por Luciana Santana | nov 21, 2020 | Cidades, Destaque 1
Ananda Marques e Luciana Santana*
A primeira pesquisa realizada pelo Instituto Ibope/ TV Mirante no segundo turno, divulgada ontem (20), apresenta o candidato Eduardo Braide (Podemos) com 49% das intenções de votos contra 42% do seu adversário Duarte Júnior (Republicanos). 7% dos entrevistados informaram que votarão branco ou nulo e 2% estão indecisos.
Na simulação apenas com os votos válidos, se a eleição fosse hoje, 54% dos entrevistados elegeriam Braide. Duarte Jr teria 46%.
Na simulação realizada pelo Ibope, ainda no primeiro turno, em pesquisa divulgada no dia 13 de novembro, Braide venceria com 51% e Duarte Júnior faria 32%. Apesar de o segundo turno ser considerado uma nova eleição, e ser influenciada por outros fatores, é possível identificar crescimento no desempenho de Duarte Júnior ainda na primeira semana de campanha no segundo turno.
E o que tem influenciado esse crescimento? Uma das hipóteses é que a entrada de Flávio Dino (PCdoB) em sua campanha tenha contribuído para melhorar seu desempenho. Entretanto, ainda não é possível vislumbrar se esse crescimento pode possibilitar uma virada. A próxima semana será decisiva.
Quem são Braide e Duarte Júnior?
Braide, filho do ex-deputado estadual Antônio Carlos Braide, iniciou sua carreira política em cargos eletivos no ano de 2010 ao ser eleito deputado estadual pelo PMN. Em 2014, foi reeleito pelo mesmo partido. Disputou a eleição municipal de São Luís em 2016 com uma candidatura que surpreendeu, mas ao fim perdeu no segundo turno para Edivaldo Holanda Júnior. Foi eleito deputado federal em 2018 e, ainda no mandato, tenta mais uma vez tornar-se chefe do executivo na capital do Maranhão.
Duarte Jr foi presidente do Procon no primeiro mandato de Flávio Dino e eleito deputado estadual pelo PCdoB em 2018, sendo o mais bem votado de toda a história de São Luís e o terceiro mais bem votado no estado. No começo deste ano, em razão de disputas internas dentro do partido, migrou para o Republicanos, partido do vice-governador Carlos Brandão, para ser candidato à Prefeitura.
A sucessão da Prefeitura de São Luís chama a atenção porque, de alguma forma, o resultado refletirá não apenas o contexto de disputas internas que deságuam na sucessão ao governo estadual em 2022, como também a força de uma possível candidatura de Flávio Dino à Presidência da República ou sua liderança em uma frente ampla no espectro da centro-esquerda.
Diferentemente do comportamento que adotou no primeiro turno, o governador Flávio Dino entrou em campanha e, não apenas declarou apoio a um dos candidatos, no caso Duarte Júnior (Republicanos), mas também convocou todo o secretariado e bases de seu governo para turbinar a campanha do ex-presidente do Procon.
Ainda sobre o primeiro turno
As candidaturas do primeiro turno estavam organizadas em três grupos: um bloco de candidatos que atuaram na gestão do governador Flávio Dino (PCdoB) e, portanto, disputavam seu espólio, apesar da neutralidade anunciada por ele. Um segundo grupo, que se opunha ao governo estadual. E um último conjunto de candidatos que se colocava como “terceira via”. Esse cenário indica que a gramática política das eleições 2020 na capital giram em torno da figura de Dino, e não mais de Sarney.
A estratégia adotada pelo governador foi de se manter neutro, mesmo com uma candidatura de seu partido – Rubens Jr, deputado federal do PCdoB e ex-secretário de Cidades na gestão estadual, recebeu 10,58% dos votos.
Essa neutralidade deve-se ao fato de que a corrida pela Prefeitura de São Luís tornou-se uma prévia da disputa entre os grupos políticos que compõem a coalizão de Dino. De um lado, o vice-governador Carlos Brandão (Republicanos, anteriormente PSDB) apoiando Duarte Jr. E de outro, o senador Weverton Rocha (PDT) apoiando Neto Evangelista (DEM), ex-secretário de Desenvolvimento Social e deputado estadual.
