Disputa acirrada em Maceió mira a sucessão para o governo estadual em 2022

Disputa acirrada em Maceió mira a sucessão para o governo estadual em 2022

Na última sexta-feira (9), o Ibope e a TV Gazeta divulgaram resultados da primeira pesquisa de intenção de votos que aponta para uma disputa acirrada entre os dois primeiros colocados. Dentre as dez candidaturas registradas, Alfredo Gaspar de Mendonça (MDB) e JHC (PSB), tecnicamente empatados com 26% e 25%78 respectivamente, são os dois nomes mais fortes na competição, e podem levar a definição da eleição para o segundo turno.


Fonte: Pesquisa Ibope/TVGazeta de Alagoas 09/10/2020

A soma da intenção de votos nos demais candidatos é de 26%. Cícero Almeida (DC) tem 10%, Davi Davino (Progressitas) 5% e Lenilda Luna (UP) tem 3%. Josan Leite (Patriota), Ricardo Barbosa (PT) e Valéria Correia (Psol) têm 2% cada um. Cícero Filho (PC do B) e Corintho Campelo (PMN) também têm 1% cada.

Com o fim das coligações para eleição proporcional, uma das estratégias dos partidos de esquerda na capital tem sido impulsionar e dar visibilidade às candidaturas a vereador (a). A despeito dos demais partidos de esquerda, chama a atenção a intenção de votos da candidata Lenilda Luna, filiada ao mais novo partido político registrado no TSE, Unidade Popular (UP), que alcançou 3% na primeira pesquisa do Ibope.

Rejeição dos candidatos

Ainda de acordo com os dados da pesquisa Ibope, Cícero Almeida (DC), ex-prefeito e ex-deputado federal, é o candidato com menor potencial de crescimento, já que apresenta a maior taxa de rejeição. 49% dos entrevistados responderam que não votariam nele de jeito nenhum.

JHC é rejeitado por 21% dos entrevistados e Alfredo Gaspar de Mendonça por 17%. Os demais candidatos tiveram rejeição abaixo de 15%, conforme pode ser observado na figura a seguir.

Taxa de rejeição aos candidatos à prefeitura de Maceió

Fonte: Pesquisa Ibope/TVGazeta de Alagoas 09/10/2020

Uma disputa municipal com olhares voltados para 2022

Apesar da pesquisa apontar uma disputa acirrada, centrada nos dois primeiros colocados, e do tempo curto de campanha, é possível que outros candidatos cresçam até o dia das eleições. Mas pouco provável que alterem a situação atual. Podem, no entanto, ser peças estratégicas na composição de apoios aos candidatos em um eventual segundo turno.

Além do comando da capital, a disputa pelo governo do estado também faz parte do baralho eleitoral em Maceió.

Alfredo Gaspar de Mendonça é apoiado pelo governador Renan Filho (MDB) e também pelo atual prefeito, Rui Palmeira (sem partido). Há menos de um ano, ter os dois governantes lado a lado apoiando o mesmo candidato pareceria algo improvável. Todavia, os embates internos com a direção do PSDB estadual, que não aceitou a indicação de um nome próprio do partido para a disputa na capital, levaram à desfiliação de Rui e sua aproximação do governador, desde o início do ano.

Mendonça foi secretário da segurança pública no primeiro mandato de Renan Filho e pediu exoneração do cargo de procurador do estado para disputar a eleição. Seu candidato a vice é Tácio Melo (Podemos) indicado por Rui Palmeira. O lema de sua campanha é “pulso firme”, em referência aos êxitos de sua gestão no combate à criminalidade no estado.

Caso ele seja eleito prefeito, o governador ganha um reforço para a disputa ao Senado Federal em 2022, e Rui Palmeira à sucessão do governo estadual.

A disputa ao governo do estado também faz parte da ambição política de outros candidatos. O deputado federal João Henrique Caldas (JHC), filho do ex-deputado federal João Caldas e da ex-prefeita de Ibateguara, Eudócia Caldas, também quer ser eleito e influenciar a sucessão ao governo em 2022, apoiando o – possivelmente candidato – senador Rodrigo Cunha (PSDB). Seu vice é Ronaldo Lessa (PDT), ex-deputado federal, ex-governador de Alagoas e ex-prefeito de Maceió. O lema da campanha de JHC é “Prefeito de Verdade” e tem sido incisivo nas críticas às atuais gestões, tanto no estado, quanto em Maceió.

