PT em números: uma análise de 2000 a 2016

PT em números: uma análise de 2000 a 2016

Existem muitas maneiras de medir o desempenho dos partidos brasileiros em uma eleição municipal. A mais óbvia é observar o número de prefeitos e vereadores eleitos. Algumas vezes, a escolha recai sobre um segmento específico de cidades: as capitais, as cem com maior população, os municípios onde há segundo turno. Basta contar quantas cadeiras um partido obteve numa eleição e comparar com a anterior para termos um quadro geral a respeito do sucesso ou fracasso de uma legenda.

Há dois problemas com essa métrica. O primeiro é que muitas vezes o partido não apresenta candidato próprio a prefeito e participa de uma coligação, apoiando um nome de outra legenda. Nesse caso, seus votos acabam não sendo computados na avaliação.

O segundo é que a eleição de vereadores nem sempre é uma boa métrica do desempenho eleitoral. Muitas vezes um partido é bem votado e não elege um vereador; em outras, o partido mesmo com uma votação reduzida consegue eleger um dos seus candidatos (a coligação permitia que isso acontecesse).

Minha sugestão é que o melhor indicador para avaliar o sucesso dos partidos em eleições municipais é observar o percentual de votos que eles obtiveram para a Câmara Municipal. Se um partido tem um diretório em um município é bem provável que ele apresente pelo menos um candidato a vereador. Desse modo, a proporção de votos nas cidades em que o partido disputou serviria como um bom indicador de sua “força”.

Avalio aqui o desempenho do Partido dos Trabalhadores (PT), o mais organizado partido brasileiro em todas as eleições realizadas desde 2000 – ano em que a urna eletrônica foi utilizada pela primeira vez em todos os municípios. Em artigos subsequentes analisarei a performance de outras legendas.

Desempenho do PT de 2000 a 2016

Entre os analistas políticos, há um consenso de que o PT foi o grande derrotado nas últimas eleições municipais (2016). O partido perdeu vereadores e prefeitos, como mostrou Oswaldo E. do Amaral no artigo E agora, PT?. A eleição aconteceu no ano em que a presidente Dilma Rousseff foi afastada e as investigações da Lava-Jato estavam no ápice.

No meio da campanha eleitoral daquele ano, eu encontrei um candidato do PT a prefeito de uma importante cidade brasileira que relatou: “Está difícil ser candidato pelo PT. Tem muito candidato a vereador tirando o símbolo do partido do material de campanha”.

O gráfico 1 mostra a votação média obtida pelos candidatos do PT nas cinco eleições realizadas desde 2000. As cidades foram agregadas em cinco faixas, de acordo com o tamanho da população. É importante assinalar que apenas as cidades em que o partido concorreu são consideradas no cálculo.

O gráfico revela que aconteceu uma inflexão na história eleitoral do PT na disputa de 2016. Nas três faixas de menor população, o partido interrompeu o processo de crescimento contínuo de sua votação. O declínio mais expressivo, porém, aconteceu nas maiores cidades. Nos municípios com população entre 150 mil e 500 mil habitantes, onde o partido tinha obtido cerca de 10% nas três eleições anteriores, ele caiu para a faixa de 4% em 2016. Nas megacidades (população acima de 500 mil habitantes) a votação do PT vinha declinando levemente, mas teve uma queda brusca em 2016 (cerca de 5 pontos percentuais).

Para mostrar em mais detalhes a evolução da votação do PT nos grandes centros urbanos, mostro apenas os resultados das 19 cidades mais populosas, as que têm acima de 800 mil habitantes (ver na imagem abaixo). Em todas elas o partido encolheu sua votação em 2016, comparativamente à 2012. Chama a atenção o declínio constante em três cidades que eram símbolos da força do partido em 2000: Belém, São Paulo e Porto Alegre.

Nas eleições presidenciais de 2018, Bolsonaro venceu em um número expressivo de megacidades. Em boa parte delas, o PT já vinha reduzindo sua votação na disputa presidencial desde 2006. Os dados apresentados nos dois gráficos acima mostram, porém, que as dificuldades do partido nessas cidades talvez sejam mais estruturais do que a derrota para Bolsonaro tenha sugerido.