A coligação de Dino em 2018, contra Roseana Sarney (MDB), tinha 16 partidos e atingiu seu ápice ao reelegê-lo. Nos últimos dois anos, a coalizão tem se fragmentado devido ao reposicionamento dos atores tendo em vista 2022. Quem será o sucessor de Flávio Dino? A prefeitura de São Luís pode projetar uma liderança alguns passos à frente nesta corrida.
Em 2016, Braide chegou ao segundo turno como novidade, apesar de ser um político de carreira. Sua imagem de renovação conquistou o eleitorado da capital e o manteve na liderança das intenções de voto. O então prefeito, Edvaldo Holanda (PDT) foi reeleito na esteira do apoio de Dino. A eleição de São Luís foi um termômetro para 2018. Ao que parece, 2020 aponta para o mesmo sentido.
Flávio Dino e Braide
A pesquisa IBOPE em São Luís, divulgada em 14 de novembro, apontava 44% de aprovação e 17% de reprovação da gestão do governador, contra 20% de aprovação e 57% de reprovação de Jair Bolsonaro.
Essa rejeição ao presidente engendrou narrativas de que tanto Braide, quanto Duarte, devido às ligações nacionais de seus partidos, seriam bolsonaristas. Porém, apenas um candidato declarou-se oficialmente bolsonarista em termos ideológicos: Silvio Antonio (PRTB), que teve 3,14% dos votos.
A preferência do eleitorado por Braide e a alta aprovação de Dino podem parecer incoerentes se analisarmos a partir do diapasão bolsonarismo x antibolsonarismo. Mas, se olharmos para o fato de que a população ludovicense não associa Braide a Bolsonaro e que as múltiplas candidaturas do campo governista diluíram a transferência de votos do governador, faz bastante sentido o cenário que se desenhou.
Bolsonarismo e os apoios no 2° turno
Os candidatos ligados à base governista dividiram-se. Enquanto Rubens Jr, após pedido de desculpas público de Duarte Jr, declarou voto no candidato republicano, Neto Evangelista anunciou, apesar dos ataques proferidos contra Braide nos debates do primeiro turno, voto no candidato do Podemos.
O apoio de Neto à Braide coloca em xeque os esforços de Dino para manter sua coalizão unida. A solução encontrada até o momento foi o PDT municipal apoiar Braide e o estadual manter-se neutro. Porém, não se sabe ao certo até que ponto será possível sustentar certas incoerências.
Dois apoios importantes foram o do PSL à Duarte Jr e o do candidato bolsonarista Silvio Antonio à Braide. O discurso governista é de que Braide é o candidato de Bolsonaro na eleição, e portanto, seria esta uma disputa semelhante à eleição de 2018. Mas o que se percebe até aqui é que se trata de um embate entre Flávio Dino e Eduardo Braide, como já havia acontecido em 2016 na disputa entre Edvaldo e Braide. Entretanto, desta vez, o candidato apoiado por Dino é mais controverso e com alianças mais ambíguas do que as que foram construídas quatro anos atrás.
Para além do que tem acontecido na campanha de segundo turno de muitas capitais brasileiras, o caso ludovicense demanda uma análise mais acurada sobre as forças políticas em disputa e as narrativas que estão sendo construídas na esteira deste suposto duelo entre bolsonarismo e antibolsonarismo.
São Luís é palco de embates complexos, sendo um caso interessante de como uma coalizão subnacional tem sentidos próprios mas é também referenciada pelos debates nacionais. E principalmente de como certas alianças locais podem não fazer sentido nacionalmente e vice-versa.
Quem sai fortalecido no Maranhão?
Quanto às demais prefeituras no estado, temos o seguinte cenário: o PCdoB foi de 46 para 22 prefeituras e foi derrotado em cidades importantes, como Imperatriz e Caxias; o PDT cresceu de 29 para 41; o PL, anteriormente PR, foi de sete para 39; e o Republicanos, antes PRB, foi de 14 para 24.
Portanto, apesar da coalizão que forma a base do governo de Flávio Dino ter avançado, seu partido perdeu espaço significativo.
Já os partidos da oposição tiveram um desempenho tímido: o PSDB, que compôs a base do governo anteriormente e se tornou oposição com a ruptura de Roberto Rocha, foi de 29 prefeituras em 2016 para apenas quatro em 2020. O MDB, partido da família Sarney, foi 22 para sete. Estes números indicam que a disputa pelo poder no Maranhão tem sido travada dentro do próprio governo de Dino e não mais entre o governo e a oposição.
