Eleições de 2020: como os impactos de uma disputa atípica e virtualizada acentuam as desigualdades na campanha eleitoral

Desde março especula-se como as restrições sanitárias e o isolamento social decorrentes da pandemia impactariam as eleições municipais de 2020, mas só após o início da campanha eleitoral no fim de setembro foi possível observar a abrangência das mudanças em relação às eleições anteriores. O fato é que as desigualdades que permeiam a sociedade, e refletem-se em uma presença baixíssima de minorias políticas representadas no poder institucional, acentuaram-se no contexto atípico destas eleições.

A forma mais tradicional e barata de se fazer campanha política, o olho no olho, nas ruas, especialmente importante na esfera municipal, está mais difícil e perdeu espaço, enquanto a arena virtual ganhou protagonismo. A cientista política Bruna Camilo relata que, além de haver menos pessoas nas ruas, as que se encontram ali “estão muito retraídas”, pouco dispostas a conversar e até mesmo a aceitar os panfletos distribuídos, devido às preocupações sanitárias.

Esse contexto prejudica a construção de uma identificação entre candidato e eleitor que só o corpo a corpo permite, como explica a jornalista Ana Karenina Berutti : “manter o distanciamento físico acaba impondo um distanciamento entre a candidata e a eleitora, coisa que não deve acontecer sob pena de afastar a eleitora da candidata, manter essa candidata num outro patamar, nesse caso “intocável” literalmente.”

Além disso, a impossibilidade de se realizar reuniões com muitas pessoas, associações e lideranças locais, restringe a apresentação de novas candidaturas para grupos sociais estratégicos. Nesse contexto, as candidaturas mais conhecidas largam com uma vantagem ainda maior que a usual justamente por já possuírem uma base eleitoral formada e relacionamento com lideranças políticas comunitárias que permitem que suas ações de propaganda eleitoral locais, como comícios e caminhadas, sejam mais bem recebidas. Já as candidaturas menores e novatas na política – o caso da maioria das mulheres, negros e jovens, por exemplo – têm encontrado grande dificuldade em estabelecer um diálogo em espaços nos quais ainda não são conhecidas.

Assim, resta às candidaturas um foco maior na internet. Ocorre que, sendo as redes espaços muito menos democráticos do que se imaginava, a disputa por visibilidade pelas campanhas se vê determinada pelo capital disponível para realização do impulsionamento de conteúdo nas redes sociais. Quanto mais dinheiro a candidatura tem para investir no impulsionamento, mais eficaz se torna a atuação dos algoritmos: à medida que se paga mais, maior o alcance e mais delimitado o escopo do público alvo, ou seja, mais efetivo o impulsionamento.

O próprio procedimento para realização do impulsionamento é extremamente complexo para leigos, e exige a criação de um site de hospedagem paga. E para a realização de uma campanha digital impactante e assertiva, é necessária a contratação de especialistas em comunicação política e marketing digital, aos quais poucas campanhas têm acesso.

A situação é um pouco melhor para as candidaturas de partidos cujas secretarias especializadas, como as da mulher, estão disponibilizando assessoria para a produção de conteúdo e distribuição de material. Mas, mesmo nesses casos, as disparidades sociais criam abismos na competitividade: a exclusão digital tem sido uma grande barreira para os candidatos e candidatas que não dominam bem as tecnologias e não possuem uma equipe própria para ajudá-los. Há relatos de candidatas que precisam de auxílio de filhos crianças e adolescentes para gerir a campanha das mães nas redes.

De certa forma, a campanha, para ser bem sucedida, ficou mais cara. Ter mais recursos tornou-se mais importante, amenizando os impactos das medidas judiciais e legais para uma distribuição mais igualitária dos fundos de financiamento público para mulheres e negros.

As candidaturas que possuem recursos próprios e doadores ricos continuam com uma grande vantagem – acentuada pela crise econômica. E, em circunstâncias tão adversas, os partidos políticos privilegiam ainda mais as candidaturas consideradas mais “competitivas”: as que buscam reeleição ou são mais conhecidas – em sua maioria, de homens brancos e ricos.

Estamos, portanto, diante de um cenário que beneficia as campanhas eleitorais daqueles que já estão consolidados no poder, tanto nas redes quanto nas ruas. Dados no Brasil e ao redor do mundo já indicavam como a pandemia trouxe efeitos desproporcionais, seja a partir de um recorte(s) de classe, raça ou gênero, acentuando todas as desigualdades já conhecidas, o que se reflete na disputa política. O ideal democrático é aquele no qual todos os cidadãos e cidadãs possam exercer seus direitos políticos, de votar e ser votado, em condições igualitárias. O que observamos hoje é que ainda estamos muito longe disso.

*Nicole Gondim Porcaro é advogada eleitoralista, mestranda em direito público pela Universidade Federal da Bahia e secretária geral da associação visibilidade feminina.

