Antipetismo versus experiência administrativa

Antipetismo versus experiência administrativa

Leonardo Avritzer*

As eleições do último domingo geraram análises contraditórias e de diferentes tonalidades no que diz respeito aos resultados da esquerda e, em particular, do Partido dos Trabalhadores (PT). De acordo com os dados do TSE, comparando os votos recebidos no primeiro turno de 2016 e 2020, o PT recebeu 11.740 votos a mais nessas eleições na avaliação mais conservadora, sem contar Macapá, onde não o pleito ainda não se realizou, e com algumas disputas ainda sob judice. Percentualmente ele recebeu uma fração maior devido à alta abstenção neste último domingo.

Mesmo com a performance ruim para prefeito na cidade de São Paulo e as coalizões em Belém e Porto Alegre, o partido demonstra uma leve recuperação em relação a 2016. No que se refere à capital paulista, se levarmos em conta que o PT fez a maior bancada de vereadores na cidade e que uma parte considerável do eleitor petista identificou-se com a candidatura de Boulos (PSOL), podemos apontar uma recuperação do PT, ainda que parcial.

Cabe destaque que nas câmaras municipais das capitais o PT cresceu e passou de quarenta para cinquenta vereadores. Foi o segundo partido, atrás apenas do Republicanos, que fez 53 vereadores.

O antipetismo, contudo, parece não ter sido completamente superado, continuando forte nas regiões sul e sudeste. Em pesquisa realizada na última semana de outubro pelo Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação (INCT Democracia), percebemos a continuidade do antipetismo nestas regiões. No Brasil como um todo, 26% dos respondentes afirmou não votar em candidatos do PT. Na região sudeste, o antipetismo alcança 30%. Ainda assim, se olharmos a série histórica, os dados são menos contundentes do que em 2018.

No entanto, gostaria de analisar um dado que me parece ainda mais importante: os resultados das eleições em cidades grandes e de porte médio com segundo turno. Neste caso, notamos um fenômeno adicional que merece análise: a forte presença do PT nas cidades da região sul e sudeste.

Na lista de prefeituras com candidatos petistas que disputarão o segundo turno no dia 29 de novembro, temos nove cidades da região sul e sudeste. Estas cidades têm algumas características em comum: já foram governadas pelo PT (apenas Juiz de Fora é exceção) e têm políticos com forte tradição de eficiência administrativa. Pepe Vargas em Caxias do Sul (RS), Marília Campos em Contagem (MG), João Coser em Vitória (ES) e Filippi em Diadema (SP) têm essa caraterística que aponta na direção de uma mudança de postura no eleitorado. Onde os eleitores conhecem o candidato, o antipetismo parece ser contido pela busca de experiência administrativa.

Quadro 1: Cidades com candidatos do PT disputando segundo turno

Dois elementos adicionais apontados pelos dados são importantes: em primeiro lugar, a diferença entre 2016 e 2020 no quesito experiência administrativa dos candidatos do PT. O partido disputa o segundo turno em 2020 em oito cidades a mais do que em 2016, lembrando que ele foi derrotado em todas as sete cidades nas quais disputou segundo turno na eleição de quatro anos atrás. Além disso, em nenhuma dessas, o seu candidato havia liderado a disputa. Assim, temos de fato uma mudança que vale a pena ser observada: o PT encontra-se em primeiro lugar em sete das quinze cidades, sem contar Belém, onde é parte da coalização que lidera nas pesquisas.

A segunda questão que também parece relevante consiste em saber se o resultado positivo deve-se a pessoas ou administrações exitosas no passado. Tomo aqui três exemplos, um em cada região: Caxias do Sul (RS), Contagem (MG) e Vitória da Conquista (BA). O caso mais emblemático é Vitória da Conquista, governada pelo PT entre 1996 e 2016. Alí um ex-prefeito teve mais votos do que o atual prefeito e quase se elegeu no primeiro turno. Algo parecido ocorreu em Contagem e Caxias. Políticos com muita experiência foram os preferidos pela população. Assim, é possível dizer que se o antipetismo das duas últimas eleições continua entre nós, mas ele parece ter um fator moderador: a busca pelo bom governo e pela experiência administrativa.

