Fake news em 2020 repetem 2018: misóginas e reforçando a polarização

Fake news em 2020 repetem 2018: misóginas e reforçando a polarização

Concluída a maior parte do processo eleitoral de 2020, já que ainda estão pendentes as eleições no Amapá, as análises parecem convergir em apontar uma recuperação da qualidade do debate público no Brasil, em comparação com o que foi verificado em 2018. Entretanto, em relação à desinformação, a dificuldade de obter dados no opaco e diverso ambiente das plataformas digitais impede a comparação numérica de conteúdos desinformativos nos dois pleitos. O que sabemos até aqui é que campanhas de desinformação foram menos visíveis, mas recorrentes, e tiveram maior impacto especialmente no segundo turno.

O fato de serem eleições municipais, com o debate mais próximo das ações cotidianas das prefeituras, em tempos de pandemia e menos polarizadas, especialmente no primeiro turno, pesaram nesse sentido. Além disso, a diferença entre os dois turnos da eleição pode ser considerada a partir de outros fatores.

Primeiro, a desarticulação do campo bolsonarista, o que possibilitou denúncias sobre a operação do Gabinete do Ódio no período anterior ao pleito, mas ao mesmo tempo dificultou o repasse de conhecimentos sobre a manipulação das redes. Segundo, como discutido neste Observatório a partir da análise do WhatsApp, a lógica das redes torna o potencial das campanhas de desinformação menor em contexto de fragmentação política e discursiva, pois limita a articulação de agentes que atuam em localidades e mesmo em plataformas distintas.

No segundo turno, com maior polarização entre as candidaturas, não só o debate tendeu a se tornar mais ideológico, mas também as campanhas de desinformação expressaram maior impacto e padronização de táticas e conteúdos. Panfletos apócrifos e materiais nas redes sobre ideologia de gênero, aborto e outras questões foram utilizados literalmente de Norte a Sul do país, como exemplificam Belém e Porto Alegre, numa clara tentativa de mobilização do voto conservador. Uma movimentação que contou com personagens repetidos, como o pastor Silas Malafaia, youtubers, sites que se apresentam como jornalísticos, etc. A retroalimentação de conteúdos tornou-se, portanto, mais viável naquele momento.

Um profeta com o olhar voltado para trás

Não é possível afirmar que essa mesma articulação será utilizada em 2022, afinal os atores do jogo e seus agrupamentos não estão definidos. Todavia, seria imprudente descartar essa hipótese e, com isso, reduzir o problema. Até porque se, como disse Eduardo Galeano, a história é um profeta com o olhar voltado para trás, cumpre ter em vista que elementos fundamentais para as campanhas de desinformação não foram superados. Também não parecem ter passado no teste as respostas institucionais de boa parte dos agentes públicos e privados.

A primeira questão é a da conjuntura política propriamente. Após 2018, não foram poucos os que apontaram as “fake news” como a bala de prata para a eleição de Bolsonaro. Passados dois anos do pleito, mantido um alto patamar de aprovação do presidente pela população e tendo em vista a vitória eleitoral de vários partidos de centro e direita, parece mesmo ter havido um deslocamento da média do pensamento do Brasil à direita. As operações de desinformação dialogam com isso, como comprovam o “sucesso”, em termos de viralização, daquelas que manejam temáticas conservadoras como a tal “ideologia de gênero”.

Não à toa são as mulheres as mais atacadas. O caso mais explícito é o de Manuela D’Ávila (PCdoB), que liderava as pesquisas de intenção de votos no início do pleito. Monitoramento de violência política de gênero nas redes realizado pela Revista AzMina e pelo InternetLab coletou, entre os dias 15 e 18 de novembro, 347,4 mil tuítes que citam 58 candidatas e candidatos que disputam o segundo turno em municípios de 13 estados. Do total, mais de 8 mil tinham algum termo ofensivo e 2.390 com termos ofensivos tinham uma ou mais curtidas ou retweets. Destes, 17,3% (415) eram ofensas diretas às candidatas. Manuela D’Ávila é alvo em 90% dos ataques realizados no período analisado.

Muitas das mentiras reproduzidas sobre a candidata haviam viralizado em 2018, quando foi vice na chapa com Fernando Haddad (PT) para a Presidência da República. É possível vincular essa repetição ao fato das campanhas contra ela usarem discursos machistas e misóginos amplamente aceitos na sociedade.

Ataques semelhantes foram verificados contra outras candidatas, como Marília Arraes (PT), no Recife, Benedita da Silva (PT), no Rio, e Olivia Santana (PCdoB), em Salvador. Mulheres de direita como Joice Hasselmann (PSL), em São Paulo, e Delegada Danielle (Cidadania), em Aracaju, também foram alvos de posts com viés machista, conforme levantamento da AzMina e do InternetLab. Na Bahia, apontaram, foram as mulheres negras as que mais sofreram violência online.

