Sarto se distancia de candidato bolsonarista e é o favorito na disputa

Sarto se distancia de candidato bolsonarista e é o favorito na disputa

Pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha nos dias 18 e 19 de novembro aponta favoritismo de Sarto (PDT) no segundo turno em Fortaleza. O candidato pedetista obteve 50% da intenção de votos dos entrevistados, enquanto o candidato alinhado a Bolsonaro, Capitão Wagner (PROS), ficou com 36%. 10% dos entrevistados mencionaram a intenção de anular ou votar em branco, e 4% estão indecisos.

Excluindo as intenções de votos não válidos, Sarto teria 59% contra 41% do seu adversário.

Sarto é o candidato da situação e tem o apoio do atual prefeito Roberto Claúdio (PDT), Camilo Santana (PT) e da família dos Ferreira Gomes, que tem se mantido fora dos holofotes.

Ao longo do primeiro turno, Wagner tentou esconder o alinhamento com o presidente, despersonalizando o apoio de Bolsonaro ao se referir às boas relações com o governo federal como necessárias ao futuro gestor da capital cearense.

Como foi o primeiro turno?

A eleição na capital cearense tem sido bastante acirrada desde o início, marcada por uma disputa apertada entre os três primeiros colocados nas pesquisas de intenção de votos.

Os eleitores escolheram Sarto e Capitão Wagner para a disputa do segundo turno, tendo o primeiro recebido 35,72% dos votos e o segundo 33,32%. Luizianne Lins (PT), que nas primeiras sondagens eleitorais aparecia em segundo lugar, após campanha agressiva de adversários, viu seus índices de intenção de votos derreterem e finalizou o primeiro turno com 17,76% dos votos.

Na Câmara Municipal, o PDT foi o grande vitorioso nas eleições na capital cearense. Sozinho, o partido obteve 10 das 43 cadeiras em disputa, quase ¼ do total de vereadores.

O restante das cadeiras ficou dividido entre outros 16 partidos, dos quais sete compõem a coligação governista, totalizando mais 15 vereadores. No resultado geral, além da significativa fragmentação partidária (17 agremiações), já é possível vislumbrar blocos que protagonizarão os embates na Câmara.

O quadro que se montou no legislativo municipal espelhou a polarização e a disputa acirrada entre Sarto e Wagner. O PROS conseguiu cinco cadeiras além de, pelo menos, outras sete de vereadores eleitos por partidos aliados. Personagens que serão importantes cabos eleitorais para ambos os candidatos que se enfrentam no segundo turno.

Apoio, campanha e estratégias

Interessante notar que, antes mesmo de encerrado o período de campanhas no primeiro turno, Wagner já fazia acenos a Luizianne. Ao reconhecer as realizações na gestão da ex-prefeita, busca capturar parcela do eleitorado petista.

A despeito desses acenos, Wagner galvanizou o campo conservador em Fortaleza e, como um dos últimos atos de campanha no primeiro turno, fez lives com lideranças bolsonaristas de segmentos religiosos e não rejeitou o apoio oferecido pelo presidente Bolsonaro. Isso pode dificultar a aproximação com os eleitores de Luizianne na segunda etapa da disputa.

A estratégia de Sarto tem sido a de, mobilizando o embate contra o campo alinhado ao bolsonarismo no Ceará, atrair o eleitorado que rejeita o presidente mirando no voto útil.

47% dos entrevistados na pesquisa Ibope do dia 14 de novembro consideram o governo Bolsonaro ruim ou péssimo, 25% consideram regular e apenas 26% consideram o governo bom ou ótimo.

Camilo Santana: de corpo e alma na campanha de Sarto

A declaração explícita de apoio do governador Camilo Santana (PT) ao candidato pedetista veio na tarde da segunda-feira (16). Em pronunciamento oficial, Camilo reafirmou o compromisso com a democracia e convidou os demais partidos e candidaturas a somarem forças contra o que chamou de “candidato que usou a política da violência para buscar atingir os seus objetivos pessoais”.

O apoio de Camilo tem sido importante para Sarto, pois é visto como um dos principais cabos eleitorais na capital com potencial de transferência de voto e bons índices de aprovação.

Na última pesquisa Ibope, divulgada no dia 14 de novembro, a avaliação do governo estadual aparece como positiva (ótimo/bom) para 56% dos entrevistados. Para 30% o governo tem sido regular e apenas 12% avaliam negativamente (ruim ou péssimo).

O apoio do governador foi disputado tanto por Sarto quanto por Luizianne no primeiro turno. Sem as amarras legais (e morais) que impediam o apoio explícito à Sarto quando Luizianne ainda estava concorrendo, Camilo tem se sentido mais à vontade no segundo turno para participar ativamente dos eventos e programas do pedetista.

Sarto recebe apoio do PT

Quanto ao PT, o partido oficializou apoio à candidatura trabalhista na manhã de terça-feira (17). A Executiva Municipal, por unanimidade, decidiu pelo apoio a Sarto como alternativa ao bolsonarismo na capital. Em nota, o partido afirmou “a responsabilidade política de combater e derrotar o projeto fascista de Bolsonaro (…) representados pela candidatura de Wagner”.

Resta saber em que medida deverá ser o envolvimento do partido na campanha de Sarto, visto o desgaste entre as legendas depois das propagandas ofensivas contra a petista, além das rusgas entre Luizianne Lins e os irmãos Ferreira Gomes.

