Edvaldo pode ser reeleito em Aracaju, mas destaque são as delegadas

A eleição na capital do menor estado brasileiro, Aracaju, conta com onze candidaturas na disputa pelo cargo de prefeito. Alguns candidatos já são conhecidos na política sergipana, outros têm se apresentado como alternativa à “velha política”, sejam eles principiantes ou não.

Sondagens eleitorais realizadas pelo Instituto Ibope/TV Sergipe e divulgadas nos dias 9 e 22 de outubro indicam a probabilidade de segundo turno, mas em um cenário de indefinição. Algumas alterações podem ser observadas entre a primeira e a segunda rodada, mas sem mudanças substantivas no quadro da disputa, conforme gráfico abaixo.

Fonte: IBOPE/TV Sergipe

Intenção de votos e apoio aos candidatos

Edvaldo Nogueira (PDT) concorre à reeleição e lidera as pesquisas de intenção de votos do Instituto Ibope/TV Sergipe. Na primeira rodada tinha 32% da intenção de votos e subiu para 34% na segunda rodada, consolidando sua posição. O prefeito tem o apoio do governador Belivaldo Chagas (PSD) e do ex-governador Jackson Barreto (MDB).

Sua maior concorrente até o momento é a Delegada Danielle, filiada ao Cidadania, que mantém a segunda colocação nas pesquisas, mesmo tendo caído dois pontos percentuais na última sondagem, de 21% para 19%. Seu vice é o ex- deputado federal Valadares Filho (PSB) que disputou a eleição de 2016 contra o atual prefeito, que à época era filiado ao PC do B.

Rodrigo Valadares, deputado estadual pelo PTB, é o candidato que apresentou a maior taxa de crescimento: Subiu 4 pontos desde a primeira pesquisa realizada no dia 9 de outubro. Se intitula como cristão conservador e tem insistido na proposta de implementação de escolas militares no município.

Márcio Macêdo, candidato petista, também apresentou crescimento, subindo de 5% para 6%. O candidato coordenou a caravana de Lula pelo Nordeste em 2018, contando com apoio do ex-presidente, da vice-governadora Eliane Aquino, viúva de Marcelo Déda, e do senador Rogério Carvalho.

Georlize, candidata do Democratas, também melhorou sua situação: tinha 3% e agora aparece com 4% da intenção de votos.

Lúcio Flávio (Avante) tem o apoio da ministra Damares Alves e defende a pauta conservadora do presidente Jair Bolsonaro. Na última sondagem, ele caiu de 4% para 3%. Almeida Lima (PRTB) também teve queda de 3% para 2%.

Aléxis Pedrão (PSOL) manteve 2%. O Delegado Paulo Márcio (DC) e Gilvaní Santos (PSTU) tiveram menos de 1%. O candidato Juraci Nunes (PMB) não foi citado na primeira pesquisa e obteve menos de 1% na segunda sondagem.

A porcentagem de entrevistados que pretendem votar branco ou anular seu voto caiu de 18% para 15%. A taxa de indecisos se manteve em 6%.

Eleição das delegadas

O crescente número de candidaturas ligadas à área de segurança pública chama a atenção na eleição deste ano, seja na cabeça da chapa ou como vice. É possível identificar algumas delegadas na disputa do executivo municipal em capitais como Recife, Fortaleza, Goiânia e Rio de Janeiro. Em Aracaju três delegadas participam da disputa: Katarina Feitosa (PDT), Danielle Garcia (Cidadania) e Georlize Teles (Democratas).

Katarina Feitosa é delegada geral da Polícia Civil e foi a indicação do governador para compor a chapa como vice do atual prefeito. Tem se destacado pela larga experiência em cargos de direção na Polícia Civil. Sua indicação tem como estratégia agregar eleitores que buscam novos nomes na política com experiência técnica e perfil conciliador.

A Delegada Danielle foi indicada por Alessandro Vieira (Cidadania). O senador, e também delegado da polícia civil, foi eleito com discurso forte de combate à corrupção e enfrentou políticos tradicionais no estado sergipano. Na capital, ele tem se posicionado no campo oposto ao prefeito aracajuano.

Danielle não possui trajetória na política, mas consagrou seu nome na liderança da Operação Avalanche, responsável por desmontar esquemas de desvio das verbas de subvenções da Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese). Ela foi exonerada pelo então governador Jackson Barreto em 2017.