Não votaria “de jeito nenhum”: Lula e Bolsonaro como cabos eleitorais

Não votaria “de jeito nenhum”: Lula e Bolsonaro como cabos eleitorais

Carlos Ranulfo Melo*

Qual a influência de Lula e Bolsonaro sobre os eleitores nessa eleição? Com base em pesquisa nacional realizada pelo projeto “A cara da democracia: eleições 2020”, este artigo compara o desempenho dos dois líderes como cabos eleitorais. A pesquisa foi realizada por telefone, entre 24 e 30 de outubro, entrevistou duas mil pessoas e tem margem de erro de 2,2%.

Para avaliar a influência de Lula e Bolsonaro foi utilizada a seguinte pergunta: “Pensando na eleição para prefeito, o sr.(a) votaria em um candidato apoiado por________”? A figura a seguir mostra o resultado.

Como se percebe, a diferença é pequena, ainda que Lula se saia um pouco melhor – 23,4% disseram que votariam com certeza, enquanto 19,6% fariam o mesmo sob a influência de Bolsonaro. Agregando-se a este percentual o dos que “poderiam votar”, Lula chega a 47,9% e Bolsonaro a 43,5%. Por outro lado, 44,5% não votariam “de jeito nenhum” em um nome indicado pelo petista e 48,5% teriam o mesmo comportamento diante de uma indicação do atual presidente.

Nas duas figuras seguintes, é analisado o perfil dos que afirmaram não votar “de jeito nenhum” em um candidato apoiado por Lula ou por Bolsonaro. Ao se levar em conta a distribuição dos entrevistados por região do país, idade, sexo, educação e renda, percebe-se que onde Lula se sai melhor é justamente onde Bolsonaro tem mais dificuldades.

A próxima figura tem como objetivo evidenciar o contraste, utilizando, para tanto, o percentual dos que não votariam em candidatos apoiados por Lula ou Bolsonaro no Nordeste, entre os jovens de 16 a 24 anos, entre as mulheres, entre os que têm renda familiar de até dois salários mínimos e entre os que chegaram a completar o ginásio.

No Nordeste, Lula tem sua menor rejeição: 31,9% afirmam não votar de jeito nenhum em um candidato por ele indicado, enquanto 60,8% votariam ou poderiam votar. Já Bolsonaro encontra maior resistência: 54,5% rejeitariam sua indicação, enquanto 39,1% votariam ou poderiam votar. Nas demais regiões, o percentual dos que rejeitam uma indicação de Lula varia entre 46% e 50%. Bolsonaro tem melhor trânsito no Centro-Oeste, onde 58,4% dos entrevistados votariam ou poderiam votar e 39,1% não o fariam de forma alguma.

Dentre os jovens (16-24 anos), 60,4% rejeitariam uma indicação de Bolsonaro – a rejeição diminui entre os mais velhos, com pouca variação entre as faixas de idade. Nessa mesma faixa etária encontra-se o público mais receptivo a Lula: 59% votariam ou poderiam votar, enquanto 33,2% não o fariam. A rejeição sobe com a idade, ainda que não o faça linearmente, e aqueles com mais de 60 anos são os mais arredios ao petista.

Também quando se considera o sexo, opera-se uma inversão. A rejeição de Lula entre as mulheres é de 40,5% e entre os homens de 48,8%. Para Bolsonaro os percentuais são de 53,7% e 43,1% respectivamente.

Entre aqueles cuja renda familiar vai até dois salários, 53,5% não seguiriam uma indicação de Bolsonaro e 41,1% fariam o mesmo no caso de Lula. A situação se inverte quando são considerados aqueles com mais de dez salários: a rejeição a Bolsonaro diminui em 16,1 pontos percentuais enquanto a de Lula cresce 9,1 pontos. As trajetórias são lineares; a cada faixa de renda a rejeição sobe ou desce, a depender do caso.

Por fim, o quadro se repete com a variável educação. Entre os que cursaram até o ginásio, 40% não votariam com Lula. A partir daí a rejeição cresce e chega 49,2% daqueles com  ensino superior (mesmo incompleto). Dentre os de menor nível educacional, 52,1% não aceitariam uma indicação de Bolsonaro, mas 47,7% o fariam entre aqueles com ensino superior.

Na próxima figura, são levados em conta aspectos políticos ou comportamentais dos entrevistados. Como seria de se esperar, 72,9% dos que não votariam de jeito nenhum com Lula, estiveram com Bolsonaro na eleição de 2018. O que chama a atenção é que dentre os eleitores do atual presidente da República, 20,1% já o descartam como cabo eleitoral.