Apoios a Sarto para frear avanço bolsonarista

Outros candidatos que também disputaram a prefeitura de Fortaleza já se posicionaram. Foi o caso do deputado estadual Heitor Ferrer (SD). Ferrer, que se colocou como candidato independente e sem padrinhos políticos durante todo o primeiro turno, se declarou neutro e não pretende apoiar nenhum dos candidatos que avançaram para o segundo turno.

Com a quarta maior votação (63.199 votos ou 4,93% dos votos válidos), Ferrer parabenizou Sarto e Wagner e afirmou que seu “eleitor caracteriza-se por sua independência e seu discernimento. Ele segue sua consciência e seu juízo de valores. Ele é senhor do seu voto e sabe o que é melhor para a sua cidade. Em respeito a esse eleitor, não iremos aderir a nenhuma candidatura no segundo turno”.

Conforme as expectativas, partidos do campo progressista, como PSOL e PCdoB, declararam-se contrários ao candidato apoiado pelo presidente Bolsonaro. Em nota, o PCdoB afirmou apoiar as candidaturas de Sarto em Fortaleza e de Naumi Amorim (PSD) em Caucaia. Segundo a legenda, é importante marcar posição “para derrotarmos Bolsonaro e seus candidatos nas duas maiores cidades do Ceará. Todo apoio a Sarto em Fortaleza e Naumi em Caucaia”. O candidato do PCdoB, professor Anízio Melo, teve menos de 1% dos votos válidos.

Ao longo das gestões pedetistas na capital cearense, o PSOL sempre esteve no campo da oposição. No entanto, para o segundo turno das eleições, Renato Roseno (PSOL) declarou interesse em “derrotar o bolsonarismo”. O partido confirmou apoio a Sarto, mas sem fechar aliança programática com PDT. Roseno foi o sexto mais votado, com 34.346 votos (2,68% dos votos válidos).

Partidos como PV, PATRIOTA e UP, que disputaram as eleições majoritárias em Fortaleza, engrossaram as fileiras de uma frente partidária antibolsonarista que pode dar musculatura a Sarto.

Esperava-se que o PSL, de Heitor Freire, pela convergência de programas e pautas ideológicas, fechasse apoio a Wagner. No entanto, a sigla preferiu a neutralidade por entender que não se identificava com nenhuma das candidaturas que avançaram ao segundo turno. Freire teve 4,93% dos votos válidos no primeiro turno (65.199 votos).

Abstenção eleitoral e desafios na reta final da campanha

Na reta final da campanha, os candidatos não podem desconsiderar um possível aumento na abstenção eleitoral, seja devido ao contexto pandêmico, seja pela ausência de votação para vereadores, já finalizada no primeiro turno.

O primeiro turno já apresentou aumento em relação à eleições anteriores. Em 2012, a porcentagem de eleitores que não compareceu para votar foi de 16,02%, subindo para 17,04% em 2016 e chegando a 21,84% nesse pleito – o que corresponde a um total de 397.774 eleitores.

Wagner tem o desafio de atrair eleitores dos adversários. O candidato intensificou a agenda de campanhas e mira no eleitorado daqueles que declararam neutralidade. A seu favor, tem uma militância forte e engajada que pode fazer muita diferença nesses últimos dias que antecedem o segundo turno.

Para Sarto, a situação tem sido mais tranquila, entretanto a eleição só se encerra nas urnas. E o eleitor fortalezense gosta de surpreender.

*Monalisa Torres é doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará. É professora da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e pesquisadora vinculada ao Laboratório de Estudos sobre Políticas, Eleições e Mídia (Lepem/UFC).
Luciana Santana é mestre e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, com estância sanduíche na Universidade de Salamanca. É professora adjunta na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), líder do grupo de pesquisa: Instituições, Comportamento político e Democracia, e atualmente ocupa a vice-diretoria da regional Nordeste da ABCP.

Esse texto foi elaborado no âmbito do projeto Observatório das Eleições de 2020, que conta com a participação de grupos de pesquisa de várias universidades brasileiras e busca contribuir com o debate público por meio de análises e divulgação de dados. Para mais informações, ver: www.2020.observatoriodaseleicoes.com.br.

Flávio Dino entra em campanha no segundo turno de São Luís

Flávio Dino entra em campanha no segundo turno de São Luís

Ananda Marques e Luciana Santana*

A primeira pesquisa realizada pelo Instituto Ibope/ TV Mirante no segundo turno, divulgada ontem (20), apresenta o candidato Eduardo Braide (Podemos) com 49% das intenções de votos contra 42% do seu adversário Duarte Júnior (Republicanos). 7% dos entrevistados informaram que votarão branco ou nulo e 2% estão indecisos.

Na simulação apenas com os votos válidos, se a eleição fosse hoje, 54% dos entrevistados elegeriam Braide. Duarte Jr teria 46%.

Na simulação realizada pelo Ibope, ainda no primeiro turno, em pesquisa divulgada no dia 13 de novembro, Braide venceria com 51% e Duarte Júnior faria 32%. Apesar de o segundo turno ser considerado uma nova eleição, e ser influenciada por outros fatores, é possível identificar crescimento no desempenho de Duarte Júnior ainda na primeira semana de campanha no segundo turno.

E o que tem influenciado esse crescimento? Uma das hipóteses é que a entrada de Flávio Dino (PCdoB) em sua campanha tenha contribuído para melhorar seu desempenho. Entretanto, ainda não é possível vislumbrar se esse crescimento pode possibilitar uma virada. A próxima semana será decisiva.