Apesar de não possuir grande expressão, a delegada Georlize leva para a sua candidatura a experiência de ter sido a primeira mulher à frente da Secretaria de Estado da Segurança Pública no governo de João Alves Filho (Democratas). Atuou também na Secretaria Municipal da Cidadania e Defesa Social de Aracaju, também na gestão Alves Filho. Assumiu, ainda, a mesma pasta no município de Estância, localizado no sul do estado.

E para o segundo turno?

Em que pese o contexto favorável ao atual prefeito, a disputa em Aracaju ainda está indefinida, com possibilidade de segundo turno. O cenário mais provável é o confronto entre Edvaldo Nogueira e Delegada Danielle.

Entretanto, não é possível descartar a possibilidade de outro cenário, caso Rodrigo Valadares continue crescendo na disputa.

* Luciana Santana é mestre e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, com estância sanduíche na Universidade de Salamanca. É professora adjunta na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), pertence à Red Politólogias, é líder do grupo de pesquisa: Instituições, Comportamento político e Democracia, e atualmente ocupa a vice-diretoria da regional Nordeste da ABCP.
Pâmella Synthia Santos é doutora e mestra em Sociologia e cientista social pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) com pesquisas desenvolvidas sobre Grupos Políticos, Famílias e Partidos.

Análise: Boulos tem espaço para subir e ir ao segundo turno em SP

Oswaldo E. do Amaral

Neste 2020 muito louco, finalmente as eleições municipais estão entrando no radar dos eleitores. Ocupados em resistir ao vírus, à crise econômica e às polêmicas da turma do Palácio do Planalto, demorou para os eleitores passarem a prestar atenção nas corridas locais até mesmo nas grandes cidades. Agora, a pouco mais de 20 dias das eleições, a coisa começa a esquentar.

No dia 22, o Datafolha divulgou mais uma pesquisa para a disputa na cidade de São Paulo. O quadro parece mais incerto agora. Celso Russomano (Republicanos), como esperado, caiu de 27% das intenções de voto, em pesquisa realizada nos 05 e 06, para 20%. O atual prefeito, Bruno Covas (PSDB), oscilou de 21% para 23%, assim como Guilherme Boulos (PSOL), que passou de 12% para 14%, e Márcio França (PSB), que foi de 8% a 10%.

Candidatura do PSOL é a novidade em SP

Em um pleito em que um candidato do PSDB está bem posicionado e em que Celso Russomano larga na frente e vai derretendo ao longo da campanha, a principal novidade está na figura de Boulos, líder do MTST, como o principal nome da esquerda na disputa, desbancando um posto historicamente ocupado por candidatos petistas.

Com uma ex-petista histórica como candidata a vice, Luiza Erundina (PSOL), e com pouco tempo de propaganda eleitoral gratuita, a campanha de Boulos vem se destacando até aqui pela capacidade de tocar em temas tradicionais da esquerda com bom-humor e criatividade, fazendo os mais saudosistas do início da transição democrática lembrarem de quando o publicitário Carlito Maia estava no PT.

Ao analisarmos os dados do Datafolha mais detalhadamente, é possível concluir que ainda há espaço suficiente para que a candidatura do PSOL chegue em um eventual segundo turno, provavelmente, contra Bruno Covas. Vejamos.

Na pesquisa espontânea, em que os entrevistados respondem sem que lhes seja apresentada a lista de candidatos, Boulos está com 11% da intenção de votos, tecnicamente empatado com Russomano (11%) e Bruno Covas (13%), e à frente de Márcio França (5%), indicando uma solidez no apoio obtido até aqui.

No entanto, diferentemente de seus competidores diretos no momento, Boulos não é conhecido, nem mesmo de ouvir falar, por 43% dos eleitores. Russomano e Covas são conhecidos por todo o eleitorado, enquanto França é conhecido por 79%.

Com relação à taxa de rejeição, os números são um pouco piores, mas ainda não chegam a inviabilizar seu crescimento. O líder do MTST é rejeitado por 24% dos entrevistados, bem abaixo dos 38% de Russomano e empatado com o atual prefeito, com índice de 25%. No entanto, nesse aspecto, a vantagem de Covas é grande, pois ele já conta com o conhecimento de todo o eleitorado.

