Para entender o “fenômeno” Kalil: o apagão de PT, PSB, PSDB e MDB em BH

Para entender o “fenômeno” Kalil: o apagão de PT, PSB, PSDB e MDB em BH

A eleição de Belo Horizonte vem se mostrando talvez a mais “monótona” dentre as das capitais. O atual prefeito Alexandre Kalil (PSD), segundo pesquisa do IBOPE divulgada no dia 29/10, tem 55 pontos de vantagem sobre o segundo colocado e supera a soma de todos os competidores em cerca de 40 pontos.

Um dos fatores que podem explicar tal situação é a avaliação retrospectiva feita pelo eleitor: segundo o IBOPE, 70% avaliam a gestão de Kalil como ótima ou boa, mesmo índice obtido pelo Datafolha (22/10) no que se refere ao desempenho no enfrentamento pandemia. A boa imagem do atual prefeito é corroborada por um índice de rejeição de apenas 15%, ainda segundo a última pesquisa do IBOPE. E ajuda a entender por que as críticas feitas pelos seus adversários não vem surtindo qualquer efeito.

Mas há um outro fator a se considerar: o apagão dos partidos que desde a redemocratização tiveram protagonismo na disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Em 2020 nem PT, PSB, PSDB ou MDB credenciaram-se como competidores efetivos. A tabela 1 traça um breve resumo das eleições entre 1985 e 2016. Para cada ano eleitoral são apontados os principais competidores no 10 turno (do mais para o menos votado), o partido vencedor, e se a definição deu-se em primeiro ou segundo turno. Na segunda coluna são destacadas as ocasiões em que PT, PSB e PSDB se coligaram.

Tabela 1

Principais partidos na disputa pela PBH (1985-2016)

Como se pode observar, apenas por duas vezes (1985 e 1992) partidos de direita tiveram alguma expressão eleitoral na cidade. Nas duas primeiras eleições, Belo Horizonte foi governada por partidos situados ao centro (MDB e PSDB) e de 1992 até 2016, a esquerda esteve à frente da prefeitura, com PSB ou PT – em quatro ocasiões de forma coligada (1992, 1996, 2000, 2008).

Além da vitória em 1988, o PSDB lançou candidatos competitivos em quatro ocasiões e aliou-se ao PSB em três – em uma delas (2008) numa inusitada associação com o PT. O MDB perdeu espaço depois da vitória de 1985 e, nas quatro vezes em que voltou à cena, apenas em 2008 chegou ao 20 turno.

Em 2016, pela primeira vez, a eleição em BH foi vencida por alguém de “fora da política”. A bordo de um inexpressivo PHS, Kalil roubou a cena. Era o início do apagão. Sob o impacto da crise que se abateu sobre o partido após 2015, o PT teve seu pior desempenho na cidade desde 1985, chegando em quarto lugar com 7,27% dos votos válidos.

O PSB, depois de administrar a cidade por oito anos, limitou-se a ocupar a vice na chapa do PSD que obteve 5,5% dos votos. PSDB e MDB ainda se mantiveram, com os tucanos sendo derrotados no segundo turno e os emedebistas ficando com 10% dos votos no primeiro.

Em 2018, a direita reinou na cidade. Mas era uma “nova” direita e vinha no embalo da desestruturação do sistema partidário que, desde 1994, havia contribuído para organizar e fazer avançar a democracia no país. Bolsonaro, pelo PSL, teve 65,6% dos votos no segundo turno em BH.

Romeu Zema (NOVO), por sua vez, derrotou Anastasia (então no PSDB) com 59% – como se não bastasse, o eleitorado tucano, já no primeiro turno, havia abandonado o candidato do partido à Presidência da República (Geraldo Alckmin) e despejado seus votos em Bolsonaro. A crise que derrubara o PT começava a bater às portas do PSDB mineiro. O apagão prosseguia.