Auxílio Emergencial e Popularidade do Bolsonaro

Auxílio Emergencial e Popularidade do Bolsonaro

Fabiano Santos e Tiago Ventura*

Em inícios de abril, o Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação divulgou pesquisa na qual a avaliação bom e ótimo de Bolsonaro, em franco declínio, girava em torno de 25%. Ao longo dos meses seguintes, contudo, o presidente inicia uma lenta e consistente recuperação de sua imagem, recuperação que acaba por alçá-lo, segundo o último levantamento do projeto “A Cara da Democracia: Eleições 2020”, de outubro, a algo em torno de 40% de avaliação positiva.

Analistas e cronistas da política brasileira, corretamente a princípio, relacionam tal subida aos efeitos que a política de auxílio emergencial, aprovada por iniciativa do Congresso e executada pelo governo, teria produzido na renda, psicologia e opinião de eleitores a partir de meados de maio.

Se a política de auxílio é sustentável e o que ocorrerá com a popularidade do Bolsonaro após seu eventual esvaziamento não podemos prever, só especular. Entretanto, é possível e desejável examinar os dados envolvendo o padrão de resposta a perguntas sobre popularidade e sua relação com o recebimento ou não do auxílio, assim como sua incidência por estrato de renda. Fazemos isso a seguir.

Nossa sugestão é que a variável “renda”, ausente dos comentários feitos até o momento sobre auxílio e popularidade, afeta tanto as chances de se receber o auxílio quanto de apoiar o presidente, como mostra a figura abaixo.

Os resultados levam a duas conclusões. Em primeiro lugar, não há, no estrato de renda inferior a dois salários mínimos diferença perceptível no apoio presidencial entre os que recebem ou não o auxílio. Dentre os respondentes que recebem até dois salários mínimos e recebem o auxílio, 33% consideram a administração de Jair Bolsonaro ótima ou boa, sendo que dentre os respondentes na mesma faixa de renda, mas que não recebem o auxílio, esta proporção é de 34%.

Mantendo o corte de renda e considerando o mesmo estrato (até dois salários), uma diferença também não significativa, e de magnitude pequena aparece entre aqueles que avaliam o governo como regular, ou péssimo. Portanto, receber ou não o auxílio emergencial, mantendo constante a faixa de renda, não afeta de forma robusta o apoio ao presidente Jair Bolsonaro.

As diferenças aparecem, todavia, onde menos se espera, vale dizer, nas faixas de renda média e alta. Entre os que recebem entre dois e dez salários mínimos e recebem o auxílio, há um crescimento na proporção de respondentes com avaliação negativa do governo. Por outro lado, há pouca variação entre os que não recebem o auxílio, oscilando entre 37%, 28%, e 35% dos respondentes se manifestando com uma avaliação do Bolsonaro ótima-boa, regular, ruim-péssima, respectivamente.

Tendência contrária, e isto é o mais interessante, aparece entre setores de renda alta. Neste caso, setores mais ricos que recebem o auxílio mostram forte apoio ao governo (53% dos respondentes neste grupo), e com uma diferença importante para os que não recebem (32%). Aqui é preciso alguma cautela com os dados. Em primeiro lugar, estamos diante de uma análise simples de proporção, com foco apenas em associação entre renda, recebimento do auxílio e apoio presidencial. Em segundo, trata-se somente de um retrato estático, uma fotografia do atual momento, sem parâmetro longitudinal comparativo, uma vez que a política de auxílio emergencial é muito recente

Feito o proviso, apresentamos hipótese até então não levantada e promissora para investigação futura. Mais do que efeito egotrópico no recebimento do auxílio emergencial, o que parecemos assistir é um processo de racionalização motivada por parte dos eleitores, sobretudo mais ricos, em relação ao auxílio. Explicamos.

Eleitores mais ricos, principais apoiadores de Jair Bolsonaro, parecem ser os únicos para quem o auxílio importa, uma vez diante de perguntas sobre avaliação do governo. Dado que o efeito econômico do auxílio nestes setores tende a ser diminuto, nossa hipótese é de que estes eleitores, já predispostos a apoiar o presidente, reforçam a associação entre receber o auxílio, ou conhecer pessoas que o recebem, e o apoio ao governo. O contrário acontece entre mais ricos e que avaliam o governo como ruim ou péssimo. Esperemos mais pesquisas, então.