Quem são Braide e Duarte Júnior?

Braide, filho do ex-deputado estadual Antônio Carlos Braide, iniciou sua carreira política em cargos eletivos no ano de 2010 ao ser eleito deputado estadual pelo PMN. Em 2014, foi reeleito pelo mesmo partido. Disputou a eleição municipal de São Luís em 2016 com uma candidatura que surpreendeu, mas ao fim perdeu no segundo turno para Edivaldo Holanda Júnior. Foi eleito deputado federal em 2018 e, ainda no mandato, tenta mais uma vez tornar-se chefe do executivo na capital do Maranhão.

Duarte Jr foi presidente do Procon no primeiro mandato de Flávio Dino e eleito deputado estadual pelo PCdoB em 2018, sendo o mais bem votado de toda a história de São Luís e o terceiro mais bem votado no estado. No começo deste ano, em razão de disputas internas dentro do partido, migrou para o Republicanos, partido do vice-governador Carlos Brandão, para ser candidato à Prefeitura.

A sucessão da Prefeitura de São Luís chama a atenção porque, de alguma forma, o resultado refletirá não apenas o contexto de disputas internas que deságuam na sucessão ao governo estadual em 2022, como também a força de uma possível candidatura de Flávio Dino à Presidência da República ou sua liderança em uma frente ampla no espectro da centro-esquerda.

Diferentemente do comportamento que adotou no primeiro turno, o governador Flávio Dino entrou em campanha e, não apenas declarou apoio a um dos candidatos, no caso Duarte Júnior (Republicanos), mas também convocou todo o secretariado e bases de seu governo para turbinar a campanha do ex-presidente do Procon.

Ainda sobre o primeiro turno

As candidaturas do primeiro turno estavam organizadas em três grupos: um bloco de candidatos que atuaram na gestão do governador Flávio Dino (PCdoB) e, portanto, disputavam seu espólio, apesar da neutralidade anunciada por ele. Um segundo grupo, que se opunha ao governo estadual. E um último conjunto de candidatos que se colocava como “terceira via”. Esse cenário indica que a gramática política das eleições 2020 na capital giram em torno da figura de Dino, e não mais de Sarney.

A estratégia adotada pelo governador foi de se manter neutro, mesmo com uma candidatura de seu partido – Rubens Jr, deputado federal do PCdoB e ex-secretário de Cidades na gestão estadual, recebeu 10,58% dos votos.

Essa neutralidade deve-se ao fato de que a corrida pela Prefeitura de São Luís tornou-se uma prévia da disputa entre os grupos políticos que compõem a coalizão de Dino. De um lado, o vice-governador Carlos Brandão (Republicanos, anteriormente PSDB) apoiando Duarte Jr. E de outro, o senador Weverton Rocha (PDT) apoiando Neto Evangelista (DEM), ex-secretário de Desenvolvimento Social e deputado estadual.

A coligação de Dino em 2018, contra Roseana Sarney (MDB), tinha 16 partidos e atingiu seu ápice ao reelegê-lo. Nos últimos dois anos, a coalizão tem se fragmentado devido ao reposicionamento dos atores tendo em vista 2022. Quem será o sucessor de Flávio Dino? A prefeitura de São Luís pode projetar uma liderança alguns passos à frente nesta corrida.

Em 2016, Braide chegou ao segundo turno como novidade, apesar de ser um político de carreira. Sua imagem de renovação conquistou o eleitorado da capital e o manteve na liderança das intenções de voto. O então prefeito, Edvaldo Holanda (PDT) foi reeleito na esteira do apoio de Dino. A eleição de São Luís foi um termômetro para 2018. Ao que parece, 2020 aponta para o mesmo sentido.

Flávio Dino e Braide

A pesquisa IBOPE em São Luís, divulgada em 14 de novembro, apontava 44% de aprovação e 17% de reprovação da gestão do governador, contra 20% de aprovação e 57% de reprovação de Jair Bolsonaro.

Essa rejeição ao presidente engendrou narrativas de que tanto Braide, quanto Duarte, devido às ligações nacionais de seus partidos, seriam bolsonaristas. Porém, apenas um candidato declarou-se oficialmente bolsonarista em termos ideológicos: Silvio Antonio (PRTB), que teve 3,14% dos votos.

A preferência do eleitorado por Braide e a alta aprovação de Dino podem parecer incoerentes se analisarmos a partir do diapasão bolsonarismo x antibolsonarismo. Mas, se olharmos para o fato de que a população ludovicense não associa Braide a Bolsonaro e que as múltiplas candidaturas do campo governista diluíram a transferência de votos do governador, faz bastante sentido o cenário que se desenhou.

Bolsonarismo e os apoios no 2° turno

Os candidatos ligados à base governista dividiram-se. Enquanto Rubens Jr, após pedido de desculpas público de Duarte Jr, declarou voto no candidato republicano, Neto Evangelista anunciou, apesar dos ataques proferidos contra Braide nos debates do primeiro turno, voto no candidato do Podemos.

O apoio de Neto à Braide coloca em xeque os esforços de Dino para manter sua coalizão unida. A solução encontrada até o momento foi o PDT municipal apoiar Braide e o estadual manter-se neutro. Porém, não se sabe ao certo até que ponto será possível sustentar certas incoerências.