Os desafios

Para chegar ao segundo turno, porém, Boulos e o PSOL terão que vencer alguns desafios. O primeiro é ampliar a exposição do candidato. Nesse sentido, a pouca quantidade de debates em veículos de comunicação de grande alcance podem ser uma barreira. Depender exclusivamente das redes sociais pode não ser o suficiente para que sua candidatura chegue aos mais velhos, aos mais pobres e aos de menor escolaridade, exatamente os segmentos em que o candidato tem seu piores desempenhos.

Outro desafio é conseguir colocar-se como a principal alternativa de esquerda ao PSDB na capital paulista. Aqui, a batalha é dupla: por um lado, Boulos vai precisar mostrar-se viável eleitoral e politicamente. Ou seja, demonstrar que terá condições políticas de governar a cidade mesmo sendo, inicialmente, líder de um governo minoritário na Câmara; por outro lado, o candidato terá que convencer uma grande parte dos petistas (16% do eleitorado) de que é uma alternativa mais viável do que Jilmar Tatto (PT). Por enquanto, o líder do MTST vem sendo bem-sucedido nessa empreitada. Na pergunta espontânea, 17% dos que se identificam com o PT preferem o candidato do PSOL, contra apenas 11% que preferem Tatto. Um terço dos petistas não soube se posicionar.

Por fim, Boulos vai precisar levar sua candidatura à periferia, em especial aos extremos das Zonas Leste e Sul, tradicionais redutos da esquerda que migraram para partidos de centro nas últimas eleições municipais.

Os desafios são grandes, mas não será surpresa se a esquerda voltar a contar com um candidato no segundo turno da maior cidade do país.

Nota: os dados usados neste artigo estão disponíveis no site do Datafolha.

Com disputa acirrada, candidatos apelam para desinformação em Fortaleza

Com disputa acirrada, candidatos apelam para desinformação em Fortaleza

A disputa está acirrada entre os candidatos à Prefeitura de Fortaleza Capitão Wagner (PROS), Luizianne Lins (PT) e Sarto (PDT). Na última semana, as campanhas de Wagner e Freire (PSL), que vinham tendo como centro a apresentação dos candidatos, partiram para o ataque, lançando mão de informações descontextualizadas, incompletas ou mesmo desinformativas.

A maior controvérsia gira em torno do primeiro colocado, Capitão Wagner, por uma discussão travada nas redes e nas emissoras de rádio e TV com o próprio governador Camilo Santana (PT). Em entrevista ao programa de TV Ponto Poder na terça-feira (13), Capitão Wagner negou ter apoiado o movimento de policiais militares que culminou na paralisação ocorrida em fevereiro deste ano no Ceará.

“A gente foi contra a realização desse movimento. Em nenhum momento eu me posicionei a favor de qualquer paralisação em Fortaleza ou no Estado do Ceará. Eu tenho muita responsabilidade nessa questão”, afirmou.

O governador utilizou as redes sociais para rebater: “Não é verdade. [Capitão Wagner] Tanto liderou o motim de 2011 como teve participação direta nesse último motim. […] Foi um dos atos mais covardes já praticados contra a população”, postou.

Mensagens publicadas no twitter de Camilo Santana, governador do Ceará, no dia 14 de outubro


Captura de tela feita em 22 de outubro, do perfil https://twitter.com/CamiloSantanaCE

O capitão inicialmente evitou retrucar, possivelmente pela dificuldade de sustentar a afirmação e necessidade de afastar a imagem negativa da greve da PM. Mas a questão ganhou as redes sociais, com ampla circulação de vídeos apócrifos críticos a ele em grupos de WhatsApp.

Logo após a divulgação da pesquisa DataFolha, no dia 17 de outubro, que confirmou a indefinição do cenário eleitoral na cidade, diferentes candidaturas reforçaram menções ao fato. Na TV, desde o dia 21, postagens de Camilo passaram a ser utilizadas por Sarto, em repetidas inserções ao longo da programação das emissoras.

Wagner, então, apontou tratar-se de “fake news” e chegou a criar um site específico para “que vocês possam se informar sobre as mentiras que têm sido espalhadas sobre mim”, como anunciou em vídeo na rede social. Retrucando, Camilo publicou imagens de matérias, entre as quais uma que destaca projeto de Wagner como deputado federal para anistiar participantes da greve.