* Ananda Marques é mestra em Ciência Política pela Universidade Federal do Piauí. É professora e pesquisadora dedicada a temas tais como políticas sociais na América Latina e coalizões no âmbito subnacional.
Luciana Santana é mestre e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, com estância sanduíche na Universidade de Salamanca. É professora adjunta na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), líder do grupo de pesquisa: Instituições, Comportamento político e Democracia, pertence à Red Politólogas e atualmente ocupa a vice-diretoria da regional Nordeste da ABCP.
Esse texto foi elaborado no âmbito do projeto Observatório das Eleições de 2020, que conta com a participação de grupos de pesquisa de várias universidades brasileiras e busca contribuir com o debate público por meio de análises e divulgação de dados. Para mais informações, ver: www.2020.observatoriodaseleicoes.com.br
por Luciana Santana | nov 14, 2020 | Cidades, Destaque 1
Luciana Santana*
A eleição em Maceió promete muitas emoções até a contabilização dos últimos votos no próximo do domingo. Pesquisas e análises anteriores apontavam que a definição do próximo prefeito se daria em dois turnos e apontavam os dois nomes prováveis para a disputa, JHC (PSB) e Alfredo Gaspar de Mendonça (MDB). Nas últimas semanas, entretanto, essa situação já não existe mais. O cenário é de muita indefinição.
E o que mudou? O candidato Davi Davino Filho (Progressistas), que aparecia em quarto lugar, com 5% das intenções de votos na pesquisa Ibope realizada no início de outubro, cresceu 14 pontos, atingindo 19% na última rodada Ibope divulgada na quarta (11). O candidato está tecnicamente empatado com os dois primeiros colocados e tem boas chances de ir para a disputa do segundo turno.
Candidaturas e desempenho nas pesquisas eleitorais
A figura abaixo mostra o desempenho dos candidatos em pesquisas realizadas desde o início do mês de outubro. Houve pouca mudança na evolução de intenção de votos para os dois candidatos mais bem colocados nas pesquisas.
O ex-procurador do estado Alfredo Gaspar de Mendonça tem se mantido mais estável e tem 26% das intenções de votos. Apresentou oscilação negativa na segunda rodada de pesquisa Ibope, mas se recuperou na última. O deputado federal JHC também tem se mantido estável dentro da margem de erro, teve duas oscilações negativas e tem 22% das intenções de voto.
O deputado estadual Davi Davino Filho foi o candidato que obteve o melhor desempenho, com bom potencial de crescimento. Já o ex-prefeito maceioense Cícero Almeida (DC) teve queda de 7 pontos percentuais nas pesquisas e tem apenas 3%.
O único candidato que associa sua imagem a do presidente Bolsonaro, Josan Leite (Patriotas), não conseguiu obter mais do que 3% da intenção de votos. As demais candidaturas somadas não ultrapassam 4% .
Gráfico 1- Desempenho dos candidatos em pesquisas IBOPE
Fonte: Instituto Ibope
Os resultados de institutos de pesquisas locais (DataSensus e Ibrape) também tem apontado empate técnico entre os três primeiros candidatos, mas com alteração na ordem dos nomes. Seja como for, nenhum instituto crava o resultado do dia 15 de novembro, mas sugerem três cenários possíveis para o segundo turno: 1) Alfredo Gaspar de Mendonça X JHC 2) JHC X Davi Davino ou 3) Davi Davino X Alfredo Gaspar de Mendonça.
Rejeição dos candidatos
O campeão de rejeição na última pesquisa Ibope é o ex-prefeito da capital, Cícero Almeida (DC) com 48%. É seguido pelo ex-vereador Ricardo Barbosa (PT) com 23%. A candidata menos rejeitada é Valéria Corrêa (PSOL) com 11%.
Entre os candidatos mais cotados para a disputa do segundo do turno, Alfredo Gaspar de Mendonça (MDB) tem 22%, JHC (PSB) 18% e Davi Davino Filho (Progressistas) 14% de rejeição.