Candidatos bolsonaristas

Na última eleição presidencial, a capital alagoana deu proporcionalmente mais votos ao então candidato e atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido) do que as demais capitais do nordeste, tanto no primeiro quanto no segundo turno.

Muito embora vários dos atuais candidatos tenham declarado voto em Bolsonaro em 2018, apenas um candidato à prefeitura de Maceió, Josan Leite, se declara apoiador incondicional de Bolsonaro neste ano. Os demais candidatos não trouxeram Bolsonaro para a eleição municipal (pelo menos até então). Nem mesmo Davi Davino, apoiado pelo líder do “centrão”, Arthur Lira (Progressista).

Pandemia e desafios para as campanhas na capital

Apesar dos dados apresentados pela pesquisa do Ibope e das intenções futuras dos candidatos, é fundamental para os candidatos aproveitar o tempo disponível para campanhas e convencer o eleitor não apenas de que são melhores candidatos (as) à sucessão na capital, mas também de que é necessário ir às urnas votar em meio a uma pandemia.

Como há uma determinação da Justiça Eleitoral do estado para que os candidatos cumpram os decretos sanitários de controle do coronavírus, especialmente quanto ao distanciamento social, a campanha digital nas redes sociais e a propaganda de rádio e TV podem ser um diferencial na comunicação entre candidatos e eleitores. Mas ainda é cedo para fazer essa avaliação.

Eleição plebiscitária em Salvador?

Eleição plebiscitária em Salvador?

Cláudio André de Souza e Luciana Santana*

Em Salvador, nove candidatos disputam a vaga hoje ocupada por ACM Neto (DEM), atual prefeito da capital soteropolitana. Eles são: Bruno Reis (DEM), Celsinho Cotrim (PROS), Cezar Leite (PRTB), Hilton Coelho (PSOL), Major Denice (PT), Olívia (PC do B), Pastor Sargento Isidório (Avante), Bacelar (Podemos) e Rodrigo Pereira (PCO).

A despeito do número de candidatos, pesquisas têm apontado favoritismo de Bruno Reis, escolhido do prefeito ACM Neto para sucedê-lo. Essa situação é reforçada na última pesquisa divulgada pelo Ibope em 5 de outubro.

Na pergunta espontânea – quando o entrevistado responde diretamente a sua intenção de voto – o vice-prefeito tem 29% de intenção de voto. Na pergunta estimulada, Reis aparece com 42%, seguido de Pastor Sargento Isidório (10%), Major Denice (6%), Olívia Santana (6%) e Bacelar (5%).

ACM Neto e o favoritismo do candidato governista

O que explica o favoritismo de Bruno Reis? A consolidação da liderança de Bruno Reis tem como principal capital político a aprovação da gestão do Prefeito ACM Neto mesmo após o início da pandemia de coronavírus. Segundo a mesma pesquisa, a administração do prefeito é avaliada positivamente (ótima/boa) por 73% dos entrevistados.

Ao serem questionados sobre se aprovam ou desaprovam a forma como o atual prefeito vem administrando a cidade, 85% dos entrevistados disseram que aprovam a atuação de Neto à frente da Prefeitura. Essa boa avaliação deixa pouco espaço para uma campanha com posicionamentos mais críticos à sua gestão por parte dos adversários, algo perceptível até aqui desde a pré-campanha.

O legado de ACM Neto e sua aprovação quase unânime tem forçado um plebiscito “contra” ou “a favor”, deslocando os candidatos de oposição. A estratégia da campanha de Bruno Reis nos primeiros dias de propaganda na TV e no Rádio já explicitou a construção da sua imagem totalmente ligada à ACM Neto. Além disso, a coligação do candidato democrata possui 15 partidos (DEM / PDT / REPUBLICANOS / MDB / SOLIDARIEDADE / CIDADANIA / PL / PSL / PSC / PATRIOTA / PSDB / PV / DC / PMN / PTB) com muitos candidatos a vereador, ocupando um lastro político amplo no espectro eleitoral de Salvador, conforme figura abaixo.

