmo elegendo a maior bancada, viu sua força recuar em 19%. À esquerda, apenas PDT e PSOL cresceram.

Por outro lado, a direita cresceu. O Republicanos passou de 21 para 30 deputados(as) e o DEM interrompeu sua sequência de quedas, indo de 22 para 29 cadeiras. O conjunto de pequenas legendas de direita pulou de 35 para 107 cadeiras, com destaque para as 52 do PSL.

As candidaturas às prefeituras

Em relação ao número de candidatos(as) às prefeituras, o recuo foi expressivo nos casos do PSDB (redução de 26%), PSB (21%) e MDB (19%), totalizando 1138 candidatos (as) a menos, se compararmos com 2016. O contraste vem pela direita. Dentre os 10 partidos que mais aumentaram seu exército, 09 estão claramente perfilados deste lado do espectro ideológico: DEM, PODEMOS, PSC, Republicanos, Patriotas, PRTB, Avante, PSL e NOV0. O acréscimo agregado é expressivo: serão 2.635 candidatos (as) a mais, com destaque para os 580 do PSL.

Pela esquerda, o PT aumentou em 25% suas candidaturas, enquanto PSB (21%), PSOL (20%) e PC do B (18%) reduziram suas forças. Note-se que o quadro é semelhante ao das candidaturas a vereador: dentre os 10 partidos com maior crescimento, oito estão à direita.

Como ficamos?

A redução no número de candidaturas, nas bancadas na Câmara e no controle dos executivos estaduais permite antever um recuo de MDB e PSDB. A perda dos tucanos nos estados foi menos acentuada, mas o fracasso em recuperar o governo de Minas Gerais e a posterior migração de Anastasia para o PSD, somados ao “sumiço” de Aécio Neves, fragilizaram o partido naquela que sempre foi sua segunda maior base.

Mesmo que de forma modesta, o PT deve voltar a crescer – não tanto pelos dados aqui apresentados, mas porque 2016 representou o momento de maior desgaste do partido. Leve-se em conta que a perda do governo mineiro, em 2018, pode ser considerada “contabilizada” – afinal, em 2016 o partido já recuara de 113 para 41 prefeituras no estado.

Também o DEM deve voltar a crescer, impulsionado pelo incremento na Câmara, nos governos estaduais e pelas 418 candidaturas a mais em relação a 2016. Já o PSB parece ter alcançado seu teto: não cresceu na Câmara ou nos estados e tem hoje 232 candidatos (as) a menos do que em 2016. Por fim, o PSL vai crescer muito menos do que se poderia imaginar graças à ruptura com Bolsonaro e, em menor grau, à redução da bancada na Câmara (de 52 para 41 membros), a saída do governador de Roraima e ao processo de impeachment em Santa Catarina.

Indo além dos partidos, dois pontos parecem certos. Como indicam os números para as candidaturas, a direita vem com sede ao pote, – vai crescer, enquanto a esquerda patina. No agregado, ou seja, levando-se em conta a distribuição das prefeituras entre as legendas, o sistema partidário vai se mostrar ainda mais fragmentado: pequenos partidos vão expandir seus domínios, as duas maiores legendas em número de prefeituras (PSDB e MDB) vão recuar, ao passo que dentre os que vem a seguir neste quesito (PSD, PP, PSB, PDT, PL, DEM, PTB e PT) nenhum deve crescer muito.