O quadro é semelhante quando se considera a aprovação do governo Bolsonaro ou sua atuação frente à pandemia. Entre os que rejeitam Lula, 64,2% aprovam o governo e 46,9% consideram ótima ou boa a atuação de Bolsonaro no enfrentamento da COVID 19. Para efeito de comparação, os dados gerais da pesquisa indicam uma aprovação de 40,6% do governo, enquanto 31,2% classificaram sua atuação na pandemia como ótima ou boa. Entre os que não votariam em um candidato indicado por Bolsonaro, 12,6% aprovam o governo e 9,7% a condução das ações na pandemia.

Por fim, as duas últimas colunas mostram que os que rejeitam Lula compõem um conjunto mais autoritário e conservador. Quando considerados todos os entrevistados, 22,2% consideram justificado um golpe de estado em caso de muita corrupção no país;  entre os que rejeitam Lula o percentual sobe para 30,3% e entre os que não votariam com Bolsonaro cai para 15,4%.

Perguntados sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo, 43,5% dos entrevistados discordaram e 56,5% concordaram. Entre os que rejeitam Lula a discordância sobe para 52,1%. Entre os que não votariam no candidato de Bolsonaro, ela cai para 29,2%.

Para além do contraste evidenciado em todos os aspectos aqui examinados, os dados mostram a dificuldade encontrada por Bolsonaro no Nordeste e entre a população de menor nível educacional e mais pobre. Uma última evidência nesse sentido: entre quem teve alguém da família beneficiado por pelo menos uma parcela do auxílio emergencial, 51,2% rejeitariam uma indicação de Bolsonaro, enquanto 41% fariam o mesmo com Lula.

A pesquisa “A Cara da Democracia: Eleições 2020”, do INCT-Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação e do Cesop/Unicamp foi realizada entre os dias 24 de outubro e 04 de novembro de 2011. A pesquisa entrevistou duas mil pessoas por telefone, tem grau de confiança de 95% e margem de erro de 2,2%.

Eleições municipais de 2020 serão menos ideológicas

Eleições municipais de 2020 serão menos ideológicas

Existem eleições municipais cujo resultado é determinado pela dinâmica local e eleições que são atravessadas pela dinâmica nacional. O pleito de 2016 foi nacionalizado devido ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a Operação Lava Jato. A eleição de 2020 será diferente. Os dados da pesquisa “A Cara da Democracia: Eleições 2020” indicam uma dinâmica baseada em dois elementos: despolarização e recompensa aos bons administradores que, nesse momento, tendem a ser os prefeitos que combateram a COVID-19. Além disso, há sinais de dinâmicas distintas entre cidades médias e capitais.

Em 2016, o Partido dos Trabalhadores (PT) conseguiu eleger apenas um prefeito entre as cem principais cidades do país. Foi punido nas urnas, enquanto o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) foram recompensados pelo eleitorado, convencido pela narrativa mediática de que seriam partidos distantes das denúncias de corrupção. Essa narrativa prevaleceu até maio de 2017, quando foram divulgadas as gravações de Michel Temer e Aécio Neves.

As eleições de 2020 terão outras dinâmicas. Primeiro, foram tornadas locais devido à atuação dos prefeitos na pandemia, segundo os dados da pesquisa A Cara da Democracia. Os números sobre desempenho não deixam margem para dúvidas: a atuação do presidente é vista como ruim ou péssima por 42% dos brasileiros. Os dados sobre desempenho dos governadores se mostram só um pouco melhores. São os prefeitos que se destacam nessa pandemia com 41% de avaliações ótimas/boas e 33% regulares (vide Gráfico 1). A dinâmica local será determinada por esse fato. Eleitores e eleitoras estão mais interessados na administração da sua cidade do que nos grandes debates nacionais e votarão de acordo com o desempenho das ações anti-pandemia no nível local.

Gráfico 1: Desempenho de Bolsonaro, governadores e prefeitos na pandemia

Essa tendência ao local tem uma segunda faceta: sinais de despolarização que também diminuem a influência de atores nacionais sobretudo nas grandes cidades.

Mesmo sabendo que o governo Bolsonaro tem melhorado sua avaliação desde o mês de junho, vale a pena apontar que os dados sobre suas ações durante a pandemia não melhoraram e tudo indica que esse é um dos motivos pelos quais ele não será uma influência importante nestas eleições.

O ex-presidente Lula não é, tampouco, um grande influenciador em 2020, em especial nas regiões Sul e Sudeste. Lula tem uma rejeição menor do que a do presidente Jair Bolsonaro, sobretudo entre aqueles que respondem que não votariam em um candidato apoiado por ele de jeito nenhum. No entanto, a distância entre Lula e Bolsonaro fica na margem de erro nesse quesito. É na região Nordeste onde Lula segue sendo um grande cabo eleitoral e onde praticamente duas em cada três pessoas poderiam votar em alguém indicado por ele, tal como mostra o gráfico abaixo.