A pesquisa “A Cara da Democracia: Eleições 2020”, do INCT-Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação e do Cesop/Unicamp foi realizada entre os dias 24 de outubro e 04 de novembro de 2020. A pesquisa entrevistou duas mil pessoas por telefone, tem grau de confiança de 95% e margem de erro de 2,2%.

*Fabiano Santos (IESP-UERJ, Instituto da Democracia)
Tiago Ventura (University of Maryland, College Park)

Candidatas e a corrida com obstáculos em tempos de pandemia

Todo ano de eleição registra alguma especificidade que determina diferentes impactos nas campanhas eleitorais e nas chances de que candidatos ou candidatas consigam a vaga que estão disputando. Normalmente, essas contingências estão ligadas a crises ou bonanças políticas ou econômicas. O ano de 2020, entretanto, apresentou um novo cenário, de crise sanitária aguda, a qual será o palco para as eleições municipais que se realizarão em 5.570 cidades brasileiras.

Com as questões relacionadas à pandemia, começou-se a levantar a hipótese de que este contexto prejudicaria a presença e as chances de mulheres candidatas, isso porque a dupla jornada – aumentada por conta das políticas de isolamento – reduziria ainda mais os horários já escassos das mulheres. Apesar disso, até agora o que se registrou nesta eleição foi um aumento do percentual de mulheres candidatas, as quais alcançaram 33%, a melhor marca das candidaturas em um país com péssimos índices de mulheres representantes.

A vereança é geralmente a porta de entrada dos novos nomes na política. É o caminho por onde passam as mulheres que, a médio prazo, poderão ocupar outras cadeiras mais altas, seja no Legislativo ou no Executivo. Com essas questões em mente e a possibilidade de trabalhar com filiadas de um partido do Paraná, desenvolvemos uma pesquisa para tentar entender o que estava se passando na pré-candidatura no contexto da Covid-19.

Analisando as respostas que recebemos, identificamos que, mesmo diante de todo o caos e incerteza, as mulheres foram contundentes: o que viam como maior ameaça às suas chances de eleição era a falta de apoio do partido.

O resultado – significativo, diferentemente de questões como o abalo econômico pela pandemia ou o aumento da dupla jornada – reforça algo que já vínhamos observando em outros trabalhos: os partidos, que deveriam ser o espaço privilegiado para impulsionar as candidaturas, acabam sendo vistos pelas mulheres como limitadores das suas capacidades. E isso ocorre em um contexto em que as regras eleitorais são, a princípio, mais favoráveis que em eleições anteriores.

A reserva de 30% do financiamento dos partidos para as candidaturas das mulheres, aprovada em 2018, poderia as conduzir para um novo patamar de viabilidade eleitoral. O que identificamos, mais uma vez, é que há um sistema de instituições informais que privilegia os homens, principalmente aqueles que já estão no poder, deixando a maioria das mulheres a mercê de gostos e desgostos de “donos do partido”.

A pesquisa entre pré-candidatos da seção paranaense do Partido Republicano da Ordem Social (PROS) – o partido brasileiro considerado mais ao centro no espectro ideológico – foi realizada ao longo do mês de junho com 139 participantes, contando com o incentivo das lideranças locais para aumentar a taxa de respostas em um tempo tão curto.

Pelo questionário, as mulheres deixaram claro que o que mais temiam era a perda de acesso aos recursos e apoios para campanha no contexto da pandemia. Mesmo com esforços do partido em promover cursos e incentivar as candidaturas femininas (no mínimo, 5% dos recursos do Fundo Partidário devem ser destinados à formação de mulheres), elas ainda se mostraram menos confiantes em relação a esse suporte.