Dois apoios importantes foram o do PSL à Duarte Jr e o do candidato bolsonarista Silvio Antonio à Braide. O discurso governista é de que Braide é o candidato de Bolsonaro na eleição, e portanto, seria esta uma disputa semelhante à eleição de 2018. Mas o que se percebe até aqui é que se trata de um embate entre Flávio Dino e Eduardo Braide, como já havia acontecido em 2016 na disputa entre Edvaldo e Braide. Entretanto, desta vez, o candidato apoiado por Dino é mais controverso e com alianças mais ambíguas do que as que foram construídas quatro anos atrás.

Para além do que tem acontecido na campanha de segundo turno de muitas capitais brasileiras, o caso ludovicense demanda uma análise mais acurada sobre as forças políticas em disputa e as narrativas que estão sendo construídas na esteira deste suposto duelo entre bolsonarismo e antibolsonarismo.

São Luís é palco de embates complexos, sendo um caso interessante de como uma coalizão subnacional tem sentidos próprios mas é também referenciada pelos debates nacionais. E principalmente de como certas alianças locais podem não fazer sentido nacionalmente e vice-versa.

Quem sai fortalecido no Maranhão?

Quanto às demais prefeituras no estado, temos o seguinte cenário: o PCdoB foi de 46 para 22 prefeituras e foi derrotado em cidades importantes, como Imperatriz e Caxias; o PDT cresceu de 29 para 41; o PL, anteriormente PR, foi de sete para 39; e o Republicanos, antes PRB, foi de 14 para 24.

Portanto, apesar da coalizão que forma a base do governo de Flávio Dino ter avançado, seu partido perdeu espaço significativo.

Já os partidos da oposição tiveram um desempenho tímido: o PSDB, que compôs a base do governo anteriormente e se tornou oposição com a ruptura de Roberto Rocha, foi de 29 prefeituras em 2016 para apenas quatro em 2020. O MDB, partido da família Sarney, foi 22 para sete. Estes números indicam que a disputa pelo poder no Maranhão tem sido travada dentro do próprio governo de Dino e não mais entre o governo e a oposição.

* Ananda Marques é mestra em Ciência Política pela Universidade Federal do Piauí. É professora e pesquisadora dedicada a temas tais como políticas sociais na América Latina e coalizões no âmbito subnacional.
Luciana Santana é mestre e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, com estância sanduíche na Universidade de Salamanca. É professora adjunta na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), líder do grupo de pesquisa: Instituições, Comportamento político e Democracia, pertence à Red Politólogas e atualmente ocupa a vice-diretoria da regional Nordeste da ABCP.

Esse texto foi elaborado no âmbito do projeto Observatório das Eleições de 2020, que conta com a participação de grupos de pesquisa de várias universidades brasileiras e busca contribuir com o debate público por meio de análises e divulgação de dados. Para mais informações, ver: www.2020.observatoriodaseleicoes.com.br

Quais são os segredos de Kalil

Quais são os segredos de Kalil

Alexandre Kalil (PSD) está entre os grandes vencedores desta eleição. Político com estilo próprio, não foi gerado e nem nutrido em nenhum dos grandes partidos. Tem se destacado desde a sua eleição para prefeito de Belo Horizonte, em 2016. 

Duas características o diferenciam de quase todos os candidatos da atual onda de antipolítica: de um lado, Kalil preocupa-se com políticas públicas e resgata a tradição de atuação eficiente nesse campo criada pelo Partido dos Trabalhadores (PT) na cidade desde 2003. De outro, adere a movimentos contra o establishment político e aproxima-se dos candidatos neopentecostais na Câmara dos Vereadores. Até a eleição deste domingo (15), Belo Horizonte tinha 13 pastores evangélicos vereadores. Kalil foi responsável pela eleição deles, mas não hesitou nenhum minuto em enfrentá-los quando foi necessário. 

Alexandre Kalil parece ser dos poucos políticos que consegue ter um pé em cada um dos mundos da polarização política que existe no Brasil hoje. E isso lhe dá apoio popular.

Examinemos um pouco mais as políticas públicas da era Kalil. O prefeito reeleito em Belo Horizonte assumiu a Prefeitura no auge da crise econômica. Seu antecessor penalizou fortemente as políticas sociais para a população mais pobre nos dois primeiros anos da crise. 

No início da sua administração, Kalil aproximou-se de políticos petistas com forte tradição na área de políticas sociais e com isso reconstruiu políticas sociais importantes na cidade. Aumentou o número de equipes que lidam com a população de rua e conseguiu melhorar uma situação de crise, ao reabrir o restaurante popular fechado por Márcio Lacerda (sem partido). 

Kalil também seguiu a tradição existente em BH ao propor o novo Plano Diretor Municipal que diminui fortemente a possibilidade de construção na parte central da cidade reduzindo o coeficiente de aproveitamento das áreas urbanas para 1,0. 

O plano, que foi gerado na IV Conferência Municipal de Política Urbana, recebeu a oposição de toda a área de especulação imobiliária da cidade, mas o prefeito seguiu em frente reforçando uma concepção construída em parceria com entidades da sociedade civil. 

Quando olhamos Belo Horizonte pelo lado das políticas públicas, percebemos o porquê do sucesso de Kalil. Ele deu continuidade a um conjunto de iniciativas herdeiras da gestão do ex-prefeito Patrus Ananias (PT). Graças a isso não representou uma polarização com o eleitorado de esquerda na cidade.

Ao mesmo tempo, Kalil adotou uma política de enfrentamento verbal com a esquerda, especialmente com o PT, e de cooptação pontual da sua base de apoio conservadora na Câmara dos Vereadores. 