Governador com boa avaliação, mas ainda não alterou a disputa

Ter uma boa avaliação de governo, entretanto, não tem sido uma condição suficiente para definir a disputa. Apesar do governador Rui Costa (PT) ser avaliado positivamente por 63% do eleitorado, a sua estratégia de pulverização de candidaturas governistas (Bacelar, Denice, Olívia e Pastor Sargento Isidório) até aqui não surtiu efeito, ao passo que seus candidatos não verbalizam críticas frontais à gestão do prefeito da capital baiana.

A chance de crescimento dos candidatos do governador está associada à ampliação da posição de Rui Costa como cabo eleitoral, mas, sobretudo, a maneira pela qual as campanhas conseguirão dominar uma narrativa crítica à gestão de ACM Neto. Sem um posicionamento claro quanto ao legado de ACM Neto, os candidatos da base aliada cairão em um “vazio semântico”: se colocam como alternativa a quê? Em quais circunstâncias?

Antenas ligadas em 2022

Apesar das atenções centradas nas eleições municipais, ACM Neto e Rui Costa estão de antenas ligadas em 2022. Além da avaliação positiva de sua gestão e da possibilidade real de eleger o sucessor, ACM Neto surge como o principal nome na disputa pela sucessão para o governo estadual.

O acordo que deu a vice na chapa de Bruno Reis ao PDT foi uma movimentação explícita do presidente nacional do DEM para ganhar força e articulação entre partidos de centro, deixando aberto o diálogo com alguns partidos da base de Rui Costa.

A boa avaliação de Rui Costa também favorece suas pretensões eleitorais depois que deixar o cargo. Como não poderá concorrer à reeleição, ele tem duas possibilidades a sua disposição: disputar o Senado Federal ou apresentar-se como pré-candidato do PT a Presidente da República.

Pode parecer que 2022 está um pouco longe, mas as estratégias e articulações políticas já começaram.

*Cláudio André de Souza é professor adjunto de ciência política Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, Campus dos Malês (BA).
Luciana Santana é mestre e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, com estância sanduíche na Universidade de Salamanca. É professora adjunta na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), líder do grupo de pesquisa: Instituições, Comportamento político e Democracia, e atualmente ocupa a vice-diretoria da regional Nordeste da ABCP.

Direita larga na frente nas capitais

Direita larga na frente nas capitais

Nos últimos dias, várias análises, algumas delas publicadas neste Observatório das Eleições, destacaram o avanço das candidaturas de partidos de direita em 2020, sugerindo que a onda política conservadora que tomou conta do país em 2018 ainda não teria terminado.

Iniciada a corrida eleitoral de 2020, como andam as disputas nas capitais por bloco ideológico? A direita está mesmo em posição de vantagem? Com base em pesquisas publicadas nos últimos dias em 21 capitais já é possível traçar um panorama.

Como foi em 2016

Em 2016, a direita venceu em 5 capitais (19%), o centro, em 12 (46%), e a esquerda, em 9 (35%). O MDB com vitórias em quatro capitais e o PSDB, com sete triunfos, comandaram o protagonismo dos partidos de centro. Na esquerda, o PDT levou três capitais e o PSB, duas. O PT, em forte crise, venceu apenas em Rio Branco. O PSD liderou o bloco da direita, com conquistas em João Pessoa e em Campo Grande.

MDB e PSDB animaram-se com os resultados. Tudo parecia convergir para o sucesso em 2018 da coalizão que derrubara Dilma Rousseff. No entanto, esse não era o plano dos líderes da Operação Lava-Jato. Em 2017, MDB e PSDB foram alvos de denúncias e investigações. Com o objetivo de mostrar imparcialidade e de “sanear” o sistema político brasileiro, os “revolucionários” de Curitiba implodiram as ambições nacionais dos principais partidos de centro e abriram espaço para a ascensão de Jair Bolsonaro – uma consequência inesperada de todo o processo, talvez (?). O resto é história. Os principais partidos da Nova República ficaram marcados pelos escândalos de corrupção e perderam espaço para a “nova” direita conservadora.

Mesmo considerando as diversas dinâmicas locais, esse processo ainda parece em curso, especialmente entre as elites políticas, que se reorganizaram bastante entre 2017 e 2020.

Em 2020, a direita está na frente

Até o momento, é possível analisar as corridas eleitorais em 21 capitais a partir de pesquisas divulgadas por meios de comunicação. O que temos então? Partidos de direita lideram em onze (52%), de centro, em 5 (24%), e de esquerda, em 5 (24%).