Para além disso, notamos também que as mulheres pré-candidatas apresentavam uma resiliência que fazia com que, mesmo em um contexto pandêmico, sabidamente mais prejudicial às mulheres – dado o trabalho dobrado, abalo emocional e físico, riscos de perda de emprego e de renda por conta da pandemia –, elas mantivessem seus esforços na preparação para concorrer às eleições

Nossos achados, que foram publicados pela “Politics & Gender”, revista sobre mulheres e política da Associação Americana de Ciência Política, estão bastante alinhados com outras pesquisas que mostram que a ausência de mulheres na política no Brasil não está explicada por questões que estejam relacionadas às mulheres – no sentido de sua preparação, capacidade e disponibilidade –, nem aos eleitores e eleitoras, no tocante a sua pré-disposição de votar em mulheres. Essa escassez parece, sim, ser muito mais um resultado da falta de suporte que encontram nas esferas partidárias, ou mesmo, por alguma expectativa não satisfeita neste sentido. Essa limitação, que se repete ano após ano, ficou ainda mais intensa na pandemia.

Somado a tudo isso, é preciso incluir ainda a questão do distanciamento. Em algumas conversas mais recentes com candidatas, várias delas relataram que, por preocupação com pessoas mais velhas ou outros grupos de risco, tiveram que abrir mão da campanha de rua, concentrando sua atuação nas redes sociais, diminuindo, assim, um importante campo de ação. As mulheres, cujas imagens estão atreladas ao cuidado, parecem mais cobradas para terem cautela.

Se, por um lado, existe neste ano atípico um número recorde de candidatas e um enorme incentivo para que elas consigam se eleger; por outro, o contexto pandêmico parece apresentar uma série de novos e antigos obstáculos, com os quais elas terão que lidar nesta maratona. Eleições com pouco tempo de campanha e eleitores preocupados tendem a beneficiar quem já está no poder. Até o momento, a maior parte do financiamento continua dirigida aos homens brancos. As mulheres, que ocupam apenas 13% das cadeiras de vereadora, terão que se desdobrar ainda mais.

*Malu A. C. Gatto é professora de política Latinoamericana no Instituto das Américas da University College London (UCL) e Global Fellow no Brazil Institute do Wilson Center em Washington, D.C.. Sua pesquisa explora questões sobre comportamento político, representação, e formulação de políticas de gênero. Malu é doutora em ciência política pela Universidade de Oxford e foi pesquisadora de pós-doutorado na Universidade de Zurique.
Débora Thomé é pesquisadora associada ao LabGen-UFF. Doutora em Ciência Política (UFF), sua pesquisa é concentrada em questões de gênero que envolvem acesso aos espaços de poder, representação e ambição política. Foi visiting scholar da Columbia University e é professora do Columbia’s Women’s Leadership Network. Desde 2016, vem dando cursos para mulheres candidatas em todo o país. É autora dos livros “Mulheres e poder” (com Hildete Pereira de Melo) e do infantil “50 Brasileiras Incríveis para conhecer antes de crescer”.

Três grupos políticos movimentam a reta final da eleição de Maceió

Três grupos políticos movimentam a reta final da eleição de Maceió

Luciana Santana*

A eleição em Maceió promete muitas emoções até a contabilização dos últimos votos no próximo do domingo. Pesquisas e análises anteriores apontavam que a definição do próximo prefeito se daria em dois turnos e apontavam os dois nomes prováveis para a disputa, JHC (PSB) e Alfredo Gaspar de Mendonça (MDB). Nas últimas semanas, entretanto, essa situação já não existe mais. O cenário é de muita indefinição.

E o que mudou? O candidato Davi Davino Filho (Progressistas), que aparecia em quarto lugar, com 5% das intenções de votos na pesquisa Ibope realizada no início de outubro, cresceu 14 pontos, atingindo 19% na última rodada Ibope divulgada na quarta (11). O candidato está tecnicamente empatado com os dois primeiros colocados e tem boas chances de ir para a disputa do segundo turno.

Candidaturas e desempenho nas pesquisas eleitorais

A figura abaixo mostra o desempenho dos candidatos em pesquisas realizadas desde o início do mês de outubro. Houve pouca mudança na evolução de intenção de votos para os dois candidatos mais bem colocados nas pesquisas.

O ex-procurador do estado Alfredo Gaspar de Mendonça tem se mantido mais estável e tem 26% das intenções de votos. Apresentou oscilação negativa na segunda rodada de pesquisa Ibope, mas se recuperou na última. O deputado federal JHC também tem se mantido estável dentro da margem de erro, teve duas oscilações negativas e tem 22% das intenções de voto.