Na Câmara Municipal, na segunda metade da legislatura iniciada em 2017, enquanto o partido de Kalil (a esta altura, o PSD) atraia a adesão de vários vereadores e chegava a 32% dos votos, PT, PSB, PSDB e MDB minguavam. Juntos, os quatro partidos controlavam apenas 12% das cadeiras – muito longe de sua força em 2000 (46%).

Em 2020 o apagão se consuma

De acordo com os dados do IBOPE de 29/10, o candidato do PT tem 2% das intenções de voto, deixando ao PSOL o melhor desempenho na esquerda, com 5%. A candidata do PSDB não passa de 1%. O PSB integra a coligação do segundo colocado nas pesquisas (do Cidadania), que chega a 8% das intenções de voto. O MDB se rendeu a Kalil e integra sua coligação.

Segundo pesquisa DataTempo/Quaest, realizada no início de outubro, 40% dos belo-horizontinos se declaram de direita; 25% de centro e 25% de esquerda. O PT é, de longe, o partido mais rejeitado (40%).

A cidade com longa tradição de governos de centro-esquerda mudou ou isso é apenas sinal de tempos que logo passarão? É cedo para dizer. Mas seja como for, a direita que reina na cidade desde 2016 não é a “tradicional” – PP, DEM, PTB, PL ou PRB continuam não tendo expressão. Tampouco é a “nova”.

O candidato à prefeitura pelo NOVO, apesar de acompanhado pelo retrato do governador Zema, não passa de 1%. O mais bolsonarista de todos os candidatos, lançado pelo PRTB, esperneia e lança impropérios para chegar a 3%. Ambos acreditavam que 2020 iria repetir 2018 e se enganaram.

Sobra então o PSD, que segundo a célebre definição de seu mentor (Gilberto Kassab) não é “nem esquerda, nem direita, nem centro”. Alexandre Kalil, o “fenômeno”, é algo parecido com isso.

O DEM é de centro?

O DEM é de centro?

Tem sido comum afirmar que o DEM desponta como a principal força de centro nas eleições municipais. De fato, o DEM tem apresentado um bom desempenho nas capitais. Mas a questão aqui é saber se seria correto caracterizá-lo como um partido de centro.

Para isso, analiso a opinião de deputadas e deputados sobre como posicionar os partidos, e mostro que o DEM é tido como o partido mais à direita dentre os analisados, ainda que tenha feito um percurso em direção ao centro.

Esquerda e direita

A distinção entre esquerda e direita surgiu na Revolução Francesa, quando os partidários do rei na Assembleia Nacional sentavam-se à direita e os simpatizantes da revolução, à esquerda. A partir do século XIX, a distinção associou-se à clivagem capital/trabalho e o termo esquerda passou a designar os partidos socialistas, comunistas ou social democratas.

Contemporaneamente, aceita-se que os dois campos são caracterizados em função da atitude frente à igualdade: para a esquerda, a desigualdade entre os indivíduos é artificial e deve ser enfrentada pela ação estatal; para a direita, as desigualdades mais importantes entre os indivíduos são naturais e são mais bem enfrentadas pela ação do mercado.

Esquerda e direita na Câmara dos Deputados

A classificação dos partidos em uma escala esquerda-direita sempre causa controvérsia. Neste artigo, considera-se a opinião dos deputados e deputadas na Câmara. Os dados são provenientes do projeto, “Representação política e qualidade da democracia” conduzido pelo Centro de Estudos Legislativos da UFMG.

São consideradas as cinco últimas legislaturas. Em cada uma foram feitas 125 entrevistas em amostras que levaram em conta o tamanho das bancadas. Foi solicitado, aos deputados e deputadas que posicionassem os maiores partidos em uma escala, onde 1 significava esquerda e 10 direita. As respostas foram categorizadas em “esquerda” (1-4); “centro” (5-6) e “direita” (7-10). O resultado é mostrado na Figura 1.