Gráfico 2: Votaria em candidato apoiado por Lula por regiões

Cabe, por fim, notar uma diferença significativa entre capitais e cidades médias. Bolsonaro não consegue influenciar as eleições nas grandes cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre. Pode-se dizer o mesmo em relação a Lula, com duas diferenças fundamentais: a primeira delas é o peso do PT nas capitais nas quais o partido apoia um candidato ou candidata de esquerda, Belém e Porto Alegre. A segunda diferença se deve à relevância de candidaturas petistas em cidades de porte médio. Há aqui, porém, um elemento que não tem sido muito comentado: os petistas Marília Campos, em Contagem, Elói Pietá, em Guarulhos, Antônio Gomide, em Anápolis, e Pepe Vargas, em Caxias do Sul, estão em primeiro lugar nas pesquisas devido a fortes sucessos administrativos no passado. Isso reforça o argumento de que, nesta eleição, mais vale o bom trabalho local do que as bravatas contra a pandemia que, no final, desorganizaram o país e sua resposta à pandemia.

A pesquisa “A Cara da Democracia: Eleições 2020”, do INCT-Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação e do Cesop/Unicamp foi realizada entre os dias 24 de outubro e 04 de novembro de 2011. A pesquisa entrevistou duas mil pessoas por telefone, tem grau de confiança de 95% e margem de erro de 2,2%.

Memes, TikTok e até Tinder: entre viralizar e esvaziar a política

Memes, TikTok e até Tinder: entre viralizar e esvaziar a política

Que as campanhas eleitorais seriam cada vez mais digitais, nós já sabíamos. As eleições de 2018 foram um marco no Brasil, quando um candidato à presidência com quase nada de tempo gratuito de televisão no primeiro turno foi eleito fazendo uso pesado das redes sociais, em especial de seu perfil no Twitter e da disseminação de conteúdo por Whatsapp.

A pandemia foi o combustível que faltava para acelerar a migração das campanhas para a internet. Alguns municípios impuseram restrições às campanhas de rua, desde horário marcado para carretas até a proibição total das atividades de rua, fazendo com que o uso da internet se tornasse o centro da estratégia de visibilização. Mesmo nas cidades em que não há essas restrições, o incentivo a medidas de isolamento ampliou a mediação tecnológica e transformou as redes sociais nos espaços públicos da corrida pelos votos.

Na internet, qualquer pessoa pode, em teoria, ser um emissor de informações, mesmo sem muito recursos. Basta acesso à rede, alguma habilidade com aplicativos e conteúdo interessante, e a candidata ou candidato pode fazer com que a sua ideia chegue a um número razoável de pessoas. Essa facilidade pode ser vista como uma aliada da democracia, por dar palanque e voz para quem não é da política tradicional ou não possui tantos recursos.

Será que essa facilidade de emitir conteúdos equivale à alcançar maiores audiências? Uma vez que o modelo de negócios das plataformas digitais diminuiu o alcance orgânico das mensagens, a questão não é mais a capacidade de falar ou publicar algo, mas de distribuir conteúdos, ampliando o alcance. Isso tem sido possível mediante impulsionamento que é o pagamento para que as plataformas façam o conteúdo chegar a um público mais amplo.

Como as campanhas tentam viralizar na internet

Para viralizar, é necessário alguma dessas coisas, de preferência as duas: dinheiro e criatividade. O dinheiro sozinho faz bastante coisa. Mas, na ausência dele, ou quando o objetivo é potencializar ainda mais o efeito do investimento, a criatividade e o formato são aliados para que o conteúdo de fato atraia a atenção de quem está assistindo e, no fim, conquiste alguns votos. Cliques, curtidas e compartilhamentos permitem que o candidato tenha um termômetro de seu desempenho nas eleições – mas ainda não sabemos quão acurado.

Candidatas e candidatos têm buscado entrar na onda do TikTok, rede social baseada no compartilhamento de pequenos vídeos com edições divertidas, emoticons e filtros, fazendo dancinhas e dublagens. Um modelo que tem sido adotado também pelas demais plataformas, como Instagram e YouTube. Além disso, lançam mão de memes e figurinhas do Whatsapp para serem encaminhados. Alguns criaram até perfil no Tinder, rede de paqueras, para, quem sabe, puxar um papo com alguém em busca de envolvimento.

Na última semana, dois candidatos à Prefeitura de São Paulo fizeram lives jogando Among US, um passatempo online que tem atraído um grande número de gamers. Dentre os participantes, estavam os candidatos e deputados estaduais Arthur do Val (Patriota), conhecido como Mamãe Falei, e Marina Helou (REDE), além do deputado federal Kim Kataguiri e do pianista e youtuber Lord Vinheteiro. A iniciativa copiou ação de outro candidato, Guilherme Boulos (PSOL), que viralizou ao jogar Among US com influenciadores digitais, youtubers, jornalistas e humoristas, ainda na primeira quinzena de outubro.

Estamos aptos a escolher nossos candidatos pela internet?