O deputado estadual Davi Davino Filho foi o candidato que obteve o melhor desempenho, com bom potencial de crescimento. Já o ex-prefeito maceioense Cícero Almeida (DC) teve queda de 7 pontos percentuais nas pesquisas e tem apenas 3%.

O único candidato que associa sua imagem a do presidente Bolsonaro, Josan Leite (Patriotas), não conseguiu obter mais do que 3% da intenção de votos. As demais candidaturas somadas não ultrapassam 4% .

Gráfico 1- Desempenho dos candidatos em pesquisas IBOPE

Fonte: Instituto Ibope

Os resultados de institutos de pesquisas locais (DataSensus e Ibrape) também tem apontado empate técnico entre os três primeiros candidatos, mas com alteração na ordem dos nomes. Seja como for, nenhum instituto crava o resultado do dia 15 de novembro, mas sugerem três cenários possíveis para o segundo turno: 1) Alfredo Gaspar de Mendonça X JHC 2) JHC X Davi Davino ou 3) Davi Davino X Alfredo Gaspar de Mendonça.

Rejeição dos candidatos

O campeão de rejeição na última pesquisa Ibope é o ex-prefeito da capital, Cícero Almeida (DC) com 48%. É seguido pelo ex-vereador Ricardo Barbosa (PT) com 23%. A candidata menos rejeitada é Valéria Corrêa (PSOL) com 11%.

Entre os candidatos mais cotados para a disputa do segundo do turno, Alfredo Gaspar de Mendonça (MDB) tem 22%, JHC (PSB) 18% e Davi Davino Filho (Progressistas) 14% de rejeição.

  A rejeição dos demais candidatos variou de 13 a 16%. Lenilda Luna (UP) teve 16%, Cícero Filho (PCdoB) 14%, Corintho Campelo (PMN) 13% e Josan Leite (Patriota) 13%.

Ataques e contra-ataques marcam a disputa pelo segundo turno

Como o atual cenário é de muita indefinição sobre quais serão os dois candidatos que disputarão a prefeitura da capital no segundo turno, os ataques e contra-ataques se intensificaram na reta final das campanhas eleitorais.

Além do aumento da circulação de panfletos, memes e mensagens negativas apócrifas por meio de aplicativos de mensagens, é possível perceber mudanças no comportamento dos candidatos mais bem posicionados nas pesquisas. Os três líderes na intenção de voto subiram o tom em suas propagandas eleitorais, seja para responder a ataques ou para enfatizar os apoios ou apadrinhamentos políticos de seus adversários.

Ex-procurador e candidato governista

Como se sabe, Alfredo Gaspar de Mendonça (MDB) é ex-secretário de segurança pública de Alagoas, ex-procurador do Estado e pediu exoneração para concorrer à Prefeitura da capital. Conta com o apoio do atual prefeito Rui Palmeira (sem partido) e do governador Renan Filho (MDB).

Mendonça teve o segundo maior tempo no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE), 2 minutos e 36 segundos. Sua campanha, que estava com tom de formalidade excessiva, alterou-se nas últimas semanas após a saída do marqueteiro do governador Renan Filho, Adriano Gehres. Em seu lugar assumiu a marqueteira de Rui Palmeira, Renata Melo, que tem trabalhado em parceria com Ricardo Mello. Além de reforçar o número do candidato, passou a trazer mais emoção para suas propagandas e menos cordialidade com os adversários.

O candidato tem sido alvo de muitas críticas, especialmente por causa de suas alianças. Para responder aos ataques que vem recebendo tem buscando enfatizar sua trajetória pessoal e atuação à frente do Ministério Público do Estado (MPE) e na Secretaria de Segurança Pública no primeiro mandato de Renan Filho. Quanto aos apoios, tem enfatizado que não é dependente de grupos políticos e reforçado a importância dos parceiros para sua futura gestão.

Sua eventual vitória indicará a força do grupo de Calheiros na capital, além de fortalecer o nome de Rui para a disputa ao governo em 2022. Vale ressaltar, no entanto, que muitos outros aliados de Renan Filho e do senador Renan Calheiros vislumbram uma candidatura à sucessão do governo.