Reforçam a situação encontrada na Bahia os dados do Instituto Marielle Franco, que revelam que 78% das mulheres negras candidatas sofreram violência virtual. Mensagens machistas, misóginas e racistas em redes sociais, e-mail ou aplicativos de mensagens e invasão em reunião virtual são algumas das violências relatadas. Tais questões não serão modificadas facilmente, muito menos por decreto, mas o cenário suscita reflexões sobre medidas que têm sido tomadas contra a desinformação.

Os problemas que persistem

No caso da Justiça Eleitoral, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) dedicou-se a enfrentar apenas as “fake news” sobre o próprio sistema eleitoral. De acordo com balanço apresentado pelo TSE, foram desmentidos 69 conteúdos sobre o tema. A maioria dos boatos identificados pela coalizão formada pelo TSE e por agências de checagem questionou a segurança das urnas eletrônicas e a fidedignidade dos resultados das eleições. Muitos deles também já eram conhecidos do público e vinham sendo desmentidos desde, pelo menos, as eleições de 2018.

O estudo “Desinformação on-line e eleições no Brasil: A circulação de links sobre desconfiança no sistema eleitoral brasileiro no Facebook e no YouTube (2014-2020)” mapeou esse tipo de conteúdo ao longo de sete anos, identificando 337.204 publicações que colocavam sob suspeição a lisura das eleições brasileiras. Muitos dos conteúdos são antigos e permanecem na rede até hoje. Os pesquisadores do DAPP-FGV concluíram que a divulgação é persistente ao longo dos anos, com picos em anos eleitorais. Na comparação entre 2018 e 2020, “como esperado, a frequência de mensagens sobre desconfiança no sistema eleitoral foi exponencialmente superior em 2018, mas 2020 já desponta como o segundo ano com mais conteúdos”.

Muitos desses posts adquiriram mais visibilidade com a divulgação a partir de pessoas e grupos que, por já possuírem projeção, amplificam a viralização, caso da família do presidente. Aliás, essa operação coordenada também foi verificada explicitamente em outros momentos das eleições deste ano, como no Recife, no Rio e em São Paulo, inclusive ainda no primeiro turno, quando mentiras foram levadas para os debates televisivos e também projetadas por meio de veículos supostamente jornalísticos nas redes.

A nítida articulação de grupos aponta a necessidade de investigar as articulações que dão suporte à produção em escala industrial da desinformação. Não tem sido esse o caminho do Brasil. A própria CPMI das Fake News não conseguiu ainda chegar a resultados conclusivos. No âmbito do Judiciário, estão pendentes de julgamento processos sobre disparo em massa na campanha de Bolsonaro em 2018, o que poderia, caso tivesse ocorrido o julgamento, ter levado à desarticulação de empresas que, como noticiou a imprensa, seguiram ofertando esse tipo de serviço. A lei que incluiu no Código Eleitoral previsão de prisão para quem espalhar fake news, aprovada em 2019, não impediu a desinformação e sequer ganhou projeção no debate público ou mesmo jurídico.

Ainda em relação ao Judiciário, merece nota a criação, pelo TSE, de canal de denúncias de disparo em massa. Em parceria com o WhatsApp, no dia 19 de outubro o TSE anunciou que mais de mil contas foram banidas. Ainda não foram divulgados dados sobre essa operação durante o segundo turno das eleições. Em relação às demais plataformas, praticamente não houve ação conjunta com o órgão, além da menção à cooperação. A definição de ações de combate ao fenômeno das fake news coube a elas, que têm apostado sobretudo na moderação de conteúdos, como apontado aqui.

O fato de conhecidas “fake news” voltarem a circular dá indícios, por sua vez, da dificuldade de alcançar e convencer os receptores. Isso acende a luz vermelha quanto à efetividade dos esforços das plataformas digitais e desse caminho, em geral. Por outro lado, merece destaque a transparência do Facebook em relação à Biblioteca de Anúncios, o que possibilitou a verificação dos conteúdos impulsionados pelas candidaturas. Com isso, também ficou claro o imenso montante de recursos – mais de R$ 100 milhões – destinados a impulsionamentos pelas campanhas, o que deve também gerar não apenas discussão, mas regulamentação, seguindo o que foi feito com a radiodifusão.

A mesma transparência, contudo, não se deu com as contas removidas, anúncios não veiculados por desinformação e afins. Plataformas como Facebook, YouTube e Twitter não apresentaram relatório das ações, o que dificulta a análise e a mensuração das fake news e das respostas das plataformas.

Em resumo, 2020 indica que as campanhas de desinformação não são operadas e, portanto, não parecem ter o mesmo impacto em campanhas pulverizadas. Ainda assim, vimos que elas não desapareceram, pelo contrário, foram instrumentalizadas para mobilizar o voto conservador e causaram estragos, seja ao longo das campanhas, especialmente das mulheres, ou mesmo nos resultados. O problema persiste e outras questões, particularmente em relação ao financiamento, aparecem como desafios, que devem estar no horizonte das instituições antes de 2022.