Figura 1

  

Fonte: Representação política e qualidade da democracia (CEL-DCP/UFMG)

No geral, as posições se mantêm no tempo com pequenas variações. A exceção fica por conta do PT, posicionado cada vez mais à esquerda, indo de 3,9 na primeira legislatura a 2,3 na última. PSB e PDT mantiveram-se no limite entre as posições de esquerda e de centro. MDB e PSDB também ocuparam uma posição limite, mas entre o centro e a direita.

Finalmente, os partidos à direita, PP e DEM, fizeram um percurso em direção ao centro – de forma mais clara no primeiro caso (de 7,9 para 6,4) do que no segundo (de 7,6 para 7,0). A série não inclui o PSL, dada a sua inexpressividade até a eleição de 2018. Na atual legislatura, o partido foi incluído na lista de legendas apresentada aos deputados(as), que o alocaram na posição 7,5.

Estado ou mercado?

Em função do modo como veem a possibilidade de redução das desigualdades sociais, é de se esperar que partidos de esquerda prefiram fortalecer a presença do Estado. Para verificar se isso procede, deputadas e deputados dos maiores partidos foram questionados sobre: (a) se seriam favoráveis a uma economia regulada pelo Estado ou pelo mercado; (b) qual deveria ser o controle do Estado sobre a gestão dos serviços públicos; e (c) qual deveria ser o controle do Estado sobre os recursos naturais. Foi utilizada a escala de 1 a 10 onde 1 significava máxima presença do Estado.

A figura 2 apresenta os resultados para a atual legislatura. A posição dos partidos em cada uma das três questões foi definida com base nas respostas dadas por seus representantes eleitos, extraindo-se daí a média, que é o valor associado a cada legenda na Figura.

Como se observa, PSB e PDT ficam mais próximos do MDB, o que deixa o PT relativamente isolado na defesa de posições mais estatais. Praticamente não há distinção entre o PSDB e o bloco mais claramente “pró-mercado” que, por sua vez, é capitaneado pelo DEM, a legenda mais “neoliberal” de todas, com média de 7,4 nas três questões.

Figura 2

Fonte: Representação política e qualidade da democracia (CEL-DCP/UFMG)

Progressistas ou conservadores?

Para verificar se partidos de esquerda seriam também mais progressistas (e vice versa) foram utilizadas questões sobre redução da maioridade penal, união entre pessoas do mesmo sexo, pena de morte, descriminalização do uso de drogas, proibição da venda de armas e aborto. Na escala utilizada, 1 significava uma postura progressista e 10 conservadora. A posição de cada partido, na Figura 3, corresponde a uma média das respostas dadas por seus deputados ou deputadas.

Figura 3

Fonte: Representação política e qualidade da democracia (CEL-DCP/UFMG)

Parece que, pelo menos na Câmara, a esquerda é mais progressista, ainda que PSB e PDT novamente se aproximem do MDB. Sem surpresa, o PSL é o mais conservador, “trocando de posição” com o DEM, em relação à figura anterior. Surpresa talvez seja o PSDB que, de acordo com seus deputados, é tão ou pouco mais conservador que partidos tradicionalmente considerados como tal no Brasil.

Moral da história

À medida que uma nova geração substituiu os velhos caciques do antigo PFL, o DEM de fato moderou algumas de suas posições, mas é mais correto deixá-lo onde sempre esteve, à direita, ainda que não tão longe do centro. O surgimento de uma direita mais radical e reacionária, personificada em Bolsonaro e seus filhos, não deve fazer com que tudo o que não seja esquerda passe a ser denominado centro.

Para onde foi o PSDB mineiro?

Para onde foi o PSDB mineiro?

A história é conhecida. Em 2014, o PSDB não reconheceu a derrota nas eleições para Presidente. Sem apresentar evidências que justificassem a atitude, solicitou recontagem de votos ao Tribunal Superior Eleitoral e seu candidato declarou que havia sido derrotado por uma “organização criminosa”. Não satisfeito, o partido entrou com um pedido de cassação de Dilma alegando que sua legitimidade era “extremamente tênue”. Na sequência, o partido passou a buscar uma maneira de interromper o mandato da presidente eleita.