No momento da votação do Plano Diretor Municipal na Câmara, quando o prefeito enfrentava a ira da poderosa Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e do lobby das grandes empresas de engenharia da cidade, ele negociou pontualmente com a bancada evangélica a retirada de limitações para a construção e reforma em templos religiosos. Igrejas e templos foram excluídos do pagamento da outorga onerosa, a taxa que construções acima do coeficiente de 1,0 são obrigados a pagar. 

O maior conflito de Kalil com a bancada evangélica deu-se em torno do projeto da “Escola Sem Partido”. Aprovado na Câmara dos Vereadores de Belo Horizonte em primeiro turno, até hoje não foi votado em segundo turno. Kalil conseguiu diminuir a velocidade da tramitação do projeto sem se opor abertamente a ele e o projeto acabou não sendo votado. Assim, uma proposta que entornaria o caldo na relação entre prefeito e bancadas conservadoras na Câmara foi posto em banho maria e provavelmente não terá apoio na próxima legislatura.

Kalil foi dos poucos políticos brasileiros que conseguiu equilibrar-se na polarização brasileira. Mas foi durante a pandemia que ele reforçou sua concepção de independente, tendo sido ali que fortaleceu a imagem de eficiente na implementação de políticas públicas. 

Belo Horizonte foi a primeira grande capital a fechar o comércio e conseguiu ter baixos índices de transmissão do coronavírus até o início de junho. Foi também uma das poucas capitais a reverter a abertura do comércio no mês de julho, quando Kalil foi fortemente atacado pela Associação Comercial. Sua resistência aos lobbies de direita lhe valeram o apoio de parte da esquerda. 

O segredo de Kalil é implementar agendas de esquerda e conseguir compor pontualmente com os interesses conservadores da cidade. A esquerda fica feliz porque sua agenda é implementada. E a direita fica feliz porque tem acesso ao prefeito e compõe pontualmente em causas de interesse próprio que é a grande agenda dos setores conservadores em nosso país.

Atual prefeito de Aracaju lidera e vai ao segundo turno contra Delegada

Pâmella Synthia Santos e Luciana Santana* 

A eleição do próximo prefeito ou prefeita da capital sergipana será decidida apenas em segundo turno. É o que apontam os dados da terceira rodada de pesquisas do Instituto Ibope divulgada na última quinta-feira (12). A disputa será entre o atual prefeito, Edvaldo Nogueira (PDT), e a Delegada Danielle (Cidadania).

O desempenho do pedetista nas pesquisas melhorou desde a primeira rodada realizada em outubro. O candidato à reeleição tinha 32% das intenções de voto e agora tem 36%.

Sua principal adversária, Delegada Danielle, sem trajetória na política e disputando sua primeira eleição, chegará ao segundo turno apresentando desempenho estável nas pesquisas eleitorais. No início de outubro tinha 21%, oscilou negativamente e perdeu 2 pontos na segunda rodada. Agora voltou a ter 21% das intenções de votos.

O deputado estadual e apoiador do presidente Jair Bolsonaro, Rodrigo Valadares (PTB), seguiu em ritmo de queda e, desde a primeira pesquisa, perdeu 8 pontos percentuais. Atingiu 10%, mesmo percentual do candidato petista, Márcio Macêdo.

Figura 1: Desempenho dos candidatos nas pesquisas Ibope

Fonte: Instituto Ibope

Ataques nas propagandas eleitorais

Os embates entre os candidatos ocorrem desde o início do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE). Inclusive, vários pedidos de retirada de propaganda têm sido apresentados na Justiça Eleitoral, evidenciando que a disputa não segue em clima de tranquilidade.

Rodrigo Valadares é um dos mais punidos pelo juiz da 27ª Zona Eleitoral de Sergipe, José Pereira Neto. Primeiro, o deputado estadual acabou descumprindo a decisão de direito de resposta em suas redes sociais para Edvaldo, chegando a passar de R$ 200 mil de multa, e, segundo, teve o direito de veiculação de propaganda gratuita retirado por ter utilizado conteúdo vedado pelo Código Eleitoral.

Ao se apresentar como representante da direita conservadora, Rodrigo faz uma campanha negativa contra seus adversários. Além de criticar a atual gestão, refere-se ao prefeito como membro de uma “esquerda comunista”. Chama a candidata Danielle de “delegada raivosa” e tenta enquadrá-la como parte da “velha política”, por ter como vice o ex- deputado federal Valadares Filho (PSB).

Suas estratégias são, segundo o juiz, de degradação e difamação da imagem do candidato à reeleição, comportamento que o deputado já vinha adotando, desde o início do seu mandato, em relação a um dos principais apoiadores do prefeito, o governador sergipano, Belivaldo Chagas (PSD).

Danielle também sofreu com os ataques de Rodrigo. Tem associado a candidata ao “senador da censura da internet”, referindo-se a Alessandro Vieira. Para se defender, a Delegada tem reafirmado constantemente que ela é quem toma os rumos de sua campanha, como forma de demonstrar sua autonomia perante o senador.

Carreatas e redes sociais

Diferentemente de eleições anteriores, as emissoras de TV decidiram não promover debates. A decisão não foi bem recebida pelos candidatos, que fizeram várias críticas mas aproveitaram a oportunidade para desafiar os adversários para um debate público.

A candidata Danielle Garcia utilizou seu programa eleitoral e as redes sociais para desafiar o atual prefeito para um debate sobre a cidade. Rodrigo Valadares também desafiou Danielle e Edvaldo. Macêdo não ficou de fora e também usou suas redes sociais para provocar a Delegada. Edvaldo não respondeu aos desafios.