Para nós, eleitoras, cruzar com um panfleteiro na saída do metrô pode parecer comparável a ser atingidas por um stories e ir a um comício, a assistir uma live. Participar de um encontro com candidato seria o paralelo a entrar em uma sala de zoom no fim do dia. Mas algumas diferenças merecem destaque: as estratégias digitais tornam o candidato mais próximo, “gente como a gente”, distante a um post no Twitter, que entra e participa dos nossos espaços privados, sem a mediação da militância, ao mesmo tempo em que nós entramos na vida deles, inclusive nas suas casas.

Para cativar a nossa atenção em poucos segundos, candidatos estão apostando em interações mais emotivas do que em debates. Isso, porém, pode acabar por esvaziar a política, no sentido de que os posicionamentos, valores, pautas e projetos perdem lugar para vídeos, danças e memes.

Pesa ainda o fato de, nas redes sociais, estarmos sendo acessados pelas candidaturas no mesmo grau em que somos atingidos pelo lançamento de uma marca de sapatos, pela promoção de um delivery de hambúrgueres, de um curso EAD de pintura ou pelo perfil de alguém em um aplicativo de relacionamentos. Somos clientes, público-alvo. Nessa mistura de mensagens políticas, pessoais e publicitárias, com que qualidade estamos absorvendo as propostas de candidatos, refletindo sobre a cidade e fazendo as escolhas de voto?

Isso para não falar na opacidade das redes, com suas possibilidades de segmentação de conteúdos ou até mesmo de serem palco de estratégias de desinformação, que temos debatido extensamente neste Observatório. As notícias falsas, fake news, só têm essa enorme capilaridade por conta da internet e dos canais digitais. E, ao que vemos até agora, as redes sociais não têm trabalhado intensamente no Brasil para combater essas estratégias ilegais e desonestas.

Construção de diálogo na internet

A reação dos eleitores no meio digital é diferente da reação em uma conversa presencial. Quando gostamos de uma ideia, podemos, com alguns cliques, disseminá-la para as nossas redes, tornando-nos também propagadores daquela informação.

E quando não gostamos? É possível tentar deixar um comentário, chamar a pessoa para conversar, mas talvez ela nunca responda. Ou, o que é até mais provável, o possível debate de ideias pode se tornar uma troca agressiva, culminando em bloqueios e cancelamentos. Em uma sociedade polarizada, com pouco debate público sobre propostas e visões de mundo, a internet acaba sendo, em alguns momentos, um meio mais efetivo para discursos de ódio e ataques virtuais do que para diálogo e construção de consensos.

É necessário colocar a democracia digital e a arquitetura das plataformas no centro do debate, para que seja possível ampliar a voz daqueles que não possuem grande capital político ou econômico, por meio de campanhas mais baratas, mas sem esvaziar o debate político ou cair na massificação da desinformação.

Não é o que temos hoje. Desde agosto de 2020, mais de R$ 46 milhões já foram gastos, sobretudo por candidatos e candidatas, em impulsionamentos no Facebook e no Instagram. Isso mostra, como já apontado neste Observatório, que o poder econômico mais uma vez se impõe contra a premissa da igualdade de oportunidades.

A campanha eleitoral neste ano está enfrentando muitos desafios. A digitalização abre possibilidades, e ao fim deste período, teremos que avaliar os impactos do grande salto dado no uso desses mecanismos. Democracia e política são sobre diálogo e construção. E são também sobre acessibilidade. A mediação tecnológica da política só será sustentável e benéfica quando o interesse público estiver no centro do debate, das lógicas de funcionamento das redes, da regulamentação e da Justiça Eleitoral.

Wendy Brown: O eleitorado americano e o suporte a Trump

Wendy Brown: O eleitorado americano e o suporte a Trump

Wendy Brown*

Escrevo este texto enquanto esperamos para saber o resultado das eleições presidenciais americanas. Cinco estados – Arizona, Nevada, Carolina do Norte, Geórgia e Pensilvânia – ainda precisam terminar a contagem dos seus votos, podendo levar dias para completá-la e certificá-la. Alguns estados não requerem que as cédulas de eleitores ausentes cheguem às urnas antes de 12 de novembro. Essas cédulas, ou “absent ballots”, são coletadas de quem não pôde estar presente aos locais de votação, mas registrou seu voto.

Enquanto Biden tem um caminho estreito para a vitória, embora não tão estreito quanto o de Trump, nós também não sabemos o que vai acontecer com as ações judiciais apresentadas pela campanha de Trump. Essas ações pretendem, entre outras coisas, deslegitimar as cédulas enviadas pelo correio, um meio de votação aceito e estabelecido há muito tempo, usado neste ano por milhões de pessoas para evitar aglomerações durante a pandemia de Covid-19.

Assim, ainda não sabemos de muita coisa. Mas já sabemos de algumas, com as quais podemos contar, independentemente do resultado.