Pensando no futuro: a retomada do protagonismo do PT na disputa presidencial passa em larga medida pela reconquista das grandes cidades brasileiras. Por isso, as eleições de 2020 terão um papel tão importante para o partido.

Direita larga na frente nas capitais

Direita larga na frente nas capitais

Nos últimos dias, várias análises, algumas delas publicadas neste Observatório das Eleições, destacaram o avanço das candidaturas de partidos de direita em 2020, sugerindo que a onda política conservadora que tomou conta do país em 2018 ainda não teria terminado.

Iniciada a corrida eleitoral de 2020, como andam as disputas nas capitais por bloco ideológico? A direita está mesmo em posição de vantagem? Com base em pesquisas publicadas nos últimos dias em 21 capitais já é possível traçar um panorama.

Como foi em 2016

Em 2016, a direita venceu em 5 capitais (19%), o centro, em 12 (46%), e a esquerda, em 9 (35%). O MDB com vitórias em quatro capitais e o PSDB, com sete triunfos, comandaram o protagonismo dos partidos de centro. Na esquerda, o PDT levou três capitais e o PSB, duas. O PT, em forte crise, venceu apenas em Rio Branco. O PSD liderou o bloco da direita, com conquistas em João Pessoa e em Campo Grande.

MDB e PSDB animaram-se com os resultados. Tudo parecia convergir para o sucesso em 2018 da coalizão que derrubara Dilma Rousseff. No entanto, esse não era o plano dos líderes da Operação Lava-Jato. Em 2017, MDB e PSDB foram alvos de denúncias e investigações. Com o objetivo de mostrar imparcialidade e de “sanear” o sistema político brasileiro, os “revolucionários” de Curitiba implodiram as ambições nacionais dos principais partidos de centro e abriram espaço para a ascensão de Jair Bolsonaro – uma consequência inesperada de todo o processo, talvez (?). O resto é história. Os principais partidos da Nova República ficaram marcados pelos escândalos de corrupção e perderam espaço para a “nova” direita conservadora.

Mesmo considerando as diversas dinâmicas locais, esse processo ainda parece em curso, especialmente entre as elites políticas, que se reorganizaram bastante entre 2017 e 2020.

Em 2020, a direita está na frente

Até o momento, é possível analisar as corridas eleitorais em 21 capitais a partir de pesquisas divulgadas por meios de comunicação. O que temos então? Partidos de direita lideram em onze (52%), de centro, em 5 (24%), e de esquerda, em 5 (24%).

O DEM está na frente em quatro capitais (Salvador, Rio de Janeiro, Curitiba e Florianópolis), seguido pelo PSD (Campo Grande, Goiânia e Belo Horizonte) e pelo PSDB (Palmas, Rio Branco e Natal). No bloco de esquerda, a dispersão é grande, com PT, PSOL, PDT, PC do B e PSB liderando, cada um, em uma cidade.

Já ganhou?

Ainda falta tempo para o primeiro turno e os eleitores vêm tomando decisões cada vez mais perto do dia de ir à urna. No entanto, em algumas capitais as disputas parecem bem encaminhadas e podem terminar ainda na primeira volta. Em Salvador, Curitiba e Florianópolis, Bruno Reis, Rafael Greca e Gean Loureiro, os três do DEM, contam com mais de 40% das intenções de voto, segundo o Ibope. Nada, porém, se compara ao desempenho de Alexandre Kalil (PSD) em Belo Horizonte. O ex-presidente do Atlético Mineiro e atual prefeito aparece com 56% das intenções de voto segundo a última sondagem do Datafolha.

O Triângulo das Bermudas

Desde a Nova República, apenas em 2016 nenhum partido de esquerda venceu nas capitais de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, o chamado Triângulo das Bermudas da política brasileira. O evento parece que vai se repetir em 2020. Em nenhuma das três cidades, candidatos de esquerda estão entre os dois primeiros colocados.