A rejeição dos demais candidatos variou de 13 a 16%. Lenilda Luna (UP) teve 16%, Cícero Filho (PCdoB) 14%, Corintho Campelo (PMN) 13% e Josan Leite (Patriota) 13%.
Ataques e contra-ataques marcam a disputa pelo segundo turno
Como o atual cenário é de muita indefinição sobre quais serão os dois candidatos que disputarão a prefeitura da capital no segundo turno, os ataques e contra-ataques se intensificaram na reta final das campanhas eleitorais.
Além do aumento da circulação de panfletos, memes e mensagens negativas apócrifas por meio de aplicativos de mensagens, é possível perceber mudanças no comportamento dos candidatos mais bem posicionados nas pesquisas. Os três líderes na intenção de voto subiram o tom em suas propagandas eleitorais, seja para responder a ataques ou para enfatizar os apoios ou apadrinhamentos políticos de seus adversários.
Ex-procurador e candidato governista
Como se sabe, Alfredo Gaspar de Mendonça (MDB) é ex-secretário de segurança pública de Alagoas, ex-procurador do Estado e pediu exoneração para concorrer à Prefeitura da capital. Conta com o apoio do atual prefeito Rui Palmeira (sem partido) e do governador Renan Filho (MDB).
Mendonça teve o segundo maior tempo no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE), 2 minutos e 36 segundos. Sua campanha, que estava com tom de formalidade excessiva, alterou-se nas últimas semanas após a saída do marqueteiro do governador Renan Filho, Adriano Gehres. Em seu lugar assumiu a marqueteira de Rui Palmeira, Renata Melo, que tem trabalhado em parceria com Ricardo Mello. Além de reforçar o número do candidato, passou a trazer mais emoção para suas propagandas e menos cordialidade com os adversários.
O candidato tem sido alvo de muitas críticas, especialmente por causa de suas alianças. Para responder aos ataques que vem recebendo tem buscando enfatizar sua trajetória pessoal e atuação à frente do Ministério Público do Estado (MPE) e na Secretaria de Segurança Pública no primeiro mandato de Renan Filho. Quanto aos apoios, tem enfatizado que não é dependente de grupos políticos e reforçado a importância dos parceiros para sua futura gestão.
Sua eventual vitória indicará a força do grupo de Calheiros na capital, além de fortalecer o nome de Rui para a disputa ao governo em 2022. Vale ressaltar, no entanto, que muitos outros aliados de Renan Filho e do senador Renan Calheiros vislumbram uma candidatura à sucessão do governo.
Crescimento nas pesquisas e apoio de Arthur Lira
O deputado estadual Davi Davino Filho (Progressistas) tem se destacado pelo bom desempenho nas pesquisas desde o início da campanha. É o candidato que apresentou a maior taxa de crescimento de intenção de votos e teve o maior tempo no HGPE, 3 minutos e 16 segundos.
É filho de Davi Davino, vereador que está concorrendo à reeleição para o oitavo mandato na Câmara Municipal de Maceió. Tem apoio do deputado federal Arthur Lira (Progressistas), líder do bloco conhecido como Centrão e também candidato à Presidência da Câmara dos Deputados. Apesar de não utilizar diretamente a imagem de Bolsonaro em sua campanha, o candidato tem reforçado a necessidade de manter uma boa relação com o governo federal.
Tem feito muitas críticas à gestão do atual prefeito da capital, mas tem apoio do atual secretário de saúde de Maceió, o ex-deputado federal José Thomaz Nonô (DEM). Em vários momentos de sua campanha, fez ataques aos seus principais adversários na disputa, mas mudou a estratégia na reta final. Tem se colocado como opção de renovação política para a cidade.
Sua eleição pode fortalecer o nome de Arthur Lira para a disputa para o Senado ou Governo do Estado em 2022. Outro nome que pode se beneficiar é o do atual presidente da Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE) que poderá se tornar vice-governador, caso Luciano Barbosa (MDB) vença a eleição em Arapiraca e assuma a prefeitura em 2022.
Independência, mas com apoio de Rodrigo Cunha e Ronaldo Lessa
João Henrique Caldas foi o candidato a deputado federal mais votado em Alagoas nas eleições de 2014 e 2018. Tem o apoio do ex-governador e ex-prefeito Ronaldo Lessa (PDT), candidato a vice na sua chapa. É filho do ex-deputado federal João Caldas e conta com o apoio do senador Rodrigo Cunha (PSDB).