De aproximadamente 155 milhões de eleitores, o que equivale a cerca de três quartos da população americana adulta, entre 72-75 milhões votaram para reeleger Donald Trump. É um aumento substancial em relação aos 63 milhões que o levaram ao poder em 2016. Portanto, não é apenas que Trump perdeu poucos apoios nesse período, ele recrutou novos apoiadores, inclusive entre as comunidades negras, latinas e jovens brancos. Cerca de um terço dos eleitores americanos respaldam sua presidência, e querem mais do que viram. Ou, ao menos, desejam ardentemente evitar uma presidência de Biden.

O que, afinal, isso nos permite saber?

Esses eleitores gostam ou não se importam que esse presidente não faça esforços para liderar ou unir a nação, mas, ao contrário, que lata, se gabe, xingue e ataque como se fosse um valentão indisciplinado de playground.

Eles gostam ou não se importam que ele pague impostos mais baixos do que aqueles pagos pelos trabalhadores e deva quase meio bilhão de dólares a credores desconhecidos.

Eles gostam ou não se importam que ele tenha falhado, descumprindo suas promessas de campanha de 2016 – de um novo plano de saúde, passando pela reindustrialização do Centro-Oeste e por um muro pago pelo México, até uma resposta para a crise de opióides que assola o país.

Eles gostam ou não se importam que ele incite grupos de ódio de supremacistas brancos, milícias armadas de direita, e teorias da conspiração perigosas, ligadas a ameaças de violência civil extrema.

Eles gostam ou não se importam que ele tenha sido acusado, com credibilidade, de assédio ou agressão sexual por mais de duas dúzias de mulheres e que rotineiramente ataque suas interlocutoras ou oponentes mulheres com calúnias misóginas.

Eles gostam ou não se importam que ele tenha lidado com a Covid 19 de maneira quase indiferente, sem atenção à saúde pública e a protocolos médicos, de forma que as taxas de infecção e de morte estejam subindo nas regiões em que ele tem mais suporte e ultrapassem aquelas de qualquer nação industrializada, colaborando para enfraquecer a economia e, possivelmente, levando ao esgotamento o já sobrecarregado sistema de saúde do país.

Eles gostam ou não se importam que o único pacote fiscal emergencial durante a pandemia, o CARES Act [Ato de ajuda, socorro e segurança econômica do Coronavírus], longe de aliviar as dificuldades assustadoras da classe média e trabalhadora deslocada economicamente pela pandemia, constituiu a maior redistribuição de riqueza para cima, em um único ato, da história do capitalismo, feita por meio de corte de impostos aos mais ricos e de empréstimos baratos e sem restrições a corporações.

Eles gostam ou não se importam com sua rejeição à emergência climática e a outras crises ecológicas relacionadas, que ameaçam nosso futuro.

Talvez o mais significante, eles gostam ou não se importam com o desprezo do presidente por instituições, normas e práticas democráticas. Eles respaldam ou são indiferentes ao fato de que seu regime tem todas as sinalizações de um novo fascismo, o que deve se intensificar em um segundo mandato. Além da sua personalidade ditatorial, que ficou evidente quando ele, sem qualquer base para isso, se declarou vencedor das eleições na noite de terça-feira, o novo fascismo inclui tentativas de limitar e controlar as cortes e agências de governo independentes; punir legisladores, governadores e mesmo estados inteiros por falta de lealdade; atacar implacavelmente a mídia, seus profissionais e os intelectuais; disseminar propaganda usando seu mandato; recorrer às forças militares e policiais para intimidar e esmagar a resistência; e, claro, colocar em questão procedimentos estabelecidos e os resultados das eleições.

Mas, à parte daqueles que realmente gostam de tudo o que mencionei acima – e alguns de fato gostam –, como entender aqueles que simplesmente não se importam com tudo isso porque o regime de Trump oferece algo mais, que é vital para eles? A resposta não nos leva a um único problema ou a uma abordagem monolítica. Para alguns, tudo o que importa é sua carteira de investimentos ou quanto pagam de impostos. Para outros, é a santidade do casamento heterossexual ou a inocência sem paralelo do feto. Para alguns poucos, é Jerusalém ou os assentamentos na Cisjordânia. Para outros ainda, é o direito a armas. E, claro, para muitos, é o fato de que seu direito à supremacia branca e masculina esteja em perigo.