Com a ausência de debates na TV e de poucos eventos nas ruas da capital, devido à pandemia de Covid-19, a troca de farpas tornou-se uma constante nas redes sociais e programas eleitorais dos candidatos.

Para se aproximarem dos eleitores, os candidatos têm optado pelas carreatas nos diferentes bairros aracajuanos.

Com candidatura pura, petista não decola

Na capital do estado que já foi governado pelo PT, a candidatura do ex-deputado federal Márcio Macêdo não conseguiu deslanchar. Nem mesmo com o apoio da cúpula do PT, do senador Rogério Carvalho, do deputado federal João Daniel e da vice-governadora Eliane Aquino.

 Ainda na fase de negociações da candidatura, a estratégia adotada pelo partido em Aracaju foi criticada por outras lideranças partidárias que esperavam uma aliança com o prefeito.

Ao longo da campanha, Macedo chegou a confrontar o atual prefeito e o governador Belivaldo Chagas, ressaltando o desafio de enfrentar “duas máquinas públicas fortes”.

Seja como for, está claro que o PT não acertou o alvo ao entrar no embate contra Edvaldo. Não adotou estratégias que pudessem impulsionar a candidatura visando a disputa do segundo turno.

Força de Edvaldo na reta final

Apesar das constantes difamações que vem sofrendo ao longo da campanha pelos seus adversários, o prefeito Edvaldo conseguiu chegar às horas decisivas como o preferido da população aracajuana para continuar à frente do executivo. Resta esperar o impacto desse confronto nas eleições de 2022.

* Pâmella Synthia Santos é doutora e mestra em Sociologia e cientista social pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) com pesquisas desenvolvidas sobre Grupos Políticos, Famílias e Partidos.
Luciana Santana é mestre e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, com estância sanduíche na Universidade de Salamanca. É professora adjunta na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), pertence à Red Politólogias, é líder do grupo de pesquisa: Instituições, Comportamento político e Democracia, e atualmente ocupa a vice-diretoria da regional Nordeste da ABCP.

Esse texto foi elaborado no âmbito do projeto Observatório das Eleições de 2020, que conta com a participação de grupos de pesquisa de várias universidades brasileiras e busca contribuir com o debate público por meio de análises e divulgação de dados. Para mais informações, ver: www.2020.observatoriodaseleicoes.com.br

Três grupos políticos movimentam a reta final da eleição de Maceió

Três grupos políticos movimentam a reta final da eleição de Maceió

Luciana Santana*

A eleição em Maceió promete muitas emoções até a contabilização dos últimos votos no próximo do domingo. Pesquisas e análises anteriores apontavam que a definição do próximo prefeito se daria em dois turnos e apontavam os dois nomes prováveis para a disputa, JHC (PSB) e Alfredo Gaspar de Mendonça (MDB). Nas últimas semanas, entretanto, essa situação já não existe mais. O cenário é de muita indefinição.

E o que mudou? O candidato Davi Davino Filho (Progressistas), que aparecia em quarto lugar, com 5% das intenções de votos na pesquisa Ibope realizada no início de outubro, cresceu 14 pontos, atingindo 19% na última rodada Ibope divulgada na quarta (11). O candidato está tecnicamente empatado com os dois primeiros colocados e tem boas chances de ir para a disputa do segundo turno.

Candidaturas e desempenho nas pesquisas eleitorais

A figura abaixo mostra o desempenho dos candidatos em pesquisas realizadas desde o início do mês de outubro. Houve pouca mudança na evolução de intenção de votos para os dois candidatos mais bem colocados nas pesquisas.

O ex-procurador do estado Alfredo Gaspar de Mendonça tem se mantido mais estável e tem 26% das intenções de votos. Apresentou oscilação negativa na segunda rodada de pesquisa Ibope, mas se recuperou na última. O deputado federal JHC também tem se mantido estável dentro da margem de erro, teve duas oscilações negativas e tem 22% das intenções de voto.

O deputado estadual Davi Davino Filho foi o candidato que obteve o melhor desempenho, com bom potencial de crescimento. Já o ex-prefeito maceioense Cícero Almeida (DC) teve queda de 7 pontos percentuais nas pesquisas e tem apenas 3%.

O único candidato que associa sua imagem a do presidente Bolsonaro, Josan Leite (Patriotas), não conseguiu obter mais do que 3% da intenção de votos. As demais candidaturas somadas não ultrapassam 4% .

Gráfico 1- Desempenho dos candidatos em pesquisas IBOPE

Fonte: Instituto Ibope

Os resultados de institutos de pesquisas locais (DataSensus e Ibrape) também tem apontado empate técnico entre os três primeiros candidatos, mas com alteração na ordem dos nomes. Seja como for, nenhum instituto crava o resultado do dia 15 de novembro, mas sugerem três cenários possíveis para o segundo turno: 1) Alfredo Gaspar de Mendonça X JHC 2) JHC X Davi Davino ou 3) Davi Davino X Alfredo Gaspar de Mendonça.

Rejeição dos candidatos

O campeão de rejeição na última pesquisa Ibope é o ex-prefeito da capital, Cícero Almeida (DC) com 48%. É seguido pelo ex-vereador Ricardo Barbosa (PT) com 23%. A candidata menos rejeitada é Valéria Corrêa (PSOL) com 11%.