O DEM está na frente em quatro capitais (Salvador, Rio de Janeiro, Curitiba e Florianópolis), seguido pelo PSD (Campo Grande, Goiânia e Belo Horizonte) e pelo PSDB (Palmas, Rio Branco e Natal). No bloco de esquerda, a dispersão é grande, com PT, PSOL, PDT, PC do B e PSB liderando, cada um, em uma cidade.

Já ganhou?

Ainda falta tempo para o primeiro turno e os eleitores vêm tomando decisões cada vez mais perto do dia de ir à urna. No entanto, em algumas capitais as disputas parecem bem encaminhadas e podem terminar ainda na primeira volta. Em Salvador, Curitiba e Florianópolis, Bruno Reis, Rafael Greca e Gean Loureiro, os três do DEM, contam com mais de 40% das intenções de voto, segundo o Ibope. Nada, porém, se compara ao desempenho de Alexandre Kalil (PSD) em Belo Horizonte. O ex-presidente do Atlético Mineiro e atual prefeito aparece com 56% das intenções de voto segundo a última sondagem do Datafolha.

O Triângulo das Bermudas

Desde a Nova República, apenas em 2016 nenhum partido de esquerda venceu nas capitais de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, o chamado Triângulo das Bermudas da política brasileira. O evento parece que vai se repetir em 2020. Em nenhuma das três cidades, candidatos de esquerda estão entre os dois primeiros colocados.

Falta tempo ainda para as eleições municipais, e muito mais tempo para 2022. O quadro atual, no entanto, não parece favorável aos partidos de esquerda.

Candidatos na liderança das disputas nas capitais

  • Belém: Edmilson Rodrigues (PSOL)
  • Manaus: Amazonino Mendes (Podemos)
  • Palmas: Cinthia Ribeiro (PSDB)
  • Rio Branco: Minoru Kinpara (PSDB)
  • Aracaju: Edvaldo Nogueira (PDT)
  • João pessoa: Cícero Lucena (PP)
  • Maceió: Alfredo Mendonça (MDB)
  • Natal: Álvaro Dias (PSDB)
  • Recife: João Campos (PSB)
  • Salvador: Bruno Reis (DEM)
  • São Luis: Eduardo Braide (Podemos)
  • Campo Grande: Marquinhos Trad (PSD)
  • Cuiabá: Emanuel Pinheiro (MDB)
  • Goiânia: Vanderlan Cardoso (PSD)
  • Belo Horizonte: Alexandre Kalil (PSD)
  • Rio de Janeiro: Eduardo Paes (DEM)
  • São Paulo: Celso Russomanno (Republicanos)
  • Vitória: João Coser (PT)
  • Curitiba: Rafael Greca (DEM)
  • Florianópolis: Gean Loureiro (DEM)
  • Porto Alegre: Manuela D’Ávila (PCdoB)

Nota metodológica

Esquerda: PC do B; PDT; PMN; PSB; Psol; PT; Rede
Centro: (P)MDB; PSDB; PPS/Cidadania
Direita: DEM; PHS; Podemos; PP; PRB/Republicanos; PSD

Prefeituras 2020: direita cresce, esquerda patina e centro cai.

Prefeituras 2020: direita cresce, esquerda patina e centro cai.

Quais partidos podem sair das eleições mais fortes e quais podem sair mais fracos? Se levarmos em conta a volatilidade do cenário político brasileiro, a resposta é difícil. O exercício aqui é, a partir de dados diferenciados e tendo como critério apenas o número de prefeituras, discutir as probabilidades.

A figura abaixo mostra o desempenho dos partidos desde as eleições municipais de 2000. Foram considerados apenas os resultados relativos aos partidos com maior bancada na Câmara dos Deputados.

Percentual de prefeituras conquistadas por partido político

Na maioria dos casos, o percentual de prefeituras conquistadas na primeira e última eleição consideradas manteve-se próximo, indicando relativa estabilidade. As exceções foram a queda do PT em 2016, e a trajetória do DEM, que só na última eleição sustou sua sequência de quedas. Merecem destaque a interrupção do crescimento do PSB em 2016 e a forte estreia do PSD em 2012, com repeteco quatro anos depois.