Para a maioria, no entanto, um certo tipo de liberdade está em jogo. Em praticamente todas as entrevistas feitas com eleitores de Trump, Biden e o Partido Democrata foram identificados com o socialismo. Já Trump foi identificado com a liberdade. As campanhas dos republicanos para o Congresso bateram nessa tecla: votar contra o Partido Democrata significaria impedir uma tomada socialista da nação, exemplificada pelas primárias democratas, pela “Esquadrão” no Congresso (grupo de parlamentares, reeleitas em 2020, formado por Alexandra Ocasio-Cortez, Ilhan Omar, Ayanna Pressley e Rashida Tlaib), pelos Marxistas que supostamente organizariam o movimento Vidas Negras Importam, e pela mulher negra candidata à vice-presidência que em algum momento apoiou um sistema com cobertura de saúde universal (referência ao apoio de Kamala Harris ao Medicare for All, em um país dominado pela saúde privada)

Seria fácil imaginar isso como uma conversa de Guerra Fria requentada, e certamente é isso que consolidou o voto em Trump em Miami, no estado da Flórida, onde milhões de cubanos ainda cultivam seu ressentimento em relação à revolução de 1959. Mas a Guerra Fria mal esteve em jogo nessa caricatura da candidatura Biden-Harris como socialista. Em vez disso, o perigo levantado é do tipo que Friedrich Hayek traçou em O caminho para a Servidão e Milton Friedman retratou em Capitalismo e Liberdade (os dois fazem parte da corrente neoliberal do pensamento filosófico, político e econômico). É o gigante adormecido do socialismo que a direita vê em qualquer programa de justiça social (que chamam de “engenharia social), isto é, em qualquer tentativa de corrigir o acesso desigual histórico e sistêmico a moradia, recursos, educação, emprego e mesmo ao voto. É também a promessa de substituir impostos regressivos sobre renda e riqueza por impostos progressivos.

O Obamacare é identificado pelo Partido Republicano como socialista. A Fox News se refere rotineiramente ao socialismo do Comitê Nacional do Partido Democrata. E sites de direita como Breitbart identificaram a “Camarada Kamala” com o comunismo depois que ela divulgou um vídeo de campanha explicando que a igualdade é o princípio em que todos começam a competição do mesmo ponto e jogam pelas mesmas regras.

Essas caracterizações não evocam o perigo de repressão política (ainda que possam fazer referências à imposição do “politicamente correto”). Em vez disso, apoiam-se no medo de que políticas sociais e de redistribuição substituam uma economia de mercado crua (e manipulada), que os apoiadores de Trump aprenderam a identificar como espaço de autodeterminação. Eles podem estar vivendo em um precipício financeiro, lidando com o vício em opióides em suas famílias e comunidades, com seus filhos frequentando escolas ruins e a universidade aparecendo como algo financeiramente inatingível. Mas o mantra do socialismo os faz temer que o pouco que têm seja retirado deles por um New Deal Verde, um Obamacare ampliado, um acesso maior às universidades, uma reforma das leis de imigração e uma nação que seja menos dura e má com aqueles percebidos como outsiders ou com os insiders vistos como racial e etnicamente abjetos.

Claro, o que anima os eleitores de Trump pode também ser mais primário. O racismo visceral e a xenofobia; o ódio a feministas, ambientalistas e elites das cidades da costa; o ressentimento furioso com o desdém que eles sabem que os americanos cosmopolitas e mais escolarizados têm por eles; e o amor por um valentão que agarra o que quer e ataca a seu bel-prazer.

A paixão de todos os apoiadores de Trump não pode ser explicada pelo neoliberalismo apenas. A coisa mais brilhante que os Republicanos e seus auxiliares na mídia fizeram para deixar de lado a performance de fato de Trump foi identificar os Democratas com o socialismo e Trump com a liberdade. Foi uma versão da liberdade que ele expressou em sua resistência aos protocolos para a Covid 19, no corte de impostos para os ricos, no aumento do poder e dos direitos das corporações e na destruição do que permaneceu do estado social e regulatório. É uma versão da liberdade que já saturava a cultura neoliberal antigovernamental e antidemocrática, então tudo que o Partido Republicano tinha que fazer era construir sobre essa base.

E podemos apenas imaginar. Se o Partido Democrata seria mesmo carimbado como socialista, não teria sido melhor colocar na disputa um verdadeiro socialista democrático em vez de Biden? Essa poderia ter sido uma oportunidade de educar a América sobre o que é de fato o socialismo democrata (e a liberdade que ele apresenta!), de abertamente rejeitar a cleptocracia Trumpista em vez de apenas a pessoa de Trump, e de galvanizar os dez milhões da geração do Milênio que, em algum momento, viram 2020 como um ano que poderia gerar uma chance de luta para o planeta e para suas próprias perspectivas de prosperar? Biden disputou com foco na decência, mas essa virtude antiquada não está exatamente no topo das preocupações das pessoas no século XXI. Para muitas, um futuro melhor é o que está em questão.

*Tradução de Flávia Biroli.

Wendy Brown é professora de Ciência Política na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Publicou, entre outros livros, Walled States, Waning Sovereignity (Zone Books/MIT, 2010); Undoing the Demos: Neoliberalism’s Stealth Revolution (Zone Books/MIT, 2015) e In the Ruins of Neoliberalism: The Rise of Antidemocratic Politics in the West (Columbia University Press, 2019), publicado pela editora brasileira Politeia com o título “Nas ruínas do neoliberalismo: a ascensão da política antidemocrática no Ocidente”.