Desinformação e violência na política: as armas contra Manuela D’Ávila

Desinformação e violência na política: as armas contra Manuela D’Ávila

Manuela D’Ávila (PCdoB), que despontou nestas eleições como favorita na disputa pela prefeitura de Porto Alegre, enfrenta mais um momento desafiante em sua trajetória política. De acordo com pesquisa Ibope divulgada nesta terça-feira, 24, Sebastião Melo (MDB) tem 49% e Manuela, 42%. Quando considerados os votos válidos, são 54% e 46%, respectivamente. A margem de erro, os sempre imponderáveis últimos dias de campanha e o resultado concreto das urnas podem levar a mudanças, claro. Mas contra Manuela, que terminou o primeiro turno apenas 2% atrás do adversário, pesam as campanhas de desinformação com teor explicitamente misógino.

Nas redes, crescem ataques pessoais combinados a conteúdos que buscam gerar medo na sociedade, a partir da mobilização de temas como o comunismo. O machismo fica nítido ao se observar o que circula em plataformas como o WhatsApp contra Manuela, imagens que opto por não expor aqui para reduzir a circulação da desinformação, ainda que sejam facilmente encontradas na internet. Muitas expõem e manipulam fotos da candidata, com ênfase em seu corpo e rosto. A aparência é o foco dos ataques. Tenta-se imputar a ideia de irresponsável. Em uma montagem são acrescidas tatuagens com rostos de líderes como Che Guevara e Lênin e uma frase que questiona o que seria a prefeitura liderada por ela. É feito também contraponto com o que seria a mulher ideal. Manuela tem tido sua imagem frequentemente comparada à de Michele Bolsonaro. Esta, sim, é apresentada como “recatada e do lar”.

Uma postagem afirma que Manuela trocou ‘o crucifixo no ânus por um escapulário católico’ e agora, apenas por ser campanha eleitoral, vale-se de ‘roupas recatadas’. Há ainda uso de uma fotografia de Manuela aos 15 anos, acompanhada do seu pai, insinuando que se tratava de seu namorado. Em outra, aparece a adolescente sozinha. A exposição vem acompanhada de uma legenda dizendo que Manuela odeia a foto, e convidando os outros a divulgá-la com o intuito de atacar a sua aparência “Só de marra vamos compartilhá-los ao máximo”, diz o texto.

No Twitter, circula áudio atribuído à coordenação da campanha de Sebastião Melo (MDB), que lidera as pesquisas de intenção de voto no segundo turno da disputa à prefeitura de Porto Alegre, em que Manuela é chamada de “vadia”. Divulgado pelo ativista Luiz Muller e por veículos como a Fórum e a Agência Pública, no áudio diz-se que: “Se entrar essa vadia ai vai ser um problema muito sério para a cidade”. A autoria não foi confirmada.

Ataques envolvendo corrupção, suposta ditadura venezuelana e atrocidades atribuídas a regimes comunistas são lançados contra a candidata. Exemplo disso, circula boato de que ela teria sido presa por conta da delação da Odebrecht, processo já arquivado pelo Ministério Público. Com mais de 130 mil visualizações em apenas sete horas de disponibilização na segunda, 23, vídeo do canal Giro de Notícias intitulado “A PRISÃO DE MANUELA D’AVILA, O MAIOR ATAQUE DA MÍDIA NO BRASIL, POLÍCIA FAZ LIMPEZA”. O conteúdo também está sendo compartilhado no WhastApp, de acordo com o Radar da agência de verificação Aos Fatos.

Uma hashtag #ManuzuelaNão sintetiza essa vertente de ataques. Após o assassinato de José Alberto Freitas, morto por asfixia por seguranças do Carrefour, e os protestos em repúdio à execução na última sexta-feira, 20, Manuela também passou a ser responsabilizada. É o caso do conteúdo apresentado como notícia no portal Terra Brasil Notícias, que tem como lema “Deus acima de tudo e de todos”. Link que destaca o título “Irresponsável: Comunista Manuela D’Ávila usou redes sociais para convocar protestos que terminaram em violência” tem sido compartilhado, assim como post adulterado de Manuela sobre o caso, no qual ela convocaria os protestos.

Merece destaque o uso de adjetivo não só pejorativo, como contrário ao que o patriarcalismo diz ser esperado de uma mulher (responsabilidade, cuidado). Não é o mesmo tipo de ataque que vemos, por exemplo, no caso de Guilherme Boulos (PSOL), na disputa para a prefeitura de São Paulo.