A tática parecia ter dado resultado. Nas eleições municipais de 2016 o PSDB fez barba, cabelo e bigode. Acrescentou mais de 100 prefeituras a seu “portfólio” – o maior crescimento percentual entre os dez maiores partidos – conquistou São Paulo no primeiro turno e foi a legenda mais votada nos grandes municípios brasileiros. Mas logo depois foi tragado pela crise que ajudara a fomentar para afastar o PT e viu sua votação no primeiro turno da eleição presidencial de 2018 despencar de 33,5% para 4,76%.

Até mesmo em função do papel desempenhado por Aécio Neves ao longo deste período, Minas Gerais foi onde o recuo do partido foi mais sentido. Na primeira década e meia deste século, o PSDB tornara-se hegemônico no estado. Entre 2002 e 2014 o partido esteve frente do Palácio da Liberdade de forma ininterrupta, vencendo três eleições no primeiro turno. O controle das cadeiras no Senado foi ainda maior e manteve-se mesmo com a perda do governo estadual para o PT em 2014: à exceção da eleição de Hélio Costa (MDB) para uma das vagas em 2002, candidatos do PSDB ou de partidos coligados só foram derrotados na eleição de 2018.

PSDB na capital mineira

O PSDB governou Belo Horizonte apenas entre 1989 a 1992, com Pimenta da Veiga e depois seu vice, Eduardo Azeredo. Mas sempre participou com destaque nas disputas. Em 1992 o jovem Aécio Neves chegou em terceiro lugar. Em 1996 Amilcar Martins foi derrotado no segundo turno por Célio de Castro (PSB), o mesmo acontecendo com João Leite quatro anos depois. Em 2004, quando João Leite (então no PSB), foi derrotado por Fernando Pimentel (PT), os tucanos estavam na coligação. Em 2008, o PSDB voltou a participar da administração municipal em função da inusitada aliança entre PT e PSDB que elegeu Marcio Lacerda (PSB). A situação se manteve em 2012, mas com o PT fora da coligação. Finalmente em 2016, novamente João Leite, agora de volta ao ninho, foi derrotado no segundo turno por Alexandre Kalil.

Na eleição deste ano, 2020, o partido lançou Luísa Barreto, ex-secretária-adjunta de Planejamento e Gestão do governo de Romeu Zema (Novo), à sucessão de Kalil. Desconhecida do eleitorado e concorrendo em chapa pura, a candidata tem um minuto e 11 segundos na TV para sair do 1% das intenções de voto registrado pelas pesquisas já realizadas (DataFolha; IBOPE ou Data Tempo/Quaest). Muito longe dos mais de 50% do atual prefeito.

Nas demais cidades, partido também reduziu candidaturas

O quadro não é diferente no estado como um todo. O partido reduziu o número de candidaturas próprias em relação a 2016: foram oitenta candidatos (as) a menos para prefeito e 857 para vereador. Nas vinte maiores cidades do estado, o PSDB lançou candidatura própria em apenas quatro, além de BH: Ribeirão das Neves, Teófilo Otoni, Governador Valadares e Poços de Caldas. Apenas nas duas últimas o candidato – prefeito do partido buscando a reeleição – é competitivo. 

Nas quatro cidades com maior população depois de Belo Horizonte, apenas em Uberlândia o partido tem boas perspectivas por participar da coligação de Odelmo Leão, candidato à reeleição pelo PP. 

Em Juiz de Fora, Contagem e Betim, cidades já governadas pelo partido, a situação é ruim. Na primeira, o atual prefeito é do partido, mas desistiu de disputar a reeleição. Na segunda, o atual prefeito também desistiu de disputar a reeleição, mas antes rompeu com o partido. Nos dois municípios o PSDB ocupa a vice em chapas que, segundo pesquisas disponíveis, possuem entre 1% e 3% das intenções de voto. Em Betim, o PSDB não registrou candidato a prefeito ou vice e tampouco integra alguma coligação competitiva.