Falta tempo ainda para as eleições municipais, e muito mais tempo para 2022. O quadro atual, no entanto, não parece favorável aos partidos de esquerda.

Candidatos na liderança das disputas nas capitais

  • Belém: Edmilson Rodrigues (PSOL)
  • Manaus: Amazonino Mendes (Podemos)
  • Palmas: Cinthia Ribeiro (PSDB)
  • Rio Branco: Minoru Kinpara (PSDB)
  • Aracaju: Edvaldo Nogueira (PDT)
  • João pessoa: Cícero Lucena (PP)
  • Maceió: Alfredo Mendonça (MDB)
  • Natal: Álvaro Dias (PSDB)
  • Recife: João Campos (PSB)
  • Salvador: Bruno Reis (DEM)
  • São Luis: Eduardo Braide (Podemos)
  • Campo Grande: Marquinhos Trad (PSD)
  • Cuiabá: Emanuel Pinheiro (MDB)
  • Goiânia: Vanderlan Cardoso (PSD)
  • Belo Horizonte: Alexandre Kalil (PSD)
  • Rio de Janeiro: Eduardo Paes (DEM)
  • São Paulo: Celso Russomanno (Republicanos)
  • Vitória: João Coser (PT)
  • Curitiba: Rafael Greca (DEM)
  • Florianópolis: Gean Loureiro (DEM)
  • Porto Alegre: Manuela D’Ávila (PCdoB)

Nota metodológica

Esquerda: PC do B; PDT; PMN; PSB; Psol; PT; Rede
Centro: (P)MDB; PSDB; PPS/Cidadania
Direita: DEM; PHS; Podemos; PP; PRB/Republicanos; PSD

Prefeituras 2020: direita cresce, esquerda patina e centro cai.

Prefeituras 2020: direita cresce, esquerda patina e centro cai.

Quais partidos podem sair das eleições mais fortes e quais podem sair mais fracos? Se levarmos em conta a volatilidade do cenário político brasileiro, a resposta é difícil. O exercício aqui é, a partir de dados diferenciados e tendo como critério apenas o número de prefeituras, discutir as probabilidades.

A figura abaixo mostra o desempenho dos partidos desde as eleições municipais de 2000. Foram considerados apenas os resultados relativos aos partidos com maior bancada na Câmara dos Deputados.

Percentual de prefeituras conquistadas por partido político

Na maioria dos casos, o percentual de prefeituras conquistadas na primeira e última eleição consideradas manteve-se próximo, indicando relativa estabilidade. As exceções foram a queda do PT em 2016, e a trajetória do DEM, que só na última eleição sustou sua sequência de quedas. Merecem destaque a interrupção do crescimento do PSB em 2016 e a forte estreia do PSD em 2012, com repeteco quatro anos depois.

A força dos partidos nos governos estaduais

Como a máquina estatal e/ou o prestígio do governador podem interferir nas eleições municipais, o segundo dado remete aos governos estaduais conquistados em 2018. Neste aspecto, um dos destaques, em uma comparação com 2014, foi o recuo expressivo do MDB: de sete para três estados. Um deles é o Distrito Federal, onde não haverá eleição municipal. Sem o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul, o partido ficou com Pará e Alagoas como seus dois únicos trunfos.

O PSDB caiu de cinco para três estados, mas manteve São Paulo. O PT caiu de cinco para quatro, perdeu sua maior estrela, Minas Gerais, e encastelou-se no Nordeste. O DEM, depois de passar em branco em 2014, venceu em Goiás e Mato Grosso. PSL (Roraima, Rondônia e Santa Catarina), PSC (Amazonas e Rio de Janeiro) e Novo (Minas Gerais) foram “arrastados” pelo eleitorado de Bolsonaro.

As bancadas na Câmara dos Deputados

Outra fonte de dados vem da Câmara dos Deputados. Em 2018, MDB e PSDB reduziram fortemente suas bancadas relativamente a 2014 – 48% e 46% respectivamente. O PT, mesmo elegendo a maior bancada, viu sua força recuar em 19%. À esquerda, apenas PDT e PSOL cresceram.