A violência de gênero é explícita – ataques a candidatos homens são diferentes

O mesmo site Terra Brasil Notícias publicou: “Boulos vira motivo de piadas nas redes após dizer que problema da previdência é número baixo de funcionários públicos”. No Twitter, ganhou repercussão tweet em que Boulos teria escrito defender abrigar moradores de rua na casa de quem tem quartos vagos, o qual foi postado por uma conta falsa. Ainda no primeiro turno, como abordado aqui, acusação falsa de que teria contratado empresas fantasmas ganhou lastro. São, pois, temas relacionados ao conteúdo político, não aos atributos pessoais, muito menos ao corpo do candidato.

Embora se tratem ambos de políticos que abraçam visões de mundo de esquerda, há uma abordagem diferente, que leva a crítica para a dimensão pessoal no caso das campanhas arquitetadas contra Manuela. É o que vemos no texto também identificado pela Aos Fatos em grupos do WhatsApp: “A comunista patricinha, no primeiro turno vinha ‘pagar de boa moça’, acusava os adversários de fazer campanha suja contra ela, a mesma inclusive em seus lixos de propagandas na teve, disse que ela era contra isso, pois tinha projeto. Como todo mundo sabe, ELA TRAÍ, e agora ELA vem fazer no horário eleitoral a mesma coisa que ela julgava errado antes. Assim é o PT, PSOL, PCdoB e PDT, usam mulheres, usam vidas negras, usam todo mundo para chegar no poder. E você vai cai nisso, ou vai dar um “tapa de luva” nestes lixos e votando 15 em Melo”.

O compartilhamento do link e a referência à “traição” mostram ainda a retroalimentação que se dá entre as mídias e também expressa como as violências contra as mulheres na política são recorrentes e perpetuadas, inclusive pela ausência de responsabilização. Como costuma ocorrer nas campanhas de desinformação, as agressões na rede são alimentadas por amplificadores, como o candidato Rodrigo Maroni (Pros), que no último debate do primeiro turno disse que Manuela “mentia e dissimulava”. “Tu é patricinha mimada, poderia estar comprando bolsa no shopping. Se eu fosse abrir a boca, eu não acabaria com a carreira, mas com tua vida, Manuela”, afirmou. No primeiro debate entre candidatos, Maroni, ex-noivo da pcdobista, também havia desferido ataques machistas contra ela, acusando-a de traição, o que foi amplamente repercutido na mídia.

O impacto eleitoral das campanhas de desinformação

Dadas a opacidade das plataformas digitais e a diversidade de canais de comunicação, é difícil precisar o volume dos ataques e seus impactos. Entretanto, a resposta judicial, sempre menor do que o que realmente ocorre, pois as investigações dependem dos conteúdos serem encontrados e denunciados, permite-nos traçar contornos do quadro. Ainda no primeiro turno, quando Manuela aparecia na liderança das pesquisas de intenção de votos, a Justiça Eleitoral determinou que Facebook, Instagram, Twitter e YouTube retirassem do ar meio milhão de compartilhamentos de conteúdo falso contra ela. O somatório refere-se a apenas dez postagens denunciadas. Não é inexpressivo.

Some-se a isso ainda o fato de campanhas de desinformação contra Manuela serem antigas e permanentes. Após dividir chapa com Fernando Haddad (PT) à presidência da República nas eleições de 2018, marcadas pelo fenômeno da desinformação e intolerância nas redes sociais, Manuela chegou a criar o instituto E Se Fosse Você?, uma organização não-governamental, e lançou o livro “E Se Fosse Você? Sobrevivendo às redes de ódio e fake news”.

Estas campanhas desinformativas podem ajudar a explicar a alta rejeição de Manuela – 38%, de acordo com a pesquisa Ibope de 14 de novembro, um dia antes do primeiro turno. Em uma curta campanha eleitoral, mitigar efeitos ou mesmo mudar entendimentos acerca da candidata não é tarefa fácil, ainda mais quando a artilharia inimiga não dá trégua. Essa perseguição já era apontada como empecilho para a corrida eleitoral de 2020. Em artigo publicado neste Observatório em 31 de outubro, Céli Pinto sentenciava que o segundo turno em Porto Alegre contaria com a participação de Manuela e que não seria fácil. Entre os motivos, o fato da candidata ser vítima desse tipo de violência política.

Não é difícil concluir: campanhas de desinformação permeadas por misoginia são as principais armas utilizadas contra Manuela D’Ávila. Elas representam um grande entrave para que a parlamentar, que já acumula mandatos e experiência política, consiga alcançar a prefeitura de Porto Alegre. Uma situação que evidencia a violência que atravessa as vidas das mulheres que ocupam a política. Muitas têm seus corpos enfatizados, seus atos ignorados, suas opiniões diminuídas, seus espaços cortados. Com menos de uma semana para o pleito, parece difícil que haja tempo e condições para reverter a situação, até porque ela tem raízes na cultura e nas instituições.