A força dos partidos nos governos estaduais

Como a máquina estatal e/ou o prestígio do governador podem interferir nas eleições municipais, o segundo dado remete aos governos estaduais conquistados em 2018. Neste aspecto, um dos destaques, em uma comparação com 2014, foi o recuo expressivo do MDB: de sete para três estados. Um deles é o Distrito Federal, onde não haverá eleição municipal. Sem o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul, o partido ficou com Pará e Alagoas como seus dois únicos trunfos.

O PSDB caiu de cinco para três estados, mas manteve São Paulo. O PT caiu de cinco para quatro, perdeu sua maior estrela, Minas Gerais, e encastelou-se no Nordeste. O DEM, depois de passar em branco em 2014, venceu em Goiás e Mato Grosso. PSL (Roraima, Rondônia e Santa Catarina), PSC (Amazonas e Rio de Janeiro) e Novo (Minas Gerais) foram “arrastados” pelo eleitorado de Bolsonaro.

As bancadas na Câmara dos Deputados

Outra fonte de dados vem da Câmara dos Deputados. Em 2018, MDB e PSDB reduziram fortemente suas bancadas relativamente a 2014 – 48% e 46% respectivamente. O PT, mesmo elegendo a maior bancada, viu sua força recuar em 19%. À esquerda, apenas PDT e PSOL cresceram.

Por outro lado, a direita cresceu. O Republicanos passou de 21 para 30 deputados(as) e o DEM interrompeu sua sequência de quedas, indo de 22 para 29 cadeiras. O conjunto de pequenas legendas de direita pulou de 35 para 107 cadeiras, com destaque para as 52 do PSL.

As candidaturas às prefeituras

Em relação ao número de candidatos(as) às prefeituras, o recuo foi expressivo nos casos do PSDB (redução de 26%), PSB (21%) e MDB (19%), totalizando 1138 candidatos (as) a menos, se compararmos com 2016. O contraste vem pela direita. Dentre os 10 partidos que mais aumentaram seu exército, 09 estão claramente perfilados deste lado do espectro ideológico: DEM, PODEMOS, PSC, Republicanos, Patriotas, PRTB, Avante, PSL e NOV0. O acréscimo agregado é expressivo: serão 2.635 candidatos (as) a mais, com destaque para os 580 do PSL.

Pela esquerda, o PT aumentou em 25% suas candidaturas, enquanto PSB (21%), PSOL (20%) e PC do B (18%) reduziram suas forças. Note-se que o quadro é semelhante ao das candidaturas a vereador: dentre os 10 partidos com maior crescimento, oito estão à direita.

Como ficamos?

A redução no número de candidaturas, nas bancadas na Câmara e no controle dos executivos estaduais permite antever um recuo de MDB e PSDB. A perda dos tucanos nos estados foi menos acentuada, mas o fracasso em recuperar o governo de Minas Gerais e a posterior migração de Anastasia para o PSD, somados ao “sumiço” de Aécio Neves, fragilizaram o partido naquela que sempre foi sua segunda maior base.

Mesmo que de forma modesta, o PT deve voltar a crescer – não tanto pelos dados aqui apresentados, mas porque 2016 representou o momento de maior desgaste do partido. Leve-se em conta que a perda do governo mineiro, em 2018, pode ser considerada “contabilizada” – afinal, em 2016 o partido já recuara de 113 para 41 prefeituras no estado.

Também o DEM deve voltar a crescer, impulsionado pelo incremento na Câmara, nos governos estaduais e pelas 418 candidaturas a mais em relação a 2016. Já o PSB parece ter alcançado seu teto: não cresceu na Câmara ou nos estados e tem hoje 232 candidatos (as) a menos do que em 2016. Por fim, o PSL vai crescer muito menos do que se poderia imaginar graças à ruptura com Bolsonaro e, em menor grau, à redução da bancada na Câmara (de 52 para 41 membros), a saída do governador de Roraima e ao processo de impeachment em Santa Catarina.

Indo além dos partidos, dois pontos parecem certos. Como indicam os números para as candidaturas, a direita vem com sede ao pote, – vai crescer, enquanto a esquerda patina. No agregado, ou seja, levando-se em conta a distribuição das prefeituras entre as legendas, o sistema partidário vai se mostrar ainda mais fragmentado: pequenos partidos vão expandir seus domínios, as duas maiores legendas em número de prefeituras (PSDB e MDB) vão recuar, ao passo que dentre os que vem a seguir neste quesito (PSD, PP, PSB, PDT, PL, DEM, PTB e PT) nenhum deve crescer muito.