A disputa entre o DEM e o bolsonarismo nas eleições

A disputa entre o DEM e o bolsonarismo nas eleições

As forças de centro-direita foram as principais derrotadas nas eleições de 2018, em especial o PSDB e o DEM, que concorreram coligados na candidatura de Geraldo Alckmin. No entanto, alguns meses depois das eleições de 2018, os Democratas (DEM) já haviam recuperado influência política a despeito da derrota eleitoral. É interessante observar que, à exceção de Rodrigo Maia – cuja liderança da Câmara já é consolidada desde o governo Michel Temer –, nos demais casos o que agiu foi a fortuna.

Davi Alcolumbre era um político desconhecido até a ascensão do bolsonarismo. O principal candidato a presidente do Senado em 2019 era Renan Calheiros, que foi derrubado por uma campanha do bolsonarismo nas redes sociais pela abertura dos votos dos senadores. A presidência do Senado caiu do nada nas mãos de um político desconhecido e o Democratas inesperadamente passou a controlar as duas casas do Congresso.

No início de 2020, o DEM encontrou-se em situação inédita, detendo a presidência das duas casas e com o único político de capaz de desafiar a popularidade de Jair Bolsonaro, o ex-ministro da saúde, Henrique Mandetta. Ele agora parece estar se posicionando muito bem nas eleições de 2020.

A tabela 1 abaixo aborda as seis capitais nas quais os candidatos do DEM têm mais de 10% das intenções de voto segundo pesquisas do Ibope e do Datafolha.

Tabela 1:Candidatos do Democratas nas capitais com mais de 10% de intenções de voto

Podemos notar um processo interessante que vale a pena analisar: a concentração das candidaturas de direita ou de centro direita no DEM e a forte tendência à reeleição dos seus candidatos mais fortes. Em primeiro lugar, o DEM não parece estar ameaçado nas três capitais que ele governa: Salvador, Florianópolis e Curitiba. Em todos estes casos, seus candidatos têm mais de 40% de intenção de voto.

Nos outros casos, candidatos da centro direita se aproximaram do DEM vindo de outros partidos, o que aponta na direção de uma certa hegemonia do DEM na centro direita. O caso mais relevante parece ser o do Rio de Janeiro, onde Eduardo Paes saiu do MDB, outro partido de centro fortemente derrotado em 2018, e está concorrendo pelo DEM. Paes encontra-se em primeiro lugar, na frente do atual prefeito Marcelo Crivella que é apoiado por Jair Bolsonaro.

A ascensão do DEM enquanto representante da centro direita contrasta com a incapacidade de candidatos do campo bolsonarista motivarem o eleitorado e colocarem-se em uma posição confortável na disputa eleitoral. A tabela 2 mostra a dificuldade da direita bolsonarista em importantes cidades nestas eleições.

Tabela 2: Candidatos apoiados por Bolsonaro em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte

Na tabela estão os candidatos apoiados por Jair Bolsonaro em três capitais (São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte) tendo ou intenção de voto muito baixa ou perdendo apoio.

O que podemos perceber é que Bolsonaro não é um grande eleitor nas capitais em que há apenas alguns meses antes estavam batendo panelas nas varandas contra a sua política sanitária. Nenhum dos seus candidatos está bem colocado nas maiores cidades. Pelo contrário, a candidatura de Celso Russomano parece estar derretendo apesar do apoio do presidente, o mesmo acontecendo com a candidatura de Marcelo Crivella no Rio de Janeiro. Por último, o candidato de Bolsonaro contra o prefeito que mais se distanciou das políticas do presidente na pandemia, o prefeito de Belo Horizonte, parece não ter nenhuma chance nessa eleição.

Assim, vemos dois fenômenos diferentes: de um lado, não há indicações de que o eleitorado tenha se movido em direção à esquerda desde 2018, ainda que ela possa ter vitórias importantes em 2020, se as pesquisas de Porto Alegre e Recife estiverem certas. De outro, observa-se um movimento de moderação no conservadorismo que parece estar desaguando em candidatos do Democratas e não naqueles apoiados pelo presidente Bolsonaro.

Assim, o resultado das eleições de 2020, a se manter a tendência da pesquisa Datafolha de 22 de outubro, é de maior equilíbrio entre Bolsonaro e o DEM. Se o presidente parece manter um nível de popularidade alto, em especial se levarmos em conta o desastre da sua política sanitária e o número de mortos no país, ele também  parece ter perdido um dos seus principais ganhos de 2018: o benefício da dúvida que lhe foi dado pelo eleitorado de classe média das grandes capitais.

Como nas principais democracias do mundo, o eleitorado brasileiro está optando por um poder dividido, ao invés de transferir todo o seu poder a um candidato ou a um clã que não se mostrou nem democrático, nem eficiente em combater a pandemia e nem capaz de gerir a economia.