Como a polarização afeta o consumo de informação política

A polarização causada por Jair Bolsonaro identificada na pesquisa “A Cara da Democracia: Eleições 2020” também é visível quanto o assunto é a mídia. De acordo com o levantamento, os entrevistados que avaliam o governo Bolsonaro como ótimo ou bom apontaram as seguintes emissoras como o seu principal meio de informação sobre política na TV aberta: Record (52%), Bandeirantes (45%), SBT (42%). A Globo aparece depois, com apenas 24%.

Os números não coincidem com a média da audiência. O Mídia Dados 2019, do Grupo de Mídia de São Paulo, registra que as emissoras mais assistidas na TV aberta são: Globo (36%), Record (15%), SBT (15%) e Bandeirantes (3%). Outras (Record News, TV Brasil, TV Câmara, TV Justiça, TV Senado, para citar algumas) somam 29%, dado que expressa dispersão da audiência, ainda que o controle da maior parte dela por parte dos maiores grupos se mantenha.

A mudança parece mostrar que as campanhas de Bolsonaro contra o Grupo Globo, que incluiu ameaça de cassar a concessão após reportagem do Jornal Nacional mencionar o nome de  Bolsonaro entre os citados na investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, e sua aproximação com Record e SBT, TVs que o beneficiam desde o período eleitoral de 2018 e que têm sido agraciadas com mais verbas publicitárias, têm surtido efeito. Não deixa de ser irônica a situação, já que a Globo teve papel determinante na construção do sentimento antipolítica e no golpe que levou ao afastamento da presidenta Dilma Rousseff em 2016, como já demonstrei em outras ocasiões.

Analisando a pesquisa do INCT (Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação), vemos que as opções da audiência vão migrando de acordo com a avaliação do governo. Entre os que o consideram regular, a Globo aproxima-se da liderança que efetivamente possui, com 33%. Ainda assim, os três outros grupos com maior projeção registram patamares expressivos: SBT (32%), Bandeirantes (31%) e Record (29%). Outras emissoras também foram apontadas com destaque pelo eleitorado, o que confirma a dispersão para outros canais.

Já entre os que consideram o governo Bolsonaro ruim ou péssimo, a fonte de informação sobre política na TV aberta preponderante é a Globo (43%), seguida com maior intervalo pelas demais: SBT (26%), Bandeirantes (23%) e Record (20%).

O índice de confiança da pesquisa é de 95% e a margem de erro é de 2,2 pontos para os dados nacionais. Já nos resultados regionais a margem de erro varia. Ao todo, foram consultadas duas mil pessoas entre os dias 24 de outubro e 3 de novembro.

Os dados são importantes porque, como também mostra a pesquisa, os noticiários da TV aberta seguem apontados como o principal meio de informação sobre a política (36%). Em segundo lugar, está o buscador da Google (10%), seguido de blogs de internet (10%) e Facebook (8%). O WhatsApp, que tem sido o foco das preocupações com desinformação desde 2018, aparece com 2%, atrás inclusive do Instagram, com 3%. Isso não deve nos levar a menosprezar o papel das redes sociais, mas sim notar a permanência da importância da TV, que inclusive acaba pautando a conversação nas demais plataformas. Para dar um exemplo, cerca de 80% do que se escreve no Twitter deriva de conteúdos televisivos.

Como tem sido apontado neste Observatório, dificilmente essa dinâmica de polarização, com amplo apoio a Bolsonaro, apesar de tudo, se refletirá com a mesma força nos votos. As eleições municipais têm dinâmicas mais particulares e, no caso destas, também pesa a situação da pandemia e a avaliação da atuação de governadores e prefeitos no combate a covid-19. Não obstante, os dados são interessantes para notarmos que a influência de Bolsonaro, expressão maior da extrema direita no Brasil, não é superficial. Ela tem modificado efetivamente a cultura, inclusive o consumo dos meios de comunicação, instituições centrais para a formação das identidades, valores, gostos e para o próprio debate democrático.

* Helena Martins é professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), é jornalista e doutora em Comunicação Social pela UnB, com período sanduíche no Instituto Superior de Economia e Gestão (Iseg) da Universidade de Lisboa. Editora da Revista Eptic, é pesquisadora do GT Economía política de la información, la comunicación y la cultura da Clacso e integrante do Intervozes.

Esse texto foi elaborado no âmbito do projeto Observatório das Eleições de 2020, que conta com a participação de grupos de pesquisa de várias universidades brasileiras e busca contribuir com o debate público por meio de análises e divulgação de dados. Para mais informações, ver: www.2020.observatoriodaseleicoes.com.br.

Estratégia de Russomanno contra Boulos investe em desinformação

Estratégia de Russomanno contra Boulos investe em desinformação

Até as 20h desta quarta-feira(11), pelo menos 70 mil posts no Twitter mencionaram a #LaranjalDoBoulos, denunciando suposta contratação de duas produtoras fantasmas pelo candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, que nesta semana apareceu em segundo lugar na pesquisa Ibope. Poucos casos nestas eleições deixaram tão nítida a operação da desinformação como estratégia política, com passos combinados para gerar controvérsia e desgastar um candidato.