A estratégia do candidato apoiado por Jair Bolsonaro faz lembrar a de Donald Trump, que passou a utilizar a expressão “fake news” contra a cobertura crítica em relação a ele pela imprensa, tentando fazer crer que as críticas não são mais que intrigas da oposição. O problema é que esse tipo de discurso pode convencer parte do seu eleitorado, especialmente em um contexto de polarização como o vivido nos Estados Unidos e também no Brasil.

Mas um olhar atento evidencia as contradições. No site oficial, o candidato retirou a foto em que aparece com lideranças do movimento e substituiu por uma imagem apenas descritiva das suas pautas de segurança (ver imagens abaixo).

Na foto, Wagner, o deputado estadual Soldado Noélio e um dos líderes da paralisação. Imagem que estava no site do Capitão Wagner no início da campanha. https://capitaowagner.com/

Imagem com texto sobre segurança pública, inserida para substituir a imagem anterior. Site do Capitão Wagner. https://capitaowagner.com/

Ainda que tenha utilizado o programa no Horário Eleitoral Gratuito para negar participação na greve, usando vídeo da época em que diz que “Eu não vim aqui para inflamar a greve, vim aqui para solucionar o problema”, é difícil sustentar a afirmação, tendo em vista o histórico com o grupo e, inclusive, a participação em sua chapa de vereadores de pessoas vinculadas à paralisação.

Outra fala de Wagner amplamente repercutida e questionada refere-se à liberação de, segundo o candidato, R$ 43 milhões de emenda parlamentar para a saúde pública do Estado, no primeiro semestre de 2020, dos quais R$ 25 milhões teriam sido destinados ao enfrentamento à Covid-19. Pesquisando no site Siga Brasil, vê-se que a soma das emendas do deputado totalizam menos de R$ 16 milhões, com R$ 3 milhões dedicados às ações contra pandemia. Destes, R$ 9,3 milhões foram executados. Do empenhado, nem tudo foi para saúde. Há emendas dedicadas ao Comando da Marinha, administração do Ministério da Justiça e Segurança Pública e outras pastas. No site do capitão, ele apresenta documento assinado de próprio punho para comprovar os recursos. No entanto, a Justiça determinou a retirada da propaganda de Wagner sobre o suposto repasse à saúde.

Ataques ao PT

Também subindo o tom nas agressões, pelo menos desde o dia 18, o representante do PSL, Heitor Freire, que figura com 1% na pesquisa DataFolha, tem usado programas eleitorais para atacar adversários. O candidato que pretende “endireitar Fortaleza” dirige-se indiretamente à candidata petista, Luizianne Lins. Em uma das propagandas no rádio, menciona “candidata vermelhinha querendo voltar pra prefeitura” e “galega pulso frouxo”.

Nesta semana, Luizianne acionou à Justiça e, segundo divulgado em suas redes sociais, ganhou liminar determinando a exclusão de vídeo difamatório que circulava em grupos do Facebook e do Whatsapp. Na decisão também é solicitada a identificação do administrador e responsável pela postagem. O jornal O POVO detalhou que “a Justiça Eleitoral bloqueou dois números de telefone, um responsável por grupo de WhatsApp chamado ‘Grupo Mercadinho do Bairro’, o outro pela postagem de vídeo com ataques pessoais à candidata à Prefeitura de Fortaleza”.

Assim como em 2018, a reta final do pleito não só repete a redução da discussão política, mas também estratégias que pretendem confundir o eleitor, sejam aquelas adotadas abertamente na TV e rádio ou as que circulam mais ocultas nas redes sociais. É cedo para saber se a rede montada naquela campanha está sendo usada ou se terá o mesmo impacto em pleitos pulverizados como são as eleições municipais, com questões locais que dificultam a padronização das mensagens e a viralização nacional delas. Mas o exemplo da eleição fortalezense, na qual a polarização tem se reproduzido, é um indício preocupante.

Em Fortaleza, apoio de Lula importa mais que de Bolsonaro ou do prefeito

Em Fortaleza, apoio de Lula importa mais que de Bolsonaro ou do prefeito

A eleição municipal na capital cearense tem chamado a atenção especialmente pelo desempenho nas pesquisas de intenção de voto do candidato da oposição, Capitão Wagner (PROS). O candidato, que tem apoio do presidente da república, Jair Bolsonaro, coloca em risco a possibilidade de sucessão do grupo que atualmente está no comando da capital, representado pelo Prefeito Roberto Cláudio (PDT).