No Recife, ainda é muito cedo para apontar favoritos

No Recife, ainda é muito cedo para apontar favoritos

Definidos/as os/as candidatos/as, as primeiras pesquisas de intenção de voto no Recife anunciam que a disputa está indefinida e será muito acirrada. Das 11 candidaturas, pelo menos quatro parecem despontar como as mais viáveis. A do deputado federal João Campos (PSB), a do ex-governador Mendonça Filho (DEM), a da deputada federal Marília Arraes (PT) e a da delegada Patrícia (Podemos). É o que mostra a pesquisa Ibope encomendada pela TV Globo/ Jornal do Commercio, divulgada na última sexta-feira (2).

A pesquisa aponta João Campos com 23%, e Mendonça Filho com 19% das intenções de voto, tecnicamente empatados na margem de erro. Além deste, dois outros empates se verificam: Mendonça Filho (19%) e Marília Arraes (14%) dividem a segunda colocação; e a candidata do PT empata também com a candidata do Podemos, Delegada Patrícia, que aparece em quarto lugar.

Fonte: Ibope (02/10/2020)

A indefinição aumenta quando se verificam os números da rejeição. Os dois primeiros colocados, Campos e Mendonça, são exatamente os que apresentam a maior rejeição, ambos com 36% e, portanto, com menos espaço para avançar na preferência do eleitorado. Já Marília Arraes tem 20% de rejeição, o que sugere que ela pode crescer um pouco mais que os dois. Mas o destaque fica para a Delegada Patrícia. Ela tem a menor rejeição entre os/as candidatos/as mais bem colocados, apenas 10%.

Ao que tudo indica, a incerteza sobre o resultado levará a estratégias de alianças que serão decisivas. A campanha vai importar, e muito. E quem manejar bem esses recursos, pode se beneficiar.

O apoio de Bolsonaro

Tudo indica que dois apoios podem ser decisivos na campanha. O primeiro é o do prefeito Geraldo Júlio (PSB) e o segundo é o de Bolsonaro. Contrariando as expectativas, em boa medida baseadas no fraco desempenho de Bolsonaro no Nordeste nas eleições de 2018, o presidente parece ser uma força importante na disputa eleitoral do Recife. Na pesquisa realizada pela 6 Sigma, entre 20 e 22 de setembro, a avaliação do presidente é melhor que a do Governador Paulo Câmara (PSB) e superior à do Prefeito do Recife, Geraldo Júlio, ainda que se verifique empate técnico neste último caso. Os percentuais são relativos aos eleitores que responderam ótimo e bom.

É bem verdade que a avaliação do presidente é menor do que a que se vem observando no Sudeste e em nível nacional, que em setembro estava em torno de 40%, a depender da pesquisa. Mas se cotejada com os líderes locais, seu apoio não parece ser dispensável. Bolsonaro é apoiado por quase um terço do eleitorado do Recife e isso não é pouca coisa.

Fonte: 6 Sigma (20 a 22/09/2020).

Resta saber, primeiro, se ele vai se envolver na campanha, e segundo, se for o caso, a quem ele dará apoio. A primeira pergunta ainda é uma incógnita, mas sobre a segunda, é possível especular. Se Bolsonaro entrar na campanha, dará apoio ou à delegada Patrícia, ou ao Cel. Feitosa. Como este último parece não ser viável, o apoio do presidente pode ser em favor da delegada do Podemos, e isso, associado à sua baixa rejeição, a torna uma candidata competitiva.

Enquanto a estratégia do presidente não está definida, qualquer palpite sobre a disputa do Recife se torna muito arriscado.

Esquerda dividida

Somado à incerteza sobre o apoio de Bolsonaro, Recife tem um quadro complicado para as esquerdas. O socialista João Campos, filho do falecido Eduardo Campos, certamente contará com o apoio do Prefeito Geraldo Júlio e do Governador Paulo Câmara, e isso lhe dá boa vantagem. Afinal, a máquina fala alto numa eleição, mas ele tem um problema pela frente: desta vez, o PT sai com candidatura própria.