Durante debate entre os candidatos realizado pelo UOL/Folha na manhã de hoje (11), Celso Russomanno (Republicanos), que pela primeira vez apareceu em terceiro lugar, levantou o tema e disse que a informação estava “nas redes”. Como noticiou a Folha, o candidato apoiado por Bolsonaro atribuiu a informação a uma denúncia publicada nas redes sociais. A acusação foi feita por Oswaldo Eustáquio, que já foi preso por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) por espalhar notícias falsas, e publicada no canal do YouTube dele enquanto o debate ocorria – o que mostra que Russomanno sabia que isso seria feito.

Boulos nega a acusação e postou informações detalhadas sobre a contratação das produtoras, cujos pagamentos constam na prestação de contas do candidato. Para evitar a propagação do vídeo, ele entrou com uma ação na Justiça Eleitoral para pedir que este seja retirado das redes sociais. Já a Justiça Eleitoral solicitou à Polícia Federal abertura de inquérito contra Russomanno por calúnia contra Boulos, em resposta ao pedido do Ministério Público Eleitoral.

A situação também mostra outro elemento: utilização de um político como amplificador de audiência. Russomanno seguiu os passos de Bolsonaro, Trump e outros líderes de extrema-direita que usam sua projeção para espalhar mentiras, seja sobre a pandemia, eleições ou algum adversário. Os indícios mostram não apenas proximidade na linha política, mas apontam possível utilização da estrutura de desinformação que tem sido chamada de Gabinete do Ódio ou, ao menos, compartilhamento de seu modus operandi.

O post do próprio Eustáquio no Twitter é o primeiro a ser apresentado em “destaque” pela plataforma, quando buscamos a referida hashtag. O número de curtidas e compartilhamentos são contados aos milhares. Outros posts, como o do deputado estadual Douglas Garcia (PTB), que se diz representante do “Movimento Conservador”, têm ajudado a espalhar a desinformação. Portais que se apresentam como noticiosos também mobilizam o tema. Caso da Gazeta Brasil, que divulga que a situação se tornou o assunto mais comentado do Twitter, mas não traz o outro lado nem menciona as ações na Justiça.

Mas nem só de amplificadores reais uma campanha de desinformação é feita. A plataforma Bot Sentinel, que monitora atividade inautêntica no Twitter, publicou que foram identificados 217 posts mencionando #LARANJALDOBOULOS tuitados por contas não autênticas, os conhecidos robôs. A hashtag está no topo da lista das mais movimentadas por meio de mecanismos automatizados, no ranking da Bot Sentinel. Essas contas também amplificam o debate, produzindo, em geral, de forma constante e com o intervalo de tempo menor do que qualquer ser humano conseguiria, o que ajuda a espalhar o conteúdo e a fazer crescer as menções a ele nas redes.

O enredo é conhecido: alguém posta, outro com alcance compartilha, a desinformação é comentada nas redes e lá ganha projeção, com ajuda de mais amplificadores e de robôs. Conteúdos de portais que se apresentam como noticiosos são usados para dar veracidade ao caso e, muito possivelmente, ganham ampla repercussão em grupos de WhatsApp e outras plataformas. É por isso que investigar e desmontar o arranjo de grupos que usam desinformação como estratégia é tão central, entre eles o Gabinete do Ódio.

O número de casos de denúncia de desinformação tem crescido em todas as plataformas que fazem verificação e checagem. A reta final da campanha chegou e, com ela, parece que também a avalanche de desinformação.

Dois anos após a eleição de Bolsonaro, a desinformação tem o mesmo impacto?

Dois anos após a eleição de Bolsonaro, a desinformação tem o mesmo impacto?

Há exatos dois anos, o então deputado Jair Bolsonaro, considerado um político inoperante e do baixo clero, era eleito presidente do Brasil. Nenhum fator isolado é capaz de explicar sua eleição, mas no pacote de motivos há consenso em torno do papel da estratégia de comunicação desinformativa que utilizou e que, ainda antes do segundo turno, foi denunciada pela imprensa e por pesquisadores. Longe de pontual, aquela eleição mostrou a própria reconfiguração da política diante do crescimento da mediação pelas tecnologias e da importância das redes sociais.

O sinal vermelho foi aceso e, desde então, preocupações em relação aos possíveis impactos da desinformação em outros pleitos motivaram iniciativas por parte de agentes públicos. Um exemplo veio do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que recentemente anunciou parceria com as plataformas digitais e criação de canal sobre fatos e mentiras.

Agentes privados também apresentaram iniciativas, como o Facebook, que, além de criar uma biblioteca de anúncios dando transparência às propagandas digitais, passou a remover conteúdos desinformativos que causem violência, dano ou que comprometam processos eleitorais. A rede também proíbe a veiculação de anúncios com mensagens falsas.