O sinal amarelo para o PSDB em Minas está aceso desde 2018. Na esteira da “queda” de Aécio Neves, veio a derrota para o governo estadual, ao mesmo tempo em que a maioria dos eleitores de Antônio Anastasia, o candidato, descarregava votos em Bolsonaro, e não em Alckmin, na eleição presidencial. Pela primeira vez desde 2002, o partido em Minas ficou sem um representante no Senado, uma vez que Anastasia, após a eleição, resolveu integrar as fileiras do PSD. 

Por fim, o resultado não foi melhor para a Câmara dos Deputados ou para a Assembleia Legislativa – nos dois casos, a votação do partido caiu quase pela metade em uma comparação com 2014 e retrocedeu a patamares inferiores aos obtidos em 1994. Tão ou mais expressiva foi a queda no voto dado à legenda: um recuo de 85% para a Câmara e 67% para a Assembleia.

A desarticulação em curso do sistema partidário brasileiro não atingiu apenas o PSDB. PT e MDB também estão entre as vítimas. Mas se os tucanos pretendem recuperar algum protagonismo no cenário nacional, as chances de Minas Gerais contribuir para tanto são pequenas.  

Prefeituras 2020: direita cresce, esquerda patina e centro cai.

Prefeituras 2020: direita cresce, esquerda patina e centro cai.

Quais partidos podem sair das eleições mais fortes e quais podem sair mais fracos? Se levarmos em conta a volatilidade do cenário político brasileiro, a resposta é difícil. O exercício aqui é, a partir de dados diferenciados e tendo como critério apenas o número de prefeituras, discutir as probabilidades.

A figura abaixo mostra o desempenho dos partidos desde as eleições municipais de 2000. Foram considerados apenas os resultados relativos aos partidos com maior bancada na Câmara dos Deputados.

Percentual de prefeituras conquistadas por partido político

Na maioria dos casos, o percentual de prefeituras conquistadas na primeira e última eleição consideradas manteve-se próximo, indicando relativa estabilidade. As exceções foram a queda do PT em 2016, e a trajetória do DEM, que só na última eleição sustou sua sequência de quedas. Merecem destaque a interrupção do crescimento do PSB em 2016 e a forte estreia do PSD em 2012, com repeteco quatro anos depois.

A força dos partidos nos governos estaduais

Como a máquina estatal e/ou o prestígio do governador podem interferir nas eleições municipais, o segundo dado remete aos governos estaduais conquistados em 2018. Neste aspecto, um dos destaques, em uma comparação com 2014, foi o recuo expressivo do MDB: de sete para três estados. Um deles é o Distrito Federal, onde não haverá eleição municipal. Sem o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul, o partido ficou com Pará e Alagoas como seus dois únicos trunfos.

O PSDB caiu de cinco para três estados, mas manteve São Paulo. O PT caiu de cinco para quatro, perdeu sua maior estrela, Minas Gerais, e encastelou-se no Nordeste. O DEM, depois de passar em branco em 2014, venceu em Goiás e Mato Grosso. PSL (Roraima, Rondônia e Santa Catarina), PSC (Amazonas e Rio de Janeiro) e Novo (Minas Gerais) foram “arrastados” pelo eleitorado de Bolsonaro.

As bancadas na Câmara dos Deputados

Outra fonte de dados vem da Câmara dos Deputados. Em 2018, MDB e PSDB reduziram fortemente suas bancadas relativamente a 2014 – 48% e 46% respectivamente. O PT, mesmo elegendo a maior bancada, viu sua força recuar em 19%. À esquerda, apenas PDT e PSOL cresceram.