Crescimento nas pesquisas e apoio de Arthur Lira

O deputado estadual Davi Davino Filho (Progressistas) tem se destacado pelo bom desempenho nas pesquisas desde o início da campanha. É o candidato que apresentou a maior taxa de crescimento de intenção de votos e teve o maior tempo no HGPE, 3 minutos e 16 segundos.

É filho de Davi Davino, vereador que está concorrendo à reeleição para o oitavo mandato na Câmara Municipal de Maceió. Tem apoio do deputado federal Arthur Lira (Progressistas), líder do bloco conhecido como Centrão e também candidato à Presidência da Câmara dos Deputados. Apesar de não utilizar diretamente a imagem de Bolsonaro em sua campanha, o candidato tem reforçado a necessidade de manter uma boa relação com o governo federal.

Tem feito muitas críticas à gestão do atual prefeito da capital, mas tem apoio do atual secretário de saúde de Maceió, o ex-deputado federal José Thomaz Nonô (DEM). Em vários momentos de sua campanha, fez ataques aos seus principais adversários na disputa, mas mudou a estratégia na reta final. Tem se colocado como opção de renovação política para a cidade.

Sua eleição pode fortalecer o nome de Arthur Lira para a disputa para o Senado ou Governo do Estado em 2022. Outro nome que pode se beneficiar é o do atual presidente da Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE) que poderá se tornar vice-governador, caso Luciano Barbosa (MDB) vença a eleição em Arapiraca e assuma a prefeitura em 2022.

Independência, mas com apoio de Rodrigo Cunha e Ronaldo Lessa

João Henrique Caldas foi o candidato a deputado federal mais votado em Alagoas nas eleições de 2014 e 2018. Tem o apoio do ex-governador e ex-prefeito Ronaldo Lessa (PDT), candidato a vice na sua chapa. É filho do ex-deputado federal João Caldas e conta com o apoio do senador Rodrigo Cunha (PSDB).

Sua trajetória no âmbito do legislativo estadual e federal tem sido o escudo para rebater os ataques de seus opositores. Em sua atuação na Assembleia Legislativa ficou conhecido pelo combate à corrupção e apresentação de denúncias de supostas irregularidades em folhas de pagamento de servidores da Casa.

 Em sua campanha tem se apresentado como candidato de renovação e independência da “velha política” alagoana, com duras críticas aos candidatos apoiados por Calheiros, Rui Palmeira e Arthur Lira. Caso tenha êxito eleitoral, e se torne o próximo prefeito da capital, tem chances de indicar e apoiar Rodrigo Cunha como candidato ao Governo do Estado em 2022. A primeira suplente de Rodrigo no Senado é a ex-prefeita de Ibateguara e sua mãe, Eudócia Caldas (PSB).

Participação dos candidatos nos debates

Foram realizados apenas dois debates eleitorais com os candidatos que disputam a prefeitura de Maceió. O primeiro ocorreu no último dia 10 no Portal ACTA e, apesar de convite estendido a todos os dez candidatos, três ausentaram-se: JHC, Davi Davino Filho e Cícero Almeida.

O segundo debate ocorreu no dia 12 na TV MAR e contou com a presença de sete dos oito candidatos convidados. Lenilda Luna (UP) e o ex-prefeito Corintho (PMN) não foram chamados. O ex-prefeito Cícero Almeida ausentou-se novamente.

Entre a apresentação de uma proposta e outra, as trocas de farpas entre os candidatos foram uma constante nos dois debates. Mesmo aqueles com pior desempenho eleitoral utilizaram o espaço para fazer críticas à gestão do atual prefeito, aos apoios políticos recebidos pelos adversários e se colocaram como alternativa para a Prefeitura da capital. 

A reta final da campanha

A contabilização dos votos no domingo será marcada por muita apreensão e expectativa. O resultado trará não apenas os dois nomes que disputarão o segundo turno, mas também demonstrará a força de grupos políticos adversários na capital. Ter a Prefeitura será um bom trunfo para o fortalecimento de um projeto político que mira a disputa pelo comando do Governo do Estado em 2020.