Sua trajetória no âmbito do legislativo estadual e federal tem sido o escudo para rebater os ataques de seus opositores. Em sua atuação na Assembleia Legislativa ficou conhecido pelo combate à corrupção e apresentação de denúncias de supostas irregularidades em folhas de pagamento de servidores da Casa.
Em sua campanha tem se apresentado como candidato de renovação e independência da “velha política” alagoana, com duras críticas aos candidatos apoiados por Calheiros, Rui Palmeira e Arthur Lira. Caso tenha êxito eleitoral, e se torne o próximo prefeito da capital, tem chances de indicar e apoiar Rodrigo Cunha como candidato ao Governo do Estado em 2022. A primeira suplente de Rodrigo no Senado é a ex-prefeita de Ibateguara e sua mãe, Eudócia Caldas (PSB).
Participação dos candidatos nos debates
Foram realizados apenas dois debates eleitorais com os candidatos que disputam a prefeitura de Maceió. O primeiro ocorreu no último dia 10 no Portal ACTA e, apesar de convite estendido a todos os dez candidatos, três ausentaram-se: JHC, Davi Davino Filho e Cícero Almeida.
O segundo debate ocorreu no dia 12 na TV MAR e contou com a presença de sete dos oito candidatos convidados. Lenilda Luna (UP) e o ex-prefeito Corintho (PMN) não foram chamados. O ex-prefeito Cícero Almeida ausentou-se novamente.
Entre a apresentação de uma proposta e outra, as trocas de farpas entre os candidatos foram uma constante nos dois debates. Mesmo aqueles com pior desempenho eleitoral utilizaram o espaço para fazer críticas à gestão do atual prefeito, aos apoios políticos recebidos pelos adversários e se colocaram como alternativa para a Prefeitura da capital.
A reta final da campanha
A contabilização dos votos no domingo será marcada por muita apreensão e expectativa. O resultado trará não apenas os dois nomes que disputarão o segundo turno, mas também demonstrará a força de grupos políticos adversários na capital. Ter a Prefeitura será um bom trunfo para o fortalecimento de um projeto político que mira a disputa pelo comando do Governo do Estado em 2020.
Até o fechamento das urnas os candidatos estarão buscando conquistar votos, mas o certo é que a sorte de cada um já está lançada e amanhã teremos a resposta das urnas.
por Luciana Santana | out 13, 2020 | Cidades, Destaque 3
Na última sexta-feira (9), o Ibope e a TV Gazeta divulgaram resultados da primeira pesquisa de intenção de votos que aponta para uma disputa acirrada entre os dois primeiros colocados. Dentre as dez candidaturas registradas, Alfredo Gaspar de Mendonça (MDB) e JHC (PSB), tecnicamente empatados com 26% e 25%78 respectivamente, são os dois nomes mais fortes na competição, e podem levar a definição da eleição para o segundo turno.
Fonte: Pesquisa Ibope/TVGazeta de Alagoas 09/10/2020
A soma da intenção de votos nos demais candidatos é de 26%. Cícero Almeida (DC) tem 10%, Davi Davino (Progressitas) 5% e Lenilda Luna (UP) tem 3%. Josan Leite (Patriota), Ricardo Barbosa (PT) e Valéria Correia (Psol) têm 2% cada um. Cícero Filho (PC do B) e Corintho Campelo (PMN) também têm 1% cada.
Com o fim das coligações para eleição proporcional, uma das estratégias dos partidos de esquerda na capital tem sido impulsionar e dar visibilidade às candidaturas a vereador (a). A despeito dos demais partidos de esquerda, chama a atenção a intenção de votos da candidata Lenilda Luna, filiada ao mais novo partido político registrado no TSE, Unidade Popular (UP), que alcançou 3% na primeira pesquisa do Ibope.
Rejeição dos candidatos
Ainda de acordo com os dados da pesquisa Ibope, Cícero Almeida (DC), ex-prefeito e ex-deputado federal, é o candidato com menor potencial de crescimento, já que apresenta a maior taxa de rejeição. 49% dos entrevistados responderam que não votariam nele de jeito nenhum.