Historicamente, o PT tem formado aliança com o PSB em Pernambuco, dando suporte ao projeto dos Campos e, para muitos, como partido satélite. Foi o que aconteceu em 2018, quando Marília Arraes foi preterida, em favor da candidatura de Paulo Câmara ao Governo do Estado. Agora, a história mudou. Marília conseguiu a indicação do partido e, embora conte com alguma oposição dentro do PT, notadamente do Senador Humberto Costa, ela aparece como candidata viável já no início do pleito.

Disputa indefinida

Duas das quatro candidaturas mais promissoras, segundo resultado do Ibope, já eram esperadas. Campos, pelo legado do pai e a força do PSB no Estado, e Mendonça, por já ter sido Governador. A novidade fica por conta das mulheres.

Tanto Marília Arraes quanto a delegada Patrícia aparecem bem posicionadas e isso complica o jogo. As duas tem potencial de crescimento, pois têm baixa rejeição e promissores apoios. Marília já provou ser boa de urna, foi eleita em 2018 com 193.108 mil votos – a segunda parlamentar federal mais votada no estado naquele ano. Mas seu sucesso depende de equacionar internamente o racha no PT, mantendo a militância coesa.

Já para Patrícia, seu desempenho pode melhorar significativamente se tiver apoio do Presidente. Embora diga que não depende do apoio de Bolsonaro, logo descobrirá que não existe eleição fácil, sobretudo para ela, que ainda não foi testada nas urnas. No Recife, menos ainda, dada a tendência do eleitorado à esquerda.

* Manoel Leonardo Santos é professor do Departamento de Ciência Política da UFMG

Amazonino Mendes, o último dos caciques políticos do Amazonas

Mal anunciavam a entrada de Amazonino Mendes (PDT) no palco montado na rua Democracia, no bairro Grande Vitória, na noite do dia 17 de agosto de 2017, e dezenas de pessoas se empurravam para entregar cartinhas escritas à mão com os mais diversos pedidos ao candidato ao governo. Amazonino se esticava, apertava mãos e afagava cabeças. Recolheu as cartas e entregou a um assessor, que garantiu que ele as lê e responde. A costureira Maria Aparecida da Silva, de 68 anos, pede no texto um “serviço” para o filho de 35 que está desempregado. “Voto no Negão (apelido do político) desde que tirei o título, ele é como um pai para a gente”.

No palanque, Amazonino não desfiava promessas de projetos. Mas era rico em chavões como “amo meu povo”, “amo o Amazonas”, “sou guerreiro da Zona Franca de Manaus”. É muito aplaudido e demonstra uma vitalidade que não casa com os 77 anos. Na entrada do palco, diz que entrou de novo na disputa política, afastado desde que deixou a prefeitura em 2012, porque “não tem apego ao poder, mas ao povo. E que ninguém ama o Amazonas como Amazonino”.

Amazonino venceu seu pupilo Eduardo Braga (PMDB), ficou um ano no governo. Em 2018, entrou na disputa pelo poder novamente, mas, pela primeira vez em 35 anos, um nome não ligado ao grupo de Amazonino ganhou o governo do Estado: Wilson Lima (PSC), um jornalista sem histórico político, que comandava um programa de cunho sensacionalista.

Aquele não era o fim do ciclo de poder liderado por Amazonino. Sumido das redes sociais e em supostos tratamentos de saúde em São Paulo nos últimos dois anos, Amazonino ressurge, aos quase 81 anos, como candidato a prefeito neste 2020, em tempos de pandemia e sem poder contar com seu ponto forte: as aglomerações em comícios. Amazonino disse várias vezes que estava saindo da vida pública,desde que foi prefeito biônico de Manaus, em 1982, inaugurando sua era no poder. Mas o “Negão” nunca esteve longe do poder, seja como o criador de seus sucessores diretos ou alternados ou em brigas de idas e vindas com Eduardo Braga, Alfredo Nascimento (PL), Omar Aziz (PSD) e José Melo (PROS).