Por outro lado, a direita cresceu. O Republicanos passou de 21 para 30 deputados(as) e o DEM interrompeu sua sequência de quedas, indo de 22 para 29 cadeiras. O conjunto de pequenas legendas de direita pulou de 35 para 107 cadeiras, com destaque para as 52 do PSL.

As candidaturas às prefeituras

Em relação ao número de candidatos(as) às prefeituras, o recuo foi expressivo nos casos do PSDB (redução de 26%), PSB (21%) e MDB (19%), totalizando 1138 candidatos (as) a menos, se compararmos com 2016. O contraste vem pela direita. Dentre os 10 partidos que mais aumentaram seu exército, 09 estão claramente perfilados deste lado do espectro ideológico: DEM, PODEMOS, PSC, Republicanos, Patriotas, PRTB, Avante, PSL e NOV0. O acréscimo agregado é expressivo: serão 2.635 candidatos (as) a mais, com destaque para os 580 do PSL.

Pela esquerda, o PT aumentou em 25% suas candidaturas, enquanto PSB (21%), PSOL (20%) e PC do B (18%) reduziram suas forças. Note-se que o quadro é semelhante ao das candidaturas a vereador: dentre os 10 partidos com maior crescimento, oito estão à direita.

Como ficamos?

A redução no número de candidaturas, nas bancadas na Câmara e no controle dos executivos estaduais permite antever um recuo de MDB e PSDB. A perda dos tucanos nos estados foi menos acentuada, mas o fracasso em recuperar o governo de Minas Gerais e a posterior migração de Anastasia para o PSD, somados ao “sumiço” de Aécio Neves, fragilizaram o partido naquela que sempre foi sua segunda maior base.

Mesmo que de forma modesta, o PT deve voltar a crescer – não tanto pelos dados aqui apresentados, mas porque 2016 representou o momento de maior desgaste do partido. Leve-se em conta que a perda do governo mineiro, em 2018, pode ser considerada “contabilizada” – afinal, em 2016 o partido já recuara de 113 para 41 prefeituras no estado.

Também o DEM deve voltar a crescer, impulsionado pelo incremento na Câmara, nos governos estaduais e pelas 418 candidaturas a mais em relação a 2016. Já o PSB parece ter alcançado seu teto: não cresceu na Câmara ou nos estados e tem hoje 232 candidatos (as) a menos do que em 2016. Por fim, o PSL vai crescer muito menos do que se poderia imaginar graças à ruptura com Bolsonaro e, em menor grau, à redução da bancada na Câmara (de 52 para 41 membros), a saída do governador de Roraima e ao processo de impeachment em Santa Catarina.

Indo além dos partidos, dois pontos parecem certos. Como indicam os números para as candidaturas, a direita vem com sede ao pote, – vai crescer, enquanto a esquerda patina. No agregado, ou seja, levando-se em conta a distribuição das prefeituras entre as legendas, o sistema partidário vai se mostrar ainda mais fragmentado: pequenos partidos vão expandir seus domínios, as duas maiores legendas em número de prefeituras (PSDB e MDB) vão recuar, ao passo que dentre os que vem a seguir neste quesito (PSD, PP, PSB, PDT, PL, DEM, PTB e PT) nenhum deve crescer muito.

Bolsonaro: um bom cabo eleitoral?

Bolsonaro: um bom cabo eleitoral?

Uma das possibilidades abertas pelo resultado das eleições de 2018 era a de manutenção da onda ultra conservadora no país, puxada pelo prestígio de Jair Bolsonaro, com reflexos na eleição de 2020. Esse não parece ser mais o caso.

O atual presidente perdeu aliados desde então. Em especial entre setores liberais, nas turmas do mercado e da Lava Jato. Guedes é hoje um ministro enfraquecido e o governo sonha em furar o sacrossanto teto de gastos. Moro se foi e a agenda do Planalto nesta área se resume em tentar conter os danos causados pela família e agregados.