JHC é rejeitado por 21% dos entrevistados e Alfredo Gaspar de Mendonça por 17%. Os demais candidatos tiveram rejeição abaixo de 15%, conforme pode ser observado na figura a seguir.
Taxa de rejeição aos candidatos à prefeitura de Maceió
Fonte: Pesquisa Ibope/TVGazeta de Alagoas 09/10/2020
Uma disputa municipal com olhares voltados para 2022
Apesar da pesquisa apontar uma disputa acirrada, centrada nos dois primeiros colocados, e do tempo curto de campanha, é possível que outros candidatos cresçam até o dia das eleições. Mas pouco provável que alterem a situação atual. Podem, no entanto, ser peças estratégicas na composição de apoios aos candidatos em um eventual segundo turno.
Além do comando da capital, a disputa pelo governo do estado também faz parte do baralho eleitoral em Maceió.
Alfredo Gaspar de Mendonça é apoiado pelo governador Renan Filho (MDB) e também pelo atual prefeito, Rui Palmeira (sem partido). Há menos de um ano, ter os dois governantes lado a lado apoiando o mesmo candidato pareceria algo improvável. Todavia, os embates internos com a direção do PSDB estadual, que não aceitou a indicação de um nome próprio do partido para a disputa na capital, levaram à desfiliação de Rui e sua aproximação do governador, desde o início do ano.
Mendonça foi secretário da segurança pública no primeiro mandato de Renan Filho e pediu exoneração do cargo de procurador do estado para disputar a eleição. Seu candidato a vice é Tácio Melo (Podemos) indicado por Rui Palmeira. O lema de sua campanha é “pulso firme”, em referência aos êxitos de sua gestão no combate à criminalidade no estado.
Caso ele seja eleito prefeito, o governador ganha um reforço para a disputa ao Senado Federal em 2022, e Rui Palmeira à sucessão do governo estadual.
A disputa ao governo do estado também faz parte da ambição política de outros candidatos. O deputado federal João Henrique Caldas (JHC), filho do ex-deputado federal João Caldas e da ex-prefeita de Ibateguara, Eudócia Caldas, também quer ser eleito e influenciar a sucessão ao governo em 2022, apoiando o – possivelmente candidato – senador Rodrigo Cunha (PSDB). Seu vice é Ronaldo Lessa (PDT), ex-deputado federal, ex-governador de Alagoas e ex-prefeito de Maceió. O lema da campanha de JHC é “Prefeito de Verdade” e tem sido incisivo nas críticas às atuais gestões, tanto no estado, quanto em Maceió.
Candidatos bolsonaristas
Na última eleição presidencial, a capital alagoana deu proporcionalmente mais votos ao então candidato e atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido) do que as demais capitais do nordeste, tanto no primeiro quanto no segundo turno.
Muito embora vários dos atuais candidatos tenham declarado voto em Bolsonaro em 2018, apenas um candidato à prefeitura de Maceió, Josan Leite, se declara apoiador incondicional de Bolsonaro neste ano. Os demais candidatos não trouxeram Bolsonaro para a eleição municipal (pelo menos até então). Nem mesmo Davi Davino, apoiado pelo líder do “centrão”, Arthur Lira (Progressista).
Pandemia e desafios para as campanhas na capital
Apesar dos dados apresentados pela pesquisa do Ibope e das intenções futuras dos candidatos, é fundamental para os candidatos aproveitar o tempo disponível para campanhas e convencer o eleitor não apenas de que são melhores candidatos (as) à sucessão na capital, mas também de que é necessário ir às urnas votar em meio a uma pandemia.
Como há uma determinação da Justiça Eleitoral do estado para que os candidatos cumpram os decretos sanitários de controle do coronavírus, especialmente quanto ao distanciamento social, a campanha digital nas redes sociais e a propaganda de rádio e TV podem ser um diferencial na comunicação entre candidatos e eleitores. Mas ainda é cedo para fazer essa avaliação.
por Luciana Santana | set 30, 2020 | Cidades, Geral
As investidas do presidente Jair Bolsonaro no Nordeste não são recentes. Ainda durante a campanha eleitoral de 2018, ele buscou aproximar-se do eleitorado nordestino, fazendo uso de comportamentos simbólicos, como o ato de vestir o chapéu de cangaceiro à proposição de 13º salário a beneficiários do programa Bolsa Família. Havia também uma expectativa de que o Partido dos Trabalhadores (PT) perdesse capital político na região após a prisão do ex-presidente Lula e da agenda de combate à corrupção divulgada amplamente ao longo de campanha presidencial, especialmente pela redes sociais. Entretanto, os acenos não foram suficientes para impulsionar um bom desempenho eleitoral na região.