Na última pesquisa realizada pelo Ibope/TV Verdes Mares, divulgada no dia 14 de outubro, Capitão Wagner apareceu com 28% das intenções de votos e segue tecnicamente empatado com a candidata Luizianne Lins (PT), que tem 23%. Sarto (PDT) aparece em terceiro lugar com 16%. Os demais candidatos não ultrapassaram 6%.

Fonte: Ibope/ TV Verdes Mares

Desempenho de Capitão Wagner

O deputado federal Capitão Wagner tem forte associação com as corporações militares. Foi o principal líder do movimento paradista dos policiais militares em 2012, quando marcou definitivamente seu papel como antagonista ao então governador Cid Gomes (PDT).

De lá para cá, venceu sucessivas disputas a cargos legislativos, sempre como o mais votado. Eleito vereador em 2012, deputado estadual em 2014 e federal em 2018, Wagner disputou a prefeitura de Fortaleza em 2016 pelo PR, perdendo no segundo turno para o atual prefeito, que disputava a reeleição. Em 2020, o seu bom desempenho nas pesquisas indica que pode ir novamente para o segundo turno.

PDT e PT em Fortaleza

Como em outros momentos da história política de Fortaleza, em 2020 o prefeito Roberto Cláudio não preparou um sucessor que pudesse emergir como candidato natural representando o bloco governista. A dificuldade era acomodar aliados fortes dentro de uma base ampla e com projetos partidários para 2022.

Apesar dos movimentos do atual governador do Ceará, Camilo Santana (PT), a ala petista mais ligada a ex-prefeita Luizianne Lins recusou aliança com o PDT de Roberto Cláudio e dos irmãos Ferreira Gomes, a quem se coloca como opositora desde 2012.

Pelo lado governista, havia a certeza de que a cabeça de chapa deveria ser do PDT, já que o projeto nacional do PDT para 2022 passa, necessariamente, pela conquista da prefeitura de Fortaleza, a quinta maior capital do país.

Dentre os pré-candidatos governistas a prefeitura de Fortaleza em 2020, o nome de Sarto (PDT) aparecia com um dos mais fortes. Atualmente, está em seu sétimo mandato de deputado estadual, é presidente da Assembleia Legislativa do Ceará (ALECE) e trabalhou muito próximo ao governador Camilo Santana nos episódios recentes das crises de segurança pública e sanitária. Político de carreira, possui excelente trânsito entre os partidos que compõem a base aliada, além de ter construído boas relações na Câmara de Municipal de Fortaleza (CMF).

A indicação do vice de Sarto foi avalizada por Camilo Santana. A opção recaiu no ex-secretário da Casa Civil do governo do estado, o sociólogo e pessebista Élcio Batista, homem de confiança do governador.

O PT tentou aproximação com o MDB de Eunício Oliveira, mas os acordos não avançaram. O insucesso de compor alianças com outras legendas forçou o PT a lançar candidatura pura. Isolado, o partido oficializou Luizianne Lins e Vladyson Viana (PT), nome ligado ao deputado federal José Guimarães (PT).

Apoios políticos nacionais na disputa

A pesquisa Ibope também sondou a influência do presidente Jair Bolsonaro e do ex-presidente Lula no voto do fortalezense. Para apenas 14% dos entrevistados, o apoio de Bolsonaro contaria muito na decisão do voto. Já para outros 33%, o apoio de Lula aumentaria muito as chances de voto em um candidato. Isso indica um recall positivo em relação aos governos petistas na capital cearense.

Os respondentes também foram consultados sobre a influência de Ciro Gomes (PDT) e Roberto Cláudio. Para 14%, o apoio de Ciro Gomes conta muito e 18% consideram muito importante o apoio do atual prefeito, que aparece com 49% de avaliação ótima e boa.

E o apoio do governador Camilo?

Apesar da pesquisa Ibope também sondar o apoio de lideranças políticas, como o caso do atual governador do Ceará, sobre o voto do eleitor de Fortaleza, é importante ressaltar que, desde a redemocratização a dinâmica eleitoral de Fortaleza tem se mostrado “imune” a influência do governador. Nem mesmo Tasso Jereissati (PSDB), no auge de seu poder, conseguiu emplacar candidaturas a prefeito na capital.