Por outro lado, a direita cresceu. O Republicanos passou de 21 para 30 deputados(as) e o DEM interrompeu sua sequência de quedas, indo de 22 para 29 cadeiras. O conjunto de pequenas legendas de direita pulou de 35 para 107 cadeiras, com destaque para as 52 do PSL.

As candidaturas às prefeituras

Em relação ao número de candidatos(as) às prefeituras, o recuo foi expressivo nos casos do PSDB (redução de 26%), PSB (21%) e MDB (19%), totalizando 1138 candidatos (as) a menos, se compararmos com 2016. O contraste vem pela direita. Dentre os 10 partidos que mais aumentaram seu exército, 09 estão claramente perfilados deste lado do espectro ideológico: DEM, PODEMOS, PSC, Republicanos, Patriotas, PRTB, Avante, PSL e NOV0. O acréscimo agregado é expressivo: serão 2.635 candidatos (as) a mais, com destaque para os 580 do PSL.

Pela esquerda, o PT aumentou em 25% suas candidaturas, enquanto PSB (21%), PSOL (20%) e PC do B (18%) reduziram suas forças. Note-se que o quadro é semelhante ao das candidaturas a vereador: dentre os 10 partidos com maior crescimento, oito estão à direita.

Como ficamos?

A redução no número de candidaturas, nas bancadas na Câmara e no controle dos executivos estaduais permite antever um recuo de MDB e PSDB. A perda dos tucanos nos estados foi menos acentuada, mas o fracasso em recuperar o governo de Minas Gerais e a posterior migração de Anastasia para o PSD, somados ao “sumiço” de Aécio Neves, fragilizaram o partido naquela que sempre foi sua segunda maior base.

Mesmo que de forma modesta, o PT deve voltar a crescer – não tanto pelos dados aqui apresentados, mas porque 2016 representou o momento de maior desgaste do partido. Leve-se em conta que a perda do governo mineiro, em 2018, pode ser considerada “contabilizada” – afinal, em 2016 o partido já recuara de 113 para 41 prefeituras no estado.

Também o DEM deve voltar a crescer, impulsionado pelo incremento na Câmara, nos governos estaduais e pelas 418 candidaturas a mais em relação a 2016. Já o PSB parece ter alcançado seu teto: não cresceu na Câmara ou nos estados e tem hoje 232 candidatos (as) a menos do que em 2016. Por fim, o PSL vai crescer muito menos do que se poderia imaginar graças à ruptura com Bolsonaro e, em menor grau, à redução da bancada na Câmara (de 52 para 41 membros), a saída do governador de Roraima e ao processo de impeachment em Santa Catarina.

Indo além dos partidos, dois pontos parecem certos. Como indicam os números para as candidaturas, a direita vem com sede ao pote, – vai crescer, enquanto a esquerda patina. No agregado, ou seja, levando-se em conta a distribuição das prefeituras entre as legendas, o sistema partidário vai se mostrar ainda mais fragmentado: pequenos partidos vão expandir seus domínios, as duas maiores legendas em número de prefeituras (PSDB e MDB) vão recuar, ao passo que dentre os que vem a seguir neste quesito (PSD, PP, PSB, PDT, PL, DEM, PTB e PT) nenhum deve crescer muito.

Direita avança e número de candidatos cresce em 41% dos municípios

Direita avança e número de candidatos cresce em 41% dos municípios

Apesar da frequente criação de novos partidos no Brasil, o número de candidatos a prefeito nos municípios com menos de 200 mil eleitores praticamente não variou ao longo dos anos. Isto porque, como prevê a Lei de Duverger, o fato de que as eleições para prefeito nesses locais é decidida obrigatoriamente em apenas um turno desincentiva a presença de muitos competidores. Assim, nessas cidades, que representam 98% dos municípios brasileiros, a média de candidatos a prefeito nunca foi superior a três. Até 2016.