Entre os candidatos mais cotados para a disputa do segundo do turno, Alfredo Gaspar de Mendonça (MDB) tem 22%, JHC (PSB) 18% e Davi Davino Filho (Progressistas) 14% de rejeição.

  A rejeição dos demais candidatos variou de 13 a 16%. Lenilda Luna (UP) teve 16%, Cícero Filho (PCdoB) 14%, Corintho Campelo (PMN) 13% e Josan Leite (Patriota) 13%.

Ataques e contra-ataques marcam a disputa pelo segundo turno

Como o atual cenário é de muita indefinição sobre quais serão os dois candidatos que disputarão a prefeitura da capital no segundo turno, os ataques e contra-ataques se intensificaram na reta final das campanhas eleitorais.

Além do aumento da circulação de panfletos, memes e mensagens negativas apócrifas por meio de aplicativos de mensagens, é possível perceber mudanças no comportamento dos candidatos mais bem posicionados nas pesquisas. Os três líderes na intenção de voto subiram o tom em suas propagandas eleitorais, seja para responder a ataques ou para enfatizar os apoios ou apadrinhamentos políticos de seus adversários.

Ex-procurador e candidato governista

Como se sabe, Alfredo Gaspar de Mendonça (MDB) é ex-secretário de segurança pública de Alagoas, ex-procurador do Estado e pediu exoneração para concorrer à Prefeitura da capital. Conta com o apoio do atual prefeito Rui Palmeira (sem partido) e do governador Renan Filho (MDB).

Mendonça teve o segundo maior tempo no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE), 2 minutos e 36 segundos. Sua campanha, que estava com tom de formalidade excessiva, alterou-se nas últimas semanas após a saída do marqueteiro do governador Renan Filho, Adriano Gehres. Em seu lugar assumiu a marqueteira de Rui Palmeira, Renata Melo, que tem trabalhado em parceria com Ricardo Mello. Além de reforçar o número do candidato, passou a trazer mais emoção para suas propagandas e menos cordialidade com os adversários.

O candidato tem sido alvo de muitas críticas, especialmente por causa de suas alianças. Para responder aos ataques que vem recebendo tem buscando enfatizar sua trajetória pessoal e atuação à frente do Ministério Público do Estado (MPE) e na Secretaria de Segurança Pública no primeiro mandato de Renan Filho. Quanto aos apoios, tem enfatizado que não é dependente de grupos políticos e reforçado a importância dos parceiros para sua futura gestão.

Sua eventual vitória indicará a força do grupo de Calheiros na capital, além de fortalecer o nome de Rui para a disputa ao governo em 2022. Vale ressaltar, no entanto, que muitos outros aliados de Renan Filho e do senador Renan Calheiros vislumbram uma candidatura à sucessão do governo.

Crescimento nas pesquisas e apoio de Arthur Lira

O deputado estadual Davi Davino Filho (Progressistas) tem se destacado pelo bom desempenho nas pesquisas desde o início da campanha. É o candidato que apresentou a maior taxa de crescimento de intenção de votos e teve o maior tempo no HGPE, 3 minutos e 16 segundos.

É filho de Davi Davino, vereador que está concorrendo à reeleição para o oitavo mandato na Câmara Municipal de Maceió. Tem apoio do deputado federal Arthur Lira (Progressistas), líder do bloco conhecido como Centrão e também candidato à Presidência da Câmara dos Deputados. Apesar de não utilizar diretamente a imagem de Bolsonaro em sua campanha, o candidato tem reforçado a necessidade de manter uma boa relação com o governo federal.

Tem feito muitas críticas à gestão do atual prefeito da capital, mas tem apoio do atual secretário de saúde de Maceió, o ex-deputado federal José Thomaz Nonô (DEM). Em vários momentos de sua campanha, fez ataques aos seus principais adversários na disputa, mas mudou a estratégia na reta final. Tem se colocado como opção de renovação política para a cidade.

Sua eleição pode fortalecer o nome de Arthur Lira para a disputa para o Senado ou Governo do Estado em 2022. Outro nome que pode se beneficiar é o do atual presidente da Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE) que poderá se tornar vice-governador, caso Luciano Barbosa (MDB) vença a eleição em Arapiraca e assuma a prefeitura em 2022.

Independência, mas com apoio de Rodrigo Cunha e Ronaldo Lessa

João Henrique Caldas foi o candidato a deputado federal mais votado em Alagoas nas eleições de 2014 e 2018. Tem o apoio do ex-governador e ex-prefeito Ronaldo Lessa (PDT), candidato a vice na sua chapa. É filho do ex-deputado federal João Caldas e conta com o apoio do senador Rodrigo Cunha (PSDB).

Sua trajetória no âmbito do legislativo estadual e federal tem sido o escudo para rebater os ataques de seus opositores. Em sua atuação na Assembleia Legislativa ficou conhecido pelo combate à corrupção e apresentação de denúncias de supostas irregularidades em folhas de pagamento de servidores da Casa.

 Em sua campanha tem se apresentado como candidato de renovação e independência da “velha política” alagoana, com duras críticas aos candidatos apoiados por Calheiros, Rui Palmeira e Arthur Lira. Caso tenha êxito eleitoral, e se torne o próximo prefeito da capital, tem chances de indicar e apoiar Rodrigo Cunha como candidato ao Governo do Estado em 2022. A primeira suplente de Rodrigo no Senado é a ex-prefeita de Ibateguara e sua mãe, Eudócia Caldas (PSB).