Amazonino ressurge como protagonista ou sombra durante todo esse período histórico do Amazonas, influenciando na carreira de quem de início surgiu como ruptura com o grupo, apoiando pretensos desafetos como Arthur Neto (PSDB) ou Serafim Correa (PSB). Em 2012, Arthur Neto foi eleito prefeito de Manaus com apoio do então prefeito Amazonino Mendes que não concorreu à reeleição. E antes, em 1998, Serafim Correa apareceu como vice de Eduardo Braga, o pupilo mais próximo, criatura que tentou derrotar seu criador Amazonino Mendes ao governo, sem sucesso. Para integrar o grupo, a anuência de Amazonino sempre foi notória.

Nas pesquisas eleitorais para 2020, Amazonino, diabético e cardíaco, surge despontando como primeiro lugar nas intenções de voto. Também lidera nos índices de maior rejeição. Rejeita-se a “velha política”, mas boa parte dos concorrentes são da linhagem de Amazonino, apadrinhados diretos, como Alfredo Nascimento, ou indiretos, como Ricardo Nicolau, do PSD, apoiado por Omar Aziz.

A liderança de Amazonino nas pesquisas pode ser explicada especialmente pela desesperança da população com a pandemia do coronavírus, que atingiu a cidade de forma avassaladora, com enterros autorizados pela prefeitura de caixões em pé devido ao grande número de mortos. Além disso, o segundo mandato do prefeito Artur Virgílio (PSDB) foi marcado por crises no setor de transporte coletivo e irritação de muitos aliados com a influência de sua esposa Elizabeth Valeiko.

As denúncias de corrupção durante a pandemia contra o governador Wilson Lima (acusado de superfaturar respiradores hospitalares) podem ser, ainda, mais um fator que explique a liderança de Amazonino nas pesquisas. Afinal, Lima foi adversário de Amazonino nas eleições estaduais e a população preferiu o “novo” ao “Negão”.

Atualmente, pode-se apontar como novo e com chances apenas o candidato David Almeida (Avante), que foi governador por oito meses, como “tampão”, por ser o presidente da Assembleia Legislativa quando José Melo (também afilhado de Amazonino) foi afastado do governo do Estado.

Os outros três “novos” se dizem “candidatos de Bolsonaro”. Manaus tem se mostrado uma capital de voto conservador, fiel ao presidente Jair Bolsonaro, marcando bom ou ótimo nos índices de apoio à sua administração. São quatro candidatos que disputarão o apoio do presidente da República: Coronel Menezes (PATRIOTAS); o vereador Chico Preto, do DC; o empresário Romero Reis, do Novo; e o deputado federal Capitão Alberto Neto (Republicanos), hoje vice-líder de Bolsonaro na Câmara. A eleição será um teste da popularidade de Bolsonaro em Manaus.

E, para ajudar os aliados de Bolsonaro, a esquerda, como na maioria das capitais do país, surge esfacelada, com três candidaturas, do PT, PCdoB e PSTU. Dessas, somente uma não é traço nas pesquisas, a do deputado federal mais votado no Amazonas, José Ricardo (coligação PT, PSOL e REDE). Apesar de bem votado, o deputado precisa investir em estratégias para burlar o forte ranço do anti-petismo na capital. José Ricardo tem apostado nas redes sociais. Porém, a sua preferência é fazer corpo a corpo no estilo local e fazer pequenos comícios em bairros em cima de uma Kombi. Dizem petistas próximos que “ele tem saúde para isso”.

Manaus já mostrou guinadas espetaculares nos últimos dias de campanha, sendo o caso mais clássico o de Serafim Corrêa à prefeitura, em 2004, uma “zebra”. Mas que perdeu a reeleição em 2008 para Amazonino.

Ao ler o resultado de pesquisa, dia 5 de junho, do instituto Friederich Ebert Stiftung, das pesquisadoras Camila Rocha e Esther Solano, indicando que eleitores de Bolsonaro teriam se arrependido do voto por ele ser “violento e agressivo, que tem um jeito caótico de governar, cria muita instabilidade e além da avaliação muito negativa dos filhos” imaginei que uma pesquisa como essa em Manaus daria exatamente o contrário. Mas também me questionei: será que esse amor a Bolsonaro vai se transferir em votos para eventual apoiado à prefeitura?

É cedo para se afirmar se é o fim da era Amazonino, seja pela derrota dele ou de seus pupilos seja pela vitória de um representante independente ou de um dos tantos apoiadores de Bolsonaro.

* Liege Albuquerque é mestre em Ciência Política pela USP, jornalista e professora da Fametro (Manaus).