O sucesso na internet reverte-se em sucesso nas intenções de voto?

A pouco mais de 15 dias do primeiro turno das eleições municipais, há dúvidas sobre o papel que as redes sociais e as estratégias de desinfomação têm exercido. Em que pese forte investimento dos candidatos em impulsionamento de conteúdos, pesquisas de intenção de votos não têm demonstrado uma correlação direta entre número de seguidores e o apoio efetivo a candidaturas.

No campo bolsonarista, embora ruidosos na internet, poucos são os candidatos nas capitais que vão bem nas sondagens. Estudo do Manchetômetro a partir de 319 páginas de prefeituráveis analisou aqueles com mensagens mais compartilhadas em diversas capitais e verificou essa diferença entre o barulho que fazem nas redes e intenções de votos.

Marcelo Crivella (Republicanos) candidato à reeleição no Rio de Janeiro, teve 8 dos 10 posts mais compartilhados, mas tem 13% de intenções de votos segundo o Datafolha, ficando em segundo lugar e tecnicamente empatado com terceiro e quarto.

Em Belo Horizonte, Bruno Engler (PRTB) faz sucesso com postagens que o associam ao presidente e usam hashtags como #Bolsonaro, #GoBolsonaro e #Bolsonaro2022, mas pontua apenas 3%.

Em São Paulo, Joice Hasselmann (PSL), que tem o maior número de seguidores e ganhou boa visibilidade com ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) na última semana, amarga 3% de intenções de votos, segundo a última pesquisa daquele instituto. Também em São Paulo, o candidato Arthur do Val (Patriota), conhecido pelo canal do YouTube Mamãe Falei, tem quase 3 milhões de seguidores, mas registra apenas 4%.

Registrar 3% ou 4% não é pouco para candidatos que se lançaram há pouco na política, mas não reflete o alcance que possuem. O que explica esse descompasso? As redes teriam perdido importância?

Difícil sustentar tal argumento, ainda mais em tempos de pandemia, que levou as pessoas a ficarem mais tempo na internet. Mas é possível afirmar que as redes sozinhas não ganham uma eleição. Mesmo no caso de Bolsonaro, não me parece ser o caso de apontar apenas esse fator e desconsiderar outros, como a insatisfação com a política, o afastamento de seu principal adversário, Lula, a partir de movimentações do Judiciário e o desgaste construído pela mídia em relação ao PT. No caso de uma eleição municipal, pesam ainda outros fatores que estão mais próximos e podem influenciar de maneira mais decisiva na hora do voto, como as políticas das prefeituras em relação à pandemia, como já abordado neste Observatório das Eleições.

WhatsApp como principal ferramenta para desinformação

Quanto à desinformação, teriam os adeptos do bolsonarismo deixado de utilizar as estratégias que se mostraram vitoriosas na ascensão do hoje presidente? Ou elas passaram a ter menos impacto? São perguntas fundamentais na tentativa de se compreender a dinâmica de uma política cada vez mais midiatizada, mas que só serão respondidas com as urnas fechadas e os resultados conhecidos. Antes disso, algumas hipóteses podem ser lançadas.

A primeira é que não, a desinformação não está fora do jogo político. Fake news requentadas e mentiras ditas por candidatos até em frente às câmeras de TV têm sido verificadas. Mas seu impacto pode ter sido mitigado, tanto por iniciativas das plataformas quanto pela dinâmica própria das eleições municipais.

No caso do Facebook, a criação de um espaço a partir do qual é possível verificar os conteúdos veiculados pelos candidatos, assim como as proibições antes mencionadas, podem ter dificultado o uso da estratégia de desinformar. Isso, aliás, ocorreu já em 2018 no Brasil. Antes daquela eleição, muitos dos debates e propostas que objetivavam proteger o pleito foram direcionadas à tal plataforma.

O que se viu ao longo do ano foi o direcionamento de conteúdos desinformativos por meio do WhatsApp, onde candidaturas também adotaram a tática de disparos em massa, valendo-se das possibilidades de criação de grupos e da alimentação de diversos deles por alguns usuários. Importante notar que, para tanto, foi constituída uma lógica de distribuição que começa centralizada, com difusão de mensagens por parte de alguns agentes espalhados em diversos grupos, e depois ganha capilaridade com o engajamento orgânico dos participante – inclusive em grupos menores que não são claramente identificados com determinadas candidaturas, como de bairros ou serviços, o que ajuda a “furar a bolha”.

A segunda hipótese é que a plataforma do WhatsApp é mais vulnerável a isso, inclusive por suas escolhas, como não uma ter política específica para combater a desinformação nas eleições. Como nas eleições passadas, segue sendo possível criar infinitos grupos e listas de transmissão. Também não houve desbaratamento das fábricas de desinformação e disparo em massa, “serviços”, aliás, que continuam sendo ofertados, como mostrou a Folha de S. Paulo.