Mas, pela primeira vez, o apoio do governador parece ter importância nas disputas em Fortaleza. Duas candidaturas disputam o apoio de Camilo Santana, que tem 56% de aprovação segundo Ibope. De acordo com a pesquisa, 20% afirmaram votar em um candidato indicado pelo governador.

A boa avaliação de Camilo e o desempenho de seu governo na gestão da pandemia são fatores que podem contribuir para uma melhorar a intenção de votos em Sarto e Luizianne. Ambos tem feito menções ao governador em propagandas eleitorais veiculadas na primeira semana. Apesar de afirmar neutralidade no primeiro turno das eleições em Fortaleza, Camilo Santana fez sinalizações de seu apoio a Sarto.

Luizianne, partidária do governador, chegou a dizer que trabalhará “em parceria com o companheiro Camilo Santana” e reivindica o direito de explorar o “legado petista” a nível federal e estadual.

Eleição indefinida

Apesar das movimentações, ainda é cedo para cravar os nomes dos candidatos que chegarão ao segundo turno na disputa pelo comando da capital.

*Monalisa Torres é doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará. É professora da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e pesquisadora vinculada ao Laboratório de Estudos sobre Políticas, Eleições e Mídia (Lepem/UFC)

 ** Luciana Santana é mestre e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, com estância sanduíche na Universidade de Salamanca. É professora adjunta na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), líder do grupo de pesquisa: Instituições, Comportamento político e Democracia, e atualmente ocupa a vice-diretoria da regional Nordeste da ABCP.

Para onde foi o PSDB mineiro?

Para onde foi o PSDB mineiro?

A história é conhecida. Em 2014, o PSDB não reconheceu a derrota nas eleições para Presidente. Sem apresentar evidências que justificassem a atitude, solicitou recontagem de votos ao Tribunal Superior Eleitoral e seu candidato declarou que havia sido derrotado por uma “organização criminosa”. Não satisfeito, o partido entrou com um pedido de cassação de Dilma alegando que sua legitimidade era “extremamente tênue”. Na sequência, o partido passou a buscar uma maneira de interromper o mandato da presidente eleita.

A tática parecia ter dado resultado. Nas eleições municipais de 2016 o PSDB fez barba, cabelo e bigode. Acrescentou mais de 100 prefeituras a seu “portfólio” – o maior crescimento percentual entre os dez maiores partidos – conquistou São Paulo no primeiro turno e foi a legenda mais votada nos grandes municípios brasileiros. Mas logo depois foi tragado pela crise que ajudara a fomentar para afastar o PT e viu sua votação no primeiro turno da eleição presidencial de 2018 despencar de 33,5% para 4,76%.

Até mesmo em função do papel desempenhado por Aécio Neves ao longo deste período, Minas Gerais foi onde o recuo do partido foi mais sentido. Na primeira década e meia deste século, o PSDB tornara-se hegemônico no estado. Entre 2002 e 2014 o partido esteve frente do Palácio da Liberdade de forma ininterrupta, vencendo três eleições no primeiro turno. O controle das cadeiras no Senado foi ainda maior e manteve-se mesmo com a perda do governo estadual para o PT em 2014: à exceção da eleição de Hélio Costa (MDB) para uma das vagas em 2002, candidatos do PSDB ou de partidos coligados só foram derrotados na eleição de 2018.

PSDB na capital mineira

O PSDB governou Belo Horizonte apenas entre 1989 a 1992, com Pimenta da Veiga e depois seu vice, Eduardo Azeredo. Mas sempre participou com destaque nas disputas. Em 1992 o jovem Aécio Neves chegou em terceiro lugar. Em 1996 Amilcar Martins foi derrotado no segundo turno por Célio de Castro (PSB), o mesmo acontecendo com João Leite quatro anos depois. Em 2004, quando João Leite (então no PSB), foi derrotado por Fernando Pimentel (PT), os tucanos estavam na coligação. Em 2008, o PSDB voltou a participar da administração municipal em função da inusitada aliança entre PT e PSDB que elegeu Marcio Lacerda (PSB). A situação se manteve em 2012, mas com o PT fora da coligação. Finalmente em 2016, novamente João Leite, agora de volta ao ninho, foi derrotado no segundo turno por Alexandre Kalil.