Muitos sonharam, outros tiveram pesadelos, com um exército bolsonarista “puro sangue” disposto a tomar prefeituras pelo país afora – o tempo no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral e os 199 milhões de reais do PSL no fundo eleitoral ajudariam bastante. Mas o Presidente rompeu com o partido, viu sua bancada na Câmara rachar ao meio e fracassou na viabilização da alternativa, a Aliança pelo Brasil. Em uma palavra, um desastre: afinal, o melhor caminho para assumir protagonismo em uma eleição é ter um partido à mão.

Bom, mas agora temos não um, mas os vários partidos do Centrão, um bloco no qual, segundo o General Heleno, se “gritar pega ladrão (…)”. Cultura musical a parte, a aproximação com o Centrão foi articulada em um contexto em que se temia o impeachment e pode evoluir para algo mais amplo, mas não resolve a falta de instrumentos eleitorais. O problema é que a fragmentação partidária, associada à proibição de coligações nas eleições proporcionais e a uma cláusula de desempenho de 2% em 2022, tende a acirrar a competição entre os partidos.

Dito de outro modo, nestas eleições todas as legendas serão ainda mais incentivadas a preservar e ampliar suas bases obedecendo estritamente a cálculos locais. Isso complica a convivência eleitoral entre os membros do Centrão, bem como entre estes e outros tantos partidos de perfil conservador, e tende a limitar os movimentos do Planalto. O cenário pode tornar-se mais claro onde houver segundo turno. Mesmo assim o apoio de Bolsonaro dependerá de não haver conflito entre partidos do Centrão ou entre estes e um candidato de perfil igualmente conservador.

Nesse caso, cabe perguntar se Bolsonaro seria um bom cabo eleitoral. Pelo que sabemos, a população encontra-se dividida quanto à atuação do Presidente na pandemia. Na pesquisa DataFolha realizada em agosto, 47% o isentaram de responsabilidade pelas mais de cem mil mortes, 11% o consideraram o principal culpado e 41% lhe atribuíram alguma culpa. Na XP/Ipespe, realizada entre 8 e 11 de setembro, 49% consideraram sua atuação na pandemia ruim ou péssima, 28% ótima ou boa e 19% regular.

No que diz respeito à avaliação do governo, pela primeira vez desde agosto de 2019 a avaliação positiva supera a negativa nas duas pesquisas citadas e na mais recente do Ibope (17 a 20 de setembro), com o percentual de ótimo/bom variando de 37% a 40%. A pesquisa Ibope revela também que 50% aprova a maneira do Presidente governar, ainda que em sete das nove áreas de atuação pesquisadas o percentual dos que desaprovam supere o dos que aprovam com diferenças que vão de 8 a 39 pontos.

Uma pesquisa do DataFolha para a cidade de São Paulo (realizada em 21 e 22 de setembro) mostra que apenas 11% votariam com certeza em um candidato à Prefeitura indicado pelo Presidente, enquanto 64% não votariam de jeito nenhum. Cabe lembrar que, na pesquisa de agosto do mesmo instituto, apenas 22% diziam confiar sempre no presidente e 41% afirmavam não confiar nunca – nas seis pesquisas anteriores do Instituto a média do que disseram nunca confiar foi de 40,6% e dos “confiantes” 20,3%. A diferença entre estes índices e os de aprovação, na pesquisa de agosto, salta aos olhos e permite afirmar que se o auxílio emergencial impactou na avaliação do governo, não se pode dizer o mesmo sobre a confiança no presidente.

Tudo somado, dois pontos ficam claros. Em primeiro lugar, o fiasco da Aliança pelo Brasil fez com que na errática estratégia de Bolsonaro para 2022 a eleição municipal ficasse relegada a um papel residual. Em segundo, quando vier a ocorrer, o mais provável é que uma sinalização do Presidente funcione como variável definidora do voto apenas entre seus apoiadores mais fiéis, o que seria chover no molhado. Mas, é claro, a depender da situação – de que município se trata e do grau de competitividade da disputa – este apoio de Bolsonaro pode influenciar no resultado.