Até o fechamento das urnas os candidatos estarão buscando conquistar votos, mas o certo é que a sorte de cada um já está lançada e amanhã teremos a resposta das urnas.

PT X PSL: o efeito das eleições presidenciais na disputa local

PT X PSL: o efeito das eleições presidenciais na disputa local

As eleições municipais tendem a colocar em evidência os partidos que disputaram a eleição presidencial anterior. Não por acaso, estuda-se o fenômeno da “presidencialização das disputas”, ou seja, avalia-se nas disputas de menor nível, como nos municípios, a importância dos principais partidos da corrida para a Presidência da República, especialmente os que foram adversários no segundo turno.

A fim de pensarmos a construção dos dois partidos mais fortes eleitoralmente em 2018, analisamos como se deram suas alianças até a disputa que os marcou. Avaliamos as coligações construídas pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e pelo Partido Social Liberal (PSL) para concorrer às prefeituras brasileiras entre 2012 e 2020. Pelos dados, é possível observar que a disputa de 2018 é um divisor de águas nas estratégias traçadas pelas siglas.

O PT, para além de triplicar suas candidaturas solitárias entre 2016 e 2020 (de 213 candidaturas solitárias para 649), também diminuiu sua participação em coligações alheias. O partido opta por especial cuidado quando se leva em consideração o PSL. O inverso também ocorre, como é possível observar no Gráfico 1.

Gráfico 1. Porcentagem de candidaturas do PT e do PSL nas quais houve aliança entre os dois partidos

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Os partidos que disputaram a presidência em 2018 demonstram, dois anos depois, a importância do pleito municipal para construção de suas trincheiras. A aparente indiferença entre os partidos nos anos anteriores teve um contraponto estratégico no ano de 2020. Em 2016, o PT admitia o PSL como parceiro de coligação em 9,5% de suas candidaturas; em 2020, este número caiu para 0,5%. O PSL, por sua vez, fez aliança com os petistas em 28,5% de suas candidaturas em 2016; em 2020, este número passou para 1%.

Os dados ainda são prematuros para quaisquer conclusões, mas já apontam um novo movimento nos sistemas partidários municipais em 2020. Ainda que não possa mais contar com aquele que antes era seu principal filiado, o presidente Jair Bolsonaro, o PSL emergiu como ator fundamental nas eleições deste ano – triplicando suas candidaturas enquanto cabeça de chapa apoiado por outros partidos (de 105 candidaturas para 349). Além do natural crescimento após êxito na eleição de maior importância no país, os dados demonstram que as coligações do PSL com o PT, ainda que existam, são raras.

Vale ressaltar que todos os municípios onde os dois partidos se aliaram possuem menos de 200 mil eleitores, ou seja, não têm possibilidade de segundo turno. São territórios de menor exposição nacional para as siglas, logo, de menor desgaste frente ao eleitorado.

A orientação mais criteriosa que ambos os partidos estabeleceram para as coligações entre si é importante para avaliarmos as pretensões das siglas frente ao eleitorado. Um alto número de alianças entre PT e PSL provavelmente seria alvo de críticas não apenas em 2020, mas com repercussões nos próximos pleitos. Nesse cenário hipotético de aproximação, não haveria vencedores. O afastamento, portanto, era a saída mais viável para o fortalecimento dos dois partidos enquanto líderes dos campos que se propõem a representar.

*Henrique Curi é doutorando em Ciência Política no IFCH-Unicamp e integra o Grupo de Estudos em Política Brasileira (PolBras/CESOP-Unicamp).
Otávio Z. Catelano é mestrando em Ciência Política no IFCH-Unicamp, membro do PolBras/CESOP-Unicamp e bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Você prefere votar em mulheres ou em homens?

Você prefere votar em mulheres ou em homens?

Segundo a pesquisa “A cara da democracia: eleições 2020”, realizada pelo INCT/Instituto da Democracia, a preferência por votar em candidatas mulheres é maior entre as eleitoras do que entre os eleitores.