Na eleição deste ano, 2020, o partido lançou Luísa Barreto, ex-secretária-adjunta de Planejamento e Gestão do governo de Romeu Zema (Novo), à sucessão de Kalil. Desconhecida do eleitorado e concorrendo em chapa pura, a candidata tem um minuto e 11 segundos na TV para sair do 1% das intenções de voto registrado pelas pesquisas já realizadas (DataFolha; IBOPE ou Data Tempo/Quaest). Muito longe dos mais de 50% do atual prefeito.

Nas demais cidades, partido também reduziu candidaturas

O quadro não é diferente no estado como um todo. O partido reduziu o número de candidaturas próprias em relação a 2016: foram oitenta candidatos (as) a menos para prefeito e 857 para vereador. Nas vinte maiores cidades do estado, o PSDB lançou candidatura própria em apenas quatro, além de BH: Ribeirão das Neves, Teófilo Otoni, Governador Valadares e Poços de Caldas. Apenas nas duas últimas o candidato – prefeito do partido buscando a reeleição – é competitivo. 

Nas quatro cidades com maior população depois de Belo Horizonte, apenas em Uberlândia o partido tem boas perspectivas por participar da coligação de Odelmo Leão, candidato à reeleição pelo PP. 

Em Juiz de Fora, Contagem e Betim, cidades já governadas pelo partido, a situação é ruim. Na primeira, o atual prefeito é do partido, mas desistiu de disputar a reeleição. Na segunda, o atual prefeito também desistiu de disputar a reeleição, mas antes rompeu com o partido. Nos dois municípios o PSDB ocupa a vice em chapas que, segundo pesquisas disponíveis, possuem entre 1% e 3% das intenções de voto. Em Betim, o PSDB não registrou candidato a prefeito ou vice e tampouco integra alguma coligação competitiva.

O sinal amarelo para o PSDB em Minas está aceso desde 2018. Na esteira da “queda” de Aécio Neves, veio a derrota para o governo estadual, ao mesmo tempo em que a maioria dos eleitores de Antônio Anastasia, o candidato, descarregava votos em Bolsonaro, e não em Alckmin, na eleição presidencial. Pela primeira vez desde 2002, o partido em Minas ficou sem um representante no Senado, uma vez que Anastasia, após a eleição, resolveu integrar as fileiras do PSD. 

Por fim, o resultado não foi melhor para a Câmara dos Deputados ou para a Assembleia Legislativa – nos dois casos, a votação do partido caiu quase pela metade em uma comparação com 2014 e retrocedeu a patamares inferiores aos obtidos em 1994. Tão ou mais expressiva foi a queda no voto dado à legenda: um recuo de 85% para a Câmara e 67% para a Assembleia.

A desarticulação em curso do sistema partidário brasileiro não atingiu apenas o PSDB. PT e MDB também estão entre as vítimas. Mas se os tucanos pretendem recuperar algum protagonismo no cenário nacional, as chances de Minas Gerais contribuir para tanto são pequenas.  

Combater a pandemia dá votos?

Combater a pandemia dá votos?

Desde as eleições de 2016, é possível observar um padrão de voto por parte do eleitor brasileiro, tanto em eleições municipais quanto em eleições estaduais. Como resultado de uma crítica ao establishment político e aos partidos, esse eleitor passou a se preocupar muito mais com a aparência física dos candidatos e com certo discurso anticorrupção e não se atentou muito à capacidade que os vereadores, deputados, prefeitos e até mesmo governadores eleitos teriam de formular e implantar políticas.

Uma pergunta importante para a eleição de 2020 é se esse padrão irá ou não mudar em virtude da pandemia do novo coronavírus. Afinal vimos tanto experiências de forte empenho no combate à pandemia quanto prefeitos e governadores que se eximiram de adotar medidas contundentes e não foram capazes de controlá-la.

Belo Horizonte e Florianópolis: aparentemente imbatíveis

Temos motivos para assumir que o padrão irá se alterar a partir de 2020. Ainda que não em todos os lugares. Alguns exemplos já podem ser percebidos, como o caso do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), e do prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro (DEM).