Por outro lado, desde 2018 o mensageiro tem reduzido a circulação de conteúdos altamente compartilhados, limitando o número de encaminhamentos de mensagens permitido. Também tem utilizado ferramentas de tratamento de spam e aprendizagem avançada de máquinas para retirar mensagens automatizadas em massa e banir contas de usuários com comportamentos inadequados, a exemplo do envio de mensagens em massa e da criação de múltiplas contas. Medidas que podem dificultar o disparo em massa ou reduzir a velocidade na propagação da desinformação, ainda que não impeçam que ocorra, pois muitos dos agentes que se valem desse mecanismo utilizam sistemas que conseguem driblar esses empecilhos.

Toda essa situação e o fato de ser pouco transparente e dificilmente auditável permitem sustentar que o WhatsApp pode ser o canal preferido para quem busca desinformar. Observando o radar da agência de checagem Aos Fatos, que monitora conteúdos “de baixa qualidade” em diversas plataformas, indícios de confirmação dessa hipótese são vistos. Em uma semana de monitoramento de 272 grupos, foram coletadas 6.517 publicações sobre eleições municipais, das quais 1.143 mensagens foram rotuladas como de baixa qualidade.

A mensagem mais compartilhada diz, em caixa alta,: “VAMOS VARRER DAS PREFEITURAS E CÂMARAS MUNICIPAIS DE VEREADORES DE TODO BRASIL OS COMUNISTAS DESGRAÇADOS SAO TODOS CONTRA A FAMÍLIA, CONTRA A PROPRIEDADE PRIVADA CONTRA AOS CRISTÃO. SE VOCÊ AMA SUA FAMÍLIA E A NOSSA PÁTRIA ENTÃO VOCÊ NÃO VOTA NOS SEGUINTES PARTIDOS ABAIXO” – e segue listando 26 partidos.

A segunda em número de compartilhamentos mistura supostas fraudes na eleição e “o desmonte da farsa da peste chinesa”. A terceira refere-se criticamente à discussão sobre educação e ensino de gênero. A quarta faz alusão à fraude nas urnas eletrônicas, desinformação que tem sido bastante recorrente, como já mostramos aqui. A maior parte das demais mensagens com expressivo número de compartilhamentos também faz a defesa de Bolsonaro e refere-se às eleições municipais.

Os grupos analisados são públicos, com links de acesso disponibilizados na rede por seus administradores de diversos estados. Em grupos mais fechados, saber o que acontece é mais difícil, mas denúncias de desinformação têm sido verificadas. Em Fortaleza, por exemplo, o grupo “Mercadinho do Bairro” foi utilizado para disparar mensagens contra a candidata do PT, Luizianne Lins. Na análise da Aos Fatos, quando comparada a pontuação conferida às mensagens monitoradas no WhatsApp, YouTube, Web e Twitter, o WhatsApp registra a menor nota, o que indica mais conteúdos de “baixa qualidade circulando”.

Situação semelhante é verificada pelo Coar, projeto piauiense de fact-checking que recebe e analisa mensagens, além de coletá-las em dezenas de grupos de WhatsApp. Nas primeiras semanas destas eleições, de acordo com a fundadora da iniciativa, Marta Alencar, foram recebidos poucos conteúdos sobre o pleito. Ainda que o volume tenha começado a aumentar, seguem predominando menções ao cenário nacional e a temas como a vacina contra o coronavírus.

Em geral, a circulação sobre eleições tem se dado sobretudo por meio de grupos fechados no WhatsApp e no Telegram, além de em canais do YouTube. Circulam vídeos e textos, por exemplo, sobre suposta proposta do candidato Kleber Montezuma (PSDB) de implantar o “kit gay” nas unidades de ensino em Teresina. A Coar não encontrou nenhuma declaração feita por Montezuma sobre programa do tipo. Mensagens que manipulam resultados de pesquisas de intenção de voto também têm sido denunciadas e checadas.

Perspectivas para a reta final da campanha

A redução na circulação da desinformação sobre as eleições municipais leva a crer que o impacto que vimos em 2018 não será o mesmo em 2020. Em uma eleição nacional, é mais fácil unificar discursos e organizar a distribuição de mensagens em variados grupos sobre temas como o famoso “kit gay”.

Em embates municipais, as dinâmicas e mesmo candidatos diversos dificultam essa operação. A fragmentação do campo da direita pode também incidir nesse cenário e levar à redução das campanhas de desinformação. O fracasso político de Bolsonaro em sua tentativa de organizar um partido para ele e sua família também pesa. Caso a Aliança tivesse sido consolidada, possivelmente a transmissão da tecnologia de organização de campanhas nas plataformas digitais teria sido facilitada.

Ainda que essas questões estejam postas, é prudente observar especialmente grupos que aparentam ser privados e segmentados e acompanhar a reta final da campanha, especialmente em cidades com cenário indefinido e que podem ser palcos do “vale tudo” eleitoral.