Questionadas sobre sua preferência por votar em mulheres ou em homens para a prefeitura de suas cidades, 27,1% das mulheres disseram preferir votar em mulheres, 25,4% disseram preferir votar em homens e 44,8% disseram que tanto faz. Entre os eleitores do sexo masculino, apenas 14,6% manifestaram a preferência por votar em mulheres e a preferência por votar em homens é de 25,2%, praticamente a mesma das eleitoras. A manifestação de indiferença, que entre eles sobe para 58,6%, pode indicar que é maior entre as mulheres a percepção de que as clivagens de gênero têm impacto na vida política e social.

Quando a mesma pergunta foi feita em relação ao cargo de vereador, as respostas tiveram uma pequena oscilação para cima na preferência de eleitores de ambos os sexos por votar em mulheres, indicando uma abertura um pouco maior no caso do Legislativo, assim como uma maior resistência a ligar as mulheres a posições de comando, em cargos executivos.

Gráfico 1: Preferência por votar em mulheres ou em homens, por sexo e cargo

A pesquisa também mediu o conservadorismo do eleitorado, perguntando se há concordância com a afirmação de que pessoas do mesmo sexo podem se casar. As mulheres mostraram uma postura mais liberal, manifestando sua concordância em 55,8% dos casos, enquanto entre os homens 47,7% disseram concordar.

Pudemos, também, verificar que entre as pessoas que concordam com o casamento homossexual, 25,5% disseram preferir votar em mulheres para a prefeitura e um percentual menor, de 18,5%, manifestou preferência por votar em homens. Já entre quem disse ser contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o percentual dos que preferem votar em homens é mais que o dobro do daqueles que preferem votar em mulheres – 34,2% no primeiro caso, 16,9% no segundo.

Há, assim, dois elementos que precisam ser considerados: um é que o conservadorismo é maior entre os homens; o outro é que a pesquisa capta uma relação entre ser conservador e preferir votar em homens.

Apesar disso, a religião não apareceu como uma variável forte na escolha por votar em homens ou em mulheres, uma vez que a maioria do eleitorado, independentemente de sua crença, respondeu que “tanto faz” – para ser mais precisa, no caso dos católicos foram 49% tanto no caso da prefeitura, quanto da vereança. Mas a preferência por votar em homens é maior entre católicos e evangélicos, manifestada por quase 30% das pessoas nos dois casos, contra cerca de 20% de preferências por votar em mulheres. Já entre espíritas, seguidores de outras religiões e aqueles que declararam não ter religião, a preferência é pelas mulheres, superando a preferência pelos homens em até 10 pontos percentuais. Assim, é na maioria cristã que o viés favorável aos homens é mais evidente.

Outro elemento que permite compreender o perfil do eleitorado é o voto nas últimas eleições presidenciais. Ele indica que a abertura para eleger mulheres é maior à esquerda do que à direita do espectro ideológico. Entre as pessoas que em 2018 votaram no candidato de extrema-direita (à época filiado ao PSL), uma fatia de 30,7% prefere votar em homens, apenas 15,9% dizem preferir votar em mulheres. Já entre as pessoas que votaram no candidato de centro-esquerda (PT), a preferência por votar em mulheres chega a 28,6%, e supera a preferência por votar em homens, que é de 23,5%, como se pode verificar no gráfico abaixo.

Gráfico 2: Preferência por votar em mulheres ou em homens, de acordo com o voto em Jair Bolsonaro ou Fernando Haddad no segundo turno das eleições, em 2018

A pesquisa “A cara da democracia: eleições 2020” mostra, assim que não temos razões para presumir que eleitores e eleitoras se recusem a votar em mulheres. Há, no entanto, a indicação de que eleitores mais conservadores e que se posicionam à direita no espectro ideológico tendem a preferir votar em homens. E que esses são, em sua maioria, eleitores do sexo masculino. Por outro lado, é entre as mulheres que encontramos uma visão mais liberal em termos morais, que captamos com a pergunta sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo, assim como uma disposição maior para votar em candidatas mulheres.

A pesquisa “A Cara da Democracia: Eleições 2020”, do INCT-Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação e do Cesop/Unicamp foi realizada entre os dias 24 de outubro e 04 de novembro de 2020. A pesquisa entrevistou duas mil pessoas por telefone, tem grau de confiança de 95% e margem de erro de 2,2%.