Mesmo com todos os imbróglios que envolveram a definição da candidatura petista, Bolsonaro viu seu principal adversário, Fernando Haddad (PT), conquistar uma base eleitoral fiel à Lula, obter 68% dos votos válidos no segundo turno, ganhar apoio de aliados nas disputas pelos governos estaduais e sair vitorioso em todos os estados nordestinos. Além do êxito eleitoral de Haddad, o PT também conquistou o governo em quatro estados: Bahia, Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte e teve apoio de candidatos de partidos aliados nos demais estados.
Embora haja uma associação muito forte entre o PT, Lula e a Região Nordeste, nem sempre os votos petistas estiveram tão identificados com a região. A preferência do eleitorado nordestino pelos candidatos petistas cresceu ao longo dos pleitos eleitorais. Como é possível observar no gráfico abaixo, na eleição de 2002, quando Lula venceu a disputa eleitoral, apenas 25% dos votos obtidos pelo PT se concentrou na Região Nordeste. Esse percentual subiu para 33% nas eleições de 2006 e 2010, e alcançou 37% em 2014, com a reeleição de Dilma Rousseff (PT). Fernando Haddad deu ao PT sua votação mais expressiva até então, 43%.
Gráfico: Porcentagem de votos válidos obtidos pelo Partido dos trabalhadores (PT) na região Nordeste (2002-2018)
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
O crescimento do PT no Nordeste está muito atrelado a adoção de políticas substantivas, especialmente às políticas sociais que impulsionaram mudanças estruturais na região. Desta forma, não há dúvidas, por exemplo, quanto à efetividade e importância do Bolsa Família, considerado um programa de transferência de renda importante e bem sucedido, e que contribuiu para a redução da extrema pobreza, conforme dados do relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2015. Do ponto de vista estratégico, Bolsonaro poderia ter utilizado essas políticas para se reaproximar dos eleitores nordestinos, mas não o fez, pelo contrário. Além dos cortes realizados anteriormente, em plena pandemia o governo federal autorizou cortes em 158 mil beneficiários, sendo 61% deles concentrados na Região Nordeste. A situação foi revertida e suspensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF), após ação dos governadores. Aqui, fica evidente que o Bolsa Família não estava sendo cogitado como alternativa para a criação de uma ponte em Bolsonaro e os eleitores nordestinos.
Entretanto, com a execução do auxílio emergencial, ele pode perceber melhora na sua popularidade e um espaço para novas investidas na região. Sua estratégia é eleitoral, com antena voltada para 2022. Mas se prender ao auxílio é pouco, pois tem prazo de validade, e parte significativa de sua base eleitoral não é muito afeita a programas de transferência de rendas.
Então, porque novas investidas na Região Nordeste diante deste cenário? Apesar das pesquisas de opinião apontarem favoritismo de Bolsonaro, o caminho que o leva à reeleição ainda é longo. Ele precisa de um partido, apoio político no âmbito do legislativo que garanta sua governabilidade até o final do mandato e ampliar sua base de apoio em redutos que foram avessos a ele na última eleição. Bolsonaro tem oferta para se filiar a alguns partidos – inclusive com chances de voltar ao PSL, mas nada definido. Ademais, o Nordeste é um campo fértil para crescer e ampliar base de apoio. A região concentra praticamente ⅓ dos parlamentares do Congresso Nacional, ou seja, além da aproximação mais recente de algumas lideranças de partidos da centro-direita na Câmara dos Deputados, ampliar sua base de apoio entre prefeitos e vereadores será um diferencial. Isso contribui, inclusive, para que possa apoiar aliados na disputa pelos governos estaduais em 2022. Seu objetivo é chegar em lugares, hoje, ocupados pela esquerda na região, e dos nove governadores nordestinos, apenas três deles poderão concorrer à reeleição.
Ou seja, as novas investidas na Região Nordeste apenas começaram, há muito mais por vir.