Participação dos candidatos nos debates

Foram realizados apenas dois debates eleitorais com os candidatos que disputam a prefeitura de Maceió. O primeiro ocorreu no último dia 10 no Portal ACTA e, apesar de convite estendido a todos os dez candidatos, três ausentaram-se: JHC, Davi Davino Filho e Cícero Almeida.

O segundo debate ocorreu no dia 12 na TV MAR e contou com a presença de sete dos oito candidatos convidados. Lenilda Luna (UP) e o ex-prefeito Corintho (PMN) não foram chamados. O ex-prefeito Cícero Almeida ausentou-se novamente.

Entre a apresentação de uma proposta e outra, as trocas de farpas entre os candidatos foram uma constante nos dois debates. Mesmo aqueles com pior desempenho eleitoral utilizaram o espaço para fazer críticas à gestão do atual prefeito, aos apoios políticos recebidos pelos adversários e se colocaram como alternativa para a Prefeitura da capital. 

A reta final da campanha

A contabilização dos votos no domingo será marcada por muita apreensão e expectativa. O resultado trará não apenas os dois nomes que disputarão o segundo turno, mas também demonstrará a força de grupos políticos adversários na capital. Ter a Prefeitura será um bom trunfo para o fortalecimento de um projeto político que mira a disputa pelo comando do Governo do Estado em 2020.

Até o fechamento das urnas os candidatos estarão buscando conquistar votos, mas o certo é que a sorte de cada um já está lançada e amanhã teremos a resposta das urnas.

Estratégia de Russomanno contra Boulos investe em desinformação

Estratégia de Russomanno contra Boulos investe em desinformação

Até as 20h desta quarta-feira(11), pelo menos 70 mil posts no Twitter mencionaram a #LaranjalDoBoulos, denunciando suposta contratação de duas produtoras fantasmas pelo candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, que nesta semana apareceu em segundo lugar na pesquisa Ibope. Poucos casos nestas eleições deixaram tão nítida a operação da desinformação como estratégia política, com passos combinados para gerar controvérsia e desgastar um candidato.

Durante debate entre os candidatos realizado pelo UOL/Folha na manhã de hoje (11), Celso Russomanno (Republicanos), que pela primeira vez apareceu em terceiro lugar, levantou o tema e disse que a informação estava “nas redes”. Como noticiou a Folha, o candidato apoiado por Bolsonaro atribuiu a informação a uma denúncia publicada nas redes sociais. A acusação foi feita por Oswaldo Eustáquio, que já foi preso por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) por espalhar notícias falsas, e publicada no canal do YouTube dele enquanto o debate ocorria – o que mostra que Russomanno sabia que isso seria feito.

Boulos nega a acusação e postou informações detalhadas sobre a contratação das produtoras, cujos pagamentos constam na prestação de contas do candidato. Para evitar a propagação do vídeo, ele entrou com uma ação na Justiça Eleitoral para pedir que este seja retirado das redes sociais. Já a Justiça Eleitoral solicitou à Polícia Federal abertura de inquérito contra Russomanno por calúnia contra Boulos, em resposta ao pedido do Ministério Público Eleitoral.

A situação também mostra outro elemento: utilização de um político como amplificador de audiência. Russomanno seguiu os passos de Bolsonaro, Trump e outros líderes de extrema-direita que usam sua projeção para espalhar mentiras, seja sobre a pandemia, eleições ou algum adversário. Os indícios mostram não apenas proximidade na linha política, mas apontam possível utilização da estrutura de desinformação que tem sido chamada de Gabinete do Ódio ou, ao menos, compartilhamento de seu modus operandi.

O post do próprio Eustáquio no Twitter é o primeiro a ser apresentado em “destaque” pela plataforma, quando buscamos a referida hashtag. O número de curtidas e compartilhamentos são contados aos milhares. Outros posts, como o do deputado estadual Douglas Garcia (PTB), que se diz representante do “Movimento Conservador”, têm ajudado a espalhar a desinformação. Portais que se apresentam como noticiosos também mobilizam o tema. Caso da Gazeta Brasil, que divulga que a situação se tornou o assunto mais comentado do Twitter, mas não traz o outro lado nem menciona as ações na Justiça.

Mas nem só de amplificadores reais uma campanha de desinformação é feita. A plataforma Bot Sentinel, que monitora atividade inautêntica no Twitter, publicou que foram identificados 217 posts mencionando #LARANJALDOBOULOS tuitados por contas não autênticas, os conhecidos robôs. A hashtag está no topo da lista das mais movimentadas por meio de mecanismos automatizados, no ranking da Bot Sentinel. Essas contas também amplificam o debate, produzindo, em geral, de forma constante e com o intervalo de tempo menor do que qualquer ser humano conseguiria, o que ajuda a espalhar o conteúdo e a fazer crescer as menções a ele nas redes.

O enredo é conhecido: alguém posta, outro com alcance compartilha, a desinformação é comentada nas redes e lá ganha projeção, com ajuda de mais amplificadores e de robôs. Conteúdos de portais que se apresentam como noticiosos são usados para dar veracidade ao caso e, muito possivelmente, ganham ampla repercussão em grupos de WhatsApp e outras plataformas. É por isso que investigar e desmontar o arranjo de grupos que usam desinformação como estratégia é tão central, entre eles o Gabinete do Ódio.

O número de casos de denúncia de desinformação tem crescido em todas as plataformas que fazem verificação e checagem. A reta final da campanha chegou e, com ela, parece que também a avalanche de desinformação.