Há algo de novo em 2020. Apesar da legislação eleitoral ter se mantido quanto ao formato da disputa em turno único, os partidos parecem ter sentido menos os obstáculos gerados por esse arranjo e se sentiram estimulados a lançar mais candidatos do que normalmente fazem nessas eleições.

Comparando 2020 com 2016, percebemos que em 41% dos municípios houve aumento no total de candidatos para prefeito. Em somente 23% houve redução e em 36% o número se manteve inalterado.

Com isso, pela primeira vez a média de candidatos nesses municípios chegou a 3,3. Isto representa um aumento de 20% em comparação a média considerando todas as eleições locais entre 2000 e2016.

Se, por um lado, o aumento no número de candidatos às prefeituras pode indicar uma redução na capacidade de controle da legislação eleitoral, algo que pode ser visto de forma negativa para aqueles que prezam pela estabilidade do sistema político; por outro, pode sugerir uma maior abertura da disputa com a entrada de novos competidores nos municípios brasileiros, ampliando as opções disponíveis para o eleitorado.

Partidos de direita lançaram mais candidatos do que em 2016

A entrada de novos competidores não necessariamente significa a entrada de partidos recém-criados. Ao verificarmos onde esses aumentos são mais frequentes e quais os partidos que encabeçam tal prática, notamos que o que ocorreu foi um maior investimento de partidos já conhecidos no cenário político brasileiro.

A análise dos dados mostra que quem teve um aumento mais substantivo no número de candidatos lançados foram os partidos mais à direita, o que reflete o atual momento político pelo qual o país passa, com o fortalecimento de pautas mais conservadoras. Os principais destaques ficam para DEM, PL, Republicanos, Avante, Patriota e PSL, antigo partido do presidente Jair Bolsonaro, pelo qual foi eleito.

MDB e PSDB perderam espaço

Os partidos MDB (antigo PMDB) e PSDB apresentaram em 2020 um número de candidatos a prefeito menor do que apresentaram em 2016. Possíveis explicações para tal fenômeno devem levar em consideração as mudanças no impacto da legislação eleitoral sobre a disputa.

Porém, é necessário observar também a redução de protagonismo dos partidos tradicionalmente grandes nessas eleições. Ainda que tenhamos afirmado que o aumento de candidatos não reflete exatamente a entrada de novos partidos, este aumento também não está nos dois partidos que mais haviam lançado candidatos em 2016.

Nota-se, por exemplo, que, comparando 2016 com 2020, o MDB continuou como o partido que apresentou mais candidatos nesses contextos. Contudo, reduziu sua participação de 2248 para 1869 competidores. A mesma tendência é apresentada pelo PSDB, que caiu de 1667 para 1237 candidaturas em municípios com menos de 200 mil eleitores.

Em relação ao PT, embora este apresente acréscimo de 949 para 1163 candidatos, é preciso lembrar que 2016 foi uma eleição difícil para o partido, que vinha desgastado pela Lava Jato e pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Na esteira da queda desses partidos, segue uma investida de partidos outrora pequenos, como já destacado, e também um crescimento de partidos médios. Nesse sentido, destaca-se o PSD, que manteve o número elevado de candidaturas de 2016 e alcançou o segundo lugar nesse quesito em 2020, a retomada do DEM e o crescimento PL.

Outra questão relevante é que esse aumento de candidaturas ocorreu em todos os estados do Brasil, com exceção de Roraima. Ou seja, a estratégia de lançar mais candidatos, mesmo numa disputa majoritária de turno único, não é localizada, pois perpassa todo o território brasileiro.

O impacto do fim das coligações

Por fim, deve-se considerar o impacto da impossibilidade de coligações nas disputas para a câmaras municipais – que é um cargo relativamente mais fácil de ser pleiteado, dado seu custo mais baixo para competição e o maior número de vagas – na decisão dos partidos em lançar candidatos para prefeito. Essa nova realidade impõe desafios de coordenação aos competidores, que passaram a entrar sozinhos nos municípios para construir ou manter alguma base de apoio. Uma vez lá dentro, isso pode ter estimulado o lançamento de candidatos também para o cargo majoritário.