Alexandre Kalil foi um dos prefeitos a implementar as políticas mais radicais contra o coronavírus, tornando Belo Horizonte a primeira cidade a adotar medidas de isolamento social, em 17 de março, como também uma das poucas a retornar ao isolamento em virtude do aumento da taxa de contaminação após a abertura do comércio.

Até hoje, a capital mineira não reabriu completamente seus restaurantes e escolas. O prefeito de BH, mesmo com implementação de políticas tão incisivas de combate à pandemia, disparou na frente de outros candidatos na corrida eleitoral pela reeleição. De acordo com a pesquisa IBOPE do dia 02 de outubro Kalil possui 56% das intenções de voto.

Situação semelhante ocorre em Florianópolis, onde o atual prefeito tem 44% de votos e seu desempenho contra a pandemia vem sendo bem avaliado pela população. No entanto, uma pergunta ainda se coloca: os casos dos prefeitos de Belo Horizonte e de Florianópolis são casos isolados ou seria um novo padrão a ser observado nas eleições deste ano?

Combate a pandemia parece ser relevante, mas não sozinho

Comparando a atuação de alguns prefeitos a partir de três critérios, a saber, a política em relação à reabertura do comércio, em relação a restaurantes e escolas e seus posicionamentos públicos, podemos avaliar a reação à pandemia entre intensa, média, baixa e muito baixa. Na tabela abaixo, observa-se também a intenção de voto.

Tabela 1: intenção de voto e reação à pandemia

Os casos marcados em verde-escuro apontam para aqueles prefeitos que tiveram atitudes incisivas no combate à pandemia. Os dois mencionados anteriormente, Alexandre Kalil (Belo Horizonte) e Gean Loureiro (Florianópolis), são praticamente imbatíveis, segundo os números atuais. Dados os impactos e a relevância do tema sanitário na conjuntura, isso indica certo alinhamento da população às atitudes dos prefeitos.

As certezas, no entanto, acabam aí. Por um lado, o caso de Bruno Covas já levanta algumas dúvidas sobre essa correlação. O prefeito paulistano, que em 2016 foi vice de João Dória, agora está como candidato pelo PSDB e em segundo lugar na pesquisa, perdendo apenas para Russomano (Republicanos) que tem 26% dos votos. Ainda que esteja perdendo para um candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, figura que teve uma atuação na pandemia contrária ao que aqui consideramos como exemplar, o prefeito tem chances de reeleição dado o histórico de perda de fôlego de Russomano.

Por outro lado, há dúvidas se a péssima intenção de votos em relação ao prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) deve-se unicamente a sua atuação frente à pandemia. Provavelmente não, já que ele acumulava um desempenho muito ruim em um conjunto de áreas de sua administração antes mesmo do início da pandemia.

Resta explicar, portanto, os casos intermediários. Prefeitos que antes da pandemia eram frágeis e tiveram atitudes médias – apontando para mais de uma direção em termos de medidas intensas e de pouca atenção à severidade da crise – parecem ter os maiores problemas em relação a corrida eleitoral.

Esse é o caso principalmente do atual prefeito de Porto Alegre e candidato à reeleição, Nelson Marchezan Júnior. Corre contra ele um processo na Câmara dos Vereadores por desviar recursos de combate à Covid-19 para outras áreas. Recife teve um momento muito ruim no início da pandemia mas se recuperou bem ao passo que Porto Alegre tem um desempenho ruim que se manteve, especialmente se comparado às duas outras capitais da região Sul.

Vale a pena também apontar a baixíssima taxa de reeleição no estado do Rio Grande do Sul e que deve também afetar Marchezan, um candidato que se beneficiou da onda de boa aparência somada ao discurso anticorrupção em 2016, mas que parece não conseguir se reeleger apenas com base neste binômio.

Por último, temos um caso que não se enquadra completamente em nossa tipologia, que é Cuiabá. Por um lado, o desempenho frente à Covid–19 do prefeito Emanuel Pinheiro parece ser muito ruim, mas, por outro lado, ele tem alta intenção de votos. O caso de Cuiabá mostra que a pandemia é relevante, mas não foi e não será capaz de ser o único item nas agendas das eleições deste ano. Continuarão existindo pautas e lideranças regionais. Porém, aqueles prefeitos que conseguiram associar um bom desempenho anterior com um bom desempenho na gestão da pandemia parecem ter maiores chances de reeleição.