Ainda não é possível definir qual dessas hipóteses se confirma ou ainda se há outras explicações possíveis, mas é um fenômeno que merece atenção. Afinal, essa dinâmica indica um fortalecimento de legendas que não se apresentavam como protagonistas até pouco tempo atrás e, caso se sustente, pode gerar efeitos importantes para o cenário político nacional nos próximos anos.

* Vitor Vasquez é doutor em Ciência Política pela Unicamp e pesquisador do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da mesma instituição.
Monize Arquer é doutora em Ciência Política pela Unicamp e pesquisadora do Cesop/Unicamp.

Aumentam as menções a títulos militares e religiosos nas urnas em 2020

Aumentam as menções a títulos militares e religiosos nas urnas em 2020

A eleição de 2018 confirmou a crescente influência de dois grupos sociais na política eleitoral brasileira: militares e religiosos, em especial os ligados às várias denominações evangélicas. Surfando na onda conservadora que resultou na vitória de Jair Bolsonaro, os dois grupos ampliaram sua representatividade no país todo.

Não sabemos ainda o que vai acontecer em 2020, mas a julgar pela análise do número de candidaturas que usaram títulos religiosos e militares no nome de urna, é possível imaginar que esse movimento não tenha atingido seu teto em 2018. O nome de urna não é capaz de indicar a quantidade de candidatos militares e religiosos em uma eleição, mas é uma boa medida para mostrar o quanto vinculações religiosas e militares parecem importantes para os candidatos impressionarem os eleitores – funcionando como um atalho informacional para a decisão do voto.

Aumento de mais de 300% no número de candidatos à prefeito com títulos militares

O Observatório das Eleições compilou os dados divulgados pelo TSE sobre os registros de candidaturas às prefeituras e às câmaras municipais em 2016 e em 2020 e chegou aos seguintes resultados: o número de candidatos com títulos militares para as prefeituras no país todo saltou de 53, em 2016, para 243, em 2020, um aumento de mais de 300%, bem acima do aumento geral de candidatos, que foi de 18%.

Em 2020, mais de 1% dos candidatos a prefeito apresentam-se ao eleitorado como militares. Em 2016, foram 0,4%. Em 23 estados, o número de candidatos usando títulos militares às prefeituras foi maior do que em 2016.

Entre os candidatos a vereador, aumento é de 56%

Para as câmaras municipais, o número de candidatos com essas características também cresceu bastante. Em 2016, foram 1903 candidatos. Em 2020, o número saltou para 2965, um aumento de 56%, bem acima dos 16% de crescimento no número de candidatos. A elevação deu-se em 25 estados.

Candidatos com títulos religiosos

O crescimento entre candidatos com títulos religiosos no nome de urna foi mais modesto. Em 2016, foram 77 candidatos às prefeituras de todo o Brasil. Agora, o número foi de 87, um crescimento de pouco mais de 10%. Para as câmaras municipais, foram 3165 candidatos em 2016. Neste ano, o número foi de 4500, um aumento de mais de 40%, novamente acima do crescimento geral e com ampliação no número absoluto em todos os estados.

Entre os partidos políticos, o PSL foi o que mais lançou candidatos com títulos militares às câmaras municipais (308), e o Republicanos, próximo à Igreja Universal, foi o que mais acolheu postulantes com títulos religiosos (367). Ambos são partidos claramente conservadores.

Diferentes estratégias

Os militares parecem reconhecer em suas carreiras um ativo importante tanto nas disputas majoritárias quanto nas proporcionais. Como mostrou ontem Fabio Zanini, um aplicativo conservador que busca influenciar os eleitores recomenda o voto em militares, pois sua carreira “é pautada em valores, deveres, ética e defesa da pátria”.

Entre os religiosos, como vem acontecendo nos últimos pleitos, a ênfase recai nas eleições proporcionais, em que conseguem se beneficiar de nichos eleitorais e de um grande número de vagas em disputa e mobilizar pautas conectadas aos costumes e ao tradicionalismo sexual.

Com esse aumento de oferta, a disputa pelo eleitorado conservador será bem acirrada em 2020.

Nota metodológica
Os dados foram calculados com base no nome de urna de cada candidato registrado para as disputas de 2016 e de 2020. A categoria “religiosos” inclui as palavras bispo, pastor, padre e reverendo, assim como suas versões no gênero feminino e respectivas abreviações e derivados. Já a categoria “militares” agrega as palavras soldado, cabo, sargento, tenente, capitão, major, coronel, general e comandante, e, igualmente, suas respectivas versões no gênero feminino, abreviações e derivados.

*Monize Arquer é doutora em Ciência Política pela Unicamp e pesquisadora do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da mesma instituição
Oswaldo E. do Amaral é professor do departamento de Ciência Política da Unicamp e Diretor do Cesop/Unicamp

E agora, PT?

E agora, PT?

Lá atrás, em 1986 (que hoje parece ser no século 13), Emir Sader organizou um livro exatamente com esse nome. Mais uma vez, o Partido dos Trabalhadores (PT) discutia seus rumos e como agir na Nova República que se iniciava. Nenhuma novidade para um partido fundado a partir de diversos grupos e com forte disputa interna. O tempo passou e a história todo mundo conhece: o partido abraçou a institucionalidade, moderou o discurso e a prática e governou o país entre 2003 e 2016.

Agora, um novo dilema se coloca. Se em 2018, com o ex-presidente Lula preso, o PT foi bem-sucedido em se manter como a principal força política de esquerda e de oposição ao futuro governo, fazendo a maior bancada na Câmara e disputando o segundo turno das eleições presidenciais, agora o desafio reaparece de forma mais difícil.

Pressionado a compor uma frente com outras forças de oposição e a abrir mão de liderar o bloco de centro-esquerda, o pleito de 2020 é muito importante para as pretensões do partido em 2022. São dois os principais desafios: evitar o viés de queda verificado nas últimas eleições municipais, quando o partido elegeu menos vereadores e prefeitos do que o Partido Socialista Brasileiro (PSB), por exemplo, e demonstrar ter recuperado capilaridade organizativa em todo o território nacional nos últimos quatro anos.

Os dados das últimas eleições locais mostram o tamanho do problema. Em 2016, pela primeira vez na sua história, o partido elegeu menos vereadores e prefeitos do que na eleição anterior. Em 2012, o partido conquistara 11% das prefeituras e 9% das vagas nas câmaras municipais. Ainda venceu em 17 cidades com mais de 200 mil eleitores. Quatro anos depois, o partido ganhou em apenas uma grande cidade e em cerca de 5% dos municípios brasileiros, elegendo também cerca de 5% de vereadores.

Para além disso, o partido perdeu capilaridade. Na Ciência Política, usamos o lançamento de candidatos a vereador como uma medida para saber se o partido existe no nível local. Entre 2004 e 2012, o PT lançou candidatos em cerca de 90% dos municípios, rivalizando com o rei da capilaridade, o (Partido) do Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Em 2016, a máquina petista encolheu: o partido concorreu em pouco mais de 70% dos municípios, disputando o terceiro lugar com o Partido Progressista (PP), Partido Social Democrático (PSD) e Partido Socialista Brasileiro (PSB), atrás do (P)MDB e do Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB).

Os mapas abaixo dão cores a esse movimento. Nas eleições para prefeito e vereadores, quanto mais branco o mapa, menos municípios contaram com a participação do PT nas disputas. Da mesma forma, quanto mais fracas as cores nos mapas, menores as porcentagens de votos obtidos pelo PT.

O PT será capaz de reverter esse quadro iniciado em 2016? Essa é uma pergunta que começará a ser respondida nesta semana, quando tivermos os dados consolidados das candidaturas. A resposta final, porém, só no dia 15 de novembro. Não custa lembrar que o mundo vive também de coincidências. Em 1989, foi nesse mesmo dia que o então candidato Lula superou Loenel Brizola por menos de 500 mil votos e marcou a ascensão do PT como principal partido de esquerda do país. E nesse 15/11?